Filhos de Escravas
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Filhos de Escravas
Estou a efectuar um levantamento sistemático dos assentos de baptismo numa freguesia rural do Alto Alentejo. O periodo até agora analisado decorre de 1585 a 1605. Nesse periodo foram registado 407 baptismos, sendo 207 de individuos do sexo masculino e 200 do sexo femenino. Deste total 47 eram filhos de escravas, sendo dito que os pais eram desconhecidos. Os "proprietários" das escravas são mencionados nos assentos e eram em numero de cerca de 12.
Este facto causou-me algum espanto.
Primeiro- porque não o esperava numa zona predominantemente rural, onde o estatuto social dos habitantes não faria supor a detenção de escravos.
Segundo- o facto de se mencionar a ignorância da identidade dos pais, em todos os casos, ou será que era apenas omitida mas não desconhecida.
Coloco aqui o assunto para a análise e os comentários dos estimados confrades.
Esta questão é conhecida? Que destino tinham aquelas crianças, iam engrossar a fila de escravos?.
Henrique de Melo Banha
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RE: Filhos de Escravas
Muito provavelmente iam "engrossar a fila de escravos" do proprietário da escrava, ou seriam vendidos.
Não vejo qual a razão do seu espanto ao afirmar a existência de escravos "numa zona predominantemente rural, onde o estatuto social dos habitantes não faria supor a detenção de escravos". Acaso acha que na "província" não havia gente de "cabedais" para possuir um escravo?
Já agora, qual é a região do Alto Alentejo que está a estudar?
Cumprimentos,
Luís GMG
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RE: Filhos de Escravas
Caro confrade Luis GMG
Pelos vistos e na sua opinião seria óbvio o destino das crianças.
Respondendo à sua ultima questão, talvez depois não ache tão estranho o meu espanto, trata-se da Freguesia de São Miguel de Machede no Concelho de Évora.
Pelo que apurei era e continua a ser uma zona de pouca população e que foi povoada após a Reconquista Cristã por Judeus.
Não encontrei noticias dos chamados "fidalgos da provincia" na Freguesia.
Por outro lado a época coincide com a Dinastia dos Filipes, o que não creio ter sido uma época de vacas gordas, que só aconteceu mais tarde com o ouro dos Brasis.
De facto a questão dos "cabedais" para ter escravos parece- me que seria determinante, ou não seria?
Henrique de melo Banha
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RE: Filhos de Escravas
Estimado Henrique de Melo Banha:
O destino das crianças, é obvio, com algumas escepçôes, seriam também escravos. Nâo se esqueça que um escravo era uma mercadoria e como tal, o rebento de uma escrava era uma plus valia material.
Dito isto, também é obvio que nâo se conhecesse os pais de ditos rebentos, pois as escravas nâo tinham marido nem companheiro, eram como gado tratadas, e procriavam segundo o destino pré marcado pelo proprietário. Todois os anos uma das escravas era mandada ser coberta, por um macho para dar crias: plus valia.-
Isto obdecia a um critério de selectividade, nâo se mandava a todas ficar prenhadas, porque eram necessárias para as lides domésticas. Era escolhida uma ou várias ao ano, segundo o nº... Os machos, eram seleccionados como um macho bravio: o mais forte para as lides do campo.-
As crianças eram batizadas por principios filosoficos da Igreja, o que deu bastantes problemas morais e discussôes sobre a possibilidade de manter ou fazer escravo a um cristâo...
Escravos em zonas rurais: predominantemente eram aproveitados como mâo de obra no campo. Naquela época, o campo era uma fonte de riqueza, nâo como hoje em que é a pobreza, pela competencia desleal dos enlatados e da comida fast food importada nâo se sabe de onde.
Melhores cumprimentos
Fernando de Telde
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RE: Filhos de Escravas
Caro Henrique de Melo Banha:
O destino das crianças dependera das épocas, sou descendente de uma escrava algarvia que é minha 8.a avó sabe-se o nome dos pais dela, que eram igualmente escravos, o que é curioso é a mobilidade geografica, pois a minha 8.a avo escrava era da Senhora da Luz, Lagos, o seu pai de Budens e a sua mae de Almada, isto no no sec. XVIII
Esta escrava casou com um homem livre e os filhos nao foram escravos!
E mais surpreendente o filho (meu 7. avo) desta escrava casou com um filha de um soldado pago do Batalhao Nacional Movel de Lagos, nao é um estatuto nada importante, mas um filho de uma escrava puder casar com uma filha de um soldado vejo inedito.
Depois em Tanger tenho uma antepassada que consta como Leonor Soares, m.er parda de Tanger, mas nao é escrava. (sec. XVII)
Isto é do mais exotico que encontrei nas minhas ascendencias
Com os melhores cumprimentos,
Roberto Lopes
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RE: Filhos de Escravas
Caro Henrique Manuel Banha
Gostaria de saber se irá publicar esse seu levantamento. Eu tenho antepassados em S. Miguel de Machede, como verá abaixo, embora um pouco mais tardios.
Se, por acaso, tropeçar nalgum deles peço-lhe o favor de me dizer.
"16-João Rosado-n.S.Miguel de Machede-Évora-05.1738
17-Maria de Oliveira-n.Arraiolos-10.1739
32-José Rodrigues Salvado-n.S.Miguel de Machede-Évora
33-Joana Mendes-n.S.Miguel de Machede-Évora
64-Simão Rodrigues-n.S.Tiago-Évora
65-Maria Salvado-n.S.Miguel de Machede-Évora
Não tenho ainda os assentos dos 4 últimos pelo que ignoro as datas do nascimento, mas que serão talvez para os 32 e 33 entre 1700 e 1710 e para os 64 e 65 entre 1670 e 1680.
"
Cumprimentos
João Cordovil Cardoso
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RE: Filhos de Escravas
Estimado Fernando de Telde
Muito obrigado por partilhar com este forum os seus conhecimentos.
Esclareceu pelo menos uma dúvida que me ocorreu quanto à paternidade das crianças. Parece sem dúvida que tem razão quanto à paternidade, pois o que estava em causa era o gerar individuos o mais capazes possiveis para o trabalho braçal. Foi o facto de as crianças serem baptizadas e até terem por padrinhos homens e mulheres livres que lançou as dúvidas sobre a respectiva paternidade.
Melhores cumprimentos
Henrique de Melo Banha
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RE: Filhos de Escravas
Caro Roberto Lopes
A situação que relata passou-se um pouco mais tarde, aquilo que relatei ocorreu nos finais do século XVI. Eu iniciei recentemente este levantamento exaustivo desta freguesia, pelo que não sei até agora se vou encontrar ou não alguma ascendência que entronque em alguma escrava. Decidi-me por efectuar esta pesquisa começando pelos livros mais antigos, porque pelo método normal de ir encontrar os sucessivos ascendentes, não tive sucesso a partir de determinada altura.
Tenho esperança de obter resultados porque já encontrei individuos com o meu apelido, só falta estabelecer as ligações.
Melhores cumprimentos
Henrique de Melo Banha
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RE: Filhos de Escravas
Caro João Cordovil Cardoso
É de facto minha intenção disponibilizar este levantamento na Internet através da minha página pessoal. No entanto o trabalho ainda se encontra no inicio e o seu tratamento ainda vai levar algum tempo. Na verdade os assentos dos primeiros tempos são omissos quanto aos avós, o que torna a tarefa de relacionar os diversos individuos muito complicada.
Posso no entanto adiantar que apelidos como Rosado,Salvado, Rodrigues e Mendes aparecem com frequência nos assentos da época que referi (1580 - 1605).
Melhores cumprimentos
Henrique de Melo Banha
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RE: Filhos de Escravas
Caros Confrades
No B.xo Alentejo, particularmente na antiga comarca de Ourique e a razão de dizer-comarca- e não mencionar este ou aquele concelho do distrito de Beja,prende-se à exensão territorial desta antiga comarca, por desanexação posterior de alguns concelhos que à Comarca pertenciam.
Mas como ia dizendo:" encontrei" alguns escravos e servos, não só de antepassados meus. mas de grandes lavradores e alguns da nobreza local, naturalmente.
Até aqui nada de especial.Obviamente que serviam de mão-de-obra, pastores, criados de portas adentro,guarda-costas,etc.Alguns armados serviam de defesa também.Eram,por vezes, numerosos e não poucas vezes estimados pelos "donos".
Mas, reportando-me às escravas,porque estas aparecem mais vezes, observo um facto saliente:TÊM como PADRINHOS dos filhos as pessoas de mais distinção ou principais da região.
E claro, que essa descendência com o tempo se foi misturando com a descendência de outros escravos,mas importante:também, não esquecer,é minha opinião pessoal,certamente com os filhos dos lavradores e essa descendência existe ( não ponho de parte ter ascendentes que tivessem sido escravos, isso não me apoquentaria minimamente e até acharia curioso ). Evidentemente que a esses afilhados eram postos os sobrenomes dos seus padrinhos, sobretudo dos seus amos e patrões. E quantas vezes isso se intui, e já li isso em Proc.do Santo Ofício, que tenho,ficado escrito que eram havia dúvidas da paternidade legal, por constar e saber-se que esses filhos das escravas ( não havia o direito "de pernada" dos srs feuudais, mas como ...eram donos e senhores dos escravos, houve filhos dos amos com as servas e dos servos com as amas.Isso, praticamente, sempre ficou escondido
O apelo da natureza é muito forte, para que isto acontecesse, acontece e há-de acontecer, "enquanto o mundo durar...."
Os meus melhores cumprimentos.
Rafael Carvalho
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RE: Mendes
Estimado Henrique de Melo Banha:
estou interessado no seu estudo, no que refere aos Mendes, pois tenho essa ascendencia em Campo Maior, para 1800.
Agradeço, mantenha-me ao corrente nas suas investigaçôes, neste apelido, quando chegue a estas etapas.
Melhores cumprimentos
Fernando de Telde
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RE: Filhos de Escravas
Caro Rafael Carvalho
Vem com a sua missiva ao encontro também daquilo que desconfiei. Verifiquei isso mesmo, que os padrinhos eram a mais das vezes os "donos" ou pessoas próximas.
Não custa portanto admitir que por vezes tenha havido descêndencia dos senhores através das escravas, mas que ficava camuflada pelo apadrinhamento. Claro que o facto de adoptarem os apelidos dos "donos" não prova nada, nos meus ascendentes , e nada aponta que o mesmo fosse escravo, houve quem adoptasse o sobrenome do padrinho em detrimento do pai.
Melhores cumprimentos
Henrique de Melo Banha
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RE: Mendes
Estimado Fernando de Telde
Ainda estou longe de poder ter material em condições de lhe fornecer os elementos de que está interessado, fica no entanto promessa de que logo que isso aconteça aqui mesmo o poderei informar.
Melhores cumprimentos
Henrique de Melo Banha
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RE: Mendes
Caro Henrique de Melo Banha:
Agradecido, entâo aqui ficarei aguardando, quando chegar o momento..-
Cumprimentos,
Fernando de Telde
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RE: Filhos de Escravas
Caro Henrique de Melo Banha
Muito obrigado pelos seus esclarecimentos e disponibilidade.
Fico então à espera dos próximos 70 anos :-)
Cumprimentos
João Cordovil Cardoso
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RE: Filhos de Escravas
Caro Confrade:
Em que se baseia para a descrição que faz das práticas procriativas dos escravos? Acho o assunto interessante, mas não conheço bibliografia que trate a questão com esse pormenor, pelo que gostaria de conhecer as suas fontes.
Em alguns casos, no entanto, estou seguro de que havia outras práticas, pelo que a sua afirmação "as escravas não tinham marido nem companheiro", com essa generalidade não me parece aceitável: encontrei inúmeros assentos de casamento de casais de escravos, desde o século XVI, pelo que os havia certamente casados na Igreja. Usavam os apelidos dos patrões ou dos padrinhos (que muitas vezes coincidiam) como era prática legal para todos os conversos, escravos ou livres, fossem originariamente judeus, indus, índios brasileiros ou animistas africanos. Já a adopção de apelidos dos padrinhos na população cristã de origem é muito menos frequente do que por vezes se pensa e pouquíssimos são os exemplos inequívocos que até agora encontrei, para não dizer quase nenhuns (o único em que estou razoavelmente seguro de ter sido mesmo apelido só proveniente do padrinho é o caso de um Dionísio Ferreira da Fonseca, filho de um José da Fonseca e com padrinho Dionísio Ferreira - aqui "Dionísio Ferreira" funcionou praticamente como nome próprio, como vi acontecer por vezes nos Estados Unidos com nomes de senhoras).
A adopção de um apelido a que não se tivesse direito pelo sangue era punida por Lei (ainda que esta não fosse aplicada com muito rigor) com as excepções indicadas dos "novamente convertidos" à Fé Católica que podiam adoptar os apelidos que entendessem, com prémio dessa conversão, desde o tempo de El Rei D. Manuel I, se não me engano.
Com os melhores cumprimentos,
António Bivar
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RE: Filhos de Escravas
Caro confrade:
Não me parece nada seguro que os filhos das escravas tivessem sempre pais sistematicamente escolhidos como descreve o confrade Fernando de Telde; exprimi as minhas dúvidas quanto a este assunto em resposta acima ao referido confrade.
Com os melhroes cumprimentos,
António Bivar
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RE: Filhos de Escravas
Caro confrade:
Quanto à adopção de apelidos dos padrinhos, como observo em resposta abaixo ao confrade Fernando de Telde, parece-me que há que distinguir o caso dos convertidos (como o eram os escravos recém-chegados) que, por lei, tinham direito a adoptar os apelidos que quisessem (tal como os judeus, indus, índios brasileiros, etc.), como "prémio" pela conversão, do caso genérico da população cristã de origem a quem era legalmente vedado usar apelidos a que não tivessem direito pelo sangue ou por concessão real (ainda que as leis em Portugal não fossem por vezes aplicadas com muito rigor...). Fala-se muito na adopção de apelidos dos padrinhos, mas é raro que se apresentem excemplos concretos (para além dos referidos casos dos conversos) e em situações que tenho visto acaba-se por concluir que o apelido aparentemente adoptado do padrinho é afinal também de algum antepassado comum a afilhado e padrinho... Não estou nada convencido que fosse uma prática relevante adoptar-se o apelido do padrinho sem que fosse já apelido de ascendentes,pois ai fim de muitos anos de investigação genealógica e de ler milhares de assentos de baptismo quase nunca encontrei exemplos desses (refiro uma excepção na citada mensagem abaixo, mas como lá se explica é um caso especial; para além desse debato-me apenas com um outtro caso em que ainda não consegui encontrar outra explicação para o apelido usado que não seja o nome do padrinho, mas trata-se de uma situação em que só conheço o nome dos pais do baptizado, podenso o apelido ocorrer em gerações anteriores, como em tantos casos verifiquei).
Com os melhores cumprimentos,
António Bivar
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RE: Filhos de Escravas
Caro confrade:
Quanto à adopção de apelidos dos padrinhos, como observo em resposta abaixo ao confrade Fernando de Telde, parece-me que há que distinguir o caso dos convertidos (como o eram os escravos recém-chegados) que, por lei, tinham direito a adoptar os apelidos que quisessem (tal como os judeus, indus, índios brasileiros, etc.), como "prémio" pela conversão, do caso genérico da população cristã de origem a quem era legalmente vedado usar apelidos a que não tivessem direito pelo sangue ou por concessão real (ainda que as leis em Portugal não fossem por vezes aplicadas com muito rigor...).
Fala-se muito na adopção de apelidos dos padrinhos, mas é raro que se apresentem excemplos concretos (para além dos referidos casos dos conversos) e em situações que tenho visto acaba-se por concluir que o apelido aparentemente adoptado do padrinho é afinal também de algum antepassado comum a afilhado e padrinho...
Não estou nada convencido de que fosse uma prática relevante adoptar-se o apelido do padrinho sem que fosse já apelido de ascendentes, pois ao fim de muitos anos de investigação genealógica tendo lido milhares de assentos de baptismo, quase nunca encontrei exemplos desses (refiro uma excepção na citada mensagem abaixo, mas como lá se explica é um caso especial; para além desse debato-me apenas com um outtro caso em que ainda não consegui encontrar outra explicação para o apelido usado que não seja o nome do padrinho, mas trata-se de uma situação em que só conheço o nome dos pais do baptizado, podendo o apelido ocorrer em gerações anteriores, como em tantos casos verifiquei).
Com os melhores cumprimentos,
António Bivar
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RE: Filhos de Escravas
na minha familia ha muitos casos de adopcao do apelido do padrinho. Por exemplo do meu lado paterno o meu avo era Vital Pereira Ramos filho de Jose Pereira (Ramos vem do padrinho). Do lado da minha mae o meu bisavo era Raul Ribeiro Pampulha, sendo Ribeiro do padrinho. Tenho mais exemplos.
Luis
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RE: Filhos de Escravas
Caro António Bivar:
As minhas observaçôes sâo in loco. Conheci ainda a descendentes de escravos em Angola, naturais, sem contaminaçâo de raça, nem credo, no interior do País. Mas se está interessado em bibiografia, tâo natural como as minhas observaçôes directas, pode entrar em google e aí verá uma mâo cheia delas....
O meu caro, deverá ter encontrado a excepçâo que como sempre, confirma a regra.-
As escravas e escravos dormiam em sanzalas á parte, nâo se mixturavam, a nâo ser por interesse do dono, ou como indica por benevolencia do dono...
A minha afirmaçâo é a aceitável, e a generalidade, o que encontrou, a excepçâo.-
"encontrei inúmeros assentos de casamento de casais de escravos, desde o século XVI, pelo que os havia certamente casados na Igreja"...
A sua afirmaçâo, é aparentemente ambigua, pois afirma que encontrou assentos de casamentos e logo a seguir diz que "os havia certamente casados na Igreja...
Se encontrou assentos, é porque foram casados pela Igreja, pois naquela altura esses registos seriam das Igrejas, mas seria bom que transcrevesse algum desses assentos que encontrou, para podermos analisar bem, a forma empregue pelos parocos da época.-
Também o que diz sobre os apelidos é a grande verdade, muitos dos escravos e filhos de escrava tomavam o apelido do padrinho ou do dono, era a marca da casa, como uma denominaçâo de origem.-
Aqui em Canárias, os conversos á força logo a seguir á conquista, tomaram o nome do padrinho, onde se misturavam familias comuns e nâo comuns, dando origem a uma mistura tremenda de gente com o mesmo apelido, mas sem qualquer laço de parentesco... Pegava-se num grupo, os alinhavam, e logo indicavam entre a soldadesca um padrinho...
O seu "Dionísio Ferreira da Fonseca", teria sido uma forma de homenagear ao padrinho? ou haveria algum laço de geraçôes anteriores aos Ferreira?
Esta sua afirmaçâo, nâo a comparto: "com as excepções indicadas dos "novamente convertidos" à Fé Católica que podiam adoptar os apelidos que entendessem"... e nâo concordo, porque nâo tomavam o nome que queriam, mas do padrinho... obrigatóriamente.- E o padrinho, recebia umas bençâos pelo acto de contriçâo dos seus apadrinhados. Era um acto de bendiçâo apostólica.-
Melhores cumprimentos,
Fernando de Telde
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RE: Filhos de Escravas
Estimado António Bivar:
Pode ter a certeza de que o que descrevo é a realidade...
Veja a descriçâo dos primeiros escravos chegados de África negra a Portugal, em que estava presente o Infante D. Henrique, comevedora e realisticamente descrito por Gomes Eanes de Azurara...
O escravo que se atrevesse a ter relaçôes carnais com uma escrava, sem o consentimento do amo e senhor, seria no minimo atiçado, açoitado, e no máximo morto, se os seus serviços nâo servissem...
Para evitar tentaçôes de fuga e da carne, eram acorrentados pela noite... E durante o dia estavam bem vigiados pelos capatazes.-
Os pais, e as mâes, eram sistematicamente escolhidos, como qualquer selecçâo feita em gado.-
Nâo se esqueça que se tratava de mercadoria, nâo de "pessoas". Tinham um fim puramente produtivo, nâo havia preconceitos humanistas. Estes vieram mais tarde.-
Melhores cumprimentos,
Fernando de Telde
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RE: Filhos de Escravas
Caro António Bivar
Relativamente à questão da adopção do apelido do padrinho que mencionei também não posso assegurar que ela não tenha uma explicação identica à que mencionou, isto é, que venha de um antepassado com esse apelido. Mas o que consegui apurar até agora quanto ao meu quarto avô José Banha, e que segundo o assento de baptismo teve como padrinho José Banha, o seu pai e o seu avô usavam como apelidos Gomes de Carvalho. Também não era da parte da mãe pois os avós maternos eram Rodrigues.
Foi por presumir que haveria na sua ascendencia algum Banha que decidi pela pesquisa sistemática que estou a efectuar. E na verdade já encontrei outros Banhas nascidos na mesma freguesia. Falta estabelecer alguma possivel relação que exista.
É que entre este meu quarto avô e os que agora encontrei distam quase dois séculos.
Melhores cumprimentos
Henrique de Melo Banha
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RE: Filhos de Escravas
Caro Fernando de Telde
A sua observação "tomavam obrigatóriamente o nome do padrinho" é uma observação que vou tomar em conta quando tiver acesso aos assentos que vou pesquisar nas gerações seguintes.
Melhores cumprimentos
Henrique de Melo Banha
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RE: Filhos de Escravas
Caro Fernando de Telde:
Não duvido que ocorressem situações dessas; a questão é saber com que frequência e quais as situações alternativas que se encontraram ao longo dos séculos em que houve escravatura. Acho que a História não se pode fazer com base em deduções ideológicas mas com base em documentos; esses provam inequivocamente que houve inúmeros casais de escravos casados na Igreja, situação bem diferente da que o confrade descreve e que não pode ser escamoteada. Para a "ideologia" oficial, que era em Portugal o Cristianismo os escravos eram, sim, pessoas, por mais que se traísse escandalosamente essa doutrina; fazer tábua rasa desse facto e identificar a escravatura a que nos referimos com a escravatura na Antiguidade pagã parece-me um simplificação excessiva que não nos ajuda a compreender a realidade histórica desse triste fenómeno.
Com os melhores cumrpimentos,
António Bivar
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RE: Filhos de Escravas
Caro confrade:
É com base em exemplos como os que cita que podemos ficar com uma ideia mais precisa da realidade; no entanto julgo que em épocas mais recuadas esses casos são raros, como referi. Também tenoh conhecimento de casos desses nos séculos XIX/XX, mas confesso que as minahs investigações genealógicas (como é lógico) acabaram por se centrar em épocas mais recuadas, uma vez que os antepassados mais recentes são eveidentemente em muito menor número... Seria interessante tentar perceber se houve uma maior divulgação desse costume a partir de certa altura e qual o motivo "sociológico" que o explica.
Com os melhroes cumprimentos,
António Bivar
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RE: Filhos de Escravas
Caro confrade:
Já encontrei casos em que o apelido só aparece em bisavós...
Com os melhores cumprimentos,
António Bivar
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RE: Filhos de Escravas
Caro confrade:
O meu "certamente" nesse caso era no sentido próprio, ou seja, afirmei que havia escravos casados pela Igreja porque encontrei os respectivos assentos (por exemplo, em Belmonte onde casaram alguns casais de escravos com o apelido Cabral, em Monção onde encontrei também desses casamentos, etc.). Os assentos eram iguais aos outros referindo apenas de quem eram escravos.
Não encontrei Ferreiras na ascendência desse Dionísio.
O que afirmei acerca do direito dos conversos a escolherem apelidos não é opinião minha mas sim uma lei de D. Manuel I que é, a esse respeito, inequívoca, havendo inúmeros exemplos dessa adopções em cristãos novos, por exemplo; claro que os apelidos dos padrinhos eram muitas vezes escolhidos.
Com os melhoers cumprimentos,
António Bivar
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RE: Filhos de Escravas
Estimado António Bivar:
Fica feita a sua puntualizaçâo. Já agora nas suas pesquisas, por acaso aprofundou sobre a relaçâo de quantidade de escravos em determinada regiâo e o nº de casamentos? Seria interessante esta verificaçâo e já agora ao confrade autor deste tópico, e que está em plena investigaçâo, aqui fica a sugerência...
Bem, quanto aos apelidos e a livre escolha de apelidos nos cristâos novos: essa liberdade seria a liberdade de escolher padrinhos, ou liberdade de escolher apelidos? Os apelidos na época de D. Manuel, já estavam bem consolidados e as familias presumiam de ser desta ou daquela familia, (apelido), aí estâo os nobiliários da época, nâo sei é se se daria o mesmo valor que em épocas mais tardias, em que como por exemplo, seria impensável aparecer um cristâo novo a querer ( poder) ser batizado como Sebastiâo José de Carvalho e Melo, ou com esses nomes kilométricos, de algumas épocas...
Porém, aqui entramos na especulaçâo. Mas gostaria de conhecer se essa liberdade seria a do apelido ou a de escolher padrinhos...
Melhores cumprimentos
Fernando
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RE: Filhos de Escravas
Estimado António Bivar:
Estamos de acordo que a História nâo se pode fazer sem documentos. Logo haveria que tomar o todo e analizar-lo. Quantos escravos e em que época é que começaram a ser casados? Que porporçâo, sobre a populaçâo escrava, casava? comparamos isso com a populaçâo livre?
Nâo vejo na minha postura, qualquer resquicio de deduçâo ideológica(?), para as asseveraçôes que coloco sobre a escravatura. Aliás nem cultural, pois a capacidade de leitura dos diversos escritos sobre a escravatura, em diversos Paízes, nâo contamina a capacidade de analise final... e finalmente nem racial, pois estou no seio de uma familia com uma enriquecedora mistura racial.-
Os inumeros casos de escravos casados, nâo passam de ser uma deduçâo especulativa, enquanto nâo se tenha um estudo sobre a realidade do todo, e essa realidade, comparada com a realidade de outros Paízes onde se praticou o esclavagismo, (poucos ou nenhum escapou), nos dizem que os escravos, nâo eram senhores do seu direito ao livre albedrio de escolha de parelha para procriaçâo.-
Meu caro, ter por "idiologia" ( por quê entrecomilhado?) oficial a consideraçâo de escravo como pessoas, nâo deixa de ser uma escandalosa aberraçâo, pela contradiçâo inerente á própria doutrina da Fé e das leis.... Fala-me o caro confrade em doutrina??? que doutrina?? onde vio escrito essa doutrina que considerava ao mesmo tempo o direito de gentes e o direito do escravizado??
Creio que nâo há qualquer forma de fazer História, com esta afirmaçâo, pois nâo haverá documento algum que lhe diga que um escravo é um ser humano igual ao ser humano livre, e se nâo é igual, uns sâo seres e outros pessoas.-
Os escravos transportados e vendidos na antiguidade pagâ e o ultimo escravo transportado e vendido, nâo terá encontrado nenhuma diferença no tratamento...
Escamotear a realidade dos factos e tentar adoçar ficticiamente esta realidade histórica, é alterar premeditadamente a História, e como tal é dar idiologia á interpretaçâo da História.
Nas minhas leituras e observaçôes, nâo vi nenhum País que nâo tenha sido vitima e esclavagista... Nem os portugueses se livraram de ser escravos, nem de escravizar, nem o Rei do Congo livrou o seu povo de ser escravizado, nem de escravizar.Essa foi a realidade social em épocas passadas...
Já lhe recomendarei a leitura de algum livro sobre o tema.
Melhores cumprimentos
Fernando
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RE: Filhos de Escravas
Muito interessante. Um bom número. Havia algo sobre a procedência das escravas? De qual região seriam ? Seriam da África Subsaariana ou Mouras ?
Cumprimentos
Ricardo
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RE: Filhos de Escravas
Caro Fernando de Telde:
A lei de D. Manuel é muito clara: a liberdade era de escolher o apelido, ao mesmo tempo que era terminantemente proibido a quem não fosse "novamente convertido à nossa Santa Fé Católica" usar apelidos que não lhe pertencesse pelos seus ascendentes (ou concedido pelo Rei), por mais que essa Lei tenha sido eventualmente violada. Repare que em épocas posteriores já não havia oficialmente não-Cristãos em Portugal Continental, pelo que o problema não se punha, a não ser com os escravos ainda "pagãos" que entravam no país e esses normalmente quando se baptizavam usavam os nomes dos respectivos proprietários que seriam muitas vezes os padrinhos, tanto quanto pude verificar.
No entanto noutras parcelas do mundo português ocorriam casos desses; por exemplo até há muito pouco tempo ainda em Timor se via recém-baptizados adoptar apelidos não só do padrinho, mas por vezes também de outras pessoas a quem eram afectos, mudando por vezes mais de uma vez de apelido ao longo da vida (conheço casos concretos, um em particular que mudou de Mário Noronha da Costa para Mário Soares - por coincidência do apelido Soares da pessoa que pretendia homenagear e não por alusão ao ex-presidente - e finalmente para Mário Tomás em homenagem ao meu amigo que me relatou este caso).
Quanto ao número de escravos casados relativamente ao número total, não fiz de facto esse estudo, que seria muito interessante; não sei se haverá algum trabalho publicado acerca desse assunto. Quando referi esses casos pretendi mostrar que o cenário que o confrade pintou da situação dos escravos deveria ser matizado e que não me parecia legítimo fazer afirmações tão peremptórias quanto à inexistência de escravas com marido... Não sei, no entanto, se haveria grande percentagem de casos desses.
Com os melhores cumprimentos,
António Bivar
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RE: Filhos de Escravas
Meu caro contertulio António Bivar:
A lei em si, estava clara: aos convertidos duas vezes, estava vedado o uso em duplicado de um apelido, que usara antes... (ou para um fugir á justiça, adaptando um novo)... mas nâo estará tâo clara em relaçâo á adopçâo de um novo apelido...
Nada indica que um que estivesse nesta tessitura de escolher um apelido Cristâo, o pudesse fazer de forma alietória... Haveria que ver bem esta ultima questâo...
Creio que é de transcendencia fundamental entender isto:
Se este novo cristâo novo, poderia de forma arbitrária escolher um apelido, ou se havia alguma regra para que nâo fosse um Sebastiâo de Carvalho e Melo em duplicado.....
Creio que é muito importante para entender a genealogia, esta lei de D. Manuel I, e se estariamos na posssibilidade de termos "familiares em duplicado"...
Se é como coloca o assunto, entâo estariamos confrontados com a possibilidade de tropeçar com duplicados, de ascendencias...falazes.-
É um assunto de extrema importancia, para a genealogia, tratar esta questâo...
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Quanto a esta sua experiencia: "há muito pouco tempo ainda em Timor se via recém-baptizados adoptar apelidos não só do padrinho, mas por vezes também de outras pessoas a quem eram afectos, mudando por vezes mais de uma vez de apelido ao longo da vida "...., temos que nas colonias, estaremos perante assuntos bem particulares de cultura atipica, e nâo o poderemos tomar como regra em genealogia. Conhecemos estes caos...
Quando diz que: "Quando referi esses casos pretendi mostrar que o cenário que o confrade pintou da situação dos escravos deveria... ", está claro que isto é o que se pretende, que haja um estudo sério sobre o assunto, e que ninguém venha "pintar" um quadro que nâo corresponda á realidade. Assim, mâos á obra a quem lhe tocar: Estudar este assunto.-
A minha proposta e afirmaçâo, é tâo legitima como a sua em relaçâo ao caso: "não me parecia legítimo fazer afirmações tão peremptórias quanto à inexistência de escravas com marido...". Enquanto nâo haja um estudo sério sobre este tema, a minha proposiçào é tào válida como a sua.
O que temos, é uma série de panoramas para estudar, que nem uma geraçâo será capaz de....- Este é o grande reto: estudar e explicar.- retraso, mais retraso, e mais tetraso, o que temos é que ter a opiniâo histórica e nâo apenas suposiçôes.-
"fazer afirmações tão peremptórias quanto à inexistência de escravas com marido... Não sei, no entanto, se haveria grande percentagem de casos desses."
Eu estou convencidissimo que seriam minorias ,mas, estou de acordo que haverá que fazer um levantamento "HISTÓRICO" sobre este tema em Portugal.
Até lá, vou continuar com as minhas possibilidades de prescutar o horizonte e continuar nos conhecimenos adquiridos noutras latitudes.-
Melhores cumprimentos,
Fernando
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RE: Filhos de Escravas
Caro Ricardo de Oliveira.
Antes da conquista de Ceuta, já havia escravos(as) em Portugal: quetâo de cultura herdada...
Com a conquista de Ceuta, pela primeira vez, se teve escravos feitos directamente em África, em que seguramente alguns seriam os Mouros conquistados, e outros que passaram de escravos ao serviço dos Mouros, para escravos ao serviço dos portugueses.... (Aqueles que escaparam á chacina segundo Gomes Eanes de Azurara...)
Logo, chegámos aos territórios dos subsaharianos e alí fizemos escravos: em Mauritânea, Senegal, e Guiné, (que todas as costas para sul eram Guiné...)
Assim, logo que entrámos ao sul do actual Sâo Luiz, todos seriam subsaharianos, isto é escravos negros.-
Melhores cumprimentos,
Fernando de Telde
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RE: Filhos de Escravas
Caro confrade:
Repare que a sua afirmação negava a existência de maridos ou companheiros para as escravas sem referir a possibilidade de excepções. Pelo meu lado nunca afirmei que todas ou a maioria das escravas se casassem, mas apenas referi ter encontrado diversos casos em regiões diversas do país o que torna impossível supor que se tratasse de casos insignificantes e descartáveis; a minha preocupação foi mostrar que a realidade da escravatura em Portugal era mais complexa do que a que descreveu. Não procurei fazer uma descfrição alternativa mais completa mas apenas alertar para a complexidade da situação, de modo a evitar interpretações abusivas que pudessem induzir alguns confrades a tirar conclusões precipitadas, nomeadamente de carácter genealógico.
Não me passou pela cabeça branquear a escravatura ignominiosamente praticada em países cristãos, mas também me parece evidente que não se pode amalgamar o estudo da esctravatura como se se tratasse de realidade homogénea independentemente da época, região, cultura, religião, etc. e é pelo menos temerário supor que todos esses factores não teriam influência no modo como os próprios escravos ou peloe menos alguns deles eram tratados e levavam as suas vidas. Na própria Roma antiga havia abismos entre diversas classes de escravos; pouco haveria de comum entre a vida de um escravo grego tutor dos filhos de uma família da nobreza romana (por vezes resultado de uma auto-venda de um homem livre caído na miséria) e um pobre escravo trabalhador rural ou entre estes e um escravo gladiador.
Julgo não ter percebido bem a sua referência aos "convertidos duas vezes". Em geral, a Lei proibia o uso de apelidos a quem a eles não tivesse direito (por ascendentes ou concessão real) mas abria uma excepção para os "novamente convertidos", ou seja, este podiam escolher livremente o apelido que quisessem, por mais nobre que fosse. Certamente houve muitos homónimos, pois a situação mais corrente até ao século XVIII (apesar de haver excepções pelo menos desde o século XVI) era o uso de no máximo um apelido, por vezes precedido de patronímico; encontram-se muitíssimos homónimos, mesmo nas camadas mais elevadas da sociedade e concerteza muitos conversos acabaram por ter exactamente o mesmo nome que cristãos velhos contemporâneos. Por esse motivo, o nome, só por si, não é suficiente para se extrairem conclusões genealógicas minimamente seguras, em qualquer época que seja.
A adopção de apelidos duplos pelos conversos de origem hebraica não terá ocorrido com frequência (para além do uso de patronímicos a acompanhar o apelido), uma vez que era hábito pouco divulgado no século XVI, quando a questão se colocou. No entanto, julgo que na Índia portuguesa, com famílias de origem Indu, houve casos desses, normalmente adoptados, nesse caso, dos padrinhos.
Com os melhores cumprimentos,
António Bivar
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RE: Filhos de Escravas
Grato Fernando
Mesmo no Brasil chegaram alguns escravos mouros. Os nossos capturavam alguns mouros na costa e os traziam para o Brasil. No século XVI e XVII até mesmo europeus corriam o risco de se tornarem cativos no Brasil. O inglês Anthony Knivet foi um caso e escreveu interessantes memórias, reeditadas agora - "escritas num ritmo vertiginoso, numa sucessão de sensacionais - e às vezes inacreditáveis! - aventuras, as peripécias e sufocos do jovem corsário inglês Anthony Knivet são um admirável exemplar dos relatos de viagens pelo Novo Mundo produzidos no Renascimento, e um magnífico testemunho sobre o Brasil do século XVI".
Abraço
Ricardo
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RE: Filhos de Escravas
"No século XVI e XVII até mesmo europeus corriam o risco de se tornarem cativos no Brasil"
Estimado Ricardo de Oliveira:
Seria interessante conhecer a que naçôes de Europa pertenceriam estes europeus... Possivelmente dos Paises Baixos e Inglaterra, que por questôes religiosas, se os podia transformar em escravos??
Escravos Mouros, sim, que havia razias nas costas africanas do actual Marrocos, antigo Sahara Espanhol e Mauritânea... e também havia razias, mouras ás Canárias, mas aqui a intençâo era logo pedir rescate pelos cautivos cristâos.-
Estou esperando o envio do livro: "Fluxo e Refluxo..." , de Pierre Verge, que já me disseram ser um livro muito interessante sobre o tema da escravidâo no Brasil e seu relacionamento com África.-
Abraço,
Fernando de Telde
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RE: Filhos de Escravas
"negava a existência de maridos ou companheiros para as escravas sem referir a possibilidade de excepções"
Estimado Antóonio Bivar:
O relacionamento entre o proprietário e o escravo nâo era dogma, e claro que temos excepçôes, onde quer que seja e em qualquer tema, sempre encontraremos excepçôes... e até havia a possibilidade de fazer livre ao escravo... O casamento entre escravos nâo é a norma, mas a excepçâo.-
"encontrado diversos casos em regiões diversas do país o que torna impossível supor que se tratasse de casos insignificantes e descartáveis"
As quantidades que tenha encontrado, só será significante ou insignificante, se comparados com a populaçâo total de escravos na regiâo e no País...
" a realidade da escravatura em Portugal era mais complexa do que a que descreveu."
Claro que nâo seria num forum, onde se poderia trazer um tratado sobre escravatura, e também nâo seria eu que o iria fazer, por ser um mero leitor sobre o tema.-
Veja esta afirmaçâo encontrada numa página web:"os senhores não apenas usavam sexualmente as escravas, como não reconheciam os filhos que delas tivessem (escravo só tinha mãe, não tinha pai)" sic.
"Segundo a Lei de 24 de Julho de 1856, os filhos de mulher escrava nascidos a partir daquela data eram livres, mas obrigados a servir os donos até aos vinte anos de idade. A mesma lei proíbe a venda separada de mãe filho de menos de sete anos."
O que significa que era possivel vender crianças de menos de sete anos, anteriormente a dita lei..
ORDENAÇÕES FILIPINAS:
Que os scravos não vivam por si, e os Negros não façam bailos em Lisboa
Nenhum scravo, ou scrava captivo, quer seja branco, quer preto, viva em caza per si; e se seu senhor lho consentir, pague de cada vez dez cruzados, ametade para quem o accusar, e a outra para as obras da Cidade, e o scravo, ou scrava seja preso, e lhe dem vinte açoutes ao pé do Pelourinho.
E nenhum Mourisco, nem negro, que fosse captivo, assi homem como mulher, agasalhe, nem recolha na caza, onde viver, algum scravo, ou scrava captivo, nem dinheiro, nem fato, nem outra cousaque lhe os captivos derem, ou truxerem a caza; nem lhe compre cousa alguma, nem a haja delle per outro algum título, sob pena de pagar de cada vez dez cruzados, ametade para as obras da Cidade, ou Villa, e a outra para quem o accusar, além das mais penas, em que per nossas Ordenações e per Direito incorrer.
E bem assi na cidade de Lisboa, e huma legoa ao redor, se não faça ajuntamento de scravos, nem bailos, nem tangeres seus, de dia, nem de noite, em dias de Festas, nem pelas semanas, sob pena de serem presos, e de os que tangerem, ou bailarem pagarem cada hum mil réis para quem os prender, e a mesma defesa se estenda aos pretos forros. -
E a Lei de 16 de Janeiro de 1773:
Quanto ao pretérito, que todos aqueles Escravos ou Escravas, ou sejam nascidos dos sobreditos concubinatos, ou ainda de legítimos Matrimónios, cujas mães e avós são ou houverem sido escravas, fiquem no Cativeiro em que se acham durante a sua vida somente; que porém aqueles cujo Cativeiro vier das bisavós fiquem livres e desembargados, posto que as mães e as avós tenham vivido em cativeir
------------------
o comcubinato, se refere com os donos e os casamentos legitimos, nâo evitava que continuassem a ser escravos os nascidos... Assim o filho do Sr. e de escrava era escravo...
Estamos de acordo que é um tema complexo.-
Quanto a apelidos, de novos conversos, a própria lei é contraditória, proibindo aos cristâos velhos usar apelido estranho, ou adotar apelidos nâo herdados, e logo permitir que os novos cristâos adoptem apelidos de forma livre e arbitrária... Nâo encontro a lei, para conhecer o espirito da mesma, assim, que só me resta acreditar no que me diz.-
Melhores cumprimentos,
Fernando
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RE: Filhos de Escravas
Caro confrade Fernando de Telde:
A lei dos apelidos não era contraditória; apenas previa disposições diferentes para cristãos-velhos e novos convertidos. Cito uma mensagem do nosso confrade Eduardo Albuquerque:
“Assim, das Ordenações Filipinas, Livro V, Título XCII, § 9. transcrevo:
« E nenhuma pessoa tome appelido de Fidalgo de Solar conhecido, que tenha terras com jurisdição em nossos Reinos, não lhe pertencendo, nem vindo de tal Linhagem, postoque seus pais assi se chamassem, se na verdade lhes não pertencia.
E quem o fizer, perderá a fazenda, ametade para quem o accusar, e a outra para os Captivos, e perderá todo o privilegio, que per sua Linhagem e pessoa tiver, e ficará plebêo.
Porém os que novamente se converterem à nossa Sancta Fé, poderão tomar e ter em suas vidas, e traspassar a seus filhos sómente, os appellidos de quaesquer Linhagens, que quizerem, sem pena alguma.»
Deste texto legal ressalta claro que os cristãos novos podiam usar qualquer apelido.
É esta disposição, reprodução do § 13, Título XXXVII, do Livro II das Ordenações Manuelinas, de 31 de Março de 1520.”
Quanto à questão dos casamentos de escravos, o confrade cita uma lei em que essa possibilidade é expressamente referida, confirmando assim o que eu queria dizer; não me pronunciei acerca da frequência menor ou maior dessas situações, mas apenas alertei para o facto de que eram possíveis e suficientemente frequentes para se encontrarem em diversas épocas e locais expressas em assentos paroquiais e para até virem previstas numa lei, como agora ficamos a saber. Por essa razão alertei para o facto de que não se poder levar à letra o que o confrade escreveu acerca da escravatura, sob pena de podermos chegar a conclusões erradas em situações concretas. Recordo que escreveu:
“Dito isto, também é obvio que nâo se conhecesse os pais de ditos rebentos, pois as escravas nâo tinham marido nem companheiro, eram como gado tratadas, e procriavam segundo o destino pré marcado pelo proprietário. Todois os anos uma das escravas era mandada ser coberta, por um macho para dar crias: plus valia.-”
O que eu posso afirmar de acordo com os dados acima referidos é que nem sempre assim era, pelo que, por vezes, os pais dos referidos filhos poderiam ser os respectivos maridos ou companheiros, como poderiam ser proprietários, filhos de proprietários, etc.; mais uma vez lhe digo que não tenho qualquer intenção de “desculpar” a escavatura, mas acho que a sua afirmação que acima reproduzi só traduz uma parte da realidade. Nesta questão específica da procriação nem estou nada seguro que traduza uma parte significativa da realidade da escravatura em Portugal Continental, e foi por essa razão que lhe pedi bibliografia acerca do assunto.
Com os melhores cumprimentos,
António Bivar
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RE: Filhos de Escravas
Caro confrade:
Coloquei a minha resposta acima, por engano, mas julgo que não hawerá inconveniente.
Melhores cumprimentos,
António Bivar
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RE: Filhos de Escravas
Caro confrade,
Tenho encontrado pouquíssimas referências a escravos nas freguesias que ando a estudar. Encontrei, se não estou em erro, os assentos de óbito de um casal de escravos no século XVII que trabalharam para uma família com algumas posses na freguesia de Laúndos. Não sei dizer se tiveram filhos ou não, porque não copiei os assentos. O que encontrei também, na mesma freguesia, foi a referência curiosa a uma tal de Maria Gonçalves, solteira, "a mulata de Laúndos" que teve dois filhos. No primeiro assento de baptismo, com data de 2/12/1658, aparece o nome do pai, um certo Antonio Fernandes. Em 1666, esta mesma mulher, solteira, sempre descrita como a "mulata de Laúndos", teve outro filho de um certo Gonçalo Martins. Julgo que esta mulher não era escrava, pois não vem referida como tal. O outro caso que encontrei foi de uma certa Sepriana, solteira, "mulher preta que veio do Brasil e diz não conhecer os pais, escrava do Reverendo João de Sousa Magalhães, de Vila do Conde". Neste assento, que copiei, não aparece referido o nome do pai. E são essas as únicas referências a escravos que encontrei num período que vai do início do século XVII ao fim do século XVIII. Relembro que nessa época era comum as mulheres solteiras não referirem o nome dos pais dos filhos. Mas penso que também isso deveria depender muito do padre, pois os assentos do padre que estava colocado em Laúndos em meados do século XVII, quase sempre tinham o nome do pai do filho de uma mulher solteira, enquanto que os assentos do padre que o veio a substituir, muito frequentemente, omitiam essa informação. Até encontrei o caso pitoresco, no século XVII, de uma mulher solteira, que teve um filho e declarou que o pai era determinado indivíduo. Mais adiante, no mesmo assento de baptismo, havia uma alínea escrita pelo padre com data posterior ao baptismo da criança, em que a mulher dizia que afinal o filho era de outra pessoa ...
Cumprimentos
Rosário Figueiredo
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RE: Filhos de Escravas
Estimado António Bivar:
A lei que transcrevi para este forum, contem a parte dispositória do casamento de escravos, e também diz que nenhum escravo poderá viver em casa própria...
O casamento entre escravos, nâo era o lugar comum, era a excepçâo, e nâo varia um ápice as minhas palavras sobre a escravidâo e sobre a ideia que havia sobre o objecto escravo... Que esta ideia foi evoluindo no tempo para ideias mais humanistas? sim claro, nas referidas ordenaçôes Filipinas já se vê esse humanismo reflectido, mas teve que passar uns séculos mais para a aboliçâo da escravatura, que segundo lí, se deveu ás conclusôes dos economistas ingleses, que viram a impossibilidade de fazer a revoluçâo industrial, enquanto subsistisse a escravatura..... e também o interesse de enfraquecer o crescimento das colonias portuguesas do Atlantico, que seriam uma forte competencia, e retrasariam o crescimento do império colonial inglês das indias. Aqui, Indias, seria impensável a introduçâo de escravos, e também impensável reduzir á escravatura a populaçâo local, só poderia ser competitiva a exportaçâo dos produtos indios, proibindo a escravidâo em África.-
Para uma apreciaçâo real sobre o tema, aí está a observaçâo de quem iniciou este tópico que notou, porque é notório, que os filhos das escravas nâo tinham pai. Essa é uma realidade notória. Que houve casamentos entre escravos, o caro comfrade também o constatou, a lei fala nisso, e também fala da possibilidade de sacar á mâe crianças menores de 7 anos. Isso é notório. Agora, haveria que fazer um estudo, (que desconheço se já o há ou nâo), sobre a realidade familiar dos escravos. Sabemos que em determinado momento em Lisboa, havia 10% de escravos para uma populaçâo de 100.000 hab. Quantos escravos casaram nessa altura? Quantos filhos de escravos nasceram? qual o destino das crianças? ( isto pelo menos está regulamentado nas citadas ordenaçôes filipinas...) e podemos inferir que o destino era continuarem escravos, mas gostaria de saber a que idade eram sacados das mâes, pois aquela lei vinha proibir que se os saque antes dos 7 anos.-
Melhores cumprimentos
Fernando
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RE: Filhos de Escravas
"uma mulher solteira, que teve um filho e declarou que o pai era determinado indivíduo. Mais adiante, no mesmo assento de baptismo, havia uma alínea escrita pelo padre com data posterior ao baptismo da criança, em que a mulher dizia que afinal o filho era de outra pessoa ..."
Estimada Rosário Figueiredo:
Também encontrei um acento com essa alteraçâo, feita quase 10 anos depois do batismo, mas a assinatura pareceu-me ser de outro padre, que fez a tal emenda... Mas nâo deixa de ser bastante curioso.
A questâo da existencia de escravos em determinado lugar, e a sua quantidade, deverá ter-se em conta a economia desse lugar. Aqui, em Laúndo, vemos um casal de escravos e outra escrava trazida pelo paroco... É evidente que havia apenas escravos para serviços domésticos. Nâo estranha nada haver aqui um casal de escravos, integrados na casa familiar do dono. Esta situaçâo seria até agradecida por parte destes escravos, nem tentariam escapar dos seus donos, comportar-se-iam como serviçais livres...
Nas minhas caminhadas por este mundo, encontrei escravos em Beirut, Mauritânea e sul do antigo Sahara Espanhol... E em Canárias, poderiamos dizer que, algum em situaçâo de semi escravidâo.-
Melhores cumprimentos
Fernando de Telde
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RE: Assentos Paroquiais de São Miguel de Machede
Caros Confrades João Cordovil Cardoso e Fernando de Telde
Embora ainda numa forma pouco elaborada não quis deixar de apresentar o levantamento dos assentos de baptismo dos primeiros 25 anos desta Freguesia.
Nos assentos desta época não eram ainda mencionados os avós, quer paternos quer maternos. Por essa razão é dificil estabelecer relações quando aparecem individuos homónimos. Quero ainda dizer que procurei actualizar a grafia dos nomes, mas não consegui ser completo na tarefa, umas vezes por dificuldade em intrepertar a caligrafia do Cura Matias Coutinho, que diga-se em abono da verdade que é das mais claras que tenho visto em documentos daquela época, outras porque o nome me era completamente desconhecido. Dito isto,resta-me indicar o link para o acesso : http://henriquebanha.com.sapo.pt/Indice Cronologico.htm
Melhores cumprimentos
Henrique de Melo Banha
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RE: Assentos Paroquiais de São Miguel de Machede
Caros Confrades João Cordovil Cardoso e Fernando de Telde
Embora ainda numa forma pouco elaborada não quis deixar de apresentar o levantamento dos assentos de baptismo dos primeiros 25 anos desta Freguesia.
Nos assentos desta época não eram ainda mencionados os avós, quer paternos quer maternos. Por essa razão é dificil estabelecer relações quando aparecem individuos homónimos. Quero ainda dizer que procurei actualizar a grafia dos nomes, mas não consegui ser completo na tarefa, umas vezes por dificuldade em intrepertar a caligrafia do Cura Matias Coutinho, que diga-se em abono da verdade que é das mais claras que tenho visto em documentos daquela época, outras porque o nome me era completamente desconhecido. Dito isto,resta-me indicar o link para o acesso : http://henriquebanha.com.sapo.pt/Indice%20Cronologico.htm
Melhores cumprimentos
Henrique de Melo Banha
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RE: Assentos Paroquiais de São Miguel de Machede
Caro Henrique de Melo Banha
Só hoje consigo agradecer-lhe a sua mensgem apesar de ter ido logo de seguida à sua página.
A informação que teve a gentileza de divulgar é do maior interesse. Ainda não encontrei ligação com os meus mas, se o seu trabalho continuar, certamente que acabarei por as encontrar.
Por curiosidade: mora em Évora?
Cumprimentos
João Cordovil Cardoso
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RE: Assentos Paroquiais de São Miguel de Machede
Caro João Cordovil Cardoso
Como constatou a informação ainda é pouca. Vou continuar a pesquisa e quando tiver mais vou actualizando na página. Não moro em Évora mas sim perto de Tomar.
Não tenho possibilidades de me deslocar lá devido a doença de minha mulher que necessita de um apoio permanente. O meu interesse naquela freguesia do concelho de Évora resulta do facto dos meus antepassados por via paterna terem nascido aí por várias gerações. Para fazer a pesquisa tenho requerido ao ADE fotocópias dos microfilmes dos livros paroquiais, o que demora sempre algum tempo. Tentei junto da Directora do ADE por escrito obter uma outra forma de aceder à informação, mas foi-me dito que esta era a unica forma disponivel.
Cumprimentos
Henrique de Melo Banha
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RE: Assentos Paroquiais de São Miguel de Machede
Estimado Henrique de Melo Banha:
Agradeço a sua gentilesa para o link da sua página pessoal,
Melhores cumprimentos,
Fernando
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RE: Assentos Paroquiais de São Miguel de Machede
Caro Henrique Melo Banha:
Parabéns pelos datos apontados por sí.
Como podemos verificar, o Domingos Coelho foi o que mais plus valia conseguio com o paritório da(s) sua escravas, duas para ser exactos, em especial a Margarida que lhe deu 5 novos escravos e a Ana apenas 1... (terá morto no parto esta Ana?)
Também vemos que neste periodo de 25 anos nasceram na freguesia 46 escravos, o que dá uma média de 1,84 nascimentos por ano de novos escravos...
Logo vemos que a maioria das escravas nâo repetia maternidade. Exceptuando o caso da escrava Margarida do Domingos Coelho, que foi a que maior lucro deu. Seria interessante ver os registos de óbitos dos escravos e cruzar datos a ver quantas escravas faleciam no parto, ou se era pura estratégia dos donos, de manter-las apartadas da maternidade...
Mais uma vez o meu obrigado,
Cumprimentos,
Fernando de Telde
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RE: Assentos Paroquiais de São Miguel de Machede
Caro Fernando de Telde
Depois de ler a sua mensagem voltei a observar os assentos que tiveram por base a listagem que publiquei e encontrei algumas curiosidades.
Encontrei algumas anotações à margem em que é referida a morte do baptisado, poucas por sinal, tendo em conta uma mortalidade infantil talvez superior á de hoje em dia. Também algumas referências ao baptisado em casa, que o Cura confirma apondo os santos óleos e indiciam a suspeita da morte provável do nascituro. Creio que seria costume dos familiares ou da parteira procederem assim quando o nascituro apresentasse sinais de que não iria vingar. Não encontrei qualquer referência a morte da mãe por ocasião do parto.
Por outro lado encontrei um caso único de apadrinhamento dum filho de escrava por um Fernando Tição ele próprio escravo dos Tições. Outros padrinhos e madrinhas dos filhos das escravas eram com mais frequência, o Cura , ermitôes ou ermitoas, que desconheço o que significa concretamente.
Na pesquisa que estou efectuando estou a dar prioridade aos assentos de baptismo e de casamento para poder estabeler as ligações familiares, tendo em conta o grande numero de alguns apelidos iguais. A obtenção das fotocópias dos microfilmes está a revelar-se demorada, agora agravada pelo facto do funcionário que trata do assunto ter entrado de férias. Assim só vou receber as próximas cópia no próximo mês. Concluindo, só no final desta fase irei passar aos assentos de óbito.
Melhores cumprimentos.
Henrique de Melo Banha
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RE: Assentos Paroquiais de São Miguel de Machede
Estimado Henrique de Melo Banha:
Bastante interessante todas as informaçôes que aqui indica, em especial, a mim chama-me a atençâo sobre os padrinhos dos escravos, serem gente nâo comprometida, como os curas, ermitôes e ermitoas... Estarei atento ás suas notas e estudos, que agradeço estar a compartilhar.
Melhores cumprimentos
Fernando de Telde
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RE: Assentos Paroquiais de São Miguel de Machede
Caros Confrades
Voltei a este meu tópico para compartilhar convosco um assento curioso que encontrei nas pesquisas que tenho vindo a efectuar nos assentos da freguesia de São Miguel de Machede.
É um assento de um casamento que teve uma queixa apresentada por uma escrava ou ex-escrava, a duvida aparece pelo teor do assento que ao se lhe referir diz que escrava que foi de Gaspar Piteira. Pelo que está escrito foi julgada improcedente.
É o seguinte o teor do assento:
Transcrição do assento de casamento de Gonçalo Mateus com Joana Fernandes
A dous dias de Outubro de 1605 recebi a porta desta Igrª. De S. Miguel guardada a
Forma do Sagrado Concilio Trid. E com autorisão deste Arcebispado, corridos os beninos nas freg.as onde corrinha e por humã sentença dada pello do Luís da palma de brito Vigário geral neste ditto Arcebispado pe q mãda q não restando o impedimento q lhe pos Luiza banha Escrª q foi de Gaspar Piteira julgo não provar nada contra Gonçalo matheus os recebi em face de Igrª. Por donde recebi o ditto G. matheus filho de matheus glz e de Ignes piz iaa defuntos com Joana frz filha de fernão Piz e de frª. Dias moradores e naturais q foram desta fregª. E os hei por legítimos cazados . Em face do qual fis e assinei este o dia mês e ano dfs. A sentença de q faço m~esão se achava sendo necessária bra almario da Sachristia desta Igrrª. Cõ outros papeis desta qualidade. Ttas. Q forao presentes Mel. Brás, Gaspar frz, pº gomez, Antº Cortes, Loppo frz. Nicolao Domingues, frcº. Lopez, Antº frz e outros muitos de fora e da fregº.
Assinado: Mathias Coutinho
Pelo que se pode ver terá havido da parte da escrava provavelmente uma pretensão de que o dito Gonçalo Mateus fosse declarado pai de algum seu filho.
Noutros assentos que acedi pude ver que ela teve pelo menos quatro filhos.
Henrique de Melo Banha
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RE: Assentos Paroquiais de São Miguel de Machede
Caro Henrique de Melo Banha:
Agradeço o ter compartido este acento, que revela algumas das relaçôes sociais da época.
Chama a atençâo a quantidade de testemunhas que se apresentaram neste acto.. O Gançalo Matheus, teve que provar com muitas testemunhas a oposiçâo da Escrava Luiza Banha. Seria interessante conhecer também, esses acentos em que esta aparece como mâe de quatro filhos.
Mais uma vez o obrigado pelo interessante destas noticias,
Cumprimentos,
Fernando de Telde
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RE: Assentos Paroquiais de São Miguel de Machede
Caro Fernando de Telde
No que respeita aos assentos dos filhos da escrava Luiza pouco hà a acrescentar, nasceram respectivamente em 1593, 1595, 1599 e 1601. Em dois dos assentos é referido que o pai não é conhecido e, nos outros dois nem isso é mencionado. Os padrinhos foram as mais das vezes os hermitões António Gonçalves e Susana Rodrigues, mas também João Lopes que é designado como "sedario" ou sedano.
Num dos assentos aparece como madrinha Margarida Piteira provavelmente familiar do dono da escrava Gaspar Piteira.
Pode não ter nada a ver com a acção movida pela escrava mas em 1603 foi baptizado uma criança que no assento de baptismo é designada por enjeitada e que foi encontrada à porta de uma igreja localizada nos limites da povoação.
Por curiosidade transcrevo um dos assentos:
Aos xi de Octubro de 93 baptizou e pos os Santos Oleos o pe. Gar. frz~ cura de Nª Sª de machede a Brás fº de Luiza escrª de Gar. pitrª forao padrinhos João Lopez Sedario e Margarida pitrª fis e assinei este era Vf.T.
Assinado Coutinho
Cumprimentos,
Henrique de Melo Banha
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RE: Assentos Paroquiais de São Miguel de Machede
Estimado Henrique de Melo Banha:
Mais uma vez, obrigado por compartir estas informaçôes. Na verdade é pena nâo se conseguir indicios do porquê da reclamaçâo da escrava, que tentava intrometer-se no casamento da mensagem anterior.
Melhores cumprimentos,
Fernando de Telde
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RE: Assentos Paroquiais de São Miguel de Machede
Caros Confrades
Volto novamente a este tópico para compartilhar um assento de casamento com o qual topei nas minhas pesquisas sobre os naturais de São Miguel de Machede.
É o assento de casamento de uma escrava com um homem livre.
Trata-se da escrava Jerónima filha de Margarida escrava de Domingos Coelho, com quem já tinha topado quando pesquisei os assentos de baptismo. Foi baptizada a 8 de Janeiro de 1590 e na altura foi anotada como filha de Margarida e de pai desconhecido.
No entanto em 17 de Abril de 1614 no assento do seu casamento com Manuel Francisco filho de Francisco Rosado e de Isabel Dias é dada como Jerónima Coelha, escrava de Catarina da Vinha, filha de Margarida Coelha e de Diogo Pires.
Donde se conclui que filho de escravo, escravo ficava e até mudava de dono, resta saber se após este casamento teria ficado livre.
Henrique de Melo Banha
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RE: Assentos Paroquiais de São Miguel de Machede
Caro Henrique Banha:
Depois do casamento poderia vir a ser liberta, por vontade exclusiva do dono/a, nâo havendo qualquer resoluçâo que obrigasse á liberaçâo de um/a escravo/a, pelo simples facto de casar, ainda que casse com um homem livre. O homem livre é que perdia os seus direitos, e se nobre perdia a sua nobreza por ter casado com uma escrava... E os filhos de homem livre e de escrava, continuavam escravos, isso ia por vidas, e aí sim que havia leis que regulamentavâo isto... Creio que em alguma mensagem coloquei alguma lei filipina(?) onde se faz alusâo a isto.
Seria interessante saber se Diogo Pires, Manuel Francisco, Francisco Rosado e Isabel Dias,seriam homens e mulher livres ou escravos também...
Deverei receber do Brasil, a próxima semana, um livro que focará estes aspectos. Logo, estarei bastante melhor documentado para intervir.
Melhores cumprimentos,
Fernando de Telde
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RE: Assentos Paroquiais de São Miguel de Machede
Caro Fernando de Telde
Obrigado pelos esclarecimetos que colocou na sua mensagem. Quanto a saber se os que referiu eram também escravos não tenho documentação que o diga. Pelo que está escrito nos assentos diria que não pois os outros são sempre referidos como tal.
De qualquer forma como vou continuar a investigar esta freguesia, terei talvez oportunidade de ver como são designados os seus descendentes caso venham a aparecer.
Melhores cumprimentos
Henrique de Melo Banha
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RE: Filhos de Escravas
Boa noite, caro António Bivar
Relativamente à questão deste tópico encontrei uma situação invulgar, que não posso deixar de partilhar com os caros confrades.
Na freguesia do Alferce, em 1760, casa Benedicta Josefa, com Domingos Rodrigues, sendo esta escrava de Margarida Neta
No assento de casamento, constam os nomes dos pais ? Correia e Luísa Gomes, não fazendo referencia ao facto de serem escravos.
Este casal tem uma filha, Margarida Rosa, nascida a 23.05.1761, que casa em 1789 com José Correia Paixão, com três gerações conhecidas no Alferce, de agricultores. Também o Domingos Rodrigues tem ascendencia conhecida, que cola com a minha. Em lado algum consta que a Margarida Rosa seja ou tenha sido escrava.
A Benedicta veio a falecer em 07.09.1762, sem que no assento de óbito conste que seja escrava.
Embora este episódio ocorre alguns séculos depois dos casos que têm sido falados, mostra que nem todos os escravos eram filhos de pais incógnitos, que os escravos casavam e que, em principio, podiam adquirir a liberdade com o casamento. Também demonstra que os filhos de escravos, nem sempre, eram escravos pelo nascimento.
É obvio que há outros dados a ter em conta. O facto de a Benedicta ser escrava de uma mulher, diz-nos que a sua "dona" seria provavelmente viuva ou solteira, podendo ser uma pessoa idosa e só. Se for este o caso, então a liberdade poderia ser uma forma de agradecimento pela companhia de uma vida. O facto de o Alferce ser um meio pequeno e da familia do marido da Benedicta ter raízes nessa terra, sendo proprietarios, também poderá ter ajudado à libertação, que poderia, até, ter sido comprada pela família do noivo.
Isto tudo são suposições. Mas todas elas legitimas.
Nesta mesma freguesia, temos ainda como escravas:
Domingas (sem sobrenome), escrava de Estêvão Andrez de Lima, mãe de um Domingos, nascido em 31.08.1681, filho de pai incógnito. Foram padrinhos António de Lima, casado com Margarida Estevens e Margarida Estevens, solteira, filha de Vicente de Lima e Maria Estevens.
Esta Margarida Estevens solteira era irmã do Estêvão Andrez de Lima
Sebastiana (sem sobrenome), escrava de Maria Martela, mãe de Inácia, nascida em 20.01.1765 e Inácio, nascido em 11.06.1766, ambos filhos de pais incógnitos
Cumprimentos
Nuno Inácio
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RE: Filhos de Escravas
Caro Nuno Inácio:
Interessantíssimo esse caso! presumo que os pais da noiva tivessem sido também escravos mas talvez esse facto não tivesse de ser registado (seriam já falecidos? se o fossem deveria constar do assento); em qualquer caso, nenhum dos pais era incógnito, o que também é significativo.
Recentemente também encontrei referências a diversos casamentos de escravos nos sumários matrimoniais da cúria eclesiástica de Lisboa (entre os séculos XVI e XVIII), documentos que, segundo me parece, apenas se referiam a casamentos em que um dos noivos era de fora do Patriarcado, o que mostra que diziam respeito apenas a uma pequena percentagem de todos os casamentos realizados em Lisboa, deixando assim adivinhar a existência de muitos outros casamentos de escravos na capital do Reino.
Cumprimentos,
António Bivar
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RE: Filhos de Escravas
Caro Henrique,
Também, como outros, não vejo razão de espanto. Bem pelo contrário. Era absolutamente previsível.
Os escravos no sec. XVI e XVII iam trabalhar onde faziam mais falta, i.e., nas zonas rurais (de onde o estatuto social dos habitantes indígenas os fazia fugir dali a sete pés!). :-)
O "desconhecimento" da identidade dos pais (geralmente os respectivos proprietários ou, mais dificilmente, algum outro escravo) também era de esperar.
Ainda há uns 100, 120 anos, havia algumas zonas do Alto Alentejo onde, sempre que se avistava um forasteiro, os locais comentavam: "Olha. Lá vem um branco".
E depois, há o fenómeno de "branqueamento", que aconteceu em larga escala com essas filhas de escravas. Perdoem-me a referencia às cores da pele, mas aqui vai. Tive um sócio (mais velho que o meu pai), mulato, que foi o único chefe da Repartição Central de Finanças de Lisboa. Casado com uma branca, teve um único filho (mulato claro), um conhecido advogado, que tambem casou com uma branca. As duas filhas são uma loura e uma morena, tipicamente lusas. Ninguem adivinha que têm origens africanas...
Luis K. W.
Lisboa-Portugal
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RE: Filhos de Escravas
Caro Luis
Não precebi o que queria dizer com "o estatuto social dos habitantes indigenas os fazia fugir dali a sete pés"
Na sua opinião a emigração interna já se processava nessa época?
Quanto à expressão "Olha. Lá vem um branco". quererá dizer que a maioria da população do Alentejo dessa época tinha a consciencia de que eram descendentes de negros?
Nunca tal tinha ouvido, embora tenha conhecimento duma povoação especifica no concelho de Alcacer do Sal que teve uma maioria a certa altura de população de origem africana.
Cumprimentos
Henrique de Melo Banha
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RE: Filhos de Escravas
Caro Henrique,
Peço, mais uma vez desculpa, mas desta vez por querer armar em engraçado.
Peguei na sua frase ("estatuto social dos habitantes") e juntei-lhe o que eu "pressinto" baseado no que conheço da realidade da época.
Daquilo que, ao longo dos anos, tenho lido sobre os portugueses desses séculos (circa 1600's), apercebi-me que, apesar das dificuldades, viajavam muito mais do que somos tentados a pensar. E com frequência iam mesmo para muito longe, em viagens que levavam longos meses.
Os rurais mais pobres eram, obviamente, os que primeiro partiriam em busca de melhor sorte (nas cidades...). Até porque o seu trabalho nos campos (alentejanos) estava a ser substituído por mão de obra escrava.
O que aconteceu com os escravos africanos foi um pouco o que se passou no Norte, uns 300 ou 400 anos antes, quando das razias e reconquistas aos mouros.
Nessas guerras muitos mouros foram escravizados e levados para o Douro Litoral, Minho, etc., para trabalhar ("como mouros") na lavoura. Ao fim de um par de gerações, os descendentes desses mouros, já libertos, estavam perfeitamente integrados na sociedade, com as suas proprias explorações agricolas, e estabelecidos como artesãos. Muitos tornaram-se cristãos, "diluindo-se" e "desaparecendo" completamente.
E por isso é que, em Portugal, a maior concentração de ADN com vestígios de ascendência norte-africana se encontra na região do Porto. Vá lá dizer isso aos ultras95, filhos do dragão e outras claques do FCP que chamam de "mouros" aos outros! :-))
Quanto à expressão sobre o forasteiro ser alcunhado de "branco", creio que quem a usava no final do séc. XIX não fazia a mínima ideia de onde a "alcunha" vinha... e se lho dissessem, não acreditaria.
Para terminar, pode crer que não foi só UMA povoação no Alentejo que teve uma maioria de população africana...
Cumprimentos
Luís
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RE: Filhos de Escravas
Caro Luis
Muito obrigado pelos seus esclarecimentos.
De facto é uma novidade para mim a questão da mobilidade dos trabalhadores nessas recuadas épocas. Quanto ás outras questões já tinha noticia delas. A minha curiosidade no que respeita aos casos que relatei vem do facto de as informações que retiramos dos assentos paroquiais terem por vezes para as mesmas pessoas abordagens diferentes.
Já que abordou o assunto do ADN, e porque fiz recentemente o teste, fiquei a saber que sou do haplogrupo J2 que é de certo modo minoritário em Portugal, dizem que não mais de 10% da população portuguesa. Este grupo é muito presente na população do norte de Africa e está presente em cerca de 30% dos individuos de origem judaica. Isto pela minha linha paterna e varonil, o que se encaixa prefeitamente com as minhas raizes conhecidas que mergulham até cerca de 1600 na vila de Reguengos de Monsaraz.
Portanto para as tais claques serei "mouro"! a propósito não resisto a contar o que se passou recentemente. Levei o meu neto mais novo que por sinal é meio francês, a assistir a um jogo de futebol do Porto com o Sporting, a seu pedido porque decidiu ser apoiante do Porto. Tomei lugar junto dos apoiantes do Porto e verifiquei que o sua principal preocupação era ofender a mãe do árbitro!
Cumprimentos
Henrique
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RE: Filhos de Escravas
De nada Henrique.
Um meu tio (cerca de 1,85m, maciço) foi árbitro da 1.ª divisão de futebol. Ouvia ofensas à minha avó até quando a equipa da casa ganhava por 3-0 com dois golos de penalty! :-)
Luis
Lisboa-Portugal
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