Família do Canto, ou Anes do Canto

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Família do Canto, ou Anes do Canto

#426783 | franciscobcastro | 29 ago 2020 19:11

Boa tarde a todos os confrades.

Gostaria de deixar uma nota sobre a família do Canto, ou Anes do Canto (também Annes do Canto). É uma família muito antiga, com ampla descendência nos Açores, Madeira, Brasil e (mais recentemente) todas as Américas). Por isso me parece relevante pois há frequentes mal entendidos neste e em outros sítios de genealogia.

Em muitas das árvores com que me cruzei, e mesmo neste fórum, há referência frequente a serem descendentes de um John of Kent, cavaleiro inglês do século XII – e daí o nome de Canto. Contudo, as provas documentais que sustentam esta tese parecem pouco credíveis. Muito mais credível é a explicação de Marcelo Bogaciovas e Rui Mendes de Faria (Cantos e Rochas, de Guimarães, São Gens e Santana de Parnaíba, Revista da ASBRAP n.º 21, pp.83-578).

Este estudo sugere uma explicação do nome Canto bem mais prosaica. A família Anes do Canto é uma antiga família de comerciantes de Guimarães. O facto de serem comerciantes é por si sinal de não terem ligações nobiliárquicas, muito menos a cavaleiros ingleses, já que comerciar não era visto como tarefa de gente nobre. Censos regulares dos habitantes da cidade Guimarães permitem aí encontrar vários membros da família durante todo o século XV (ainda segundo a fonte supra). O membro da família mais antigo a que se encontra referência (e meu antepassado mais antigo que consegui até hoje identificar) é Afonso Anes (ou Annes), nascido cerca de 1405 em Guimarães. Alugou lojas e terá vivido na Rua dos Mostardeiros (ou Mostardeiras) na cidade de Guimarães, onde nasceram os filhos (que teve com sua esposa Beatriz gomes) e vários dos netos. Esta rua já não existe – era, pelo que consegui apurar (ver, por exemplo, Fernandes e Oliveira, 2004, Ofícios e Mesteres Vimaranenses nos Séculos XV e XVI, in Revista de Guimarães 113/114, p.124) paralela à Rua de Santa Maria que, essa sim, ainda existe – e tem vários restaurantes que fortemente se recomendam, acrescento; também desembocaria na Praça de Santiago, que é ainda hoje o coração da cidade de Guimarães.

O nome “Anes do Canto” só aparece com os netos de Afonso Anes, filhos de Vaso Afonso (~1430 - ~1482) e sua esposa Margarida Vaz, todos de Guimarães, nascidos na dita Rua dos Mostardeiros. Não foi, por isso, herdado de um antepassado inglês com origem em Kent, já que nem o pai nem o avô o usavam; e acresce ser muito improvável que os descendentes de um cavaleiro inglês se tornassem pequenos comerciantes. Bogaciovas e Mendes especulam que terá origem no facto de a casa que ocupavam se encontrar no canto da referida Rua dos Mostardeiros. É provável que se tratasse de uma alcunha de família (que resultaria deste ou outro facto) que acabou por se integrar no nome, como tão frequente era – e ainda vai acontecendo.

Há ramos nobres na família. Um dos filhos de Vasco Afonso, Pedro Anes do Canto (~1472, Guimarães - ~1556, Angra do Heroísmo, Açores) foi combater na expansão do império e seria feito cavaleiro por D. João III em 1539. A casa que fundo assumiu o nome “do Canto”, recebendo nessa altura brazão. Um dos seus descendentes foi José do Canto, importante e humanista e botanista do século XIX (1820-1898).

A título de curiosidade – e pelas ligações ao Brasil – os meus antepassados continuaram em Guimarães por mais três gerações, tendo-se mudado (já Gonçalves do Canto) no início do século XVI para a freguesia do Conselho de Fafe onde os meus pais nasceram e onde eu vivi vários anos (curiosamente, ambos os meus pais são descendentes deste antepassado que se mudou para Fafe, através de ramos que se separaram no final do século XVII).

Deste ramo fafense saiu ao longo dos anos gente para o Brasil, muitos logo nos séculos XVII e XVIII. Por exemplo, o Capitão Bartolomeu da Rocha do Canto (1638, Fafe – 1685, Santana de Parnaíba), que morreu sem descendência conhecia e, antes dele, o seu irmão Capitão António da Rocha do Canto (1627, Fafe – 1706, Santana de Parnaíba), que foi tabelião e juiz em Santana de Parnaíba e se casou com Ascença de Pinha Cortês, de quem teve 4 filhas e, por elas, ampla descendência. Também os sobrinhos-netos de ambos, Maurício da Rocha Campos (1693, Fafe – 1790, Santana de Parnaíba) e Baltasar da Rocha Campos, comerciante (1697, Fafe – 1777, Santana de Parnaíba) rumaram ao Brasil, tendo deixado ampla descendência. Naturalmente que são apenas alguns de muitos exemplos.

Espero que este texto seja útil e que as vossas reacções me ajudem a mais saber dos meus antepassados.

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#426787 | franciscobcastro | 29 ago 2020 20:43 | In reply to: #426783

Na mensagem anterior faltou referir igualmente ampla linhagem na Madeira, desde finais do século XVI

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