Maria José Nogueira Pinto
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Maria José Nogueira Pinto
Portugal perdeu hoje uma verdadeira aristocrata. Representou, onde esteve, o que há de melhor no ideal kantiano de homem livre. Com a sua morte ficamos todos mais pobres.
Luís Froes
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RE: Crónica magistral de Maria José Nogueira Pinto (publicada no dia em que morreu, por sua vontade)
NADA ME FALTARÁ
(06-07-2011)
por MARIA JOSÉ NOGUEIRA PINTO
Acho que descobri a política - como amor da cidade e do seu bem - em casa. Nasci numa família com convicções políticas, com sentido do amor e do serviço de Deus e da Pátria. O meu Avô, Eduardo Pinto da Cunha, adolescente, foi combatente monárquico e depois emigrado, com a família, por causa disso. O meu Pai, Luís, era um patriota que adorava a África portuguesa e aí passava as férias a visitar os filiados do LAG. A minha Mãe, Maria José, lia-nos a mim e às minhas irmãs a Mensagem de Pessoa, quando eu tinha sete anos. A minha Tia e madrinha, a Tia Mimi, quando a guerra de África começou, ofereceu-se para acompanhar pelos sítios mais recônditos de Angola, em teco-tecos, os jornalistas estrangeiros. Aprendi, desde cedo, o dever de não ignorar o que via, ouvia e lia.
Aos dezassete anos, no primeiro ano da Faculdade, furei uma greve associativa. Fi-lo mais por rebeldia contra uma ordem imposta arbitrariamente (mesmo que alternativa) que por qualquer outra coisa. Foi por isso que conheci o Jaime e mudámos as nossas vidas, ficando sempre juntos. Fizemos desde então uma família, com os nossos filhos - o Eduardo, a Catarina, a Teresinha - e com os filhos deles. Há quase quarenta anos.
Procurei, procurámos, sempre viver de acordo com os princípios que tinham a ver com valores ditos tradicionais - Deus e a Pátria -, mas também com a justiça e com a solidariedade em que sempre acreditei e acredito. Tenho tentado deles dar testemunho na vida política e no serviço público. Sem transigências, sem abdicações, sem meter no bolso ideias e convicções.
Convicções que partem de uma fé profunda no amor de Cristo, que sempre nos diz - como repetiu João Paulo II - "não tenhais medo". Graças a Deus nunca tive medo. Nem das fugas, nem dos exílios, nem da perseguição, nem da incerteza. Nem da vida, nem na morte. Suportei as rodas baixas da fortuna, partilhei a humilhação da diáspora dos portugueses de África, conheci o exílio no Brasil e em Espanha. Aprendi a levar a pátria na sola dos sapatos.
Como no salmo, o Senhor foi sempre o meu pastor e por isso nada me faltou -mesmo quando faltava tudo.
Regressada a Portugal, concluí o meu curso e iniciei uma actividade profissional em que procurei sempre servir o Estado e a comunidade com lealdade e com coerência.
Gostei de trabalhar no serviço público, quer em funções de aconselhamento ou assessoria quer como responsável de grandes organizações. Procurei fazer o melhor pelas instituições e pelos que nelas trabalhavam, cuidando dos que por elas eram assistidos. Nunca critérios do sectarismo político moveram ou influenciaram os meus juízos na escolha de colaboradores ou na sua avaliação.
Combatendo ideias e políticas que considerei erradas ou nocivas para o bem comum, sempre respeitei, como pessoas, os seus defensores por convicção, os meus adversários.
A política activa, partidária, também foi importante para mim. Vivi--a com racionalidade, mas também com emoção e até com paixão. Tentei subordiná-la a valores e crenças superiores. E seguir regras éticas também nos meios. Fui deputada, líder parlamentar e vereadora por Lisboa pelo CDS-PP, e depois eleita por duas vezes deputada independente nas listas do PSD.
Também aqui servi o melhor que soube e pude. Bati- -me por causas cívicas, umas vitoriosas, outras derrotadas, desde a defesa da unidade do país contra regionalismos centrífugos, até à defesa da vida e dos mais fracos entre os fracos. Foi em nome deles e das causas em que acredito que, além do combate político directo na representação popular, intervim com regularidade na televisão, rádio, jornais, como aqui no DN.
Nas fraquezas e limites da condição humana, tentei travar esse bom combate de que fala o apóstolo Paulo. E guardei a Fé.
Tem sido bom viver estes tempos felizes e difíceis, porque uma vida boa não é uma boa vida. Estou agora num combate mais pessoal, contra um inimigo subtil, silencioso, traiçoeiro. Neste combate conto com a ciência dos homens e com a graça de Deus, Pai de nós todos, para não ter medo. E também com a família e com os amigos. Esperando o pior, mas confiando no melhor.
Seja qual for o desfecho, como o Senhor é meu pastor, nada me faltará.
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RE: Crónica magistral de Maria José Nogueira Pinto (publicada no dia em que morreu, por sua vontade)
Fica comigo o exemplo de coragem, inteligência, coerência, competência, estética e humanidade de Maria José Nogueira Pinto. Sinto muito, muito a sua morte. O país perde uma mulher notável, daquelas que nascem, na melhor das hipóteses, de cem em cem anos.
Um forte abraço de solidariedade à família.
Ricardo Ribeiro Leitão.
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RE: Crónica magistral de Maria José Nogueira Pinto (publicada no dia em que morreu, por sua vontade)
Uma vida é sempre um milagre irrepetível. Quando se impõe, traçando com o seu percurso um caminho recto no sentido exacto que devemos seguir, ao elevar-se, melhor ilumina esse trajecto. Nós só temos que o percorrer, empregando a mesma coragem e o mesmo sentido de responsabilidade para com os nossos semelhantes. Não precisamos de cem anos de espera para que novamente nos orientem. Apenas precisamos de não perder de vista o rumo preciso que já nos foi indicado. Nada nos faltará.
Marcos Soromenho Santos
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RE: Crónica magistral de Maria José Nogueira Pinto (publicada no dia em que morreu, por sua vontade)
Num tempo em que as convicções religiosas estão cada vez mais envergonhadas, aqui está um exemplo de uma verdadeira mulher da Fé Católica.
Sigamos o seu exemplo: não teve medos, foi fiel aos princípios cristãos onde quer que exercesse funções, e tal como as primeiras mulheres que há dois mil anos acolheram o Bom Pastor, também ela conseguiu marcar neste século, esse trabalho de apostolado feminino. E sobretudo no derradeiro momento: "E guardei a Fé."
Maria José Nogueira Pinto, obrigado pelo seu testemunho de Vida e de Fé, agora junto de Deus, intercede por nós.
A minha homenagem e os meus respeitos a toda a família
Requiescat in pace
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RE: Crónica magistral de Maria José Nogueira Pinto (publicada no dia em que morreu, por sua vontade)
Uma mulher que sobressaiu de entre os portugueses cobardes, governados há 500 anos sob o signo do Terror e do Medo!!!
Ela não teve Medo!!! Ela procurou uma nova Era do Amor, de Paz e de compreensão mútua!!! Talvez tenha lutado em vão e ficado isolada, tal como o Príncipe da Paz, que um dia, tal como ela também escreveu!!!
Como foram os Céus que me inspiraram e conduziram até aqui, os Céus chorarão por mim e terão piedade.
Deixai que a Terra, e cada Alma que ama a Justiça e a Misericórdia chore por mim.
Paz à sua Alma, Paz à Alma de Ambos
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