Entrevista com o Duque de Bragança
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Entrevista com o Duque de Bragança
Senhor Dom Duarte de Bragança em entrevista
Posted by Pedro e Eninha Campos on Jun 28, 2009 in Entrevista |
Muito gentilmente Senhor Dom Duarte de Bragança concedeu uma entrevista ao nosso blog O QUE É ISSO .Estamos agradecidos e honrados .
“O brasileiro é um português à solta”.
O Chefe da Casa Real Portuguesa, Dom Duarte Pio João Miguel Gabriel Rafael de Bragança é filho dos Duques de Bragança, Dom Duarte Nuno, Neto de D. Miguel I, Rei de Portugal e Dona Maria Francisca de Orleans e Bragança, Princesa do Brasil, trineta do Imperador D. Pedro I do Brasil, também conhecido como D. Pedro IV de Portugal.
Casou a 13 de Maio de 1995, com a Senhora Dona Isabel de Herédia, e é pai de:
Dom Afonso de Santa Maria, Príncipe da Beira, nascido a 25 de Março de 1996 e baptizado em Braga a 1 de Junho de 1996,
Dona Maria Francisca nascida a 3 de Março de 1997 e baptizada em Vila Viçosa em 31 de Maio de 1997
Dom Dinis nascido a 25 de Novembro de 1999 e baptizado no Porto em 19 de Fevereiro de 2000.
Como Presidente da Campanha “Timor 87”, desenvolveu actividades de apoio a Timor e aos Timorenses residentes em Portugal e noutros países, iniciativa que teve o mérito de dar um maior destaque à Causa Timorense.
Sob a presidência do Senhor Dom Duarte participaram dessa campanha numerosas personalidades notáveis de diferentes quadrantes da sociedade portuguesa da altura, conseguindo-se a construção de um bairro para Timorenses desalojados.
Através da Fundação Dom Manuel II, instituição que preside, deu continuidade a esse empenho através de ajudas financeiras para a concretização de projectos nos domínios da educação, cultura e promoção do desenvolvimento humano em Timor e noutros países lusófonos.
Agraciado por múltiplas ordens honoríficas, o Duque De Bragança está ligado por laços familiares a várias Casas Reais da Europa, nomeadamente: Luxemburgo, Áustria-Hungria, Bélgica, Liechenstein, Itália, Espanha, Roménia, Sérvia, Bulgária Thurn e Taxis, Bourbom Parma, Loewenstein etc.
Visita regularmente países com estreita relação histórica a Portugal frequentemente a convite dos respectivos Governos ou Chefes de Estado com quem mantém laços de amizade, como por exemplo o Brasil, Arábia Saudita, os Emiratos Árabes Unidos, Japão, China, Marrocos, Rússia, Estados Unidos, etc.
Desde muito jovem dedicou a sua atenção á defesa do ambiente, pertencendo desde os dez anos à Liga para a Protecção da Natureza.
O QUE É ISSO - Senhor Dom Duarte, sabemos que se interessa muito pelo tema da ecologia e defesa do meio ambiente. O mundo está muito preocupante. Recentemente as abelhas e certas espécies de sapos estão a extinguir-se, pássaros a morrer, a água cada vez mais escassa… A Floresta Amazónica que é o maior estoque de carbono terrestre (em forma de árvores, folhas e raízes) a desaparecer… Infelizmente, a
causa para todas estas situações parece ser a acção do homem. Qual lhe parece que seria a melhor forma de procurar uma solução?
SENHOR DOM DUARTE : Desde a minha primeira visita ao Brasil, durante a qual viajei pela Amazónia de “barco capoeira” e carro ,em 1972 , que estou interessado nesse assunto que tem sido abordado de modo incoerente e ignorante por muitos brasileiros e estrangeiros .
Os brasileiros diziam que ” também temos o direito de explorar os nossos recursos, os americanos querem é tomar a nossa Amazónia” ( este era o principal argumento dos políticos e militares ) ,”não temos que ser o pulmão do mundo “, etc..
Ora, as piores consequências da devastação serão para o Brasil, como já foram para o Nordeste anteriormente…
Um Secretário de estado do Ambiente de um dos Governos Militares, Prof. Paulo Nogueira Neto, provou e publicou há muitos anos que ” Dois terços das chuvas que regam o planalto central têm origem na floresta amazónica “. Ou seja, Goiás, Minas, etc., poderão ficar como é actualmente o Nordeste. O Rio São Francisco é o exemplo do que poderá suceder aos rios amazónicos.
Os recursos agrícolas só têm interesse em algumas áreas. As outras terras, uma vez desflorestadas, duram poucos anos.
A solução passaria pelos seguintes passos, na minha opinião (peço desculpa aos brasileiros se estou a dizer redundâncias , mas há anos que venho falando nisso ):
Desenvolver ainda mais o actual sistema de vigilância aérea e satélite, e um corpo de intervenção armada , pára-quedista, que possa intervir nas áreas em que estejam a acontecer desflorestamentos ilegais. E ainda bombeiros aéreos especializados.
Como todo o mundo está interessado, e os custos seriam grandes, para ter eficácia, criar um fundo internacional para apoiar essas intervenções, que seriam feitas exclusivamente por unidades sob comando brasileiro.
As organizações ecologistas deveriam apoiar as congéneres brasileiras para pagar a guardas florestais, e a voluntários, que tentassem efectuar uma vigilância por terra, a nível regional ou municipal. Há muita gente dedicada a essa causa no Brasil - começando pelos seringueiros - que mereceria ser apoiada.
Tenho muita esperança nas novas orientações do Governo do Presidente Lula, que conta com pessoas mais motivadas para essa causa assim como ele próprio .
O QUE É ISSO - Senhor Dom Duarte, li recentemente que num inquérito a mais de 700 crianças a maioria não soube identificar as mais básicas plantas, flores e animais. A culpa dessa lacuna no conhecimento das crianças é culpa dos pais que permitem que suas crianças passem muito mais tempo à frente dos computadores? Isso é um “mau presságio” para a preservação do meio ambiente ?
SENHOR DOM DUARTE : O ensino em Portugal é excessivamente teórico, virado para a preparação para a Universidade, e desligado das realidades importantes da vida. O conhecimento da natureza sofre muito com essa orientação , assim como a saúde, e principalmente o desenvolvimento do raciocínio lógico … Quem vive no campo, ou tem pais que lá viveram, ainda poderá aprender com eles, mas os pais estão cada vez mais afastados dos filhos . Talvez que com esta crise isto mude e muita gente volte para o campo .
O QUE É ISSO- A família, e o próprio conceito de família, estão neste momento a sofrer grandes ataques, muito especialmente em Portugal. Qual lhe parece ser a grande causa para esta situação e como podemos contribuir para combatê-la ?
SENHOR DOM DUARTE : Em parte isto deve-se a motivos ideológicos , mas também a interesses económicos, que preferem dominar e manipular uma massa humana sem estruturas culturais e éticas. Daí o grande ataque à agricultura familiar, às pequenas empresas familiares, e a promoção de falsas soluções: como o aborto livre em vez da ajuda às futuras mães em dificuldade, e a distribuição de preservativos aos jovens em vez da educação para a responsabilidade. Claro que o aborto economiza ao Estado muitos custos sociais, e a fabricação de preservativos é um negócio, mas não creio que sejam essas as principais motivações. Será mais a difusão de um modelo de comportamento moralmente irresponsável.
Para combater esta situação, podemos participar nas associações que defendem a Família, e levar a que os Partidos políticos sejam obrigados a negociar o nosso voto, dando lugares no Parlamento a quem represente os nossos valores. O mesmo nas associações que representam as famílias nas escolas, etc..
O QUE É ISSO- Sabemos que é um católico convicto, por isso deve ser com especial alegria e orgulho que assistiu neste mês de Abril, em Roma, à canonização do seu antepassado D.Nun’Álvares Pereira - o Beato Nuno de Santa Maria. Este grande herói português, pelas suas vitórias militares garantiu a independência de Portugal face a Espanha, e pelo seu percurso espiritual veio a ser santo. Parece-lhe que um santo e herói do sec.XIV pode ter algo a ensinar a estes nossos tempos?
SENHOR DOM DUARTE : A gente da nossa época tem tudo a aprender com ele. Por isso foi óptimo que a canonização só acontecesse agora, quando é realmente importante, e não só para os católicos. Saíram mais de 13 livros, o último é o do Prof. Jaime Nogueira Pinto e é excelente. Lê-se como um romance.
O QUE É ISSO- Um dia li uma entrevista em que citava a lindíssima frase: “O brasileiro é um português à solta”. Sendo os nossos leitores maioritariamente brasileiros e portugueses, pode deixar-lhes um breve comentário?
SENHOR DOM DUARTE : O brasileiro evoluiu a partir do português numa direcção de grande abertura afectiva e cultural que lhe permite encarar as novidades sem os preconceitos que frequentemente nos atrapalham a nós. Como sou 50 % brasileiro, pela minha Mãe - e creio que conheço bem esse magnífico País - mas ao mesmo tempo tenho uma perspectiva portuguesa e europeia, creio que posso ser um bom observador dessa realidade que sempre me fascinou.
Admiro imenso alguns intelectuais e escritores brasileiros, a começar pelo Ariano Suassuna, que em conversas no Recife, e pelos seus livros, me levou a perceber a alma tradicional brasileira. Também os meus primos me ajudaram muito. E outros escritores, como Roberto Marins, com a sua magnífica literatura com histórias do Brasil antigo, que agora os meus filhos lêem. E o ex-Deputado António Henrique Cunha Bueno, o António Carlos Noronha,etc.. Não posso citar todos os amigos que me levaram a conhecer o verdadeiro Brasil, mas quanto mais conheço mais gosto!
A minha Mulher passou a sua infância no Estado de São Paulo, e fala impecavelmente com as duas pronúncias, a paulista e a de cá…
No ano passado estivemos em Mariana, MG, a oferecer à cidade um grande quadro a óleo da Rainha Dona Mariana , mulher de Dom João V, em cuja honra a cidade foi nomeada. Estavam à espera há 300 anos, pois a Rainha tinha prometido e o quadro nunca lá chegara…
http://www.oqueeisso.blog.br/2009/06/28/senhor-dom-duarte-de-braganca-em-entrevista/
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RE: Entrevista com o Duque de Bragança
“50% da riqueza produzida em Portugal é para sustentar o Estado”
D. Duarte Pio de Bragança
D. Duarte Pio de Bragança é pretendente ao trono de Portugal, e detentor do título de duque de Bragança, reivindicando direitos sobre o tíitulo de Rei de Portugal. É o chefe da Casa de Bragança e, por inerência, o chefe da Casa Real portuguesa.
Nasceu em Berna a 15 de Maio de 1945. Foi o primeiro filho de D. Duarte Nuno de Bragança e de D. Maria Francisca de Orléans e Bragança. Os seus padrinhos foram o Papa Pio XII, a Rainha D. Amélia de Orleães e a Princesa Aldegundes de Liechtenstein.
Estudou em Portugal, no Colégio Nuno Álvares e nos Jesuítas de Santo Tirso. Em 60 ingressou no Colégio Militar. Estudou no ISA e graduou-se pelo Instituto para o Desenvolvimento, da U. de Genebra.
Entre 68 e 71 cumpriu o serviço militar em Angola como piloto da FAP. Em 72 organizou uma lista independente de candidatos à AN o que determinou a sua expulsão do território angolano por ordem de Marcelo Caetano. No 25 de Abril divulgou em comunicado: “Vivo intensamente este momento de transcendente importância para a Nação. Dou o meu inteiro apoio ao MFA e à Junta de Salvação Nacional”.
Foi presidente da Campanha “Timor 87 de apoio à independência de Timor-Leste. Tal iniciativa deu destaque à causa timorense, congregando diversas personalidades. Com esses e outros apoios, D. Duarte conseguiu a construção de um bairro de quarenta casas para desalojados. Através da Fundº D. Manuel II enviou ainda ajudas para Timor-Leste no valor de centenas de milhares de €.
Casou com D. Isabel Inês de Castro Curvelo de Herédia e tem três filhos.
Quais as ligações afetivas de Dom Duarte de Bragança a Viseu?
Desde criança que me lembro de vir a Viseu com os meus pais, de achar uma cidade lindíssima e com pessoas muito simpáticas. Mas quando o engenheiro Pedro da Silveira me deixou a casa de Santar passei a vir mais vezes e a ter uma atividade muito próxima. Vivi em Santar uns anos, embora fosse muitas vezes a Lisboa, tinha a minha base aqui em Viseu. Entretanto combinei com o meu irmão Miguel e ofereci-lhe a casa de Santar, que agora dirige. A partir daí, sobretudo com o casamento e com a necessidade de resolver vários problemas em Lisboa, no resto do país e no mundo lusófono, acabei por vir menos vezes a Viseu. Mas tenho uma ligação afetiva muito grande à cidade, que tem o mérito de sempre ter conseguido preservar a sua área histórica, com algumas barbaridades pelo meio, mas de modo geral tem tudo bem preservado e isso é a coisa mais difícil nos nossos dias. Temos localidades lindíssimas em Portugal que estão completamente desfiguradas e há sobretudo um problema, as instituições oficiais preocupam-se com os monumentos, mas não tomam em consideração a paisagem. E a cidade de Viseu, com um edifício como, por exemplo, a torre da Segurança Social, destrói muito da paisagem urbana. Uma rua lindíssima, medieval, com o caixote do Siza Vieira no meio perde a sua graça, por mais interessante que seja a arquitectura dele. Não se pode misturar nenhuma área, que tem um conjunto paisagístico, um equilíbrio próprio, que faz parte da nossa memória e desfigurá-la com construções que não têm nada a ver.
Duarte Pio João Miguel Gabriel Rafael. É este o nome completo? Detém alguma simbologia?
É tradição de família pedir a proteção dos três arcanjos [Miguel, Gabriel e Rafael]. Todos os membros da família tiveram sempre esses nomes e até o ramo brasileiro mantém essa tradição.
Agrónomo e agricultor, foi piloto aviador. A terra e o ar. E o mar português ficou de fora?
Não. Há uns anos quando se comemorou o centenário do assassinato do rei D. Carlos, que foi o fundador das Ciências de Estudo Marítimo da Oceanografia em Portugal, fizemos um congresso internacional dos países lusófonos (Congresso Mares da Lusofonia). Vieram cientistas, especialistas, oficiais da marinha, todos os países de língua portuguesa e gostaram tanto do congresso que pediram para se repetir. Desde então tem-se feito todos os dois anos e o terceiro vai ser no Rio do Janeiro, organizado pela marinha brasileira, pela Associação dos Antigos Marinheiros Brasileiros e pela Petrobrás. E, neste sentido, o mar não fica de fora.
Como vê o momento político-económico-social vivido em Portugal? Existe alternativa?
Temos um grande problema de pensamento em Portugal que é causado pelo ensino escolar, pela cultura familiar e que põe de lado o raciocínio lógico. Tomam-se decisões emocionais e pouco lógicas e estamos na situação de uma pessoa que andou anos a comer de mais, a não cuidar da saúde e agora tem que entrar em dieta rigorosa e tomar remédios muito amargos. Esta é a situação do Estado português. Depois ficamos muito zangados com o médico que é muito mau connosco quando, na verdade, temos que nos culpar a nós próprios porque deixamos o nosso Estado, eleito por nós, dar cabo da economia portuguesa por inépcia, irresponsabilidade e, nalguns casos, francamente, por corrupção. Muitas destas obras espaventosas de país muito rico que andámos a fazer durante estes anos todos tinham dois objetivos: Ser simpático para com o eleitorado que gosta de autoestradas, rotundas, de monumentos engraçados e disparatados nas rotundas mas, sobretudo, obras públicas. Mas há um motivo muito pior, estou convencido que muitas dessas obras públicas eram para dar negócios aos amigos, que depois dão emprego aos políticos que tomaram essas decisões, já para não dizer, financiar os partidos políticos a partir de comissões e doações dadas pelas empresas que fizeram as grandes obras públicas. Se em vez de, por exemplo, se ter feito a Expo, em Lisboa, onde se gastaram centenas de milhões de euros numa festa de seis meses, se tivessem restaurado bairros históricos de Lamego, Lisboa, Porto, uma quantidade de bairros históricos em Portugal que estão a cair, dava trabalho a muitas pequenas empresas de construção civil, era muito mais útil para o país, tinha muito mais interesse. Não dava era as tais comissões nem as negociatas que foram feitas à volta da Expo. O mesmo aconteceu com o Centro Cultural de Belém, estádios de futebol, ponte Vasco da Gama que custou imenso e que estamos a agora a pagar. Na altura o estado estava a pagar as suas despesas com dinheiro do exterior e quem nos emprestava o dinheiro disse: “Então como é que vão pagar isso? Com o vosso nível de vida nunca vão ser capazes de pagar. Só continuamos a emprestar se passarem a ter uma gestão muito cuidadosa e se gastarem menos do que aquilo que ganham”. Mas ainda estamos a gastar mais do que o que ganhamos… Isto era o inevitável causado pela irresponsabilidade e que já tinha acontecido com a primeira República, começaram a fazer a mesma coisa e em 1926, ao fim de 16 anos estavam na falência. Alternativas… Em primeiro lugar produzir produtos que possam ser vendidos no estrangeiro, darmos o máximo de apoio à produção nacional, agricultura, pesca, indústria, tudo aquilo que nós sabemos fazer bem e que foi negligenciado e destruído e, curiosamente, o único setor que melhorou este ano foi a agricultura. Outro aspeto é saber se o dinheiro que o Estado está a gastar é bem aplicado. Toda a gente tem pena dos funcionários públicos despedidos, claro que é para ter pena, mas será que vale mesmo a pena que nós todos, quem produz riqueza em Portugal, sustentemos 700 mil funcionários públicos, quando em 1975 tínhamos 200 mil? É isso que temos que saber, se queremos pagar isso e provavelmente não, preferimos pagar serviços que realmente recebemos e não a uma data de gente que muitas vezes não se sabe o que está a fazer. E, 80% do orçamento do Estado, são salários do funcionalismo público, do governo central e das câmaras. 50% da riqueza oficialmente produzida em Portugal é para sustentar o Estado e isto começa a ser insustentável. Se cada um de nós trabalha 11 meses, recebe 14, metade do que ganhamos é para sustentar a máquina do Estado. Mas de todas as desgraças se pode tirar um ensinamento e alguma vantagem, neste caso, visto que não soubemos obrigar o nosso Estado a comportar-se como pessoa de bem e sensata, agora não há alternativa. Em vez de cortar naquilo que é útil e produtivo no país, como é o caso de excesso de impostos que vão matar a produção industrial e agrícola, a economia produtiva, e que vão dificultar a nossa competitividade internacional, é preferível menos impostos e mais cortes na despesa do Estado e eu acho que isto é básico e lógico. E, àqueles que tiverem de ficar desempregados, arranjem-lhes outros trabalhos onde sejam produtivos, onde possam produzir coisas úteis. Quase toda a gente sabe fazer outras coisas, há muita gente que está a abandonar a cidade, a ir para o campo e a criar produtos comestíveis, que são industrializados, que são vendidos aumentando a produção agrícola. Há dezenas de milhares de estrangeiros, a trabalhar na agricultura portuguesa, porque poucos portugueses estão interessados em fazer vindimas, apanhar azeitona, fazer limpeza florestal. Há muita gente a receber subsídios para não fazer nada. Há câmaras, que eu conheço pessoalmente, como é o caso de Setúbal, onde quem recebe subsídios é obrigado a prestar serviços à comunidade, desde pessoas que ajudam na segurança das escolas, que dão explicações aos alunos com dificuldades, que tratam dos jardins municipais, que restauram prédios degradados, desempregados que têm um certo nível cultural e trabalham nessa área, outros que vão levar comida a casa dos mais velhos que não podem sair de casa… Milhares de pessoas a fazerem trabalhos para a comunidade em troca dos subsídios que recebem. Isso é um passo muito positivo em todos os aspetos, e para eles em primeiro lugar. Claro que há os falsos desempregados, até há pouco tempo 30% das ofertas de trabalho em Portugal não tinham ninguém interessado nelas. O povo das Beiras tem mais flexibilidade, as pessoas são desembaraçadas, têm experiência de campo, quando perdem o emprego num serviço ou numa indústria sabem fazer outras coisas, podem mais facilmente adaptar-se à situação de crise económica do que, por exemplo, as do Porto e Lisboa.
De que modo poderia a Instituição Real ser um fator de união popular?
Tanto nos países superdesenvolvidos, muito progressistas como os do norte da Europa, países Escandinavos, Holanda, Bélgica e como nos países de terceiro mundo, que são democracias, como a Tailândia, Camboja, etc., mesmo em países onde a sua democracia é completamente diferente da nossa, como os países árabes, mesmo aí comparando a monarquia com a república, a monarquia funciona melhor. Marrocos funciona melhor que a Argélia, a Jordânia funciona melhor que a Síria, ou que o Egipto. Portanto, comparando na mesma região, as monarquias funcionam sempre melhor que as repúblicas. Estou convencido que um chefe de Estado rei teria controlado muito melhor os desmandos dos governos, porque não é suspeito de parcialidade. Os nossos presidentes, por melhor que tenham sido, quando tentavam dizer ao governo “você está a exagerar, está a disparatar”, eram logo acusados de parcialidade partidária, com a exceção dos militares, como o general Ramalho Eanes que tinha uma verdadeira independência, os outros foram fundadores, presidentes, dirigentes partidários e não se conseguem libertar disso. As pessoas não acreditam na independência do chefe de Estado, mesmo que eles o tentem ser.
Disse-se que os portugueses perderam a esperança e vivem cada vez mais acabrunhados e desesperados. Partilha desta opinião?
Há muita gente assim e pelas circunstâncias em que vive. É a primeira vez em que a geração mais nova vai, provavelmente, ter que viver com menos e com mais dificuldades que a geração dos seus pais. Até agora, nas últimas dezenas de anos, foi sempre o contrário. Há famílias extremamente angustiadas porque não conseguem cumprir os seus compromissos financeiros e outras já nem conseguem sustentar as necessidades básicas da casa. Por outro lado está-se a desenvolver muito a solidariedade, o apoio dentro da própria família, o apoio entre amigos, de instituições de solidariedade e de caridade. Vê-se pelo sucesso que o Banco Alimentar, a Cáritas e outras têm e são o exemplo de que é uma grande tradição portuguesa, muito profunda, que está na nossa alma nacional e que tem estado a dar uma resposta muito boa perante as circunstâncias atuais.
O que acha imperioso mudar em Portugal?
Primeiro, na base de todos os problemas está a falta de raciocínio lógico. Em geral temos um comportamento incoerente e ilógico nas nossas decisões. Gastamos o que não deveríamos gastar, compramos o que está fora dos nossos meios, tomamos decisões de escolha de profissão e de curso baseado em modas ou em simpatias e não em vocação ou de perspetiva de futuro e emprego, nas decisões políticas, votamos no “nosso partido”, como se fosse um clube de futebol, mesmo que o presidente seja corrupto e esteja tudo mal, continua-se a votar porque é o “meu clube”.
Há uma reincidência do eleitorado português?
A maioria do eleitorado português vota sempre nos mesmos partidos desde o começo da democracia, o tal espírito de clube sem lógica.
Numa perspetiva de poder local entreveria com bom grado a hipótese de candidaturas autónomas suprapartidárias?
Acho que seria muito útil e uma acção de civismo muitíssimo interessante. Aconteceu nas presidenciais. Há também pequenos partidos, como o Partido da Terra e outros que têm ideias muito originais e interessantes e que poderiam estar no centro dos movimentos cívicos.
Têm algum descrédito os partidos?
Considero que os partidos são indispensáveis para o funcionamento democrático. A minha dúvida é se o poder todo deve ser controlado pelos partidos ou se não seria melhor ter, por exemplo, o voto uninominal para o parlamento, ou pelo menos metade ou dois terços fosse eleito por voto uninominal.
Que opinião tem sobre os nossos governantes, em geral?
Temos tido, dos vários governos, pessoas de grande qualidade, de grande valor. Do governo atual há ministros com valor intelectual e profissional, mas também temos tido pessoas politicamente menos competentes, mesmo que tecnicamente possam ser bons. Tenho ouvido muitas queixas, no sentido de que a escolha para os cargos políticos não é necessariamente pelos mais competentes, mas por motivos partidários, por motivos de outra ordem. É pena que cada vez que muda o governo mudem todas as cúpulas das instituições e daquilo que faz funcionar o Estado. Por exemplo, em França, normalmente ninguém vai para ministro sem ter sido aluno das grandes escolas de administração e pelo menos ninguém vai para cargos públicos de administração sem ter passado por essas escolas.
E sobre a figura do Presidente da República? Vota nas presidenciais?
Nunca votei nas presidenciais, por uma questão de princípios, porque se não concordo com a instituição, Presidência da República, não faria sentido votar nela. Voto nas eleições municipais, porque aí conheço os candidatos, sei aquele que merece mais confiança e voto nele como pessoa e não como partido. Eu acho que o atual presidente é uma pessoa de muito valor, muito dedicada e que se esforça para cumprir a sua missão, mas é um cargo difícil, por um lado pela sua origem partidária, que é sempre suspeito de favorecer o seu próprio partido, embora nunca o tenha feito e muitas vezes até incomodou e atrapalhou o próprio partido, mostrando isenção. Por outro lado, o facto de muitas vezes termos o presidente num partido e o governo noutro tem criado muitos conflitos institucionais à política portuguesa, que é outro dos inconvenientes do sistema republicano. E o pior dos inconvenientes é quando um presidente é muito bom, toda a gente gosta dele e gostaria que ele continuasse, ele não pode continuar porque a Constituição não deixa. Aliás, eu pergunto: porque é que a Constituição não deixa o povo reeleger sempre o mesmo presidente, se o quiser? Essa é a vantagem dos reis e, de qualquer forma, também podem ser “despedidos”, porque em todas as democracias ocidentais o parlamente tem poder para destituir o rei.
Qual a figura política portuguesa das duas últimas décadas com a qual tem alguma identificação?
Há bastantes, com quem trabalhei em matéria de política internacional, desde o Dr. Durão Barroso, o Dr. Jaime Gama, o próprio presidente Cavaco Silva, são pessoas com quem eu me dei bastante, o Dr. Mário Soares, enfim, tento sempre manter um relacionamento com eles na medida em que eles podem e que têm disponibilidade de tempo. Por outro lado, há realmente pessoas de grande nível que passaram pelos nossos governos e com quem tive um relacionamento muito interessante. São vários e se começo a citar uns esqueço-me de outros…
Que motivos o levaram em 87 a criar um movimento de apoio a Timor Leste e que relações subsistem atualmente com esse país.
A dada altura Timor estava sob ocupação Indonésia, havia centenas de milhares de mortos e as forças políticas que governavam Portugal achavam o assunto incómodo, que criava problemas com os nossos aliados, Espanhóis, Americanos e outros, e que era um caso perdido. Eu achei que isso não se podia fazer, era uma traição para com o nosso povo irmão e convidei uma série de pessoas para participar numa campanha que tinha como primeiro objetivo realojar os refugiados timorenses que estavam a viver num acamamento provisório no Jamor. E o segundo objetivo, mobilizar a opinião nacional e internacional a favor da causa de Timor e, de facto, tivemos desde o presidente da câmara de Lisboa, João Soares, o presidente da Câmara de Oeiras, Isaltino Morais, várias esposas de políticos, havia gente de todos os sectores, Intersindical, UGT, todos apoiaram e a campanha teve um enorme sucesso. O Artur Albarrã teve também um papel importantíssimo. Curiosamente, um grupo de estudantes portugueses, a quem eu fiz uma conferência na Universidade de Brown, em Rhode Island, decidiu lançar uma campanha por Timor, lá onde 15% da população é portuguesa. Então, o senador Kennedy, para ganhar o voto dos portugueses, decidiu apoiar Timor, virou o Senado americano, depois o Congresso americano e a política americana virou por causa dos estudantes portugueses da universidade. Pequenos movimentos bem organizados podem ter efeitos muito grandes. Em 1997 visitei a Indonésia, tive encontros com os políticos de alto nível, vice-presidente da república, chefes militares, serviços secretos e consegui convencê-los a mudar de política em Timor e foi assim que a Indonésia permitiu a libertação de Timor.
Neste momento que relações subsistem com Timor?
Tenho mantido um contacto muito próximo, tenho lá ido todos os anos, por vezes ano sim ano não e, da última vez, em Março, tive uma grande alegria: o parlamento votou por unanimidade dar-me a nacionalidade Timorense. Depois o presidente Dr. Ramos Horta deu-me uma condecoração e o ministro Guterres deu-me o passaporte diplomático, de modo que agora sou timorense de pleno direito. E também estou em vias de ter a nacionalidade brasileira, porque a minha mãe é brasileira e a presidente Dilma Rousseff é favorável a isso. Sou a favor de que deveríamos ter o conceito de união lusófona ou confederação lusófona. Cabo Verde propôs há bastante tempo o conceito de cidadão lusófono, o que eu me considero. Sigo aquela frase de Fernando Pessoa, “a minha pátria é a língua portuguesa”. Também mais fácil e viável seria fazer um passaporte lusófono, que permitisse aos seus detentores ir a todos os países sem precisar de visto, que seria dado a pessoas que tivessem motivos sérios para o pedir.
Da monarquia europeia, qual a figura com quem mais se identifica.
Os meus primos mais próximos, com quem me dou muito bem, o Duque Henrique de Luxemburgo, o rei Alberto da Bélgica, todos eles são bisnetos do rei D. Miguel, ou o príncipe reinante de Lichtenstein, Hans Adam. Identifico-me e tenho uma grande simpatia pelo príncipe Carlos de Inglaterra. O seu pensamento e natureza ecológica e social, as grandes propostas que tem para a Inglaterra têm marcado muito o país. Tenho uma grande admiração pelo rei de Espanha, de facto foi quem aí salvou a democracia, que levou o país pacificamente da ditadura para a democracia, enquanto que, Portugal, sofreu uma revolução que destruiu e atrasou a economia portuguesa, devido às nacionalizações, ocupações, leis disparatadas, que nos tornaram pouco competitivos. Ou seja, para chegarmos à democracia precisámos de uma revolução que ia dando cabo do país e que deu cabo do ultramar. Os nossos irmãos africanos sofreram anos de guerra civil, miséria, fome, centenas de milhares de mortos, por causa de uma descolonização completamente irresponsável e mal conduzida. A Espanha evitou-o, num país muito mais perigoso e complicado que Portugal. A nível internacional tenho também várias ligações com reis e rainhas, como a rainha da Dinamarca e a sua família, rei da Holanda, os reis da Jordânia, o imperador do Japão, o rei da Tailândia, enfim mantenho uma relação muito próxima com várias monarquias.
E de todos os 34 reis e rainhas de Portugal, qual o favorito?
Sempre tive uma simpatia muito especial pelo rei D. Dinis, desde criança. Considero também que houve reis que foram muito injustiçados na nossa história, como é o caso do rei D. Miguel. Todos os livros de História falam mal dele, de uma maneira muito injusta, efetivamente quem estava com programa do progresso, com a democracia e com a modernidade era o D. Pedro. O projeto era seguir o modelo Inglês de política democrática moderna, só que o povo português não estava para aí virado e identificou-se com D. Miguel e foi esse o drama. As elites quiseram a democracia moderna que D. Pedro propôs. Ambos tinham os seus ideais só que a maneira como a história trata D. Miguel é completamente injusta e desligada da realidade da época. Também D. João VI foi um rei inteligentíssimo, conseguiu que Portugal e o Brasil se conseguissem salvar das invasões francesas, pelo menos salvar a sua independência, e fez do Brasil um país fantástico. Existe uma mística que acho muito importante, que é a do Quinto Império, do Império do Espírito Santo, em que a missão de Portugal está por cumprir, não se limitando ao retângulo peninsular, mas é universal e com a missão de levar uma mensagem de fraternidade, humildade e espírito cristão que, de alguma forma, ainda continua a existir.
Que mensagem deixa aos beirões?
As qualidades humanas que encontramos aqui nas Beiras são de facto das melhores que há em Portugal e basta ver a quantidade de personalidades do mundo da cultura, ciência, política, que são da região e que têm tido sucesso. Os portugueses emigrados, maioritariamente destas zonas, têm sucesso para onde vão, Estados Unidos da América, no Luxemburgo, onde 25% da população ativa é portuguesa, mostra que as nossas capacidades devem ser bem aproveitadas e bem orientadas. Acho que foi pena os nossos emigrantes terem gasto muito das suas poupanças em habitações, em geral esteticamente duvidosas, abandonadas e deveriam ter investido em empreendimentos de natureza económica rentável. Há uma potencialidade muito grande que deve ser melhor aproveitada e encorajada e desde as câmaras municipais, às instituições, locais e nacionais, têm que conseguir orientar as boas iniciativas no campo agrícola, industrial e outras. A informação tem que ser melhorada, o trabalho de extensão rural também deve ser melhorado. As indústrias regionais e a produção agrícola regional deveriam ser preferidas por todos. Vejo gente ligada à produção agrícola e que depois vai ao supermercado e compra produtos espanhóis, sem sequer se importarem com a sua origem. Tem que haver coerência e eficácia no nosso comportamento para ultrapassarmos a crise económica e criarmos uma nova dinâmica em que o país se torne sustentável. Temos uma economia de gastos não-sustentável a corrigir e todos contamos com os beirões para introduzir este espírito revolucionário na nossa economia. Se estamos interessados em manter uma cultura e uma identidade cultural própria, e já que temos turismo, temos que salvar a nossa paisagem. Não podemos continuar a destruir a paisagem com construções disparatadas, desenquadradas e depois querermos que os turistas venham ver caixotes. Eles querem é boas aldeias, vilas, bons campos e o papel do agricultor é também o papel de preservar, manter e melhorar a paisagem e isso tem que ser pago. O agricultor é um defensor da sua paisagem.
http://www.jornaldocentro.pt/?p=9052
Direct link:
RE: Entrevista com o Duque de Bragança
Ora aqui estão pensamentos acertados, assertivos, coerentes, ponderados, esclarecidos e lógicos.
Que falta que o país tem tido disto...
Maria José Borges
Direct link:
RE: Entrevista com o Duque de Bragança
Caro Confrade
Aqui deixo os meus agradecimentos, pelo trabalho e divulgação desta formidável entrevista. Só por este meio é que
eu podia ter conhecimento dela, que pena não ser mais divulgada, na imprensa nacional para que mais Portugueses pudesse ler.
Agora só me resta levantar e aplaudir de pé com todas as minhas forças.
Bem Hajam
Manuel Miranda
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RE: Entrevista com o Duque de Bragança
http://elpais.com/elpais/2013/01/18/gente/1358534234_042837.html
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RE: Entrevista com o Duque de Bragança
"Aumentar as receitas só com os impostos e eles matam a economia produtiva", observou, defendendo cortes na função pública, que representa "80 % das despesas do Orçamento do Estado"
O duque de Bragança, Duarte Pio, afirmou hoje, em Macau, que a crise portuguesa tem como causas a "ignorância, a irresponsabilidade e a desonestidade" de alguns políticos e defendeu a necessidade de a população gastar menos.
"Eu acho que a crise portuguesa tem duas causas: a ignorância e a irresponsabilidade, para não dizer também uma certa dose de desonestidade, da parte de alguns políticos que se foram habituando a ter lucros que não deviam ter", disse Duarte Pio em declarações aos jornalistas à margem da Feira Internacional de Macau, que visitou a convite da Associação de Jovens Empresários Portugal-China.
Ao constatar que "qualquer dona de casa sabe que não é sustentável gastar mais do que o que se ganha", o duque de Bragança previa que "mais cedo ou mais tarde" o despesismo do Governo "tinha que se pagar" e lamentou que tenha sido "preciso o Governo anterior estar numa situação praticamente de falência para chamar a ‘troika'".
"Acho que se tivesse tido alguma influência como rei ou político nos anos anteriores, a minha voz teria sido mais ouvida, quando durante tantos anos fui alertando contra as despesas não reprodutivas que os governos portugueses foram fazendo", apontou, referindo nomeadamente "as autoestradas, a Expo, o Centro Cultural de Belém".
O pretendente ao trono de Portugal lembrou ainda "a fraude do BPN", defendendo que os seus responsáveis "deviam estar na prisão" e lamentou que o "Governo Sócrates tenha salvado da falência um banco que devia ter ido à falência e que é um dos maiores buracos financeiros que há em Portugal".
"Isto não é admissível que o contribuinte tenha de pagar as aventuras e a desonestidade de algumas pessoas", sublinhou.
Quanto ao Orçamento do Estado para 2014, apresentado esta semana, Duarte Pio considera que é "o possível, ninguém gosta dele, mas quando não há dinheiro tem de se fazer aquilo que se pode: ou se cortam as despesas do Estado ou se aumentam as receitas".
"Aumentar as receitas só com os impostos e eles matam a economia produtiva", observou, defendendo cortes na função pública, que representa "80 % das despesas do Orçamento do Estado".
Para o duque de Bragança, "ou se diminui o número de funcionários - e aí há o problema do desemprego e dos subsídios de desemprego - ou se diminuem, de algum modo, os custos do funcionalismo público, não há muita alternativa, aliás, não há mesmo alternativa nenhuma, porque o resto das despesas que o Estado tem de cortar são 20% do Orçamento".
A situação que o país enfrenta é atribuída ainda pelo duque de Bragança ao sistema republicano, apontando que "os presidentes da República, por mais sérios e dedicados que sejam, têm estado sempre comprometidos com os partidos, sendo, por isso, muito difícil intervir e corrigir os desvios dos próprios partidos".
"Se a República Portuguesa tivesse como chefe de Estado um rei tinha mais independência, mais liberdade para poder, de algum modo, ajudar a controlar os desvios que os governos possam ter, que é o caso da Escandinávia, Reino Unido, Espanha, Austrália e Nova Zelândia", acrescentou.
Duarte Pio defende a necessidade de o "Estado dar o grande exemplo de poupança e de encorajamento da iniciativa privada", que lamenta que seja "ainda muito vítima da burocracia", apesar de se congratular com a criação dos vistos dourados para "facilitar o investimento estrangeiro".
"E, por outro lado, pode-se viver bem com menos, mas é preciso ajudar a população a perceber como é que se pode viver sem sacrifício gastando menos, porque muita gente habituou-se a gastar demais", concluiu.
O duque de Bragança está em Macau para "apoiar a presença portuguesa" na Feira Internacional e para "rever amigos, monárquicos e republicanos, portugueses e macaenses", num jantar que hoje teve lugar no Clube Militar. No sábado, revê outros amigos num almoço no Clube Lusitano de Hong Kong.
*Este artigo foi escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico
http://www.ionline.pt/artigos/portugal/duque-braganca-atribui-crise-irresponsabilidade-desonestidade-dos-politicos
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RE: Entrevista com o Duque de Bragança
Entrevista - D. Duarte de Orléans e Bragança (Duque de Bragança) »
O que pensa o herdeiro de um hipotético trono da República de Portugal
Nas comemoração dos 126 da Lei Áurea, assinada por sua bisavó materna, a princesa Isabel (1946-1921), ele concedeu esta entrevista ao Diario
Tércio Amaral
Publicação: 11/05/2014 09:01 Atualização: 12/05/2014 08:40
Dom Duarte comentou que o Recife é a cidade preferida dele por conta da riqueza cultural. Foto: Divulgação Arquivo Pessoal
Dom Duarte comentou que o Recife é a cidade preferida dele por conta da riqueza cultural. Foto: Divulgação Arquivo Pessoal
Os bigodes logo "denunciam". Sim, ele é português, mas, digamos, de alma brasileira. O príncipe d. Duarte Bragança de Orléans e Bragança, de 69 anos, é o herdeiro de um hipotético trono da República de Portugal e lá ele tem o tratamento de Duque de Bragança. Nas comemoração dos 126 da Lei Áurea, assinada por sua bisavó materna, a princesa Isabel (1946-1921), ele concedeu uma entrevista ao Diario e relembrou de momentos curiosos de passagens suas pelo Brasil, como numa viagem à Chapada Diamantina, em Minas Gerais, quando deixou de pagar uma multa porque o guarda reconheceu seu parenteso. "Ele disse: 'nunca fiz nada para agradecer à Princesa Isabel pelo que ela fez por mim! Não passo a multa, mas o senhor vem comigo ao posto da polícia para eu o apresentar ao pessoal", contou, por e-mail. A sua ligação com o 13 de maio não termina por aí. Foi nesta data, em 1995, que ele celebrou seu casamento com Isabel de Castro Curvelo de Herédia, com quem tem três filhos. Na entrevista, d. Duarte também fala de seu trabalho social, através da Fundação d. Manuel II, em países como o Timor Leste e as ex-colônias portuguesas na África do Sul. De Pernambuco, ele se diz fã e amigos dos escritores Ariano Suassuna e Gilberto Freyre, este último um dos maiores intelectuais em teses de valorização das relações entre o Brasil e Portugal. Em termos dinásticos, d. Duarte não é príncipe do Brasil. Sua mãe, a princesa Francisca (1914-1968), se casou com um primo e príncipe português, d. Duarte Nuno (1907-1976). Ele é primo de primeiro grau do que os monarquistas convém chamar de chefe da família imperial, ou seja, o virtual imperador do Brasil caso a monarquia ainda fosse o sistema de governo. O atual é d. Pedro Carlos de Orléans e Bragança, de 68 anos, que vive em Petrópolis, no estado do Rio de Janeiro.
Entre os membros da Família Imperial Brasileira, a princesa Isabel ficou conhecida por entrar na história com a assinatura da Lei Áurea. Existe algum tipo de história familiar sobre a princesa que circula entre gerações?
A minha mãe contava histórias que tinha ouvido do seu pai (o príncipe d. Pedro e Alcântara, filho mais velho da princesa Isabel), mas não me lembro de nenhuma em particular. Lembro-me melhor do que a minha mãe me contou sobre as viagens que fez no interior do Brasil com o meu avô, nas quais conheceu a realidade profunda desse extraordinário país. Tenho algumas experiências interessantes, como a de um dia, quando um polícia de ascendência africana me estava passando uma multa por uma infração ao código da estrada (código de trânsito). Quando viu o meu nome no passaporte perguntou se eu era da família da Princesa Isabel. Perante a minha resposta positiva ele disse: 'Nunca fiz nada para agradecer à princesa Isabel o que ela fez por mim! Não passo a multa, mas o senhor vem comigo ao posto da polícia para eu o apresentar ao pessoal.' Tivemos um convívio muito animado com a polícia de Diamantina, em Minas Gerais... é muito frequente brasileiros serem particularmente alorosos comigo quando descobrem que eu descendo da princesa Isabel, que consideram uma verdadeira santa.
Existe algum ensinamento da princesa que é transmitido pela família?
Tento transmitir o seu sentido de responsabilidade perante o povo a que pertence, particularmente perante as comunidades mais desfavorecidas e as pessoas injustamente marginalizadas. Também uma das qualidades que a princesa tinha era saber ser simpática e carinhosa com toda a gente.
Numa decisão inédita no mundo, um estado republicado o reconheceu como "herdeiro da coroa" em Portugal, em 2006, como Duque de Bragança. O cargo exige responsabilidades?
Em várias ocasiões tenho podido colaborar com o nosso governo. O caso que teve mais notoriedade foi a minha ação diplomática junto do governo e dos militares indonésios que levou a que após mais de 20 anos de ocupação de Timor português, eles aceitassem devolver a liberdade ao povo timorense. Por esse motivo o Parlamento timorense decidiu dar-me a sua nacionalidade. Na votação, feita no Parlamento, esta iniciativa foi aprovada por unanimidade. Também consegui organizar um acordo de paz entre o governo de Angola e o Movimento que há 30 anos lutava para a independência do enclave de Cabinda e ainda liderei transações diplomáticas junto de monarquias árabes e na Síria.
No caso do Timor Leste, a Fundação d. Manuel II construiu casas...
Durante a ocupação indonésia visitei demoradamente Timor e tive vários encontros com os governantes e comandos militares indonésios e mantenho estas ligações ainda hoje. Eu colaboro com Timor através de iniciativas da Fundação Dom Manuel II que vão desde uma indústria tipográfica oferecida à Diocese de Baucau e que é a única do seu género em Timor até um projeto de desenvolvimento comunitário rural que está a ser desenvolvido agora. É para mim sempre uma alegria quando posso visitar este tão belo e simpático país. Recomendo a todos os brasileiros que possam, nomeadamente os que vão a Austrália ou a Bali, que aproveitem a oportunidade para também visitar Timor. Aliás, os timorenses ficaram muito gratos ao diplomata brasileiro Sérgio Vieira de Melo pelo trabalho que desempenhou na difícil transição para a independência. Quanto às casas que se refere foram construidas em Portugal para alojar as famílias aqui refugiadas que fugiram quando da invação da Indonésia em Timor, em 1975.
Em 1972, logo após o fim de sua carreira militar, o Sr. prganizou uma lista independente de candidatos ao governo angolano. O Sr. era a favor da independência da antiga colônia portuguesa? Foi esta a causa de sua expulsão do país?
Em 1972, muita gente tinha percebido que a política ultramarina portuguesa levava-nos para uma situação insustentável por ser injusta para com as aspirações políticas do número cada vez maior de africanos. No entanto, a grande maioria dos africanos percebiam que os seus países não estavam preparados para a independência e que os autodenominados "movimentos de libertação" eram em grande parte instrumentos de potências estrangeiras, principalmente da União Soviética e dos Estados Unidos da América. Por isso, um grupo de angolanos de todas as origens étnicas preparou uma lista de candidatos para as eleições ao Parlamento Português, no qual Angola tinha um certo número de deputados. Este movimento tinha como objetivo mais justiça social, maior participação política das populações locais, a todos os níveis, e uma maior integração e igualdade política e econômica entre todas as províncias ultramarinas portuguesas. Considerava, portanto, que a separação dos territórios, ou seja, a independência, seria nessa época a pior solução possível. O Primeiro Ministro português, Marcelo Caetano, queria meter Portugal na Comunidade Económica Europeia, por isso, e por pressões Norte Americanas, tinha planeado um golpe político no sentido de, como ele próprio
disse, "criar novos Brasis". Foi por o nosso grupo está a interferir com esta manobra que ele me expulsou de Angola e São Tomé e Principe e intimidou os elementos que viviam em Angola e em São Tomé. Hoje é, infelizmente, muito claro que quem tinha razão éramos nós e muitos dos responsáveis de vários governos africanos estão de acordo comigo. Só depois de mais de 30 anos de terríveis guerras cívis, com centenas de milhares de mortos, ou mesmo milhões, é que voltou a paz e a normalidade política. Foram 30 anos perdidos para esses povos.
O título duque de Bragança não seria herdado pelos descendentes de d. Pedro I no Brasil?
A cidade de Bragança, que deu origem ao título, é uma cidade de trás-os-montes e, por isso, após a divisão do reino unido Portugal e Brasil, o título passou a ser usado pelos príncipes herdeiros em Portugal.
O senhor acredita na volta da monarquia? Tanto em Portugal como no Brasil?
Nas monarquias europeias os estados têm políticas sociais muito mais avançadas do que na maioria das repúblicas. O mesmo se pode dizer, por exemplo, entre o reino do Canadá e as duas repúblicas do continente norte-americano, ou entre os reinos da Áustrália e da Nova Zelândia e as repúblicas da área do Pacífico, entre o império Japão e as repúblicas vizinhas, etc... Como isto não pode ser pura coincidência, conclui-se que é influência da instituição Real que permitiu estes resultados melhores. O mesmo se pode dizer de reinos noutra áreas do mundo, como a Tailândia, etc... Os interesses dos poderosos grupos econômicos é que preferem os regimes republicanos que eles compram e controlam mais facilmente e, por isso, os livros de história e a imprensa, controlada pelos interesses econômicos, são geralmente republicanas. Para uma análise inteligente, não se pode comparar situações atuais com as de há 100 anos atrás, como por exemplo comparar a monarquia brasileira com a atual república. As vantagens de um rei como chefe de Estado em democracia são a sua independência política, uma influência que dá estabilidade à vida dos países,
a existência de um árbitro ou juiz verdadeiramente livre de pressões. Quem aceitaria que no futebol o juíz do jogo pertencesse a um dos clubes? Porém nas repúblicas os presidentes quase sempre pertencem a um dos partidos e, para serem eleitos, precisam de muito dinheiro. De algum modo também se pode dizer que o rei tem uma "formação profissional" para o cargo que vai assumir, que raramente um candidato a presidente terá. Não posso terminar sem salientar que o Recife é a minha cidade brasileira preferida pelo interesse cultural de tanta gente, desde o nível dos poetas e repentistas populares até algumas das figuras mais brilhantes da cultura lusófona, como Gilberto Freire e o meu grande amigo Ariano Suassuna.
http://www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/brasil/2014/05/11/interna_brasil,503182/o-que-pensa-o-herdeiro-de-um-hipotetico-trono-da-republica-de-portugal.shtml
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Dom Duarte de Orleans e Bragança?
Cumprimentos
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...Um príncipe popular Bisneto da princesa Isabel, d. João Henrique de Orléans e Bragança, 60 anos, anda pelas ruas de Paraty como qualquer plebeu...
"D. João Henrique parado por estudantes para tirar fotografias nas ruas de Paraty. Foto: Arquivo Pessoal/Divulgacao
D. João Henrique parado por estudantes para tirar fotografias nas ruas de Paraty. Foto: Arquivo Pessoal/Divulgacao
Pelas ruas de Paraty, no litoral Sul do Rio de Janeiro, ele anda de sandálias e veste simples bermudas. A discrição, no entanto, termina quando alguns turistas o reconhece para cumprimentá-lo ou mesmo tirar algumas fotos como registro do encontro em frente à sua casa. A vida de d. João Henrique de Orléans e Bragança, de 60 anos, é simples e lembra a de qualquer plebeu. Bisneto da princesa Isabel (1846-1921), filha do imperador d. Pedro II, que assinou a lei aboliu a escravidão no dia 13 de maio de 1888, data que completa 123 nesta semana, ele celebra a Lei Áurea de “forma diferente” dos historiadores e do cidadão comum. Apesar da distância do tempo, ele e alguns dos seus primos convivem com lembranças repassadas de geração a geração e ainda desfrutam da “popularidade” da ancestral nos dias de hoje.
“Meu pai uma vez saiu de casa e não tinha dinheiro para pagar o pedágio da Via Dutra (rodovia que liga as cidades Rio de Janeiro e São Paulo), ele levou apenas o talão de cheques, que não era aceito. Um trabalhador da concessionária liberou a passagem, mas pediu o cheque e disse que iria colocar numa moldura em casa”, disse ao Diario, por telefone, d. João. O fato aconteceu em 1994 com o príncipe d. João Maria (1916-2005), neto da princesa Isabel, que nasceu no exílio. “Essas datas, como a Abolição, o 7 de Setembro (Independência do Brasil), a redemocratização e as Diretas Já são comemoradas com muito respeito em casa”, completou.
D. João revela que as lembranças da princesa Isabel também são objetos pessoais. “No meu apartamento no bairro do Leblon (área nobre do Rio de Janeiro), eu vejo o antigo Quilombo das Camélias, onde a princesa ajudava negros fugidos”. Nesta mesma casa, existe uma raridade de valor histórico incalculável, como a mesa em que a princesa Isabel assinou a Lei Áurea. “Nela está cravado 13 de maio de 1888”. Um dos seus objetivos é reunir parte de seu acervo pessoal e fundar um museu imperial na cidade de Paraty.
De Portugal, seu primo d. Duarte de Orléans e Bragança, de 69 anos, conta que deixou de pagar multas no Brasil por conta do parentesco com a princesa Isabel. Assim como d. João, ele também é bisneto, mas é herdeiro do trono português. Sua mãe, a princesa dona Francisca (1914-1968), era neta da princesa Isabel. Ele relata que cometeu uma infração durante uma viagem à chapada Diamantina, em Minas Gerais, mas o guarda afrodescendente viu seu nome no passaporte e a história teve um contorno diferente.
“Quando viu o meu nome no passaporte perguntou se eu era da família da princesa Isabel. Perante a minha resposta positiva ele disse: ‘Nunca fiz nada para agradecer à Princesa Isabel o que ela fez por mim! Não passo multa, mas o Senhor vem comigo ao posto da polícia para eu o apresentar ao pessoal”, disse por e-mail. “É muito frequente brasileiros serem particularmente calorosos comigo quando descobrem que eu descendo da princesa Isabel, que consideram uma verdadeira Santa”
Polêmica com o movimento abolicionista
Especialista em relações raciais e preconceito, a professora do curso de ciências sociais da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Liana Lewis diz que as datas comemorativas são importantes, mas não suficientes. No caso do 13 de maio, ela defende que a leitura seja feita de forma crítica, incluindo, o movimento abolicionista, que teve lideranças como o então deputado pernambucano Joaquim Nabuco (1849-1910). “Ele teve, em seu cerne, uma elite branca que buscava uma passagem para a modernidade, o que implicava na erradicação do trabalho escravo, no entanto sem que esta erradicação resultasse em nenhuma perda para a elite agrária.”
A pesquisadora também relaciona a temática ao mito da “democracia racial”, consolidado na década de 1930 pelo sociólogo pernambucano Gilberto Freyre (1900-1987). “O que comumente se afirma é que, no Brasil, o preconceito não é de raça, e sim, social. Um preconceito histórico que seria resolvido com a erradicação da pobreza. O nosso preconceito é, sim, racial e a política de cotas incomoda porque existe uma resistência em admitir negros em posição de poder. As cotas vieram para ajudar a mudar o perverso quadro racial no Brasil”, polemiza.
Sobre a figura da princesa Isabel, a professora também faz algumas ressalvas. “A princesa tem um papel meramente formal, representa a vitória da elite, uma mulher branca que libertou a população escrava”, declarou. A afirmação, no entanto, é diferente da dos descendentes. D. João Henrique argumenta, por exemplo, que a princesa falava abertamente sobre o abolição, o que incomodava a elite agrária conservadora. “Havia um projeto chamado da democracia rural, do engenheiro negro André de Rebouças (1838-1898), muito ligado a princesa e ao imperador d. Pedro II (1825-1891). Este projeto falava da distribuição de terra após a abolição. Isso era, nas palavras de hoje, a reforma agrária, mas veio a república…”.
http://imgsapp.diariodepernambuco.com.br/app/noticia_127983242361/2014/05/11/503175/20140510033149161331a.jpg
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RE: Entrevista com o Duque de Bragança
Hummmm, começo a não acreditar nesta estória de policiais que param o duque de Bragança e ficam deslumbrados com a sua identidade.......
«Viajo en turista y guardo los coches mucho tiempo... tengo uno de hace 15 años»
Don Duarte de Braganza, Jefe de la Casa Real de Portugal, asegura estar preparado para la misión que le pidan los portugueses, ya sea como Rey o para cualquier otra función
BELÉN RODRIGO / CORRESPONSAL EN LISBOA
Día 04/12/2011
«Viajo en turista y guardo los coches mucho tiempo... tengo uno de hace 15 años»
Cercano, divertido, estilo clásico y cuidado bigote. Don Duarte de Braganza resulta una persona entrañable. El Jefe de la Casa Real portuguesa es consciente de la difícil situación que atraviesa su país.
—¿Se puede hablar de un renacer monárquico en Portugal?
—Según los sondeos, un 29 por cien de los portugueses cree que sería mejor tener un Rey que un presidente de la República. Existen cerca de diez mil monárquicos militantes.
—¿En Portugal les respetan?
—Sí, somos siempre muy bien recibidos. No es tanto una conciencia política sino histórica. Nuestra familia forma parte del patrimonio histórico portugués. Cuanto más se pone en duda la independencia del país por las cuestiones europeas y los problemas económicos, las personas tienen más necesidad de sentir raíces para que muestren que Portugal existe.
—¿La Casa Real portuguesa también está realizando recortes?
—Nosotros tuvimos siempre una posición muy austera. Aunque se tenga dinero no se debe usarlo mal, Dios nos da las riquezas para poder ser útiles. Gastamos lo necesario en lo que se refiere a la representación pero nunca desperdiciamos dinero. Viajamos en clase turista, guardo los coches mucho tiempo… tengo uno de hace 15 años.
—¿Qué mensaje quiere transmitir a los portugueses?
—La necesidad de cambiar de modelo de comportamiento, tanto a nivel individual como de Estado. Podemos vivir con menos y no necesariamente estar peor.
—¿Cómo es la vida del heredero al trono de Portugal?
—Primero tengo mis obligaciones como padre, que son las más importantes de todas. Llevar a mis hijos al colegio y acompañarlos en los estudios. Tengo el trabajo en la Fundación Don Manuel II y colaboro mucho con el crédito agrícola cooperativo. Donde siento una gran falta es en el trabajo de cooperación con España. Hay un gran desconocimiento recíproco. La visión de Portugal en España es superficial, de ideas ya hechas y poco realista.
—¿De qué vive la Familia Real?
—Tengo una propiedad familiar en Brasil y tengo unas casas en Lisboa, aunque la mayoría con rentas antiguas y con inquilinas de cien años que pagan 20 euros al mes. Mi mujer ha conseguido rentabilizar algunos edificios que se van quedando vacíos. Doy asesoría a empresas portuguesas para entrar en Oriente y el mundo árabe. Nunca me preocupé por el aspecto económico de mi vida y felizmente mi mujer, que es economista, administra mejor que yo nuestros bienes.
—¿Cómo es la relación con su primogénito?
—Es distinta a la que tengo con los otros por tratarse de personalidades diferentes pero con los tres es igual de próxima, nos llevamos muy bien. A veces me resulta más difícil la relación con mi hija María Francisca porque en ocasiones a las niñas les falta el espíritu lógico pero con mis hijos siempre discutí todo. —¿Entienden cuál es su papel?
—Alfonso se preocupa por saber si podrá desempeñar mi papel. Yo le digo que lo que necesita es una buena preparación espiritual, intelectual y salud para poder cumplir su misión. Al mismo tiempo deber ser feliz personal y profesionalmente. Le encanta la biología marítima y es el segundo año que está estudiando en Inglaterra.
—¿Hablan mucho de cómo será la sucesión?
—No, porque yo creo que da mala suerte.
—¿Mantiene la esperanza de un día ser Rey?
—Estoy a disposición de mi país; cuando los portugueses me llamen estaré listo para dar mi contribución ya sea como Rey o para otras funciones.
—Aprendió español leyendo el ABC.
—Sí, y me hacía mucha gracia que no tuviese fotografías, sino dibujos. —¿Y sus hijos?
—Es gracioso porque ellos hablan mejor el catalán. Pasan todos los años varios días esquiando en Andorra, donde tenemos muchos amigos.
—Su mujer, Isabel, ¿se ha adaptado bien a la vida de un heredero?
—Ella pasó su juventud en Brasil, lo que le ha dado una gran apertura de espíritu, alegría, y mucha flexibilidad en las relaciones humanas. Es mucho más simpática y calurosa que yo. Ella se preocupa mucho con todos.
—¿En España debería cambiar la ley de sucesión al trono como ha ocurrido en Inglaterra?
—Las Monarquías siempre fueron símbolos de su época. Actualmente, el papel de los Reyes es ser el árbitro del país y de las instituciones democráticas, además de ser un símbolo de Estado. El Príncipe Felipe ya está preparado y es el Heredero, no tiene sentido cambiar. Pero me parece muy bien que la Infanta Leonor venga a sucederle en un futuro, aunque tenga después un hermano.
—¿Cuál cree que es la imagen que se tiene en Europa de la Casa Real portuguesa?
—Depende de los países. En Europa, en general somos poco conocidos.
—¿Le tratan bien?
—Sin duda. Recuerdo una vez en España cuando cometí una infracción vial y la policía me mandó parar. Al darle mis papeles, me dijo: «El señor es primo de nuestro Rey, puede irse, aunque repita lo que ha hecho».
http://www.abc.es/20111204/gente/abcp-duarte-braganza-jefe-casa-20111204.html
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Entrevista com o Duque de Bragança
http://www.vanitatis.elconfidencial.com/casas-reales/2014-07-05/el-eterno-candidato-a-rey-de-portugal-espera-su-ocasion_157244/
el duque de braganÇa se confiesa
El eterno candidato a rey de Portugal espera su ocasión
Duque de Bragança (EFE)
Vanitatis / Agencias
Enviar correo a Vanitatis / Agencias
05/07/2014 (18:10)
El tiempo pasa y el duque de Bragança, legítimo heredero al trono de Portugal, sigue disponible, a sus 69 años, ante una eventual oportunidad para ser rey en un país donde el modelo de Estado es una de las pocas cuestiones no sujetas a debate, ni siquiera en época de crisis.
Aunque insiste en que está dispuesto a reinar y en que, en un hipotético referéndum sobre monarquía o república, tendría serias opciones de ganar, está acostumbrado a llevar una vida que él mismo define como cómoda, pero alejada del lujo y la pompa propia del linaje real. En una entrevista, Don Duarte Pío repasa su propia historia, la del rey que pudo ser y no fue, mientras en el país vecino, España, la monarquía sigue vigente y Felipe VI acaba de ascender al trono para suceder a su padre. Una responsabilidad "difícil", asegura.
Tras aparcar el ve monovolumen que conduce, recibe en el salón de su finca, situada en el corazón de Sintra, a 30 kilómetros de Lisboa, y que cuenta con una villa grande y decadente acompañada de cuatro hectáreas de jardín, desde donde siguió atento la ceremonia de proclamación real en España por la televisión lusa, que la retransmitió en directo. ¿Envidia quizá?. "No, al contrario, creo que está en una posición muy difícil, perdió su libertad en gran parte, siempre tendrá que estar preocupado por su seguridad (...). Y llega en un momento en que la unidad de España está puesta en causa".
El duque, durante la entrevista
No obstante, pese a los inconvenientes inherentes al cargo, se declara dispuesto a seguir los mismos pasos "si así lo quieren los portugueses", convencido de que la monarquía es el mejor sistema para evitar que Europa se convierta en una república federal en la que las naciones pierdan su razón de ser. Rodeado de retratos de varios de sus antepasados y mientras el suelo de madera cruje bajo sus pies, el Duque de Bragança reconoce que el momento en que vio más cerca la posibilidad de erigirse en rey fue en 1974, con el fin del régimen dictatorial de António de Oliveira Salazar y la llegada de la democracia.
"Cuando comenzó la democracia podría haberse hecho un referéndum -sobre el modelo de Jefatura de Estado-", rememora. Él, que era amigo de varios de los militares protagonistas de la Revolución de los Claveles por su pasado como piloto de la Fuerza Aérea, culpa a los comunistas y a la Unión Soviética de intentar imponer entonces una "dictadura marxista" e impedir el debate sobre la monarquía.
Al contrario que el dictador Franco en España con Juan Carlos de Borbón, Salazar no confió en Don Duarte Pío como sucesor, pese a que permitió el regreso del exilio de la familia real en los 50 y a que tenía una "buena relación" con su tía, Filipa de Bragança. Aunque lo recuerda como una "persona simpática e interesante" a la hora de entablar conversación y le reconoce varios logros a nivel económico, censura que no fuese capaz de "evolucionar políticamente".
"Salazar quería mantener un equilibrio. Por eso decía a los monárquicos: 'Tengan paciencia, llegará el momento adecuado'. Y a los republicanos: 'No se preocupen, la república no está en causa'. Y así fue manipulando a todos, hasta ser responsable de la situación caótica en la que entramos en 1974", apunta. En los siguientes 40 años apenas ha habido discusión en Portugal sobre el modelo de Estado.
El Duque de Bragança convoca, cada tres meses, a su "consejo político" para debatir la actualidad, al que acuden desde rectores de universidad hasta ex diputados y sindicalistas, y también todos los años, el 1 de diciembre, dirige un mensaje a la nación.
Reminiscencias todas ellas de un pasado para el que hay que remontarse hasta 1910, cuando Manuel II, primo de su padre, fue depuesto y se instauró la República en suelo luso. Alto y con un poblado bigote que se ha convertido en su principal seña de identidad, Don Duarte Pío se declara "moralmente conservador y liberal en la política", además de ser un fervoroso católico.
Padre de tres hijos, no contrajo matrimonio hasta rondar el medio siglo de vida, lo que hizo peligrar la descendencia real.
Acompañado de su perro 'Kiko', un enorme pastor transmontano blanco, el Duque de Bragança califica su propiedad de Sintra como su particular "conquista revolucionaria", ya que la compró por cuatro millones de escudos (unos 20.000 euros al cambio) en 1975, cuando el Gobierno nacionalizaba casas sin ocupar, lo que llevó a sus dueños originales a querer desprenderse de ella rápidamente.
El duque, durante la entrevista
El duque, durante la entrevista
Sin ingresos públicos de ningún tipo, vive de las rentas que le producen el alquiler de varios inmuebles en Lisboa y Brasil, y trabaja como "asesor" externo para empresas que quieren exportar, sobre todo a países como Timor Oriental, del que es un gran conocedor y donde viaje con frecuencia.
Recuerda bien las estrecheces pasadas por su familia en el exilio, que contrastan con otros privilegios debidos exclusivamente a su linaje real, como ser ahijado del papa Pío XII.
La memoria le falla sin embargo cuando se le pide confirmar su edad. "¿Si tengo 69 años? Creo que no, nací en 1945, no puede ser... ¿Eso da 69? ¿Ya? Como nunca lo festejo, no hago las cuentas", arguye azorado, prueba de que para él, eterno aspirante al trono de Portugal, el tiempo comienza a pasar demasiado deprisa.
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Entrevista com o Duque de Bragança
A um jornal de Macau:
Entrevista | Duque de Bragança: “O Estado (português), em geral, só atrapalha”
Por: Andreia Sofia Silva
em Destaque,Entrevista,Sociedade
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Entrevista | Duque de Bragança: "O Estado (português), em geral, só atrapalha" - Hoje Macau,portugueses
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Em entrevista, Dom Duarte Pio defende que o Estado português deveria diminuir a burocracia para mais empresas lusas irem para fora, acusando o Governo portugu...
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Chamado de “rei sem reino” pelo diário espanhol El Pais, Dom Duarte Pio não fica à espera do trono que não chega e empenha-se em causas pessoais e projectos profissionais. Em entrevista ao HM, acusa o Governo português de não facilitar o investimento externo e diz que Macau ainda poderia ser de Portugal, se a República “tivesse sabido manter a política”
P2-Dom-Duarte-de-BragançaEsteve na MIF. Do que viu, que comentário faz à presença das empresas portuguesas?
Esta participação portuguesa é muito interessante. Macau tem a vocação de ser uma porta para as empresas lusófonas entrarem na China. Hoje em dia, uma empresa europeia, e portuguesa, tem a obrigação de tentar entrar no mercado chinês, mas tem de ver como o vai fazer. E para isso nada melhor do que os luso-chineses, como é o caso das famílias macaenses. Estou convencido que as empresas portuguesas têm de fazer parcerias com profissionais experientes de Macau para não fazerem fracas figuras. E também para não serem enganados, porque há vários casos de empresas que investiram na China e que perderam o rumo.
A que nível?
Desde ficarem com as tecnologias, capacidades produtivas. Até ficarem com a propriedade da própria empresa. E como a justiça ainda é muito politizada… as empresas portuguesas que se aventuraram na China sem terem especialistas locais saíram-se mal.
Há uma estratégia consolidada por parte do Governo para dar esse apoio?
O Estado Português tem sido sempre o maior obstáculo para os portugueses irem mais longe. Temos uma burocracia excessiva, em pessoas e métodos de trabalho, demoram muito tempo a dar as licenças. Espero que este Governo tenha uma atitude diferente do anterior e que consiga dar à economia portuguesa a competitividade que o Estado tem dificultado. É verdade que há empresas competitivas, com inovações tecnológicas interessantes, mas o Estado, em geral, só atrapalha. Mesmo as delegações oficiais no estrangeiro têm um papel ingrato, porque quando um estrangeiro quer saber o que encomendar em Portugal, os representantes têm muita dificuldade em dizer o que é bom e o que não presta. E também há empresas com coisas boas e com um mau serviço. Era preciso que as empresas de cada sector se unissem e tentassem trabalhar em conjunto. Neste caso [da MIF] começou a fazer-se. Porque estas empresas vêm em comum, trabalham em conjunto. Antes só tínhamos a Agência de Investimento e Comércio Externo (AICEP), que tem feito muito bem, mas também tem pessoas que muitas vezes não falam bem a língua do país e que são pouco motivadas.
Que expectativas ou anseios é que os empresários lhe transmitiram?
Há uma coisa que acontece há muitos anos, e que ninguém percebe, é o facto de Espanha exportar toda a carne suína e lacticínios para a China e Portugal não. A nossa carne até tem uma qualidade superior, e isso tem sido incompetência dos nossos governantes. Tenho aconselhado as empresas a irem para as províncias do interior da China, que são mercados enormes e onde há muito menos competição do que nesta zona litoral. Quem vem fazer negócios aqui devia preparar-se bem.
Falou da burocracia do Estado. De que forma é que as casas reais europeias podem ajudar a dinamização dos países a este nível?
Os países com reis e rainhas fazem sempre a diplomacia económica. Por exemplo, o príncipe Felipe de Espanha vai à América do Sul e faz um sucesso enorme. Uma posição completamente diferente da minha, pois temos um sistema republicano, e em principio é só o Presidente da República. Nem a mulher do presidente tem um cargo oficial. Mas é uma mais valia importante. Um dos países mais pequenos do mundo, o Mónaco, quando chega o príncipe Alberto (a um lugar) faz um sucesso, todos querem ouvir a sua opinião. Se for a filha do Presidente da República, ninguém liga nenhuma (risos).
Nesse sentido, Cavaco Silva tem desempenhado um bom papel?
Tem, tem, completamente. Tem usado muito do prestigio do cargo e do seu trabalho, e tem sido útil.
Vítor Sereno foi recentemente nomeado representante de Portugal no Fórum Macau. Foi uma boa escolha?
Parece uma pessoa inteligente e dinâmica, e estou convencido de que vai fazer um óptimo trabalho. Ser apenas cônsul-geral, apenas para resolver alguns problemas… como delegado económico tem mais iniciativa.
“Governo português gastou o dinheiro da UE”
A sua estadia em Macau prolonga-se até Timor-Leste, onde vai participar num projecto do cariz agrícola.
O parlamento timorense deu-me a grande alegria de, no ano passado, dar-me a nacionalidade, de modo que agora tenho de acelerar a minha cooperação com Timor. O projecto é ajudar a dinamizar a agricultura rural e estabelecer uma cooperação com a Fundação Bambu, e pô-la a trabalhar com a tecnologia de Angola, aproveitando os contactos da Fundação Dom Manuel II, da qual sou presidente.
Essa Fundação pode vir a desenvolver projectos em Macau?
Podia ser. Mas o que acontece é que a Lei das Rendas em Portugal torna a rentabilidade dos edifícios muito baixa. E o capital da fundação são edifícios, que rendem pouco. Não temos muito capital disponível. Mas fazemos sobretudos projectos agrícolas, onde não é possível investir muito. Fazemos os estudos e procuramos entidades que possam financiar a sua aplicação. Macau tem uma situação diferente, com mais desenvolvimento do que muitos outros países da CPLP.
Ainda sobre Timor. Qual o rumo que deve tomar em prol do desenvolvimento?
O Governo timorense tem sido extremamente prudente e evitado cair na armadilha em que a maioria dos países cai, que é: quando têm dinheiro, gastam-no. Infelizmente os governos portugueses fizeram isso com o dinheiro da União Europeia (UE). Gastaram-no em coisas que não produzem riqueza: auto-estradas, Expo’s, tudo quanto é obras de luxo. A nossa Administração Pública em Portugal gasta 80% do orçamento para pagar aos funcionários e as suas reformas. E 50% da riqueza produzida é para pagar o Estado. Timor tem evitado cair nessa armadilha: só usa rendimentos do fundo soberano, financiado pelo petróleo e gás. Por isso o país tem-se desenvolvido devagar, evitando o desequilíbrio na sociedade. É um erro fazer um grande desenvolvimento das cidades e deixar a população rural com uma grande ambição de viver nas cidades. Isso seria fatal. Mas é interessante que do ponto de vista educativo, Timor está bastante bem, tem muita gente qualificada, e devia favorecer a implementação de negócios lá.
“O rei, na Europa, deve dar o exemplo”
Se fosse monarca neste momento, quais seriam as suas ideias políticas para Portugal?
Nas monarquias europeias o rei é Chefe de Estado mas não governa. O rei, na Europa, deve dar o exemplo, encorajar o que é feito de bom no país. E discretamente, sem atrapalhar publicamente o Governo, avisar dos desvios que são feitos. Normalmente, os reis no mundo têm um conhecimento muito mais amplo das realidades do país e das políticas. As pessoas têm lealdade para com o seu rei, a mesma que não têm para com um político. Os políticos, por melhores que sejam, têm um objectivo óbvio, que é serem reeleitos. Os que não são sérios querem enriquecer. Ora um rei não precisa de enriquecer, porque já tem mais que suficiente, e também não precisa de votos. Quanto muito, tem de enfrentar um referendo. Felizmente ainda só houve um na Austrália, em que a rainha ganhou.
Poderia haver um resultado semelhante em Portugal?
A última sondagem deu que 40% dos portugueses dizem que não são republicanos. O que são, não dizem, podem ser anarquistas (risos). Se um dia houvesse um referendo acho que tinha possibilidade de ganhar.
A crise económica levou os portugueses a pensar que a Monarquia pode ser uma solução?
Enquanto as pessoas estavam tranquilas, com o seu salariozinho… porque em Portugal trabalham-se 11 meses e ganham-se 14, uma coisa que deixa os estrangeiros muito admirados, sobretudo os americanos, o problema não se levantava muito. Mas agora que todos acham que estão mal, é altura de se estudarem medidas e ver em que medida é que o sistema republicano não tem uma grave responsabilidade. Porque esta já é a segunda falência republicana. A primeira foi em 1926, que levou à ditadura militar e ao Governo de Salazar. E agora a terceira República chegou também à falência. Mas teve a possibilidade de pedir emprestado, à malfadada Troika. Se não fosse a Troika a socorrer-nos o Estado não conseguia sequer pagar os salários da Função Pública.
“A nossa Administração teve defeitos”
Como vê a Macau de hoje?
A nossa Administração teve defeitos, mas é importante lembrar o que foi feito de bom.
Como por exemplo?
Ficou uma memória histórica de dois povos que souberam cooperar em beneficio mútuo durante 500 anos. Um dos grandes papéis que Macau pode desempenhar é ajudar os chineses percebam as ligações de amizade entre os dois povos. Estou convencido que se tivesse havido mais diplomacia da nossa parte provavelmente tinha-se podido continuar ainda muito tempo no estado de território chinês sob Administração Portuguesa. Mas a nossa República não foi capaz de continuar com a política.
Fala-se imenso de Macau hoje em Portugal, ao nível empresarial. A importância poderia ser maior?
É muito importante, para um português ou um europeu, chegar aqui e encontrar instituições ocidentais, leis claras e fáceis de perceber.
Há pouco falava da forma como o património local é retratado na imprensa em Portugal. Ainda há um grande desconhecimento por Macau?
95% dos portugueses nunca veio a Macau. Mas os portugueses ganhariam muito em vir mais cá, ficar uns dias aqui, é uma revelação, uma grande alegria cultural que um português tem ao chegar aqui. Conseguir chegar aos bairros históricos é um efeito fantástico. Podia haver mais turismo português aqui.
Os erros dos juízes no caso Angola
Foram conhecidas as medidas preliminares para o Orçamento de Estado de 2014 em Portugal. Que análise faz?
Os impostos são um erro económico tremendo, sobretudo ao incidirem sobre a produção. Sobre o consumo, é maçador mas não tem efeitos graves. Mas tudo o que venha a encarecer a nossa produtividade é altamente prejudicial, porque ficamos menos competitivos no estrangeiro. Mas por causa das intervenções, que acho totalmente disparatadas e fora de contexto, do Tribunal Constitucional, as economias que o Estado deveria fazer não puderam ser feitas. E como 80% do orçamento é para a Função Pública, e o Estado gasta 50% da riqueza, para haver uma diminuição dos gastos do Estado não há outro caminho a fazer.
Não há, de facto?
Gostava que o doutor Seguro, do Partido Socialista, dissesse claramente qual é a alternativa que propõe. Há que renegociar a dívida: a quem devemos ir não quer renegociar. E adianta o quê? Pagamos mais anos e mais juros. Diminuir os custos do Estado: mas onde? O Estado habituou-se a ser uma imensa máquina para dar tachos e empregos a pessoas que, muitas delas, não se sabia o que faziam.
Muito facilitismo e interesses?
Conheço muitos altos funcionários que simplesmente não fazem nada. Outros que estão de baixa há anos e recebem o seu vencimento. Outros que estão deprimidos por não fazerem nada e por se sentirem inúteis ficam doentes por causa disso. Estamos num Estado que nasceu de uma matriz Marxista – a ideia dos comunistas era que o Estado dava emprego a toda a gente e não havia desemprego. O Estado português aplicou esse conceito mas paga mais do que a nossa produtividade permite.
José Eduardo dos Santos, presidente angolano, recuou nas relações estratégicas com Portugal. Que comentário faz?
É mais uma vez os juízes portugueses a quererem viver no mundo ideal e desligados da realidade. Processar políticos por eventuais crimes que não prejudicaram nada Portugal, quando muito prejudicaram foram os próprios políticos, não faz sentido. Um juiz português deve defender os portugueses, e estão preocupados com questões que os angolanos é que têm de resolver. Por causa dessa vontade exibicionista de prestígio, dada pelos juízes, acabaram por criar um enorme problema político para Portugal, e económico sobretudo. E isso é uma falta de inteligência muito grande. Dizem “não se pode criticar a justiça”. Não sei porquê. Tenho um enorme problema com a justiça, porque tenho os meus bens embargados há cinco anos por causa de um indivíduo desonesto que apresentou uma queixa contra mim e o tribunal aceitou e disse que, em caso de dúvida, embargava tudo.
Foi o que acabou por acontecer.
Tenho os meus bens embargados por uma questão de ninharia.
Os bens são da Casa Real Portuguesa?
São meus, pessoais. Os bens que eram da Casa Real, da minha família, foram nacionalizados pelo Governo do doutor Salazar que os transformou na Fundação Casa de Bragança. O que tenho foi alguma coisa que sobrou e o que ganhei por mim próprio. É pouca coisa, mas é o que tenho. E se o Estado português fica com os meus bens, depois de já ter ficado com o resto que era da família, acho muito disparatado e injusto. Além disso, todas as missões que tenho feito ao estrangeiro, ao serviço do Estado português, foram inteiramente pagas por mim, com o apoio de algumas embaixadas. Mas é estratégico e não financeiro. Nunca recebi nenhum pagamento do Estado português. Só recebi o meu vencimento de piloto da Força Aérea (risos).
Mas considera que deveria receber?
Não. Em algumas missões mais complexas, talvez. Mas sempre achei preferível que não se colocasse a hipótese. Dá-me uma liberdade muito maior.
Fala muito com o seu filho, Infante Dom Afonso (herdeiro) sobre as questões da actualidade?
Falamos todos, ao jantar, nos fins-de-semana. Eles interessam-se e discutem. Tanto a Isabel (Herédia) como eu tentamos que eles saibam a verdade das coisas para além das mentiras oficiais contadas nos jornais, que são recados políticos. Espero que eles trabalhem sempre em equipa e que se ajudem uns aos outros. Profissionalmente, as grandes paixões do Afonso são as ciências do ambiente e biologia. Também se interessa por filosofia.
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