possível ligação de Diogo Alvares Vieira genearca do apelido em Angra ilha Ierceira
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possível ligação de Diogo Alvares Vieira genearca do apelido em Angra ilha Ierceira
João Miguel Simões A Igreja de Santiago de Estômbar
29 de Agosto de 2007 31
. A zona de Loubite ficava entre Silves, Lagoa e Estômbar e foi desde sempre famosapelos seus figueirais e pelas suas vinhas, as melhores do Algarve
51
.Pouco depois, Fernão Vieira I foi para Faro, para ser criado de Isabel de Alvelos, viúva deGarcia Nunes ou Moniz, procurador da Fazenda Régia no Algarve. Este serviço deveria consistir em organizar as contas do falecido procurador para Isabel de Alvelos as entregar à FazendaRégia, recebendo assim o auto de quitação e libertando-se de quaisquer dívidas que sepudessem vir a apurar. Este trabalho abriu as portas a Fernão Vieira I ao aparelho fiscal daCoroa Portuguesa, aos seus rendimentos, negócios e, principalmente, favores que se poderiamconseguir dos poderosos locais que, em troca de um esquecimento ou facilidade, concediambenesses muito valiosas.De facto, Isabel de Alvelos herdou de seu marido vários bens do Estado que lhe estavampessoalmente aforados por um valor quase simbólico. Destacam-se em Faro um forno de cozer pão, junto à porta da vila, com suas casas, o que conferia rendas avultadas
52
e um lagar deazeite régio
53
. Estes eram os meios de produção de dois dos mais importantes produtos daIdade Média: o pão e o azeite. Os fornos e os lagares régios possuíam a exclusividade naprodução destes produtos no concelho, obrigando a população produtora a pagar avultadastaxas para os transformar.Fernão Vieira I aproveitou as benesses de ter trabalhado para Isabel de Alvelos e conseguiuum pedido pessoal do próprio Infante D. Henrique junto do Rei que o nomeou para escrivão daCoudelaria de Faro no dia 16 de Agosto de 1439
54
e a confirmação do cargo de inquiridor econtador das custas da Cidade de Silves que foi outorgada no dia seguinte
55
.A troca de favores abarcou também os seus familiares. A 25 de Fevereiro de 1440, foinomeado Álvaro Vieira, possivelmente seu filho primogénito, para o cargo de escrivão das sisasda vila de Lagos, graças a um pedido do Infante D. João junto do Rei
56
, e a 19 de Março domesmo ano, Juiz dos Resíduos da mesma localidade
57
.Esta indigitação não correu muito bem pois, a 31 de Março de 1446, Álvaro Vieira foiafastado dos seus cargos por ter assassinado Lopo Faleiro
58
. A cobrança dos impostos régios,
50
Cf. IAN/TT,
Núcleo antigo
, n.º 298,
Livro do Almoxarifado de Silves
, fl. 20v. pub. MORENO, Humberto Baquero,
Op. Cit.
, p. 44.
51
Cf. Idem,
Op. Cit.
, p. 95.
52
Cf. IAN/TT,
Chancelaria de D. Afonso V
, Livro 20, fl. 130.
53
Cf. IAN/TT,
Chancelaria de D. Afonso V
, Livro 25, fls. 72 e 72v.
54
Cf. IAN/TT,
Chancelaria de D. Afonso V
, Livro 19, fl. 73.
55
Cf. IAN/TT,
Chancelaria de D. Afonso V
, Livro 19, fl. 93.
56
Cf. IAN/TT,
Chancelaria de D. Afonso V
, Livro 20, fl. 51.
57
Cf. IAN/TT,
Chancelaria de D. Afonso V
, Livro 20, fl. 35.
58
Cf. IAN/TT,
Chancelaria de D. Afonso V
, Livro 5, fl. 15.
João Miguel Simões A Igreja de Santiago de Estômbar
32 29 de Agosto de 2007
tanto porque oprimiam as populações, como porque eram pretexto para injustiças e pedidos desubornos, deveriam desencadear a revolta das pessoas que se consideravam lesadas.Este episódio não abrandou a ascensão da família Vieira na máquina fiscal algarvia ondepodemos encontrar vários filhos de Fernão Vieira nas décadas de 1450 a 1470.A 28 de Setembro de 1450, Fernão Vieira II foi nomeado tabelião do cível e crime na vila deFaro e escrivão da Coudelaria de Faro, sucedendo a seu pai neste cargo
59
.A 23 de Outubro do mesmo ano, Diogo Vieira foi nomeado tabelião perante os juízes deFaro
60
.Álvaro Vieira, entretanto reabilitado e exercendo o cargo de escrivão da Câmara de Faro, foinomeado, a 1 de Maio de 1453, contador-mor das obras de todas as fortalezas, castelos e paçosdo Reino do Algarve e nas comarcas de Entre Tejo e Guadiana e Estremadura
61
. Trata-se de umcargo da mais alta importância para a família só possível de vir a ser assumido pelo primogénito,pois além das enormes somas que envolviam as obras reais, era o primeiro cargo cujacompetência extravasa o Algarve, abarcando todo o Sul do país.Outro filho de Fernão Vieira I, Rui Vieira, apesar de não se ter dedicado à máquina fiscal,usufruiu dos favores que os irmãos negociavam. Apesar de ser mercador, uma profissãoconsiderada na época desonrosa, era “escudeiro” e conseguiu, por intermédio de um pedido doPrior da Ordem Militar do Hospital ao Rei, o privilégio de poder andar montado numa mula comsela e freio, por carta de 14 de Dezembro de 1454
62
. A família de burocratas algarvios aspiravaascender à nobreza como comprova esta tentativa de imitação do privilégio de andar montado acavalo o qual era exclusivo da nobreza de sangue.O cargo de Silves, onde a família começou a sua carreira fiscal, foi abandonado, tal como asua residência, pois todos são dados moradores em Faro, a nova capital emergente do Algarve.Dos filhos de Fernão Vieira I, todos beneficiados pelo pai, o que seguiu a tradição familiar foiFernão Vieira II que, em 1456, era escudeiro da Casa do Infante D. Fernando e seu escrivão dacâmara, tendo sido nomeado a 5 de Novembro desse ano, escrivão dos contos da Comarca doReino do Algarve
63
, cargo que o colocava a superintender toda a máquina fiscal algarvia. A 21de Julho de 1462, foi nomeado “
escrivão do relego, açalaio e mordomado da vila de Faro
”
64
.Tal como seu pai, soube tirar proveito da posição privilegiada que ocupava e aforou algunsbens do Estado que proporcionavam bons rendimentos em troca de uma contribuição quase
59
Cf. IAN/TT,
Chancelaria de D. Afonso V
, Livro 34, fls. 162v.
60
Cf. IAN/TT,
Chancelaria de D. Afonso V
, Livro 34, fl. 201.
61
Cf. IAN/TT,
Chancelaria de D. Afonso V
, Livro 3, fl. 65.
62
Cf. IAN/TT,
Chancelaria de D. Afonso V
, Livro 10, fl. 118v.
63
Cf. IAN/TT,
Chancelaria de D. Afonso V
, Livro 13, fl. 46.
64
Cf. IAN/TT,
Chancelaria de D. Afonso V
, Livro 1, fl. 48v.
João Miguel Simões A Igreja de Santiago de Estômbar
29 de Agosto de 2007 33
simbólica para os cofres régios. A 21 de Fevereiro de 1461, Fernão Vieira II aforouperpetuamente um moinho que estava na Horta do Pinheiro, junto da vila de Faro, pelopagamento de apenas 80 reais brancos por ano
65
. A 2 de Setembro de 1463 aforou outromoinho régio situado nos sapais, na vila de Faro, por 150 reais brancos
66
. A 3 de Julho de 1464,recebeu como doação régia um lagar de vinho na judiaria de Faro, que fora expropriado aMoisés, um judeu, antigo rendeiro régio
67
. A 10 de Janeiro de 1471, a sua viúva, ConstançaEanes, ficou isenta vitaliciamente de pagar o foro de 380 reais brancos pelas casas de Faroonde a família habitava e que eram património do Estado
68
.À semelhança de seu pai, Fernão Vieira II também tentou colocar os seus filhos em cargosimportantes na região algarvia, tanto na máquina fiscal da Coroa, como noutros pontos-chave dasociedade algarvia. Também favoreceu os seus sobrinhos, pelo que é difícil distinguir uns dosoutros.Pêro Vieira foi cónego da Sé de Silves e “dono” de Leonor Negra, uma moura escrava que oclérigo alforriou. Esta mulher foi presa por motivos desconhecidos, tendo fugido da prisão deSilves e sido perseguida pela Justiça régia. Quase de certeza, por influência do cónego PêroVieira, a Coroa emitiu uma carta de segurança, a 8 de Março de 1471, para a fugitiva, desde quese apresentasse à justiça de Silves para resolver o assunto de que era acusada
69
. Quase decerteza que Pêro Vieira e Leonor Negra mantinham uma relação ilícita apenas permitida pelainfluencia da família na temida máquina fiscal algarvia. Porém, este facto deveria provocar odescontentamento de alguns clérigos da Sé que tentavam acabar com a relação através dedenúncias e acusações à parte mais fraca, ou seja, Leonor Negra.Gonçalo Vieira era filho de Rui Vieira e era escudeiro e criado do infante D. Fernando. A 23de Maio de 1476 foi nomeado juiz das sisas régias da vila de Faro em substituição de seu paique renunciara
70
.Gabriel Vieira, possível filho de Fernão Vieira II, renunciou ao cargo de inquiridor e contador na cidade de Silves, a 20 de Novembro de 1476, possivelmente por considerar o cargo pouco importante
Gomes Vieira morava em Lagos e devia, por isso, ser filho de Álvaro Vieira. Também herdoudo pai o mau temperamento, pois matou Diogo de Sampaio, necessitando da interferência dafamília para conseguir uma carta de perdão que chegou a 4 de Junho de 1480
72
.Foi com Fernão Vieira III, possivelmente filho de Fernão Vieira II, que se continuou a tradiçãofamiliar. A sua juventude e inabilidade custou-lhe uma rixa com João Gonçalves, escudeiro,morador em Tavira, que o feriu e injuriou em 1480
73
. Em Agosto de 1488 aparece numa escriturade aforamento como “escrivão dos contos em Faro”
74
e em Fevereiro de 1495 como escrivão daFazenda Régia e contos do Reino do Algarve
75
. Em Fevereiro de 1497, aparece referido como“
cavaleiro da Casa Real e escrivão da fazenda e contos de Sua Alteza
(a Rainha D. Leonor,viúva de D. João II)
no Reino do Algarve, provedor e contador nele na ausência de Diogo deBarros
”
76
e assim permanece até que, a 18 de Junho de 1499, renunciou ao lugar
77
. Estarenuncia deve estar ligada à ascensão à pequena nobreza com a aquisição do título de“Cavaleiro da Casa Real” pois, segundo a mentalidade da época, a nobreza não trabalhava,vivendo exclusivamente dos rendimentos.Para o reinado de D. João II e seguintes, a documentação torna-se mais escassa, nasequência da doação régia dos concelhos de Silves e Faro, com todos os seus poderestemporais e eclesiásticos, à Rainha D. Leonor outorgada a 24 de Abril de 1491
78
. Competia poisà Rainha, a partir desta data, nomear os representantes do Estado nestes concelhos.Entretanto surge outro ramo dos Vieiras no Algarve. A 10 de Maio de 1496, foi confirmadauma carta de D. João II que manteve em Álvaro Vieira, filho de Afonso Vieira, o cargo deescrivão das Sisas de Albufeira, como fora seu pai
79
. Este Afonso Vieira deve ser um filho deFernão Vieira I.Em Loulé surge um quarto ramo composto por Miguel Vieira que foi nomeado procurador donúmero nessa vila em 1501
80
e presumivelmente por seu filho, Cristóvão Vieira, jujuiz dos órfãosde Loulé entre 1514 e 1517
81
.O ramo de Lagos continuava belicoso, com Gaspar Vieira e seu irmão, Baltasar Vieira, filhosde Gomes Vieira e netos de Álvaro Vieira, a receberem, em 1511, o título de cavaleiros, dado
72
Cf. IAN/TT,
Chancelaria de D. Afonso V
, Livro 32, fl. 163v.
73
Cf. IAN/TT,
Chancelaria de D. Afonso V
, Livro 32, fl. 138.
74
Cf. IAN/TT,
Chancelaria de D. Manuel I
, Livro 44, fl. 108v.
75
Cf. IAN/TT,
Chancelaria de D. Manuel I
, Livro 26, fls. 10 e 10v.
76
Cf. IAN/TT,
Chancelaria de D. Manuel I
, Livro 29, fl. 82v.
77
Cf. IAN/TT,
Chancelaria de D. Manuel I
, Livro 14, fl. 45.
78
Cf. IAN/TT,
Leitura Nova
, Livro 1 de Místicos, fl. 57.
79
Cf. IAN/TT,
Chancelaria de D. Manuel I
, Livro 40, fl. 112.
80
Cf. IAN/TT,
Chancelaria de D. Manuel I
, Livro 1, fl. 57.
81
Cf. IAN/TT,
Chancelaria de D. Manuel I
, Livro 10, fl. 15v.
João Miguel Simões A Igreja de Santiago de Estômbar
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pelo próprio Afonso de Albuquerque pela bravura demonstrada na batalha de Barrana, sob asordens de Tristão da Cunha
82
.É contudo o ramo de Silves/Faro que interessa para a história da Igreja Matriz de Estômbar.A Fernão Vieira III, que renunciou o cargo em 1499, sucedeu Fernão Vieira IV cuja únicainformação conhecida foi ter sido
um homem fidalgo muito honrado
a quem foi concedida cartade armas, em 1537, sem nunca as ter recebido oficialmente, conforme testemunhou o Dr.Cristóvão Esteves Esparregosa
83
. Este terá sido o pai do já abordado Diogo Vieira, que morreuem 1556 na costa da Mina e de Maria Vieira, mãe de Álvaro de Brito Vieira, agraciado com acarta de armas de 7 de Setembro de 1557, por ser o último da sua família, leia-se do ramo deSilves / Faro.A ausência de documentação para Fernão Vieira IV prende-se com dois factores que podemter ocorrido simultaneamente.1 – A transferência dos concelhos de Silves e Faro para a administração da Rainha D.Leonor (mulher de D. João II) e, posteriormente, para a de D. Catarina (mulher de D. João III) fezcom que os documentos oficiais deixassem de ser tombados nas Chancelarias Régias, que seguardam na Torre do Tombo, e passassem a ser registados na Chancelaria da Casa dasRainhas, que se perdeu para este período. Assim, todos os documentos oficiais referindo FernãoVieira IV, nomeadamente nomeações para cargos régios e aforamento dos bens do Estado, aterem existido, perderam-se.2 – Fernão Vieira IV, como atesta o facto de ser lembrado como
homem fidalgo muitohonrado
e de quase ter recebido uma carta de armas em 1537, aspirou à nobreza. Obrigavam oscódigos morais da época, ainda presos às normas de cavalaria medieval, que um nobre nãotrabalhasse, vivendo apenas dos rendimentos. É possível que a renúncia dos cargos de FernãoVieira III resida já nesta aspiração. Por esta razão, é possível que Fernão Vieira IV nunca tenharequerido a nomeação para cargos régios vivendo apenas dos rendimentos dos bens régios queseu pai e avô haviam aforado no Algarve. Por outro lado, o seu filho, Diogo Vieira, um homem deoutra geração, mais humanista e moderno, desligou-se destes códigos medievais e, comoverificámos, trabalhou e dedicou-se à exploração ultramarina, conseguindo com isso reunir fortuna. Lembramos que tendo a carta de armas sido conferida em 1537, só foi requerida pelafamília em 1557, tendo Diogo Vieira negligenciado esta aspiração nobiliár
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Nesta conjuntura de aspiração à nobreza de Fernão Vieira IV é possível que a família setenha retirado para Silves, a sua terra natal no Algarve, considerada na época como a capital danobreza algarvia, afastando-se assim de Faro, considerada burguesa e mercantil. Talvez tenhaescolhido Estômbar para residência, pois era aqui que o Bispo se retirava durante o Verão,fugindo às febres de Silves.Assim, a aspiração à nobreza de Fernão Vieira IV coloca-o como a personalidade que, comquase toda a certeza, deve ter patrocinado a construção da Igreja Matriz de Estômbar, por voltade 1520, como atestam os elementos decorativos manuelinos nos portais principais e laterais.Esta acção insere-se numa política de afirmação da sua família como parte da nobreza. Copioucertamente o exemplo da Mexilhoeira Grande, Alvor e Lagos, em que nobres de sangue,construíram sem contrapartidas financeiras a igreja daquelas comunidades.O patrocínio da construção de uma igreja, sem ter obrigação disso, para uma comunidadeque não dispunha de templo, seria visto na época como um acto de nobreza, de desprendimentodos bens da terra e de investimento nas qualidades da alma, da honra e do bem com obviasrecompensas no Paraíso.De facto, até a escolha do orago Santiago, que já vários autores consideraram estranha, épossível de relacionar com a aspiração nobiliárquica de Fernão Vieira IV
Cumprimentos
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