RE: Uma questão de norma ...

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RE: Uma questão de norma ...

#146200 | feraguiar98 | 02 mar 2007 19:31

Caro MP

Respondendo concisamente:
- Casos desses são muito comuns.
- a) Demasiado rigoroso é conceito que não deveria existir em genealogia; quanto mais rigoroso melhor.
- b) Infelizmente não estamos num domínio a que se possam aplicar normas; deverá optar por ser claro e verdadeiro, procurando um equlíbrio entre concisão e precisão quer usando os parênteses quer notas conforme o 'software' que use ou o tipo de texto que quer produzir.

Desenvolvendo algo casuisticamente e exemplificativamente - portanto sem ordenação metodológica - comece sempre por humildemente aceitar que raramente podem haver certezas: estamos no domínio da probabilidade. Temos que optar, não pelo certo mas pelo mais provável que será tanto mais provável quanto a profundidade da investigação.

Como muito primeira aproximação, diria que os registos paroquiais mais fiáveis serão os de casamento, os únicos em que os próprios têm capacidade autodeterminante. Mas há centenas de casos em que o pároco casou o Joze Mendes com a Maria Joaquina e, no final, encontramos duas lindas assinaturas "Jose Mendes Callado" - sem acento nem 'z' e "Maria Joaquina Motta" ambas numa caligrafia melhor do que a minha e com as consoantes dobradas. O que nos leva à triste conclusão que, se os nubentes não souberem assinar as nossas "certezas" são tudo menos isso.
Depois, vêm as análises circunstanciais para avaliar a probabilidade. As testemunhas assinaram? As testemunhas conheciam bem os noivos e não eram, sei lá, os fidalgos lá da terra que apadrinhavam uma dúzia por ano e, mais certo, nem à Igreja se deslocavam? O Padre era "certinho", escrevia sempre o mesmo nome com a mesma ortografia ou os 'Joze' às vezes eram 'Joseph'? Foi possível avaliar a coerência verificando se em todos os filhos do casal os nomes dos pais foram identicamente registados?

"Mutatis mutandis" o mesmo se diga para baptismos. Os padrinhos eram da família e assinaram? Etc., etc..
Claro que se o padrinho era o tio Zeferino e a criança foi baptizada Zeferino temos uma quase certeza ainda que mais tarde venha a casar como José. Aí o tio já terá morrido ele ou se crismou José ou pura e simplesmente decidiu que se passava a chamar José. Mas, lá está, podia mesmo ser José e o Padre ter feito um erro de simpatia com o nome do padrinho.
O meu conselho seria "baptizado Zeferino, casou já como José" e as especulações relegadas para notas onde diria também se tinha ou não ido procurar os registos dos crismas, se existiam outros Zeferinos ou Josés nos descendentes, etc..

Quanto ao caso que aponta, a minha experiência leva-me a desvalorizar os nomes de avós em registos de netos, muito especialmente se os baptismos ocorrerem em localidade diferente daquela em que viveram os avós, isto é, se a melhor probabilidade é que o padre não os tenha conhecido; e muito especialmente os avós maternos pois as mães por vezes estavam em recuperação do parto e os pais tendiam a estropiar os nomes dos sogros.
Mas o contrário também pode ocorrer. A sua Fulana podia ter sido baptizada como filha de José Joaquim Gomes, o que podia ou não ser logo um erro do padre, ou o José Joaquim Gomes, porque havia um primo com nome igual, tinha ficado conhecido na terrinha por José António Gomes e adoptado o nome, sendo por exemplo, António o nome do pai. Aí, se o batismo da neta ocorreu na mesma localidade onde residiam os avós e estes eram vivos, a melhor probabilidade lá iria para o José António. Depois as tais análises, sobre a credibilidade do padre e as ocorrências dos nomes na família próxima.

Melhor do que tudo, claro, um documento, notarial, recibo da irmandade, seja o que for, escrito pelo próprio mas, como calcula, não é fácil na maioria dos casos.

Enfim, queria uma norma e dei-lhe uma dor de cabeça. Mas, sabe, é por isso que genealogia sem biografia é pouco interessante mas se complementada por biografia, história local, enquadramento em família num sentido mais lato ou mesmo enquadramento regional é não só interessante mas apaixonante; com o terrível risco de poder ser motivo de divórcio.

Cumprimentos,
Fernando Aguiar

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