Inquirição de gênere

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Inquirição de gênere

#131493 | psmoraes | 18 out 2006 02:53

Colegas
Era fácil a um morador de uma pequena freguesia (Favaios), em meados do século XVII, se tornar padre? Quais as condições para que pudesse adquirir o hábito? Era possível apenas a pessoas mais abastadas ou o acesso ao clero era livre a todos? Gostaria de resolçver essas dúvidas, pois dois ancestrais diretos e outros dois colaterais se tornaram padres, entre 1640 e 1750. Teriam que pertencer a famílias mais abastadas, para tanto? Agradeço desde já qualquer informação.

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Inquirições de génere

#131502 | victorferreira | 18 out 2006 10:17 | Em resposta a: #131493

Não. Não havia nenhuma limitação de direito, como aliás, não faria sentido nenhum (com excepção das limitações do Direito Canónico da altura, nomeadamente as absurdas relativas às origens em outras religiões ou raças, que mesmo assim variavam: havia padres africanos e indianos, pex., mas quanto a cristãos novos era o que era ...).
Quanto ao que acontecia na prática:
- se falamos do clero regular ('as ordens', 'os conventos'), e para as mulheres sobretudo, o 'dote' (ou a falta dele, ou a sua reduzida monta) que iria para o noivo talvez fizesse alguma diferença. Para os homens duvido, mas sem dados que me permitam afirmá-lo categoricamente;
- para o clero secular (os 'curas de missa', os padres em geral) tenho a impressão de que o critério assentava mais nas aptidões que nas posses. Eu tenho vários registos de padres originários de pequenas aldeias da Beira, de famílias que aparentemente não se destacavam da mediania;
Mas se pensarmos em que
i. todos os que ingressavam nos seminários poderiam ter que levar um enxoval (isso mesmo: roupas, calçado,...) e que isso poderia necessitar de algum 'investimento';
ii. que o candidato, já nessa época em que os registos eram obrigatórios, não deveria ser um 'incapaz total' e que isso deveria ter sido ou de alguma forma 'alimentado' pela família ou 'descoberto' por alguém minimamente capaz de o avaliar e com algum ascendente ou influência sobre as instituições religiosas (um padrinho, um amigo da família, o cura da Freguesia) e eventualmente disposto a ajudar a família nesse projecto;
iii. que essas aptidões pessoais normalmente e infelizmente não se revelavam (e muito menos se desenvolviam) com tão grande frequência como isso entre as classes mais desfavorecidas, o grosso da população (ainda não é assim hoje?quanto mais nesse tempo ...), mais preocupadas em por os filhos a trabalhar que em 'mimá-los' com a ideia de estudar;
iv. por outro lado, no caso de o rapaz ser de facto um semi-incapaz de vingar no mundo cão que os rodeava (debilidade física, doença crónica, maus hábitos, ...) e a família poder 'pagar' a sua 'profissionalização' num ofício que o apoiaria ou controlaria melhor, permitindo a sua sobrevivência e independência financeira em outros moldes que não na agricultura (o sector a que estavam afectos a maioria esmagadora da população);
v. ainda, o facto de 'ser bom' (pelas nossas almas), e mais tarde 'ser bem' (pelo nosso prestígio), ter um padre na família, e as classes mais confortáveis financeiramente raramente deixarem passar uma geração sem pelo menos um;
vi. e por outras razões desse tipo - as razões da vida, das dificuldades em sobreviver no dia a dia, as condicionantes do meio -, é natural que houvesse alguma influência 'de facto', embora 'de direito' ela não se interpusesse.
Mas repito: não é assim ainda hoje entre as Universidades melhores e as menos boas? entre as más escolas públicas e alguns bons colégios privados?
[à margem: 'mutatis mutandis', mudamos pouco em 4 séculos, digo eu.]
Espero ter contribuído para o seu esclarecimento. VF

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RE: Inquirição de gênere

#131507 | tmacedo | 18 out 2006 11:28 | Em resposta a: #131493

Caro psmoraes:

Para além das razões já referidas pelo confrade victorferreira os ordenandos faziam uma escritura de vinculação de património, próprio ou familiar, que garantia uma vida "decente" ao futuro padre. Óbviamente que esta situação limitava o acesso a quem tivesse bens familiares para viver "confortàvelmente".
No caso de Favaios as inquirições de genere estão no ADB (podendo os sumários ser consultadas on line) bem como as escrituras de Património.
Com os melhores cumprimentos,
António Taveira

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RE: Inquirição de gênere

#131559 | mtavares | 18 out 2006 20:20 | Em resposta a: #131493

Caro Morais.
Eis aqui a lista de todos os ordinandos de Favaios
As cotas pode obte-as no site do arquivo distrital de Braga
Cprtos
Luis


1. Antonio Sa Moutinho (+)
1691-09-15
2. Antonio Pinto Sampaio (+)
1698-12-04
3. Antonio Moutinho (+)
1709-08-13
4. Antonio Alvares Veiga (+)
1716-10-20
5. Serafim Barros Bessa (+)
1687-07-11
6. Goncalo Teixeira Bessa (+)
1687-07-11
7. Jeronimo Barros Bessa (+)
1687-07-11
8. Jorge Sa (+)
1691-09-14
9. Jeronimo Alvares Cunha (+)
1695-06-07
10. Luis Teixeira (+)
1707-10-03
11. Joao Teixeira Queiros (+)
1707-10-03
12. Manuel Carvalho Moutinho (+)
1689-09-26
13. Joao Lopes Pereira (+)
1872-04-18
14. Luis Teixeira (+)
1707-11-12
15. Luis Teixeira (+)
1707-11-12
16. Manuel Correia (+)
1690-01-07
17. Antonio Teixeira Barros (+)
1732-08-07
18. Antonio Teixeira Sampaio Cunha (+)
1732-11-21
19. Antonio Teixeira Sampaio Cunha (+)
1732-11-21
20. Amaro Rodrigues (+)
1734-04-17
21. Antonio Guedes Sousa (+)
1733-11-20
22. Antonio Pinto Queiros (+)
1734-05-20
23. Antonio Pinto Cabral Queiros (+)
1755-01-24
24. Antonio Pinto Cabral Queiros (+)
1755-01-24
25. Luis Teixeira Sampaio (+)
1779-01-14
26. Antonio Teixeira Sampaio (+)
1773-02-05
27. Alexandre Manuel Figueiredo Sousa (+)
1778-04-15
28. Manuel Azevedo (+)
1721-12-02
29. Antonio Goncalves Sequeira (+)
1784-08-28
30. Antonio Pinto Queiros Sarmento Serpe Melo (+)
1788-07-05


31. Francisco Teixeira Barros (+)
1678-08-22
32. Santos Pereira Sampaio (+)
1706-10-03
33. Antonio Jose Machado (+)
1808-03-28
34. Antonio Pinto Esteves (+)
1822-05-11
35. Antonio Almeida Botelho (+)
1826-01-21
36. Antonio Pinto Conceicao (+)
1830-04-30
37. Antonio Pinto Conceicao (+)
1830-04-30
38. Antonio Pereira Sampaio (+)
1870-05-21
39. Pedro Beca Mesquita (+)
1722-01-08
40. Pedro Lopes (+)
1734-08-23
41. Mauricio Morais (+)
1708-06-30
42. Manuel Alvares Veiga (+)
1713-01-02
43. Mauricio Morais (+)
1719-03-27
44. Manuel Silva Sao Paio (+)
1719-06-30
45. Manuel Mesquita (+)
1730-09-25
46. Manuel Alvares Veiga (+)
1732-04-10
47. Jeronimo Cunha (+)
1732-04-10
48. Manuel Lopes (+)
1732-09-19
49. Manuel Lopes (+)
1761-10-04
50. Manuel Antonio Figueiredo (+)
1773-01-25
51. Manuel Rodrigues Carvalho (+)
1778-03-16
52. Manuel Rodrigues Carvalho (+)
1778-03-16
53. Luis Teixeira Lima (+)
1861-07-05
54. Luis Antonio Gomes (+)
1787-05-26
55. Luis Pinto Furtado (+)
1822-04-01
56. Luis Pinto Furtado (+)
1822-04-06
57. Luis Alvares Azevedo (+)
1779-11-02
58. Luis Alvares Azevedo (+)
1779-11-02
59. Luis Antonio Pacheco (+)
1773-08-29
60. Jeronimo Sa Moutinho (+)
1710-12-20

--------------------------------------------------------------------------------

>
61. Jeronimo Sa Moutinho (+)
1710-12-20
62. Jeronimo Alves (+)
1717-08-11
63. Jeronimo Luis (+)
1719-04-07
64. Jose Teixeira Cabral (+)
1732-12-13
65. Joao Matos Freire (+)
1733-01-13
66. Jose Manuel Figueiredo Moutinho (+)
1760-08-30
67. Jose Manuel Morais (+)
1762-11-01
68. Jose Caetano Cabral (+)
1777-10-24
69. Jose Pinto Queiros (+)
1777-09-19
70. Jose Manuel Rodrigues (+)
1778-01-28
71. Joao Lopes Lima (+)
1812-07-31
72. Joao Albino Pereira Sampaio (+)
1857-12-03
73. Francisco Magalhaes (+)
1786-02-05
74. Francisco Antonio Figueiredo (+)
1817-02-18
75. Francisco Teixeira Sampaio Vilela (+)
1857-01-20
76. Carlos Jose Tavora (+)
1752-03-11
77. Francisco Macedo (+)
1832-11-17
78. Domingos Lopes (+)
1691-03-22
79. Dionisio Monteiro (+)
1722-08-15
80. Domingos Rodrigues (+)
1733-08-21

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RE: Inquirição de gênere

#131575 | psmoraes | 18 out 2006 23:09 | Em resposta a: #131559

Muito agradecido às informações dos caríssimos colegas. Os meus parentes são Maurício Morais (ancestral direto) e o outro Maurício Morais (neto) e José Manoel de Morais (bisneto) (colaterais). Além deles, há o padre Luiz de Moraes, nascido em 1613, em Favaios, filho de Antonio de Moraes e Martha Fernandes (ela, provavelmente de São João da Pesqueira). Esse Luiz foi pai do primeiro Maurício. Foi padre coadjutor em Favaios de 1640 a 1646.
Não consegui sua inquirição de genere. saber seus avós, para aprofundar a pesquisa, e, quem sabe, ligá-lo a algum ramo pesquisado pelos genealogistas protugueses.

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RE: Inquirição de gênere

#194179 | AQF | 25 abr 2008 00:30 | Em resposta a: #131575

Caro psmoraes,

Muito lhe agradecia que visse a seguinte mensagem que lhe dirigi:

http://www.geneall.net/P/forum_msg.php?id=165081

Desde já agradecido,

Ângelo da Fonseca

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Escrituras de Património

#194189 | gmg | 25 abr 2008 01:17 | Em resposta a: #131507

Caro António Taveira,

Desconhecia o facto de existirem Escrituras de Património para os Habilitandos de uma Inquirição De Genere.

Em que consistiam tais Escrituras? Têm algum elemento genealógico adicional?

Com os melhores cumprimentos,

Luís GMG

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RE: Escrituras de Património

#194209 | tmacedo | 25 abr 2008 11:55 | Em resposta a: #194189

Caro Luis Murta:

Não têm elementos genealógicos adicionais. Exceptuando os casos em que parentes do ordinando, nomeadamente tios, não referidos nas inquirições de genere, lhe doavam património para assegurar uma vida decente e conforme ao que era exigido a um padre.

Os futuros padres vinculavam os bens que possuiam ao seu sustento. Se não os tinham, pais e parentes, doavam-lhe os bens considerados necessários para assegurar essa decência.

Melhores cumprimentos.

António Taveira

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RE: Escrituras de Património

#194211 | gmg | 25 abr 2008 12:30 | Em resposta a: #194209

Agradeço-lhe a pronta resposta!

Com os melhores cumprimentos,

Luís GMG

Resposta

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