Os Francos da Vermoeira
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Os Francos da Vermoeira
Os Francos da Vermoeira
Francisco de Arantes, baptizado em 20/XI/1734, o mais velho dos dois irmãos Arantes fixados no termo de Torres Vedras, casou a 11/VIII/1773 no Gradil, com Maria Franca, aí nascida por volta de 1740, filha de João Luiz, do lugar da Murgeira, freguesia de Santo André, Mafra, e de Catarina Franca, natural da Vermoeira, freguesia da Azueira.
O processo de habilitação "de genere" de Luiz Franco Nunes, nascido em 1738, irmão mais velho de Maria Franca (que casaria no Gradil, a 10/II/1790, com Rosa-Maria-Vitória, filha de Manuel Ferreira Nunes e Maria Ribeira e viria a ser Juiz Ordinário e Vereador da Câmara do Reguengo do Gradil), facilitou o estudo genealógico da família.
Maria Franca era, como já se disse, filha de João Luiz e de Catarina Franca, tal como Luiz Franco Nunes e Ana Franca.
João Luiz, nascido em 1699, era filho de outro João Luiz, nascido em 1676 de um primeiro João Luiz, todos naturais da Murgeira.
Foi a 17 de Fevereiro de 1738 que o terceiro João Luiz, pai de Maria Franca, se casou, no Gradil, com Catarina Franca.
Catarina fora baptizada na Vermoeira a 23 de Março de 1706, e, quando se casou com João, era já viuva de um Francisco Duarte com quem se casara, na Vermoeira, Azueira, a 24 de Setembro de 1730. O facto de Francisco Duarte ser do Gradil explica que Catarina lá passasse a morar.
Catarina pertencia de facto aos Francos da Vermoeira.
Catarina Franca, da Vermoeira, era filha de Domingos Franco, baptizado na Vermoeira a 6 de Dezembro de 1671 e lá falecido a 14 de Agosto de 1728, e de Domigas Ribeira (ou Ribeiro), e de Domingas Ribeira (ou Ribeiro).
Foi a 10 de Março de 1700 que Domingos casou com Domingas, nascida na Aboboreira, lugar também pertencente à freguesia da Azueira, a 29 de Outubro de 1675 e falecida a 24 de Junho de 1733. Era filha de João Sivestre e de Maria Ribeira (esta nascida na freguesia de Santa Maria do Castelo de Torres Vedras) que casaram a 4 de Novembro de 1674 e moraram na Aboboreira. Conhecem-se os nomes dos avós paternos, um primeiro João Silvestre e Margarida Franca, e maternos, António de Miranda e Simoa Ribeira.
O pai de Domingos, também chamado Domingos Franco, casou-se três vezes. A terceira mulher, Maria Nunes, filha de Simão Jorge, morador nas Barras, lugar da freguesia da Azueira, e de uma primeira Maria Nunes que se sabe ter falecido a 23 de Julho de 1701, foi a mãe de Domingos e, portanto, a avó de Catarina. Desse casamento nasceram ainda Maria (1673), Madalena (1676), Beatriz (1679), Manuel (1682) e João (1685).
É do assento deste casamento, realizado a 21 de Agosto de 1670, que se retira que Domingos tinha sido casado previamente com Catarina Franca, filha de Domingos Pires e de uma outra Catarina Franca, moradores no Turcifal. Aí se realizou o casamento, a 15 de Setembro de 1668, presidido por um irmão da noiva, também chamado Domingos Franco, padre e cura da Igreja de S. Jorge da Cidade de Lisboa, que não deve ser confundido com o Padre Domingos Franco, cura da Azueira, de que mais adiante se tratará. Catarina Franca (baptizada a 20 de Março de 1632), morreu duas semanas depois de casar, a 2 de Outubro de 1668, na Azueira.
Do assento de casamento de Domingos com Catarina consta que Domingos era já viuvo de uma Maria Pedrosa de naturalidade desconhecida. É provável que este primeiro casamento, realizado em local desconhecido, tenha sido estéril.
Não se achou o óbito de Maria Pedrosa. É natural que Domingos tenha estado casado com ela até pouco tempo antes do seu segundo casamento e que tenha decidido casar com Catarina Franca na esperança de ser pai. A infeliz Catarina não viveria porém o tempo suficiente para lhe dar tal satisfação.
Por isso, casou Domingos uma terceira vez, dois anos mais tarde, e pôde finalmente ter descendência.
Estas considerações são importantes para se aceitar que Domingos tivesse casado com Catarina já entrado em anos e que fosse pois muito mais velho que a sua terceira mulher. De facto, faleceu a 9 de Março de 1696, enquanto que Maria Nunes morreu quase trinta anos mais tarde, a 15 de Novembro de 1725.
Não se encontrou o assento de baptismo de Domingos (nasceu, como adiante se verá, em 1623, o ano em que somente foram registados cinco assentos de baptismo). No entanto, suspeitando-se que fosse primo da sua segunda mulher, Catarina Franca, procurou-se e achou-se o processo matrimonial respectivo. Deste consta que era viuvo de Vicência (e não Maria) Pedrosa e filho de António Soares e de Madalena Franca. Consta ainda que viveu com a sua primeira mulher, Vicência, no Gradil, onde ela foi enterrada, e que à data do seu casamento com Catarina tinha passado a morar na Vermoeira.
Na Vermoeira vivia já uma Margarida Franca com seu marido, Manuel Fernandes, pais de cinco filhos nascidos entre 1596 e 1608 (Francisco, baptizado a 12/III/1596, Nicolau, baptizado a 13/XII/1597, Domingos, baptizado a 16/XII/1603, Manuel, baptizado a 2/XI/1608). De um destes, Nicolau, que veio a ser o Padre Nicolau Franco, achou-se a escritura, datada de 13/I/1622, pela qual o pai, já viuvo e dado como pessoa que "vive por sua fazenda", o dotou de bens de raiz (ver Livro Notarial 98, do Cartório de Torres Vedras. De um dos irmãos, Domingos, foi madrinha Madalena Franca que o assento revela ser irmã de Margarida e portanto tia do baptizando.
Os nomes dos pais de Madalena e Margarida constam do assento de casamento da primeira com António Soares, ocorrido a 25 de Novembro de 1602. Verifica-se que eram filhas de António Gonçalves e de Maria Franca, moradores no lugar de Fernandinho, freguesia de S. Mamede da Ventosa, concelho de Torres Vedras.
Quanto a António Soares, era filho de um outro António Soares. O nome da mãe não consta deste assento, mas foi possível encontrá-lo no do crisma de um irmão, datado de 1577. Chamava-se Maria Antunes.
Embora não se tenha achado o assento de baptismo de Domingos, descobriram-se os de dois dos seus irmãos, Luiz e José, nascidos respectivamente em 1614 e 1618. A madrinha do primeiro chamava-se Isabel Franca. O assento indica tratar-se da mulher de um Afonso Jorge, "que vivia de sua fazenda" e que foi padrinho do segundo.
Descobriu-se ainda, no Livro 104, a folhas 122, do Cartório Notarial de Torres Vedras, datada de 9/XII/1623, uma escritura da "fiança que deu Madalena Franca", dona viuva, moradora na Azueira, "para lhe confiarem a tutela e as legítimas de seis filhos (João, António, Maria, Luiz, José e Domingos", este último recém-nascido, obrigando-se "a criá-los, alimentá-los, sustentar e doutrinar no foro e qualidade do dito António Soares, seu marido". Domingos nasceu pois, de facto, em 1623, póstumo, dado que sua mãe afirma que estava grávida de cinco meses quando enviuvou. Dos irmãos, sabe-se que João, que se chamou João Soares, foi serralheiro, casou com Maria Alves e fez testamento muito novo, a 25/V/1626 e que António tomou igualmente o apelido Soares.
Do assento de óbito de Isabel Franca, falecida a 3 de Abril de 1633, já viuva de Afonso Jorge, da Azueira, deduz-se que uma Madalena (ou Madanela) Franca, mencionada a título de testamenteira, era irmã da falecida. O mesmo se conclui do facto de "Afonso Jorge e sua cunhada, Madalena Franca", terem sido ambos, em 1616, padrinhos num baptizado.
Por outro lado, o assento de óbito, datado de 16 de Janeiro de 1621, do cura da Azueira Padre Domingos Franco, que assina os registos paroquiais a partir de 1572, refere que o testamenteiro deste foi seu cunhado Afonso Jorge, o que parece significar que o Padre Domingos Franco era irmão de Margarida, Madalena e Isabel.
Um exame do livro M1 da freguesia do Turcifal levantou uma inesperada dificuldade, dado que, a folhas 49, se encontrou o seguinte assento de óbito : "Aos 15 dias de Agosto de 1589 faleceu Maria Fernandes viuva mulher de Álvaro Franco defunto moradora no lugar do Turcifal e fez testamento e ficou por testamenteiro seu filho Domingos Franco cura da Azueira".
De facto, Álvaro Franco e Maria Fernandes, que devem ter nascido nas primeiras décadas do século XVI, não podem ter sido os pais de Madalena Franca casada com António Soares, visto que esses se chamavam, como vimos, António Gonçalves e Maria Franca. A grande diferença de idades entre Madalena, casada em 1602 e mãe de um último filho em 1623, e o Padre Domingos Franco, que era já cura em 1572, é outro facto perturbador.
Por outro lado, uma escritura de "procuração que fizeram Catarina Franca e Madanela Franca sua irmã moradoras no lugar da Azueira a Afonso Jorge pedreiro e ao Padre Domingos Franco seu sobrinho" (Cartório Notarial de Torres Vedras, no ANTT, L.94, a folhas 21) revela, não só a existência de um outro Padre Domingos Franco sobrinho do cura do mesmo nome, o que para o caso não é especialmente importante, mas ainda que, à data, 27/VII/1621, essas Catarina e Madalena não eram casadas.
A Madalena irmã de Margarida e a Madalena irmã de Catarina e Isabel eram pois certamente duas pessoas distintas.
Só a descoberta do testamento de Afonso Jorge e de Isabel Franca (cuja descendência se extinguiu), a folhas 70vº do Livro de Notas 126 do Cartório Notarial de Torres Vedras, permitiu relacionar os vários elementos da família: Álvaro Franco e Maria Fernandes, do Turcifal, foram pais, não só do Padre Domingos Franco, como de Maria Franca (que casou com António Gonçalves, de Fernandinho), de Isabel Franca (que casou com Afonso Jorge, da Azueira), de Catarina Franca e da primeira Madalena Franca (que não casaram), bem como de uma outra filha que casou com Francisco Alves, do Turcifal, e foi mãe de uma segunda Catarina Franca. Maria foi mãe de Estêvão Franco, de Fernandinho, e de duas filhas que casaram na freguesia da Azueira, provavelmente porque o tio lá era cura: Margarida Franca (que casou com Manuel Fernandes, da Vermoeira), e a segunda Madalena Franca (que casou com António Soares, do lugar da Azueira). Foi esta última a mãe de Domingos Franco. A segunda mulher deste, Catarina Franca, nascida em 1632, deve ter sido quarta desse nome. Sua mãe foi a terceira e sua avó a segunda. Terá sido, pois, bisneta do mencionado Francisco Alves, do Turcifal.
Como aferir o estatuto social dos Francos da Vermoeira ?
A importância social da família é atestada por certos indícios, como o de chamarem "dona viuva" a Madalena Franca, pela referência ao "foro e qualidade do dito António Soares, seu marido", e ainda pelos respectivos assentos de óbito. Por estes se fica a saber que o Domingos Franco que morreu em 1696 foi acompanhado à sepultura por todas as cruzes da freguesia da Azueira, e que tanto sua mulher, Maria Nunes, como seu filho homónimo, que morreu em 1728, o foram por todas as confrarias da mesma freguesia. Maria Ribeira, mulher deste, falecida a 24/VI/1733, foi acompanhada por todas as cruzes da Igreja e por quinze padres.
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