Padre Dionizio Gomes Manoel amancebado com Costodia Solteira (Courel - Barcelos)

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Padre Dionizio Gomes Manoel amancebado com Costodia Solteira (Courel - Barcelos)

#362823 | rxavierflima | 28 ott 2015 10:20

Caros confrades,

Peço a vossa ajuda na transcrição de parte do registo de inquirição de genere do padre Dionizio Gomes Manoel, nascido em Courel (Barcelos) em 1696.

https://goo.gl/FJIrQh

Até à página 38 faz-se a inquirição acerca da sua ascendência, de onde se conclui ser oriundo de famílias de cristão velhos inteiros.

Depois, nas páginas 41 e 42 há a apresentação dos rumores sobre o dito padre. São estas páginas que gostava que me ajudassem a transcrever.

Pelo que percebo:

1. Insiste-se na acusação de que é oriundo de famílias de cristão novos (tanto do lado paterno como materno).

2. É acusado de ter andado amancebado com Maria Solteira na freguesia de Courel e de a ter matado por ciúmes. Acusação por João da Fonseca, tio da dita Maria Solteira.

3. É acusado de andar amancebado com Costodia Solteira na freguesia de Gueral e de ir a várias romarias com ela. Acusação pelo mesmo João da Fonseca.

4. É acusado de brigas nas ditas romarias e de descompor outra mulher por ciúmes. É a partir daqui que solicitava a vossa ajuda na transcrição.

5. É acusado de viver na freguesia de Gueral com Costodia Solteira na casa de Francisco Gomes, viuvo (avó materno da dita Costodia).

Depois da página 41 estão registados os testemunhos de bastantes pessoas das freguesias envolvidas nos rumores. Por fim, com base nos testemunhos, conclui-se que todos estes rumores são falsos e que o pode continuar a exercer.


Agora, uma coisa é certa: o padre Dionizio Gomes Manoel teve de facto uma relação com Costodia Solteira. Dessa relação nasceu José da Silva, meu ascendente. Pelo menos é o que dizem os registos de baptismo dos filhos deste. Talvez o padre tenha assumido a paternidade de José a partir de uma certa altura. Neste caso, o que aconteceria? Seria afastado do ministerio pelo Igreja? E quanto aos outros rumores de que matou Maria Solteira por ciúmes e que fazia escandaleiras em romarias, acham que poderiam ser também verdade? Espero que não... eheheh

Deixo aqui também a ascendência do padre Dionizio Gomes Manoel e de Costodia Solteira: https://goo.gl/D0Heo4


Com os melhores cumprimentos e agradecendo desde já a vossa atenção,

XavierLima

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#362861 | rxavierflima | 29 ott 2015 08:15 | In reply to: #362823

Reparei agora que no seu registo de óbito, aparece como "Reverendo Dionizio Gomes Manoel" e não como "Padre Dionizio Gomes Manoel". Quererá isto dizer que houve alguma espécie de "despromoção"? Ou padre e reverendo querem dizer exactamente a mesma coisa?

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#362884 | Cerqueira Ventura | 29 ott 2015 14:55 | In reply to: #362861

Xavier, Reverendo, Padre, Abade ou Vigário naquela época significava o mesmo cargo eclesiástico no entanto tinha e ainda hoje tem várias denominações...
A minha bisavó também é neta de um padre na altura chamado Vigário, o nome Vigário passou assim para alguns descendentes, proveniente do cargo que ele ocupou...

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#362886 | rxavierflima | 29 ott 2015 15:43 | In reply to: #362884

Obrigado pela sua resposta, caro Cerqueira Ventura.

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#362892 | JC | 29 ott 2015 19:49 | In reply to: #362861

Reverendo é um tratamento de cortesia que se dá aos padres (reverendo Padre); o equivalente ao Exmº.
Vigário é um padre que assume a coordenação da vigaria, que é composto por várias paróquias. Pároco, prior, abade, são denominações que se dão aos padres em função do local onde estão colocados
Se for Bispo é Reverendíssimo; Cardeal é Eminência e o Papa é Santidade ou Santo Padre.
Cumprimentos,

José de Castro Canelas

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#362951 | rxavierflima | 31 ott 2015 10:52 | In reply to: #362892

Caro José Castro Canelas,
Obrigado pela resposta. Quer dizer então que um padre assumir a paternidade de um filho não implicaria qualquer consequência negativa no seu estatuto/actividade?

Obrigado,

XavierLima

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#362973 | JC | 01 nov 2015 16:34 | In reply to: #362951

Caro Xavier Lima,

Há inúmeros casos de padres que tiveram filhos, perfilharam-os e continuaram a exercer. Alguns até foram os padrinhos e outros baptizaram os filhos. Por vezes só mais tarde assumiam a paternidade.
Nalguns casos é possível que houvesse consequências negativas mas desconheço.
Cumprimentos,

JC

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#363258 | rxavierflima | 08 nov 2015 17:11 | In reply to: #362823

Em relação a estas inquirições de genere, alguém me sabe dizer se, além da investigação quanto à "pureza" dos ascendentes, era normal se averiguar a veracidade de rumores sobre a vida pessoal do padre, como neste caso?

Alguém percebeu a parte das brigas nas nas romarias?

Obrigado,

XavierLima

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#364823 | rxavierflima | 05 gen 2016 15:23 | In reply to: #362823

Transcrição da página 41 que gentilmente me fizeram no grupo do facebook Genealogias do Ave e do Cávado:



"E o dito ordinando está hoje publicamente amancebado com Custódia, solteira, neta de Francisco Gomes, assistentes na freguesia de São Pedro, digo, de São Paio de Gueral, vizinha de Courel, assistindo de dia e de noite, publicamente, em casa com ela, indo a Romarias como à senhora da Abadia e São Bento da Varge e Santa Susana de Negreiros, e para a feira de Barcelos, em as quais Romarias teve grandes brigas e pendências por ciúmes que tinha da dita Custódia e descompondo na Abadia publicamente a Ana Antónia, viúva, o tem procedida(?) por amor da dita Custódia, solteira, da freguesia de Gueral, com tanto excesso que os apartou Maria Gonçalves, mulher de Manuel Ribeiro, da freguesia de Courel, e vindo da Abadia, na Cruz da Pedra, e o haviam de matar outros estudantes(?) por saber que ela era sua concubina e tirar palha com ela e ele ter ciúmes disso havia de haver mortes se as pessoas que vinham da Romaria os não apartaram e isso presenciaram a dita Ana Antónia, viúva, e as mis pessoas que vinham na companhia.
E o dito Dionísio Gomes é tão mal inclinado e de má língua e costumes que levanta testemunhos falsos e não há pessoa virtuosa da sua boca e muito desobediente a seus pais que publicamente, vindo de uma Romaria da Santo António de Guimarães, deu uma bofetada em Maria, solteira, da Vila de Rates, desposada com José, solteiro, filho de Nicodemos Gomes de Abreu, querendo seu pai, António Manuel, repreendê-lo pela desumana acção, puxou o dito Dionísio Gomes por uma faca para seu pai e acudindo seu primo Manuel de Campos, de Courel, lhe tirou a faca da mão que se isso não fora matava seu pai, o que tudo isso presenciaram a maior parte dos fregueses da freguesia de Courel, por virem juntos da Romaria. E, haverá vinte dias, espancou o dito ordinando a sua mãe Maria Gomes, o que os vizinhos do dito ordinando estranharam muito a dita acção. Vossa Ilustríssima deve atentar a todo o referido, pois tudo é na verdade e como o suplicante é de tão maus costumes, assim de geração como nos procedimentos, deve Vossa Ilustríssima atender ao referido e se Vossa Ilustríssima quiser saber de toda esta verdade poderá mandar informação e mandar o seu meirinho à freguesia de S. Paio de Gueral, a casa de Francisco Gomes, viúvo, junto à Igreja, e achará o dito ordinando com a sua manceba, Custódia, solteira.
Cometemos ao Reverendo Desembargador Tomás de Araújo e Brito a averiguação do que se contém neste papel, contra o habilitando. No que procederá com a exacção que pede matéria tão importante.

Braga, em 4 de Julho de 1714."

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#364824 | rxavierflima | 05 gen 2016 15:28 | In reply to: #364823

Correcção:

Braga, em 4 de Julho de 1724.

E não 1714.

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#364841 | rxavierflima | 06 gen 2016 10:59 | In reply to: #362823

Considerações finais sobre a Inquirição de Genere do Dionisio Gomes Manuel (1723).

Então é assim:

— Até à página 37 é o inquérito normal, comum a todos as inquirições de genere, em que o padre responsável pela investigação vai às freguesias de alguma forma relacionadas com o ordinando e faz uma série de questões standard (pags 7 e 8) às pessoas mais velhas e honradas da freguesia que não tenham grau de parentesco com o ordinando.

— Na página 38, tendo em conta as respostas daquelas pessoas, o bispo conclui que o Dionizio cumpre todos os “requisitos” e promove-o a ordens.

— Nas páginas 40 e 41 vê-se aquilo que parece ser uma carta anónima enviada ao bispo coadjutor de Braga da altura (1724) numa tentativa de impedir a ordenação do Dionizio. Transcrição:



———————

A Vossa Ilustríssima Reverendíssima [Bispo de Uranópolis, D. Luís Álvares de Figueiredo]
Coadjutor e Provisor. Braga,
22 de Janeiro de 1724

Ilustríssimo Senhor

Informação que se dá a Vossa Ilustríssima, sem ódio algum, somente por ser conveniente ao serviço de Deus.
Foi servido Vossa Ilustríssima admitir a Ordens a Dionizio Gomes Manoel da freguesia de S. Martinho de Courel, o qual está promovido com uma tonsura e dois graus. Sendo que o dito Dionizio Gomes Manoel é filho legítimo de António Manoel e de Maria Gomes. O qual António Manoel é filho de legítimo de Domingos Gonçalves já defunto. O qual Domingos Gonçalves veio da freguesia de S. Cristóvão de Rio Mau, da aldeia que se chama Bouço, da geração que tem por alcunha os Gallos, tidos e havidos por judeus e cristãos-novos e até pelos meninos do gado por tais conhecidos.
E a mãe do dito Dionizio é filha legítima de Francisco Gomes e de Anna Domingues. O qual Francisco Gomes, avô paterno do dito Dionizio Gomes, da freguesia de Vilar de Figos, sempre foi tido e havido por cristão-novo na fama e na condição que tem e mostra. E todas as freguesias vizinhas estão admiradas de o tal sujeito estar admitido ao serviço de Deus.
E o dito Dionizio é de tão maus costumes que há anos andava publicamente amancebado com Maria solteira, a Soalheira por alcunha, com grande escândalo, a qual ele matou com ciúmes que dela teve, como João da Fonseca, tio da dita Maria solteira, publicou a muitas pessoas da freguesia de S. Marinho de Courel. O qual João da Fonseca é da freguesia de S. Martinho de Courel e algumas …
E o dito ordinando está hoje publicamente amancebado com Costódia solteira, neta de Francisco Gomes, assistentes na freguesia de S. Pedro, digo, de S. Paio de Gueral, vizinha de Courel. Assistindo de dia e de noite publicamente em casa com ela, indo a Romarias como à senhora da Abadia e S. Bento da Varge e Santa Susana de Negreiros e para a feira de Barcelos. Em as quais Romarias teve grandes brigas e pendências por ciúmes que tinha da dita Costódia. E descompondo na Abadia publicamente a Ana Antónia, viúva, bem procedida, por amor da dita Costódia solteira, da freguesia de Gueral, com tanto excesso que os apartou Maria Gonçalves, mulher de Manuel Ribeiro, da freguesia de Courel. E vindo da Abadia, na Cruz da Pedra, e o haviam de matar outros estudantes por saber que ela era sua concubina e tirar palha com ela e ele ter ciúmes disso. Havia de haver mortes se as pessoas que vinham da Romaria os não apartaram. E isso presenciaram a dita Ana Antónia, viúva, e as mais pessoas que vinham na companhia.
E o dito Dionísio Gomes é tão mal inclinado e de má língua e costumes que levanta testemunhos falsos e não há pessoa virtuosa da sua boca. E muito desobediente a seus pais que, publicamente, vindo de uma Romaria da Santo António de Guimarães, deu uma bofetada em Maria solteira, da Vila de Rates, desposada com José solteiro, filho de Nicodemos Gomes de Abreu. Querendo seu pai, António Manuel, repreendê-lo pela desumana acção, puxou o dito Dionísio Gomes por uma faca para seu pai e acudindo seu primo Manuel de Campos, de Courel, lhe tirou a faca da mão, que se isso não fora matava seu pai. E que tudo isso presenciaram a maior parte dos fregueses da freguesia de Courel, por virem juntos da Romaria. E, haverá vinte dias, espancou o dito ordinando a sua mãe Maria Gomes, o que os vizinhos do dito ordinando estranharam muito a dita acção.
Vossa Ilustríssima deve atentar a todo o referido, pois tudo é na verdade e como o suplicante é de tão maus costumes, assim de geração como nos procedimentos, deve Vossa Ilustríssima atender ao referido. E se Vossa Ilustríssima quiser saber de toda esta verdade poderá mandar tomar informação e mandar o seu meirinho à freguesia de S. Paio de Gueral, a casa de Francisco Gomes, viúvo, junto à Igreja, e achará o dito ordinando com a sua manceba, Custódia solteira.

———————



No fim da carta foi escrito posteriormente pelo bispo o seguinte:

———

Cometemos ao Reverendo Desembargador Tomás de Araújo e Brito a averiguação do que se contém neste papel, contra o habilitando. No que procederá com a exacção que pede matéria tão importante. Braga, em 4 de Julho de 1724.

———



— Da página 42 à 67 este reverendo desembargador vai às freguesias dos pais e avós do ordinando e a outras e faz mais um inquérito exaustivo. Muita gente é inquirida, incluindo algumas das pessoas envolvidas nos rumores, como Anna Antonia (viuva de Joao Francisco), Maria Gonçalves (mulher de Manoel Ribeiro) e o próprio João da Fonseca que, segundo a carta, teria espalhado a notícia que o Dionizio teria matado a Maria, a Soalheira. Estranhamente todas estas pessoas contrariam todas as acusações da carta. Segundo vários, Maria, a Soalheira morreu em Rates, sua terra natal, para onde voltou e esteve muito tempo doente antes de morrer. Segundo todos: “é o dito Dionizio de boa vida e costumes, muito sério e calado e não costuma falar mal de ninguém, é muito obediente a seu pai e sua mãe e nunca se ouviu dizer que lhe desse pancadas.”

— Finalmente, na página 68, o bispo conclui que as acusações eram falsas e que não passavam de calúnias.



Como já referi, pelo menos um destes rumores era verdadeiro: ele teve de facto uma relação com Costódia Solteira, relação da qual resultou um filho do qual somos descendentes. Mas estou inclinado a pensar que esta carta anónima foi enviada por alguém que sabia desta relação e, querendo a todo o custo impedir a ordenação do homem, inventou as outras acusações. Custa-me a crer que aquilo fosse tudo verdade, sendo que depois, no inquérito, as pessoas dissessem o contrário. Mesmo que o Dionisio fosse o maior rambo-da-lambreta / bandalho lá do sítio, não conseguiria persuadir tanta gente, de tantas freguesias, a desmentir os rumores da carta. Digo eu…

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#364846 | Cerqueira Ventura | 06 gen 2016 13:12 | In reply to: #362823

Xavier, é de facto uma história interessante, como já referi aqui, também tenho um padre na minha ascendência, e isso é uma coisa muito comum, ainda hoje muitos padres têm filhos, eu conheço alguns casos, ainda bem que esse seu ascendente reconheceu o filho, pelo menos teve uma atitude de coragem, tal como o meu ascendente também reconheceu a filha...

Na minha opinião (que poderá não valer muito), pelo que se pode ler nessas transcrições, em primeiro lugar as cartas anónimas não valem quase nada, há um ditado que diz que "onde há fumo, há fogo"...

Com certeza haverá alguma verdade no meio disso tudo, no entanto a maior parte das coisas serão apenas "famas" como diziam na época...

Dada a data desses acontecimentos e uma vez que nada ficou provado, nunca haverá certezas de nada e como é da praxe, até prova em contrário todos são inocentes.

O seu ascendente não negou o filho e isso por si só será já um motivo de orgulho para si, pois caso contrário o filho estaria como muitos "filhos de pai incógnito" e nesse ramo o Xavier não conseguiria prosseguir nesse ramo na sua genealogia, espero que continue a encontrar mais ascendentes do Dionizio e dos seus restantes familiares, boa sorte, saudações

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#430241 | RLBA | 07 gen 2021 16:08 | In reply to: #362823

meu hexavô nascido em Courel Barcelos bispado Braga com nome de Dionizio GONÇALVES Campos casou se em Mariana MG Brasil em 1760 ele era Capitao e vi no seu registro de batismo em 8 de abril de 1726 que o seu padrinho tinha sido o padre in menoribus Dionizio Gomes Manuel , acho que este era tio materno ,irmao da mae do batizando Anna Manuel .
deste Dionizio Campos veio uma numerosa descendência em Ibertioga Barbacena e sobretudo em Patrocinio de Muriaé

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