Américo Vespúcio
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Américo Vespúcio
Um grande navegador que nunca navegou
Escriturário de um banqueiro, guarda livros de Colombo e espião dos Reis Católicos. – O falso navegador escreve cartas falsas. – O falso descobridor dá falsas informações. – Uma homenagem injusta assegura a imortalidade a um mentiroso.
A.R.,
M. Biscateiro
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RE: Américo Vespúcio
Américo Vespúcio, o célebre florentino de Sevilha, tinha, com firmeza inabalável, idéias assentes sobre a maneira mais prática de legar seu nome à prosperidade. Achava ele, e com alguma razão, pois que, com outros nomes de mais respeitabilidade assim aconteceu, que não seria necessário navegar, para ganhar fama de navegador; que não seria preciso cruzar oceanos e paragens até aí desconhecidas, para ingressar na História dos Descobrimentos. O que uns conseguiram, estudando, encorajando e financiando expedições e fundando escolas náuticas e científicas, Américo Vespúcio dispôs-se a alcançá-lo por meio de trapaças, mentiras e audácias inultrapassáveis. Vespúcio não era marinheiro; nem geógrafo, nem cartógrafo. Mas deu o seu nome a um continente.
A.R.,
Maurice Biscateiro de Torres
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RE: Américo Vespúcio
Juanoto Berardi, natural de Florença, tinha, em Sevilha, uma casa de comércio. Abastecia navios, mercadejava com os mareantes da rota da Índia e ia juntando, ao canto da arca ferrada, cruzados e dobrões. Sevilha era, depois de Lisboa, um dos maiores empórios comerciais da Península. Servida pelo movimentado porto de Cádiz, dava possibilidade de fortuna a quantos se entregassem ao negócio com os homens das naus e caravelas. Vespúcio era escriturário do seu compatriota Berardi, que se dedicava também ao ramo bancário. Foi, pois, sentado na banca de um escritório, que ele se relacionou com os principais navegadores da época, dos muitos que se encontravam ao serviço dos reis de Espanha. Quando Colombo chegou à Andaluzia, Vespúcio tornou-se seu escrevente e guarda – livros. O facto pô-lo a par dos relatórios arquivados pelo descobridor do Novo Continente, das suas notas, descrições e diário de viagens. Quando Colombo caiu no desagrado de Fernando e Isabel, Vespúcio apareceu, na corte de Madride, oferecendo curiosíssimas revelações acerca das Índias Ocidentais. Conquistou a protecção dos monarcas, que o encarregaram de vir a Portugal, colher, junto dos marinheiros portugueses, novos elementos acerca das navegações.
O seu novo ofício de espião oficial, revela a sua verdadeira vocação: recolhe notícias secretas, vareja as naus ancoradas e recém chegadas, percorre cais e armazéns. Nunca saiu de Lisboa, nunca pôs o pé num navio, sem que este estivesse fundeado e ancorado.
Este falso navegador tinha o horror do mar, o medo do perigo inesperado e a fobia da tormenta.
Ao regressar a Espanha, Vespúcio teve arte de convencer os monarcas, e o próprio Colombo, de que tomara parte em várias expedições. Afonso Ojeda, o grande navegador espanhol, afirmou, numa carta para Isabel, que Vespúcio o acompanhara numa viagem à América Central.
A.R.,
Maurice de Torres
Mer Rouge
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RE: Américo Vespúcio
Caro Maurice de Torres:
Retirado de um site na internet:
"O nome da América é uma homenagem ao mercador e navegador italiano Américo Vespúcio, primeiro a constatar que as recém-descobertas terras do Novo Mundo constituíam um continente e não parte da Ásia. Vespúcio, cujo nome italiano era Amerigo Vespucci, nasceu em Florença em 1454. Filho de um notário, recebeu educação humanística na Itália e na França, onde aprofundou os estudos de geografia, astronomia e cosmografia. De volta a Florença, entrou para o serviço da família Medici, que em 1491 o enviou a Sevilha, Espanha, como ajudante de Giannotto Berardi, importante armador e fornecedor dos navios de Cristóvão Colombo. Em 1496, após a morte de Berardi, Vespúcio assumiu a direção da firma, e mais tarde, sem dúvida estimulado por seu contato com Colombo e outros navegantes, decidiu participar pessoalmente das viagens de exploração às Índias. A determinação do número de viagens que Vespúcio fez à América constitui objeto de polêmica histórica, devido a contradições significativas entre os dois conjuntos de documentos existentes a respeito: uma carta de Vespúcio ao magistrado veneziano Piero Soderini, conhecida apenas por sua edição italiana de Florença (1505) e por duas versões latinas -- Mundus novus (Novo Mundo) e Quattuor Americi navigationes (Quatro viagens de Américo), menciona quatro viagens; já três cartas escritas pelo próprio Vespúcio aos Medici, são citadas apenas duas. A primeira viagem de Vespúcio, posta em dúvida por muitos historiadores e negada totalmente por outros, teria começado em Cádiz, em 1497, e a volta teria ocorrido em 1498. Não há dúvida, porém, de que Vespúcio partiu em maio de 1499 de Cádiz no comando, ao lado de Alonso de Ojeda e Juan de la Cosa, de uma frota espanhola de quatro navios, que pretendia seguir a rota da terceira viagem de Colombo. Quando chegou ao local onde mais tarde seria a Guiana, Vespúcio, que parece ter se separado de Ojeda, rumou para o sul pela costa do Brasil. Avistou o estuário do Amazonas e alcançou o cabo de Santo Agostinho, em Pernambuco. Voltou para o norte, explorou a desembocadura do Orinoco e a ilha de Trindade e chegou à Espanha em junho de 1500. Convencido até então de ter percorrido a península do extremo leste da Ásia descrita por Ptolomeu, Vespúcio conseguiu que o rei D. Manuel I de Portugal financiasse nova expedição em busca de uma passagem para os mares da China. Nessa segunda viagem, de importância fundamental, o navegador italiano partiu de Lisboa no dia 13 de maio de 1501, chegou ao cabo Santo Agostinho no final do mesmo ano, desceu ao largo do litoral do Brasil, avistou a baía de Guanabara e ultrapassou o estuário do rio da Prata, que foi o primeiro europeu a registrar, e alcançou a costa meridional da Patagônia. Essa circunstância convenceu-o de que havia percorrido a costa de um novo continente, pois seria impossível que a suposta península asiática se prolongasse de tal forma para o sul. Chegou de volta a Lisboa a 22 de julho de 1502, em rota desconhecida, e divulgou a notícia na Europa. Em sua suposta quarta viagem, Vespúcio teria partido de Lisboa em 1503, na expedição chefiada por Gonçalo Coelho, e voltado em 1504. Embora essa viagem seja duvidosa, é certo que em 1505 entrou de novo para o serviço da coroa espanhola e não viajou mais. A partir de 1508 ocupou em Sevilha o importante posto de piloto-mor da corte espanhola. Ajudou a preparar o mapa oficial das novas terras e das rotas marítimas a partir dos dados fornecidos pelas expedições. O primeiro a sugerir, em honra de Vespúcio, a designação de América para o novo continente foi o humanista alemão Martin Waldseemüller, que em 1507 reeditou as Quattuor Americi navigationes, precedidas do panfleto de sua autoria Cosmographiae introductio. Apesar do êxito final da idéia, a posterior detecção de contradições nos textos atribuídos a Vespúcio gerou, sobretudo por parte de historiadores portugueses e espanhóis, a acusação de que somente havia usurpado os méritos de outros navegantes. Os diários de bordo de Vespúcio e o mapa que fez do litoral por ele descoberto desapareceram, mas permaneceram alguns mapas, além do de Waldseemüller, originados direta ou indiretamente de seu trabalho. Vespúcio morreu em Sevilha em 1512." (sic)
Pelos vistos, há quem questione a veracidade de algumas "descobertas" e viagens de Vespúcio, nomeadamente historiadores portugueses e espanhóis.
Se há nisso algum propósito, não sei...
Mas a ser verdade, Vespúcio foi uma espécie de protagonista de um Sonho Americano "avant la lettre". Sobretudo nos EUA, criam-se empresas e fazem-se negócios a partir do nada e com bastante sucesso. Tudo se vende e tudo se negoceia, porque o indivíduo é o principal e não a colectividade.
Por isso mesmo, não me causa qualquer perplexidade que a um grande continente tenha sido dado o nome de Américo Vespúcio.
Aliás, Colombo deu o nome a tanta coisa e já está mais que imortalizado...
Cumprimentos,
João Pombo
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RE: Américo Vespúcio
Que razão ou interesse teve Ojeda em garantir, de maneira perentória, uma coisa que facilmente se provou, anos depois, ser refinadíssima falsidade, ignora-se.
Os Reis Católicos acreditaram-no. Vespúcio escreve então as suas famosas cartas, enviadas para a Itália e Alemanha. Em 1504, elas começaram a ser reproduzidas em numerosas edições, compiladas sob o título geral de “Quattuor Navigationis”. Vespúcio afirmava, com desplante, ter feito duas por conta de Portugal e outras duas com o apoio de Espanha. Não há os mais leves vestígios de tais expedições nos arquivos peninsulares, ou nos italianos. Nenhum autor se refere a elas. Em contra-partida, as cartas de Vespúcio encontram-se a abarrotar de fantasias, contradições, mentiras e absurdos.
Tudo o que constituísse novidade sobre os descobrimentos, tinha público numerosíssimo. Esgotavam-se todas as edições, que apareciam, acerca do assunto. E assim, as cartas de Vespúcio, não se sabe com que apoio financeiro, ou mesmo político, foram editadas aos milhares e espalhadas por toda a parte. O nome do trapaceiro ganhou crédito. E tão grande, que um alemão, Waldseemuller que estava a editar uma “Cosmografia de Ptolomeu”, lhe pediu elementos para um planisfério. Vespúcio, é claro, enviou-os. Waldseeemuller, aceitou-os, como se fossem originários de um verdadeiro navegante e descobridor das terras do Novo-Mundo. Vespúcio, para o alemão, era Pedro Álvares Cabral e Colombo, reunidos numa só pessoa. Com esta diferença: Waldseemuller conhecia Vespúcio e ignorava a existência dos verdadeiros descobridores do Novo Continente.
A confiança do autor germânico foi tão grande que, num preâmbulo inserto na edição da Cosmografia, propôs, como prémio ao mérito de Vespúcio, que as novas terras se chamassem Américas. A edição e a sugestão correram mundo. O nome soava bem. Na Itália, adoptaram-no. Na Inglaterra, França e Alemanha, também. Quando Waldseemuller descobriu o logro em que caíra e quis desfazer o engano, já era tarde. A América estava já espalhada por quantas obras iam surgindo.
Apenas em Espanha, a terra que Colombo descobrira, continuava com o primitivo nome: Índias Ocidentais. Só no século XVIII, perante uma esmagadora maioria, indiferente às razões ponderosas da coroa e do orgulho espanhóis, os mapas de origem castelhana se curvaram, ante a denominação falsa que um falso navegador forjara.
A.R.,
Biscateiro de Torres
Mer Rouge
O povo e gelo ante a verdade et fogo perante a mentira (Voltaire). Mon irmao conhecer esta verdade. Ele est muito exigente. Ate a escrito Os falsários da História et autres notas historiques fidedignas surprendentes.
Para uma entreprise ter sucesso en todas as nacoes e necesario massa encefalica dinheiro et sorte. Se isto nao e possivel e obrigatorio nao ter escrupulos ou pudor.
Arrivederci
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