Academia de Artes Ciências e Letras da Ilha de Paq

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Academia de Artes Ciências e Letras da Ilha de Paq

#164942 | Luiz Alberto | 13 ago 2007 05:19

Caríssimas/os

Tenho o prazer de informar que, em seção de 20 de Julho de 2007 fui eleito para a Academia de Artes, Ciências e Letras da Ilha de Paquetá, onde irei ocupar, a partir de Outubro de 2007 a cadeira de número 2, cujo Patrono é o Maestro Anacleto Augusto de Medeiros (Paquetá, 13/07/1866 - Paquetá, 14/08/1907).

Tive assim uma satisfação dupla: A primeira por ser eleito para a citada Academia; A segunda por ter a honra e o privilégio de ir ocupar uma cadeira que tem por patrono um dos grandes nomes de Paquetá, ligado à Música Brasileira.

Irei suceder a Maria Jorge Bacil, infelizmente falecida, que foi Presidente da Academia até janeiro de 2006. Responsabilidade que se torna portanto ainda maior para mim.

Esta eleição, é também de todos os confrades, que tanto me tem ajudado nesta caminhada.
Meus agradecimentos a todos!

Abaixo transmito a lembrança resumida do Maestro Anacleto, de pesquisa da professôta Maria Bacil:

Anacleto Augusto de Medeiros nasceu na Ilha de Paquetá, no dia 13 de julho de 1866, na antiga Rua dos Muros, hoje Príncipe Regente, no número 44, em frente ao Solar D”El Rey.
As fls. 76 do Livro de Batizados nº 4 da Igreja Matriz de Paquetá, consta a seguinte anotação:
“Aos treze de janeiro de mil oitocentos e sessenta e sete, nesta Freguesia do Senhor Bom Jesus do Monte de Paquetá batizei solenemente e pus os santos óleos ao inocente Anacleto ...”
Seus padrinhos foram Antonio de Souza Malta e Alexandrina de Medeiros e esse termo foi assinado pelo Vigário, Joaquim da Rocha Cristallina.
Também foi protegido do Dr. João da Silva Pinheiro Freire, filantropo e médico dos pobres nesta bucólica ilha, que faleceu em 27 de fevereiro de 1904, cujo cortejo foi acompanhado pela Banda do Corpo de Bombeiros, executando em surdina a Marcha Fúnebre “Pinheiro Freire”, última homenagem do Maestro ao seu protetor e amigo.
Sua mãe se chamava Isabel de Medeiros e era escrava liberta quando deu à luz a esse filho. Na pobreza, na humildade, no anonimato paterno, sonharia essa mulher, em algum momento visionário, que aquele menino era um predestinado à fama e a destino glorioso ?
Sem recursos financeiros que lhe proporcionassem meios de instrução, Anacleto encontrou sua chance de formação no Arsenal de Guerra do Rio de Janeiro, onde foi alistado na Confraria de Menores, em regime de internato. Tinha apenas nove anos. Ali, aprendiz, instruiu-se em ofícios e, ao mesmo tempo, aprendia música – como foi comum no ensino público brasileiro até o fim dos anos 50 – e logo era chamado a participar da Banda do Arsenal, onde seu flautim já se destacava, pois a música já se manifestava nele como vocação maior.
Ao deixar o Instituto, com mentalidade evoluída e cheio de iniciativa, conseguiu em torno de si um grupo de amigos que o segue cegamente. Esse grupo não ia além de 15 figuras.
Tornam-se os Cantores das Noites Enluaradas de Paquetá. Nas noites de luar, quando saiam para as plangentes serenatas, ninguém dormia. As notas dolentes de saudades enchiam de soluços toda tranqüila beatitude desta Ilha.
Com dezoito anos, em 1884, ingressou no Conservatório de Música, hoje Escola de Música da Universidade Federal do Rio de janeiro, e ali chegou já dominando todos os instrumentos de sopro e mostrando sua especial predileção pelo sax-soprano. Dois anos após, recebia o certificado de professor de clarineta.
A última década de 1800 já reconhecia nele o expoente que foi como compositor, organizador de conjuntos e talentoso regente, tendo sido colega do maestro Francisco Braga que também se formou como clarinetista. Foi amigo particular do famoso Henrique Alves de Mesquita, que muito influenciou na sua formação artística.
É bom lembrar que Villa-Lobos, no seu “Chorus nº 10” usou a linda melodia da schottish “Yara”, de Anacleto, para embevecer os ouvidos das mais refinadas platéias. Seu mérito maior se evidenciou na transformação da schottish européia no xote brasileiro. A partir daí, o reconhecimento pátrio da sua genialidade.
O sonho maior de Anacleto era formar uma banda. Realizou-o na “Recreio Paquetaense”, que foi disputada por toda redondeza e aplaudida nas já famosas “Festas de São Roque”.
E, por esse tempo, mais precisamente em 1894, era o mês de junho e o já famoso e orgulho nacional Maestro Carlos Gomes passava dias na Ilha, hospedado na Chácara do Castelo, hoje Preventório Rainha Dona Amélia.
Anacleto e seus músicos desejavam homenagear o insigne visitante, tocando para ele e assim se anunciaram ao criado que os atendeu. Carlos Gomes, sensibilizado, recepcionou-os na varanda da casa e convidou-os a entrar. Tinha nas mãos uma revista enrolada e, sentado no sofá, começou a ouvi-los. Anacleto, pálido, tímido e envergonhado tomou a batuta e os primeiros acordes se fizeram ouvir. E o Maestro se sobressaltou, como tomado por uma centelha elétrica. Excitado e irriquieto, mostrava-se profundamente emocionado. Era a “Protofonia do Guarany” e, rapidamente, a revista enrolada se transformou em batuta e o próprio Maestro assumiu a regência da sua música. Todos se emocionaram e a insegurança e a timidez do nosso retratado se desfizeram dentro dessa emoção. Carlos Gomes, ao deixar a Ilha, convidou Anacleto a ir com ele para a Itália, onde ele poderia aprimorar seu dom, atingindo a culminância de sua cultura musical e de onde poderia voltar consagrado e bafejado pela fama. Mas Anacleto não aceitou o convite. Era aqui, no Brasil, que ele desejava realizar seu sonho maior e conquistar seu ideal – a banda monumental que já se fazia ouvir no recôndito do seu coração.
E a sua primogênita Banda Sociedade Musical Paquetaense, se seguiram:
a Banda de Música de Magé
a Banda de Música da Fábrica de Tecidos Bangu
a Banda de Música da Fábrica de Tecidos Macacos (hoje de Paracambi)
a Banda do Clube Guttemberg
E, finalmente, em 1896 o Mestre é convidado para organizar a banda com que sonhava desde a infância de sua vocação, a gloriosa e primeira banda brasileira a registrar fonograficamente suas execuções. Sob a batuta do Maestro Anacleto de Medeiros, essa banda, intitulada “Banda do Corpo de Bombeiros” e reunindo trinta instrumentistas, entre alguns ex-colegas requisitados da Banda do Arsenal de Guerra, estreou no dia 15 de novembro de 1896 inaugurando a estação de bondes do Humaitá.
Referindo-se a Anacleto, assim diz Pedro Bruno:
“... Paquetá parecia imenso órgão em surdina a despertar as almas s namorados, acordando nos corações dos velhos as saudades adormecidas de tanto tempo; a magia da clarineta de Anacleto era um filtro de mel embriagador. Paquetá ainda guarda uma grande saudade desse homem, cuja vontade dava magnífica moldura à sua alma sensibilíssima, fundida nas notas de suas valsas célebres, harmonias tão cheias destas praias, tão perfumadas pelas saudades de seu Paquetá. Anacleto. Não vos esqueçais desse nome! É a alma harmoniosa da Ilha dos Bouganvilles” .
De todo seu imenso repertório, apenas 90 peças musicais, conforme Batista Siqueira, foram catalogadas. São valsas, polcas, tangos, quadrilhas, xotes, marchas e outros ritmos. Entre essas, a “28 de fevereiro - FANTASIA”, que evoca a triste história da Revolta da Armada em nossa Ilha.
Havia um coreto, antigamente, no Largo do Medeiros, atual Praça Bom Jesus, onde nas tardes de Domingo as pessoas iam ouvir a Banda do Maestro Anacleto.
Faleceu, aos quarenta e um anos de idade, no dia 14 de agosto de 1907, constando esse registro do livro de Óbitos nº 7, fls. 200, nº 107, da mesma Igreja onde foi batizado, termo esse assinado pelo Padre Juvenal Madeira, Vigário.
Após sua morte, foi homenageado pelo Rancho Carnavalesco “Ameno Resedá”, no dobrado de sua autoria “Jubileu”, que compôs para parabenizar o Corpo de Bombeiros no seu 50º aniversário. Também, no carnaval de 1925, pelo Grêmio infantil do Leme, que saiu às ruas daquele bairro entoando a marcha “A Fuga dos Anjos”. E, em 1980, a 73 nos de sua ausência, o Estúdio Eldorado lançou o LP intitulado “Anacleto de Medeiros”, 4º volume da série “Evocação”. E a Escola de Música Villa-Lobos, intitulando sua Orquestra de Sopros com o nome “Anacleto de Medeiros”.
E a Ilha de Paquetá, berço e túmulo de seu ilustre filho, em 1935 deu à antiga Rua da Covanca o nome de “Maestro Anacleto”, porque sua memória viverá eternamente no coração agradecido de todos os paquetaenses.
E a Academia de Artes, Ciências e Letras da Ilha de Paquetá imortalizou sua memória dedicando-lhe a Cadeira Patronímica nº 2 que tenho a honra de ocupar.
“... Anacleto. Não vos esqueçais desse nome !
É a alma harmoniosa da Ilha dos Bouganvilles !”
No levantamento feito pelo Professor Catedrático Baptista Siqueira da Escola Nacional de Música da UFRJ, autor do livro “Três vultos históricos da Música Brasileira (Mesquita, Callado e Anacleto)” editado em 1970 sob o patrocínio do MEC, é a seguinte relação das músicas do Maestro Anacleto:

1 Açucena – 1890 BN
2 Amar Sonhando – polca
3 Andorinha (AS) valsa – 1890
4 Arariboia – passo dobrado
5 Ave – Maria – obra sacra
6 Avenida – passo dobrado - 1905 BN
7 Baile (NO) – quadrilha – 1890
8 Bouquet – polca de concerto (sólo de trompete)
9 Casa de Cômodos
10 Café Avenida – tango
11 Caprichosa – polca (manuscrito)
12 Capricho – tango
13 Carnaval de 1905 - polca
14 Despedida – valsa – Catulo fez uma polca para essa valsa.
15 Dulce – valsa – 1896
16 Em ti pensando – polca (manuscrito)
17 Enigmática – polca (choro)
18 Esperança – quadrilha
19 Está se corando – polca – 1891
20 Farrula – valsa
21 Fluminense – quadrilha
22 Fuga dos Anjos (A) Letra de Arlindo Pinheiro Bastos.
23 Graciosa – valsa
24 Marcha Fúnebre nº 1
25 Marcha Fúnebre nº 2
26 Melosa – polca
27 Medrosa – polca – Letra de Catulo
38 Miguelina – quadrilha
39 Misterioso – passo dobrado
30 Morrer sonhando – polca
31 Na volta do Correio – passo dobrado
32 Não me olhes assim – schottish 1899
33 Nenezinha – polca BN
34 Noites de inverno – schottish
35 Núpcias – valsa
36 Oh! Não fujas – habaneiras
37 Olhos matadores – schottish - Poesia de Catulo.
38 Pavilhão Brasileiro – passo dobrado BN
39 Perpétua – mazurka
40 Preciosa – quadrilha
41 Predileta – valsa (Editado em 15/04/1901 – poesia de Catulo)
42 Primavera (1) Romance para clarinete – sólo
43 Que tu és (O) – polca – poesia de Catulo
44 Queimou a luz – polca
45 Quem comeu a vaca ?
46 Santinha - schottish
47 Sentida – polca
48 Sentinela - schottish
49 Silenciosa – quadrilha
50 Tatá – polca
51 Terna saudade - valsa
52 Urso (O) – polca (dedicada ao amigo Frederico Bischof)
53 Acorde – Escute – polca
54 Aí eu caí – valsa
55 Brasil – Portugal – polca
56 Carolina – polca – 1896
57 Catutinha – polca
58 Conde de Santo Agostinho – marcha
59 Carícia de Amor – schottish
60 Como eu quisera morrer! – passo dobrado
61 Deliciosa – quadrilha
62 Eulália – polca
63 Faceira – quadrilha
64 Jubileu – passo dobrado – 1906 BN
65 Juracy – polca – manuscrito
66 Louco de amor – schottish
67 Lydia – polca
68 Missa – 1896
69 Salutaris
70 Pinheiro Freire – marcha BN
71 Qui – pro – quó – polca – 1901
72 Radiante – polca
73 Rainha dos Gênios – valsa BN
74 Segredo do Coração – quadrilha
75 TE DEUM – 1896
76 Teu olhar (O) – schottish
77 Triunfo do Brasil (encontrado no interior de Minas)
78 28 de Fevereiro – fantasia
79 Vou Contigo – polca
80 Cabeça de porco – polca
81 A Fuga dos anjos – canto
82 Os Boêmios – tango – 1901 - Poesia de Catulo
83 Yara – schottish – edição 1916
84 Fadário – polca (Medrosa)
85 Po um beijo – (Terna saudade)
86 Implorando – schottish – Letra de Catulo
87 Bolero
88 Noites de Inverno (romance para cornetim)
89 Três Estrelinhas
90 Benzinho – schottish – Letra de Catulo


Com um abraço do
Anapuru carioca paquetaense,
Dom Beto

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RE: Academia de Artes Ciências e Letras da Ilha de Paq

#164952 | pachancho | 13 ago 2007 10:51 | Em resposta a: #164942

Dom Beto,


muitos parabéns e muito sucesso nessa sua nova caminhada.



cumprimentos
Paula Peixoto

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RE: Academia de Artes Ciências e Letras da Ilha de Paq

#164953 | artur41 | 13 ago 2007 11:11 | Em resposta a: #164952

Carísimo Luiz Alberto,

Mas que honra. As minhas felicitações, meu amigo.

Um abraço do
Lusitano alfacinha restelense,
Artur João

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Academia de Artes Ciências e Letras da Ilha de Paq

#164982 | Luiz Alberto | 13 ago 2007 21:26 | Em resposta a: #164953

Caríssimos Dom Artur e também Dona Paula:

Agradeço e muito a atenção pelas felicitações que nos mandaram.

Abraço frliz do,
Anapuru carioca paquetaense,
Dom Beto

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RE: Academia de Artes Ciências e Letras da Ilha de Paq

#164983 | Luiz Alberto | 13 ago 2007 21:28 | Em resposta a: #164982

Ops!! Corr

Caríssimos Dom Artur e também Dona Paula:

Agradeço e muito a atenção pelas felicitações que nos mandaram.

Abraço feliz do,
Anapuru carioca paquetaense,
Dom Beto

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RE: Academia de Artes Ciências e Letras da Ilha de Paq

#166338 | carlos luiz | 02 set 2007 13:31 | Em resposta a: #164942

Caro Luis Alberto

Como poderei saber, onde encontrar registos de ruas do Rio de Janeiro, afim de conheçer a historia de uma rua do Ouvidor, vi esta informação num livro antigo, dos anos 1925/30, Procuro saber algo mais sobre o Ouvidor Manuem de Melo Godinho Manso, que foi Ouvidor nos anos de 1722 a 1728 em S. Paulo-Brasil!
cumprimentos
Carlos Luiz

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Rua do Ouvidor -

#166488 | Luiz Alberto | 04 set 2007 04:46 | Em resposta a: #166338

Prezado Carlos Luiz Res:

Sobre a Rua do Ouvidor, informa-nos Adolfo Morales de los Rios Filhe no seu livro "O Rio de Janeiro Iperial" (primeira edição em 1946) ter seu nome se originado, desde 1780, por ali haver residido o Ouvidor Francisco Berquó de Oliveira. Informa ainda o autor : " Aliás, desde outubro de 1754 mandara o governo nela dar residência aos ouvidores".
Poderá talvez encontrar também algumas outras informações nos seguite livros de Joaquim Manuel de Macedo: "Memórias da Rua do Ouvidor" e "Um Passeio pela cidade do Rio de Janeiro".

Sugiro ainda: " O Rio de Janeiro Setecentista" de Nireu Cavalcante e ainda"O Rio de Janeiro de meu tempo" de Luiz Edmundo.

Quanto ao Ouvidor Manuel de Melo Godinho Manso, muitas informações podem ser encontradas na Internet. Não achei referências específicas nos lirvos que pesquisei.


Atenciosamente

Um abraço do
Anapuru carioca paquetaense,
Dom Beto

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RE: Rua do Ouvidor -

#166544 | carlos luiz | 04 set 2007 22:04 | Em resposta a: #166488

Caro amigo
Luiz Alberto

Fico muito agradecido por atenção, o meu Ouvidor esteve em São Paulo nos anos de 1722 a 1729, e morreu em Lisboa em 1739, mas fico sempre muito agradecido pelos dados interessantes!
Na internete encontra-se tesouros genealógicos e outros, tambem encontrei alguns dados sobre este Ouvidor Manuel de Melo Godinho Manso ou (Manuel Godinho de Azevedo). Muito agradecido!
Tambem com um abraço de Portugal
Carlos Luiz

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