Manuel dos Reis Buiça
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Manuel dos Reis Buiça
Desde à algum tempo que procuro informação sobre uma bisavó, de nome Adelaide Simões, que de acordo com informações que a minha avó,entretanto falecida, me transmitiu, casou ou pelo menos viveu com o Manuel Buiça um dos responsáveis pelo regicídio de 1 de Fevereiro de 1908. De acordo com a mesma informação de que disponho, dessa união terá nascido uma filha de nome Carlota.
Solicito a quem tiver alguma informação sobre este assunto que por favor entre em contacto comigo.
Muito Obrigado.
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RE: Manuel dos Reis Buiça
Caro confrade
Não posso precisar onde li, mas se não foi confusão minha, porque felizmente sou humano e como tal engano-me muitíssimas vezes.
Manuel Buiça que foi responsável por um assassínio hediondo (D. Carlos não era só o Rei , era um pai, um marido e um ilustre artista e cientista),e disso não têm os descendentes e família culpa nenhuma , obviamente,era descendente de família da principalidade de sua terra ou região.
Os melhores cumprimentos.
Rafael Carvalho
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RE: Manuel dos Reis Buiça
O Abade de Baçal diz o seguinte sobre o Manuel dos Reis Buiça nas
"Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança: Tomo VI - Os Fidalgos".
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Oscar Barroso
--- inicio da transcrição ---
[...]
11º ABÍLIO AUGUSTO DA SILVA BUÍÇA, abade de Vinhais, filho de Manuel Diogo da Silva Buíça de Morais Sarmento (9º, atrás citado), nasceu em Cedaínhos, concelho de Mirandela, a 23 de Novembro de 1837 e faleceu em Vinhais em 1915.
12º MANUEL DOS REIS DA SILVA BUÍÇA, foi um dos regicidas do Terreiro do Paço em 1908, tendo sido morto no local do atentado.
Eis a sua autobiografia, escrita em 28 de Janeiro, quatro dias antes do regicídio, e que ele subordinara ao título: «Apontamentos indispensaveis
se eu morrer»:
«Manuel dos Reis da Silva Buiça, viuvo, filho de Augusto da Silva Buiça e de Maria Barroso, residente em Vinhaes, concelho de Vinhaes, districto de Bragança. Sou natural de Bouçoais (722), concelho de Valpassos, districto de Vila Real (Traz-os-Montes); fui casado com D. Herminia Augusta da Silva Buíça, filha do major de cavalaria (reformado) e de D. Maria de Jesus Costa. O major chama-se João Augusto da Costa, viuvo. Ficaram-me de minha mulher dois filhos, a saber: Elvira, que nasceu a 19 de dezembro de 1900, na rua de Santa Marta, numero... rez do chão e que não está ainda baptisada nem registada civilmente e Manuel que nasceu a 12 de setembro de 1907 nas Escadinhas da Mouraria, numero quatro, quarto andar, esquerdo e foi registado na administração do primeiro bairro de Lisboa, no dia onze de outubro do anno acima referido. Foram testemunhas do acto Albano José Correia, casado, empregado no comercio e (722) Oito dias após o seu baptizado foi levado para as Aguieiras, concelho de Mirandela, onde se criou, e depois para Vinhais para a companhia de sua mãe. O Primeiro de Janeiro, de 5 de Fevereiro de 1908, publica um telegrama de Vinhais, em que se pede, em nome dos habitantes desta vila, para declarar que o regicida Buíça, sendo efectivamente filho do abade dessa freguesia, tinha nascido na povoação de Bouçoães, concelho de Valpaços e fora baptizado na freguesia das Aguieiras, concelho de Mirandela.
Aquilino Ribeiro, solteiro, publicista. Ambos os meus filhos vivem commigoe com a avó materna nas Escadinhas da Mouraria, 4, 4º andar, esquerdo.
Minha familia vive em Vinhaes para onde se deve participar a minha morte ou o meu desapparecimento, caso se dêem. Meus filhos ficam pobrissimos; não tenho nada que lhes legar senão o meu nome e o respeito e compaixão pelos que soffrem. Peço que os eduquem nos principios da liberdade, egualdade e fraternidade que eu commungo e por causa dos quaes ficarão, porventura, em breve, orphãos.
Lisboa, 28 de janeiro de 1908. Manuel dos Reis da Silva Buiça.
Reconhece a minha assignatura o tabelião Motta, rua do Crucifixo, Lisboa».
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«Era de mediana estatura, muito claro de tez, vivos os seus olhos azues, contrastando com a barba negra, na qual scintilavam alguns fios fulvos, como linhasinhas de cobre. Espalhafatoso de gestos, berrador de inventiva larga, aquele trasmontano de Bouçoais, no concelho de Valpassos, era de aparência delicada e atraia os revolucionários por sua fama de valente, seus ares desprezadores ante as falhas dos politicos e a decisão com que desafiava, arremetia, e quási sempre ficava de melhor. Chamava-se Manuel dos Reis da Silva Buíça, exercendo o professorado na Escola Moderna, mas mal se adregava entender como podia ser mestre o turbulento que sempre se mostrara e o falho de exames, de cursos, de categoria oficial. Contavam-se dêle proezas de monta nas horas em que os nervos o sacudiam. Batera-se, em fúria, contra uma turba, no teatro da rua dos Condes; no caminho de Linda-a-Pastora, vindo de uma reúnião, desaviera-se com um dos revolucionarios e increspara-o, em termos do outro puchar da pistola e ameacal-o. Correra para êle e, ao segurarem-no, tanta fôrça dispendera entre o grupo, que só se quedara ao sentir um braço deslocado.
Fôra sargento em cavalaria 7 e espancava os recrutas nos dias som
brios de suas cóleras, quando naturalmente se lembrava da ma sina de seu viver. Nascera dos amores de um padre o pároco de Vinhais (723) com uma carrejã (724) que dera sete filhas ao amante, cada uma delas da mais estranha fisionomia, olhos em estrabismo, ruças, caras de expressões singulares. Fôra o único varão e, desde a escola ao quartel, em desordens se mostrara excitado e valoroso (725), duma valentia ferina que o
(723) «Seu pae chama-se Abilio Augusto da Silva Buiça. Ele usava essa graça de Manuel dos Reis que soaria singularmente no seu nome de regicida».
(724) Era criada do abade e este tinha ainda filhos de uma outra criada.
(725) «Em Vinhais correra de pistola em punho atraz dum primo, para o matar. Era este o escrivão da Boa Hora, Abilio Magro».
espantava, ao sossegar os nervos. Cavalgava os mais fogosos cavalos, nadava como um tritão, era um atirador especialisado que o regimento admirára» (726).
Foram dois os regicidas: Manuel Buíça e Alfredo Luís da Costa, de vinte e quatro anos de idade, natural do Alentejo, empregado no comércio e redactor do jornal A Voz do Caixeiro.
Segundo se afirma eram mais os indigitados para perpetrar o atentado - cinco e que estavam espalhados por todo o percurso do cortejo real, para entrarem em acção caso falhasse a primeira tentativa.
O atentado foi cometido no dia 1 de Fevereiro, pouco depois das cinco horas da tarde quando El-Rei D. Carlos regressava, com a Rainha D. Amélia e o Príncipe-Real D. Luís Filipe, das suas propriedades de Vila Viçosa.
Desembarcaram do vapor «D. Luís» no Terreiro do Paço e, em companhia do Infante D. Manuel que ali os aguardava, tomaram lugar num landau.
Os regicidas estavam emboscados, um na arcada e outro junto às árvores: Manuel Buíça, armado com uma carabina Winchester, que ocultava sob um amplo varino, e Alfredo da Costa com uma pistola Browing.
«Alfredo da Costa, num impeto, saltava para o empedrado e do intervalo do trem real e do primeiro do séquito, disparara contra a nuca refegada do Rei, assente no debrum vermelho do capote. Sibilou o projéctil e logo a cabeça de D. Carlos pendeu sôbre o lado direito, para lhe decair no peito largo.
Devia ter sido fulminado. O corte da vertebra, produzido por esta bala traiçoeira, matara o monarca. O regicida continuava a disparar a sua arma, no grande tumulto que se estabelecera e Buíça, desembuçado do varino, dera uma descarga e correndo para as bandas do kiosque da praça, dali alvejava, com segurança o Principe Real que, de pé, valentemente lhe ripostava aos tiros com a sua pistola. Mas os solavancos do landau roubaram-lhe a firmeza e, varejado, baqueava nas almofadas. A Rainha, cobrindo com o seu vulto o Infante D. Manuel, já ferido no braço direito, fustigava com as flores um dos atacantes, que se aproximara e via fuzilar-lhe os olhos, inesqueciveis para ela, no seu azul desmaiado, esgarçados, n'um rosto ossudo e magro. Jamais arma tão fragil castigara, por mão d'uma martirisada mãe a morte do filho amado. Redobrara o tiroteio. Buíça continuava a visar o carro da tragedia, na furia de suprimir,
(726) MARTINS, ROCHA D. Carlos: História do seu reinado, XV cap.,
p. 565 e 566.
na praça publica, a casa de Bragança (727). Um soldado (728) lançara-se sobre ele mas o homem dextro sacudira-o e ia fugir, quando o tenente Francisco Figueira, ao vel-o de novo a apontar para a carruagem, correra para o deter. O atacante ajoelhou e baleou-lhe a virilha ao mesmo tempo que o oficial lhe enterrava a espada no corpo. Depois arrancou-lhe a carabina das mãos convulsas... Os policias ao apossarem-se de Buíça e de Alfredo da Costa, descarregavam as pistolas, acutilavam-nos retalhando--os a golpes de sabre, arrastando-os à pressa, mal pensando, em seu rancor, no seu forte desejo de vingança, que não deviam emudecer as vozes dos regicidas (729).
Na freima louca mataram um caixeiro, inocente na conjura (730).
... Espalhara-se um intenso pânico; fugia-se no auge do terror...
A carruagem trágica sumira-se no portão do Arsenal como que engulida na bocarra negra e fúnebre dum túnel de preságios; perdia-se lá dentro, rodando cavamente sob as abóbadas, transportando dois cadáveres, a dôr sem par d'uma Rainha, um novo Rei, ferido, criança sagrada para o trono num lago de sangue. Infante prestes a reinar e que nunca mais saberia sorrir, como há pouco, de lapela florida, nos aromas da precoce primavera.
Durara rápidos minutos a horrida travessia. O cocheiro Bento Caparica, ferido numa das mãos, chicoteava a parelha, lançava o landau de batida; o sota embaraçava-se e corria-se, numa galgada; entrava-se para o refúgio daquela escancarada bôca lôbrega, como num acaso, na derradeira defesa. O marquês do Lavradio e o visconde de Assêca, empoleirados num estribo, seguravam o Principe; do outro lado alguem ia tomando o pulso sem alento do Rei e a condessa de Figueiró, abraçada ao que julgava ainda vivo, a esse esbelto e formoso D. Luis Filipe, chorava desesperadamente. A Rainha, em pranto, via o forte vulto de D. Carlos a escorregar, na trepidação do trem, a cabeça descoberta, pen- dida a fronte, que jámais se baixara ante os seus adversários» (731).
Manuel Buíça não primava pela bondade dos sentimentos: enquanto soldado foi condenado várias vezes, sendo uma em sete meses de prisão militar por ter espancado um inferior; de outra vez quis matar um oficial
(727) «Segundo outra versão teria sido uma bala da carabina de Buíça que matara o Rei, mas não é essa, apezar talvez de muito espalhada de comêço, a mais corrente nem a mais aceitável».
(728) Chamava-se Henrique da Silva Valente.
(729) «O guarda que feriu Buiça era o número 684 da esquadra do
Município. O assassino mordera-o num dedo quando êle o quizera agarrar».
(730) «Chamava-se Sabino Costa e era empregado n'uma casa da rua do Arsenal».
(731) MARTINS, Rocha D. Carlos: Historia do seu reinado, XV cap., p. 584 e 585.
porque este o repreendeu; também ouvimos dizer a pessoa fidedigna, que quisera bater na mãe. Quando assentou praça não tinha ocupação alguma. Já havia sido condenado, pelo menos duas vezes, por ofensas corporais: uma em 1901 e outra em 1904.
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«Epitaphios sobre as campas do professor Manoel Buíça e de Alfredo Costa
Entregaram requerimentos na secretaria da camara municipal as senhoras D. Maria de Jesus Costa, sogra do professor Manuel dos Reis da Silva Buiça e D. Maria da Soledade Costa, mãe de Alfredo Luiz da Costa, as duas gloriosas victimas da selvageria policial na tarde de 1 de fevereiro de 1908, pedindo auctorisação para collocarem sobre as campas daquelles dois sympathicos martyres da Republica os seguintes epitaphios: Na de Manuel Buíça "Aqui jazem os restos mortaes do heroe propagandista e livre pensador Manuel dos Reis da Silva Buiça, nascido em 31 de Dezembro de 1875 e assassinado pela policia na tarde de 1 de Fevereiro de 1908. Sua familia, especialisando seus filhos Elvira e Manuel Buiça, offerecem como tributo de saudade esta ultima homenagem".
Na de Alfredo Costa "Aqui jazem os restos mortaes do que foi um grande patriota e um incansavel propagandista democratico Alfredo Luiz da Costa. Nasceu em Casevel em 24 de Novembro de 1884 e foi barbaramente assassinado pela policia nesta cidade na tarde de 1 de Fevereiro de 1908. Sua familia e em especial sua mãe e sua irmã, offerecem-lhe esta modesta homenagem como tributo de uma eterna saudade"».
Recortamos esta local do Diário de Notícias de 31 de Março de 1911 que é expressiva como sinal dos tempos, se o não é da justiça imanente, que levando séculos de gestação talvez só naquele momento acabasse de sancionar crimes avoengos entre os quais avultavam: D. João II assassinando de facto e pseudo-legalmente em processo-farça, revestido de felonia suplementar revoltante; D. José e o seu ministro, por igual teor, num requinte máximo de ferocidade tigrina, como de quem saboreia as torturas da vítima.
D. Carlos e o Príncipe Real eram inocentes. Eram, não há dúvida. E a vítima da morbidez ancestral, que no leito da dor, arrasta uma vida de torturas cruciantes, que crime cometeu ou que culpa tem nos vícios dos seus antepassados?!
--- fim da transcrição ---
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