Medico do partido

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Medico do partido

#99307 | chartri | 03 set 2005 22:31

Caros confrades
A expressão "medico do partido" foi muito usada no século XIX e XX . Que significa tal ? Tratavam-se de medicos, efectivamente, mas porque o termo "partido?
Cumprimentos

Ricardo Charters d'Azevedo

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Médico do partido

#99311 | victorferreira | 03 set 2005 23:15 | In reply to: #99307

Eram ortopedistas (ossos partidos).
VF

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RE: Medico do partido

#99312 | loureiro | 03 set 2005 23:21 | In reply to: #99307

Caro confrade

Tenho em meu poder um documento médico dos fins do séc. XIX, informando a população de uma determinada povoação sobre a prevenção da peste bubónica, escrito pelo médico do partido republicano dessa povoação.
Também achei estranho esta identificação do médico mas não cheguei a nenhuma conclusão.

Cumprimentos,

José de Castro Canelas

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RE: Medico do partido

#99314 | melisa | 03 set 2005 23:36 | In reply to: #99312

Caros confrades

O médico do partido era nomeado pelo poder municipal.

Para melhor compreensão transcrevo um excerto retirado do Dicionário Histórico:

"...Matriculou-se na Escola Médico-cirúrgica em 1836, e terminando o curso em 1842, foi para a sua terra natal, onde exerceu a clínica até Outubro de 1845, indo depois fixar a sua residência em Tomar. Exerceu clínica sem partido durante 17 anos, até que em 1862 foi nomeado medico, do partido municipal, em virtude duma representação firmada por centenares de pessoas de todas as classes sociais do concelho, em que se pedia para que a câmara, reconsiderando na deliberação tomada em sessão de 22 de Agosto do referido ano de 1862 e pela qual fora nomeado outro medico, anulasse aquela nomeação e provesse no lugar o outro concorrente preterido, o Dr. Joaquim António Jacinto."

Cumprimentos
M.Elisa

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Médico do partido

#99319 | victorferreira | 03 set 2005 23:54 | In reply to: #99307

Se é como diz Melisa, retiro o que escrevi: foi-me dito por alguém a quem perguntei em tempos por ter a mesma dúvida e transmiti-o tal qual.
Embora não me tivesse preocupado com uma referência documental, como fizesse sentido, aceitei-o. Pelos vistos, mal ...
Vivendo e aprendendo.
VF

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RE: Médico do partido

#99323 | amtf | 04 set 2005 00:14 | In reply to: #99319

Caros confrades,

Este tema já foi abordado aqui no Fórum, pelo menos em http://genealogia.netopia.pt/forum/msg.php?id=40121#lista

Cumprimentos
amtf

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RE: Médico do partido

#99324 | tfp | 04 set 2005 00:15 | In reply to: #99311

Caro Vitor Ferreira,

Muito obrigado por este excelente momento humoristico ;)

Cumprimentos

Tiago Faro Pedroso

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RE: Médico do partido

#99325 | victorferreira | 04 set 2005 00:21 | In reply to: #99324

... que afinal não o foi ...
... ou foi ...
... por meter involuntariamente e com a melhor das intenções ...
... a pata na poça ...

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RE: Médico do partido

#99328 | melisa | 04 set 2005 01:51 | In reply to: #99325

Para além de tratar gratuitamente dos mais necessitados, também tinha como tarefa ocupar-se da saúde pública sendo assim um precussor do delegado de saúde.
Cumprimentos
M.Elisa

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RE: Médico do partido

#99329 | Jpteixeira | 04 set 2005 01:59 | In reply to: #99323

Caro Ricardo:

Em complemento da informação prestada pelo confrade António Maria Fevereiro, com remissão para um tópico onde tal assunto já foi abordado, sou a informar, porventura de forma redundante, que, antigamente, os cuidados de saúde eram assegurados pelos médicos municipais, também denominados facultativos do partido.
Constituíam competências dos facultativos, nos termos do disposto no artigo 125º do Código Administrativo, entre outras as seguintes:
- tratar gratuitamente os pobres, expostos, crianças desvalidas e abandonadas, presos;
- proceder à vacinação e revacinação sem distinção de classes;
- inspeccionar as meretrizes nos dispensários.

Os médicos municipais (facultativos do partido, ou simplesmente médicos do partido) eram providos em concurso público e estavam dependentes, em termos administrativos, do Administrador do Concelho.
Esta designação dos médicos municipais perdurou até à revisão do Código Administrativo (1936-1940).
O termo Partido, neste caso, assume um significado muito próximo de público. Isto porque também existia medicina privada e, tais médicos, eram designados por facultativos particulares.

Cumprimentos.
Júlio Sousa

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Médico do partido

#99341 | victorferreira | 04 set 2005 12:27 | In reply to: #99328

Pronto cara M.Elisa,
... mais duas ou três mensagens dessas de teor demolidoramente informativo, documentado e esclarecedor e eu acabo a precisar de um 'médico do partido' ...
Como diria o Carlos Pinto Coelho ... 'Acontece'.
Melhores e bem dispostos cumprimentos
VF
[ ai de quem não consegue rir-se dos seus próprios percalços ... ;-) ]

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RE: Médico do partido

#99342 | melisa | 04 set 2005 13:01 | In reply to: #99319

Caro Vitor Ferreira

Leio sempre com agrado as suas intervenções plenas de humor e saber.

Esta se falhou no saber também teve a sua piada pelo humor mesmo que tivesse sido involuntário. ;-)
Cumprimentos
M.Elisa

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RE: Médico do partido

#99343 | melisa | 04 set 2005 13:06 | In reply to: #99329

Caro Júlio Sousa

A sua intervenção é a que melhor documenta as funções do médico do partido.

Cumprimentos
M.Elisa

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RE: Médico do partido

#99358 | chartri | 04 set 2005 17:57 | In reply to: #99329

Caros confrades

Agradeço a todos que quizeram coaborar nas respostas, especialmente ao nosso confrade Júlio de Sousa que me fez descobrir o que se tinha já discutido sobre este tema neste Forum e fez um bom resumo final Ficamos mais ricos

Bem hajam
Ricardo Charters d'Azevedo

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RE: Médico de partido

#99364 | MSá | 04 set 2005 20:54 | In reply to: #99342

Caros confrades,

Tomo a liberdade de interferir para informar que no Brasil, até meados do século XX, denominava-se médico (e advogado) de partido ao profissional que prestasse serviço a uma empresa recebendo honorários fixos. Por mês, semestre ou quando da venda da safra ou da boiada.

Saudações

Luiz M. Sá

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RE: Medico do partido

#99404 | loureiro | 05 set 2005 09:40 | In reply to: #99312

Rectifico a minha mensagem anterior em que se deverá ler médico do partido municipal e não do partido republicano; peço desculpa.

J C Canelas

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RE: Médico do partido

#99406 | coelho | 05 set 2005 10:34 | In reply to: #99358

Caro Ricardo,

a expressão "médico do partido" é anterior ao século XIX. Conheço pelo menos o caso do médico José de Almeida, bacharel formado em medicina na Universidade de Coimbra em 1776 e médico do partido em Águeda nos anos seguintes.

Já abri um tópico para ele:
http://genealogia.netopia.pt/forum/msg.php?id=59160

Sobre as profissões de médico, cirurgião, sangrador, etc., veja o seguinte tópico:
http://genealogia.netopia.pt/forum/msg.php?id=80187

Cumprimentos,
Coelho

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RE: Médico de partido

#104151 | MSá | 30 ott 2005 21:16 | In reply to: #99364

Caros confrades.

eis ai um trecho da tese de NAUK MARIA DE JESUS, Saúde e Doença, PRÁTICAS DE CURA NO CENTRO DA AMÉRICA DO SUL (1727 – 1808)

que ilustra a expressão médico do partido.

"Francisco Xavier era cirurgião do hospital militar e da cadeia da
vila do Cuiabá. Por esta razão preferiu denunciar o alfaiate pardo, ao invés de
revidar os desaforos. Naquela manhã, além de preparar medicamentos, cuidava de
alguns enfermos, entre eles, “um Pedestre a quem tinha obrigação de assistir por
termos”. Este era um dos deveres dos cirurgiões contratados pelo Partido Público
ou pelo Partido Militar. O cirurgião público era contratado pelo Senado da
Câmara e, na maioria das vezes, exercia seu ofício no interior das vilas. Já o
cirurgião militar atendia às tropas, atuando tanto nas vilas como nos
destacamentos militares. Mas era comum os agentes de cura oficiais atenderem
aos chamados dos dois partidos, como ocorria com Francisco Xavier Corrêa dos
Reis.(156) "

Cumprts do

Luiz

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Medico do partido

#408257 | maob55 | 03 ott 2018 00:15 | In reply to: #99307

Caros,

Meu heptavô Manuel Antonio Falcão (nascido na Guarda) foi médico do partido de São Vicente da Beira. Seu filho, meu hexavô José de Mena Falcão, conforme indicado no "Inventário dos Documentos Relativos ao Brasil Existentes no Arquivo da Marinha de Ultramar", desistiu da sua pretensão ao partido da Praça da Colónia do Sacramento em carta datada de 21 de setembro de 1734.

Cordiais saudações
Marcello Borges

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Medico do partido

#408318 | heinrich | 05 ott 2018 13:08 | In reply to: #99307

Estava ainda meio estremunhado, correndo os olhos pelas mensagens, quando se me deparou a do ortopedista, dos ossos partidos. Não apenas acordei de imediato como fiquei logo muito bem disposto!
Muito obrigado.

A expressão é de facto curiosa e já me tinha cruzado com ela algumas vezes: médico do partido do Porto, médico do Partido de Amarante.
No Porto havia uma Divisão Militar, um Governo d'Armas chamado Partido do Porto. Em Amarante, possivelmente tratar-se-ia de uma área geográfica onde actuasse um corpo de milícias, ou, como é sugerido aqui no tópico, e talvez correctamente, a designação de uma entidade de governo público, ou de âmbito sanitário, Câmara, que contratasse o dito médico para exercer actividade na região.

Cumprimentos,
AC

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Médico do Partido

#408324 | josemariaferreira | 05 ott 2018 17:12 | In reply to: #408318

Caros confrades

Parece que ainda aqui perdura alguma confusão sobre "médico do partido".

Antes de mais, importa dizer que Partido é um substantivo que outrora significou “ajuste”, “prémio”, “paga”, “serviço prestado a alguém”, como refere no seu dicionário Moraes Silva, autor que no mesmo verbete nos elucida assim sobre o tema que agora nos interessa: “Médico do partido” é um clínico “de contracto de alguma vila ou cidade, ganha uma soma certa e não é pago por visitas de quem o chama”. Outros dicionários de carácter geral, sendo mais pobres na abordagem ao significado do termo, encaminham-nos para a mesma conclusão: partido médico é o lugar destinado a um especialista clínico que presta serviço a um município ou instituição, recebendo um valor fixo mensal independentemente do volume dos atendimentos que tenha que prestar a quem dele necessita, dentro de determinados limites. Em linguagem de hoje, creio que bem podíamos dizer que um médico de partido era um avençado.
Estes profissionais da saúde, umas vezes médicos, outras vezes cirurgiões, eram designados por “facultativos dos partidos das câmaras” ou, mais simplesmente, por “médicos municipais”.
Importa sublinhar que não foram unicamente reservados a médicos os Partidos que existiram ao longo dos tempos: houve também Partidos para boticários, para parteiras, para dentistas ou, mais tardiamente, para veterinários.

Retirado do blogue de José Abílio Coelho: Os “Partidos Médicos” e os cuidados de saúde prestados aos doentes pobres nos municípios portugueses


...

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#408327 | heinrich | 05 ott 2018 19:01 | In reply to: #99307

Agradeço o esclarecimento. Quando pela primeira vez vi a expressão até pensei tratar-se de facções políticas ou militares.

Cumprimentos,
AC

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#408358 | PAIVAMANSO | 06 ott 2018 15:48 | In reply to: #408327

Caras Confreiras e Confrades Se a memória não me falha, tenho 20 e poucos Livros da autoria do Historiador Belisário Pimenta. Um deles tem o título : O Partido de Boticário na Vila de Miranda do Corvo (Notas Históricas).
É um Livro de 16 páginas, mas com uma letra tão minúscula, que se tivesse o tamanho e a configuração normal, teria o dobro das folhas.
Foi composto e impresso na Tipografia dos Laboratórios da Farmácia Normal , no nº 58 da Rua Bernardo Lima, em Lisboa, não sei em que ano, mas Belisário Pimenta refere que foi escrito em Coimbra, entre Julho de 1919 e Janeiro de 1926
Vou deixar aqui um pequeno extracto da primeira página desse Livro :

« Foi em 1684, que pela primeira vez, se falou, oficialmente em Miranda do Corvo no Partido de Boticário. A Câmara tentava criar o partido de medicina ao mesmo tempo que o de boticário: Aquele com 20.000 réis anuais e este com 5.000 réis tirados dos rendimentos das sisas; o Desembargo do Paço, porém, em sua sessão de 6 de Março, aprovou só o primeiro e afastou o segundo por quaisquer razões que no alvará não foram expostas. (1) Contudo, a Câmara Mirandense não desanimou; e depois, certamente, de várias tentativas durante 15 anos, conseguiu o desejado partido, pois era notório que alguns boticários se tinham estabelecido na vila mas não se conseguiam aguentar por falta de assistência oficial. Felizmente, sem entraves, saiu em 15 de Outubro de 1699 o desejado alvará que estabelecia com 10.000 réis anuais tirados do cabeção das sisas. E por sorte, logo foi provido no lugar, sem dificuldades, um boticário do concelho, Leandro Vasques de Miranda, recentemente diplomado, cristão velho (como convinha) e pessoa de graduação…. »

Na óbvia impossibilidade (por vários motivos), de divulgar o Livro completo, espero que o pouco que aqui fica tenha alguma utilidade.
Com amizade Jorge Santos

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