Crimes e chacinas praticados pelo Barão do Casal
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Crimes e chacinas praticados pelo Barão do Casal
Caros confrades:
Graças à bondosa colaboração de alguns confrades, já consegui localizar o perfil do Barão do Casal. Agora tento seguir o seu percurso durante as lutas liberais e as suas acções violentas em Constantim (V. Real), Vilarandelo e Santa Cristina de Agrela.
Alguém me pode indicar bibliografia sobre os crimes de guerra praticados durante a guerra civil, em 1846?
Muito obrigado.
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RE: Crimes e chacinas praticados pelo Barão do Casal
Caro participante não identificado,
Veja numa biblioteca "Camillo de perfil: traços e notas, cartas e documentos inéditos" Por Antonio Cabral, Camilo Castelo Branco, 1914, página 18.
Há uma breve narrativa sobre as chacinas em Guimarães. Refere-se a sua 'mancha na carreira militar' e como se fez nesse dia 'o terrível magarefe'.
Victor Ferreira
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RE: Crimes e chacinas praticados pelo Barão do Casal
Boa noite caro confrade Victor Ferreira.
Peço imensa desculpa por não me ter identificado, pensando que a mensagem incluiria o meu nick name.
Quero agradecer-lhe imenso o que fez por mim, ao facultar-me essas preciosas indicações.
Vou, de imediato,consultar a referida obra, de António Cabral. Nestas chacinas terão perecido alguns familiares meus, assim como dezenas de populares, os quais se encontram enterrados em vala comum.
A partir do NEPS, estou a tentar identificar todos as possíveis vítimas do "terrível magarefe"
Bem haja.
A. Henriques
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Barão do Casal
Caro A. Henriques,
Não li o texto todo. De facto o que fiz foi ir ao Google Books (um site simplesmente imprescindível para "pontapés de arranque" em bibliografia histórica, e que estava a consultar por outra razão), escrevi 'Barão do Casal' e saíram-me alguns livros, de que seleccionei a citação que lhe enviei.
Já que a fama de magarefe foi grangeada em Guimarães, não haverá na própria Câmara, Biblioteca, Arquivo Municipal, ou outra instituição histórico-cultural vimaranense, referências mais pormenorizadas aos ditos lamentáveis eventos?
Certamente já se questionou sobre estas possíveis fontes, mas fica assim mesmo a sugestão.
Cumprimentos, do Victor Ferreira
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RE: Crimes e chacinas praticados pelo Barão do Casal
Caro A. Henriques
Estou também muito interessado no massacre de Constantim. Se ler o Tópico Família Veiga, do Castedo (Alijó), encontra lá alguma informação, e se puder acrescentar alguma coisa ao que lá consta, muito lho agradecerei.
Em boa verdade, em Constantim não houve um massacre, mas, sim, um assassínio. O exército do Casal, embora se portasse mal em toda a parte, apenas cometeu aquilo a que se pode chamar massacres em dois lugares, na Agrela e em Braga.
O que aconteceu em Constantim foi que o guerrilheiro António da Costa e Sousa, mais conhecido por António da Costa Veiga, ou Veiga Júnior, atrasou-se em relação à hoste do tio (Veiga Sénior), que retirava para Sabrosa, e foi forçado a render-se, juntamente com alguns camaradas, a uma patrulha avançada da cavalaria do então barão do Casal, tendo todos sido assassinados, depois de feitos prisioneiros. O móbil nem sequer foi político; foram assassinados por causa dos valores que traziam.
Uma curiosidade associada ao assassínio do Veiga do Castedo é o facto de todas as notícias, e conheço-as de várias fontes, darem como local do crime as margens do Verdeiro, ribeiro que não aparece em lado nenhum. Já consultei as cartas militares da região, já chateei meio mundo, sobretudo em Vila Real onde conto com alguns amigos, já fui, em desespero de causa, a Constantim, onde falei com velhos moradores, tudo em vão. O Verdeiro, enojado por o tornarem palco de assassínios, levantou-se do leito natural e parece ter ido favorecer, com as suas águas, terras distantes.
Terá talvez emigrado nos anos sessenta para se tornar afluente do Sena.
É um mistério.
Se é da região e puder contribuir com alguma moedinha para este infrutífero peditório do Verdeiro, pratica uma boa acção.
Quanto à bibliografia sobre a Patuleia, existe muito pouca que seja centrada nesse conflito. Poderá ler, naturalmente, o Portugal Contemporâneo, do Oliveira Martins, e outras obras históricas que se ocupam da primeira metade do séc. XIX; mas a fonte mais interessante, a meu ver, é um livro da autoria de D. João de Azevedo, de título Dois Dias em Outubro, ou História da Prerrogativa, onde todos os episódios da Patuleia são muito bem descritos.
Quando o li, estranhei que o autor – que embora trate os acontecimentos de maneira distanciada e imparcial era simpatizante da Junta do Porto – não pintasse o Casal com as negras cores de que era habitual fazer-se uso. Vim a descobrir, mais tarde, uns versos dele dedicados à filha do general, o que me esclareceu quanto ao motivo da generosidade para com o pai.
Saiu-lhe mal, pois ela casou com um tal Diogo Maria.
Cumprimentos,
Manuel.
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RE: Barão do Casal
Caro Victor Ferreira:
A minha investigação ainda "vai no adro", no entanto tenho planeado visitar a Biblioteca Municipal Raul Brandão, assim como,seguindo a sua sugestão, consultar o Arquivo Municipal de Guimarães e a Fundação Martins Sarmento.
Efectivamente Santa Cristina de Agrela pertenceu, antes da reforma de Mouzinho da Silveira, a Guimarães, tendo passado para o concelho de Fafe.
De momento estou limitado, pois me encontro adoentado e não tenho saído de casa. Mas em breve farei diligências para saber algo mais.
Com os melhores cumprimentos
A. henriques
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RE: Crimes e chacinas praticados pelo Barão do Casal
Caro confrade Manuel:
Felizmente que o meu pedido tem encontrado eco no forum. Já tinha abordado o tópico sobre a família Veiga, do Castêdo, a quem o Barão do Casal, ou os seus seguidores, assassinaram o Veiga Júnior.
Sobre o massacre de Agrela tomei conhecimento através de Pinho Leal, o qual faz referência com uma descrição brevíssima.
Tenho conhecimento que outro local de masscres pelos tropas do Casal foi em Vilarandelo ou Vilandarelo (não sei qual o termo), Valpaços, em Tras-os-Montes.
Sou de Fafe e não tenho conhecimento do rio Verdeiro, com muita pena minha.
De mometo estou a contas com umas maleitas, (fruta da época) mas quando estiver fino vou continuar com algumas diligências, as quais partilharei com muito gosto.
Saudações genealógicas e melhores cumprimentos
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RE: Crimes e chacinas praticados pelo Barão do Cas
Caro Manuel,
sera que me pode dizer o nome completo do tal "Barao"e como arranjou o Titulo ? Com um abraco
Jose Maria da Veiga Ventura
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RE: Crimes e chacinas praticados pelo Barão do Cas
Caro José Maria da Veiga Ventura
O Barão do Casal, depois conde, consta aqui na base de dados:
http://www.geneall.net/P/per_page.php?id=54955
Conheço mal o percurso dele anterior à Patuleia. Sei apenas que foi Setembrista (a ala esquerda do Liberalismo), razão por que a Junta do Porto, em 1846, lhe confiou as tropas de que dispunha.
Antes de assumir o comando, foi a Lisboa buscar a mulher e a filha, e deve ter sido lá aliciado, se não comprado, pelos Cabrais, pois ao voltar e após ter colocado as duas a salvo, num convento de Braga, penso que nas Ursulinas, veio tomar conta das tropas e, mal saiu com o exército do Porto, declarou-se pela rainha.
Foi, por isso, considerado traidor e objectivamente não podia ser considerado de outra forma. Se tem conseguido tomar a cidade, como tentou, presumindo a incapacidade dos voluntários recrutados à pressa para a defenderam e fiado em promessas de traição, teria talvez promovido um massacre ainda pior que o de Braga.
Depois da intervenção tripartida (Inglaterra, França e Espanha) que pôs termo à Patuleia, ficou como Governador Militar do Porto, onde criou uma situação não muito diversa daquela que veio a banalizar-se durante a ascensão dos fascismos, nos anos vinte e trinta do séc. XX. Durante os quatro anos que vão desde o final da Patuleia, 1847, até ao golpe de estado Regenerador, 1851, os caceteiros percorriam a cidade, espancando quem fosse considerado desafecto aos Cabrais, chegando mesmo ao assassínio de gente nos passeios, sempre em completa impunidade. Assaltavam as sedes dos jornais, os botequins, os teatros, intimidavam o poder judicial, que era forçado a fechar os olhos, ocupavam as praças forçando os passantes a declararem-se partidários dos Cabrais, etc...
Estes bandos eram formados por funcionários públicos de baixa categoria e soldados. Dizia-se que a mulher do Casal, poetiza que até publicou um livro de versos (em língua castelhana, pois era natural de Montevideu, mas editado no Porto), era quem fornecia roupa civil a soldados, para que os crimes destes não fossem associados ao comando do marido.
No Porto, chamavam-lhe o homem da sêmea porque tinha uma corcunda que levava a pensar que trazia um dessas broas debaixo da farda, particularidade que não deve ter contribuído para lhe amaciar o carácter. Também por ter barba muito rala, não tolerava que os civis usassem bigode. Era o que hoje chamaríamos um complexado, que procurou exorcizar os recalcamentos oprimindo os outros.
Há que dizer que o Porto nunca se vergou, os jornais não deixaram de sair, nem de denunciar os crimes, e O Nacional, o principal órgão da oposição, chegou até a resistir violentamente a um assalto, pelo que os caceteiros, de então em diante, se limitavam a atacar os “entregadores”, ou seja, o sistema de distribuição, para fazer autos de fé com os exemplares.
O conde do Casal, junto com o irmão do Costa Cabral, o José Bernardo da Silva Cabral, o Zé dos Cónegos como era chamado no Porto, formava o dueto que polarizava o ódio mortal dos portuenses, ódio ainda mais intenso do que aquele que votavam ao próprio António Bernardo.
Felicitemo-nos por vivermos em tempos mais pacíficos.
Cumprimentos,
Manuel.
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RE: Crimes e chacinas praticados pelo Barão do Cas
Caro Manel,
Muito obrigado por este texto.
E assim, desta forma quase que ilustrada, se vai aprendendo e compreendendo História!
Abraço,
António
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RE: Crimes e chacinas praticados pelo Barão do Cas
Caro Manuel,
agradecidissimo pelos seus excelentes esclarecimentos! So espero que o sangue dos "Barros"que correu nas veias do "barao"nao seja o mesmo dos de "Basto",pois a"malhandro",tambem chegou 1 ... o "Conde" !!!
Cumprimentos,
Jose Maria da Veiga Ventura
P.S.: O Manuel tem algum livro publicado sobre esta materia ?
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Crimes e chacinas praticados pelo Barão do Casal.
Caro José Maria da Veiga Ventura
Nada tenho publicado sobre esta matéria. Espero vir a escrever alguma coisa como introdução a uns textos inéditos em volume, da autoria de um importante escritor do séc. XIX, à época da escrita jovem principiante, textos entre os quais se conta um muito extenso poema, dividido em cantos, exaltando o guerrilheiro Veiga do Castedo, sobre quem temos trocado mensagens.
Cumprimentos,
Manuel.
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RE: Crimes e chacinas praticados pelo Barão do Cas
Caro Manuel,
muito obribado pela sua mensagem.Avise-me,por favor,quando tiver a sua Obra pronta e como a posso adquirir.
Cumprjmentos ,
Jose Maria da Veiga Ventura
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RE: Crimes e chacinas praticados pelo Barão do Cas
Caro confrade Manuel,
Muito grato pelo seu excelente texto sobre o Barao do Casal. Peço;lhe para nao reparar nos erros ortograficos e faltas de acentos, pois o meu computador nao veio bom do conserto.
Peço;lhe encarecidamente mais alguns elementos biograficos sobre o Barao do Casal, ou de Agrela. Esta tematica est[a a apaixonar;me e graças ao seu valioso contributo, fiquei mais motivado.
Bem haja e muito obrigado.
A. Henriques
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RE: Crimes e chacinas praticados pelo Barão do Cas
Caro A. Henriques
Não tenho mais elementos biográficos sobre o conde do Casal (note que Conde da Agrela era uma alcunha, lembrando-lhe o massacre cometido durante a retirada do Porto, após a tentativa de assalto).
Tudo o que se relaciona com a Patuleia é tratado muito de leve na historiografia disponível. Penso que a razão disso é haver alguma vergonha por o Porto ter sido ocupado por um exército espanhol.
Eu, pelo menos nunca ouvi falar de tal ocupação, no ensino secundário, e penso que muito raro será o livro escolar de História que o mencione.
É uma daquelas coisas sobra as quais há consenso de que é melhor não se falar.
Deve dizer-se, no entanto, que os espanhóis se comportaram decentemente e que os portuenses ficaram amigos do general Concha, amarga e saudosamente evocado logo após se ter ido embora e o Governo Militar ter sido entregue, pelos Cabrais e por acintosa vontade de humilhar a cidade, ao Casal, elevado a conde.
Já a revolta da Maria da Fonte, que arrancou poucos meses antes da Patuleia, é muito melhor conhecida e quase toda a gente lhe conhece os contornos e sabe cantarolar o Hino.
Recordo agora, e porque fiquei na ideia de que gosta daquilo a que em França se chama Petit Histoire, que o autor do Hino era um tal Frondoni, que veio para Portugal dirigir a orquestra do São Carlos, por alguém ter entendido que o Verdi, que havia sido a primeira escolha, não reunia competências nem talentos suficientes para o cargo.
Ficou a saber, o Verdi, que não é qualquer um que nos impressiona.
Cumprimentos,
Manuel.
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RE: Crimes e chacinas praticados pelo Barão do Cas
Boa noite caro Manuel.
À nossa maneira "tuga" dizemos raios e coriscos sobre tudo; esquecemo-nos que há gente boa e generosa, tal como sucede neste fórum e mesmo à nossa volta. Frequento este fórum há pouco tempo, mas o suficiente para apresentar um testemunho demonstrando que há gente solidária e que partilha os seus conhecimentos com pessoas que não conhece:´o confrade Manuel é o exemplo, tal como outros, de pessoa solidária. Digo isto com admiração, pois estou interessado em informações sobre algumas figuras, entre as quais o Barão do Casal, para tentar compreender partes da Revolta do Minho e da Patuleia. Estava longe de imaginar que obteria informações tão preciosas como as que o Manuel me forneceu.
Um sentido muito obrigado.
A. Henriques
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RE: Crimes e chacinas praticados pelo Barão do Cas
Caros confrades,
se estiverem interessados em conhecer informações biográficas sobre todas as figuras do Liberalismo português, Pares do Reino, Deputados, Militares, etc. queiram consultar o "Dicionário Biográfico Parlamentar - 1834-1910", Coordenação de Maria Filomena Mónica, Co-edição: Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e Assembleia da República - 2004. É constituido por 3 Volumes.
Lá encontrarão também a biografia do Conde do Casal: ALVIM, José de Barros Abreu Sousa e Alvim, Vol. I, pp. 157-159.
Obrigado pelas v/comunicações.
Justino.
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RE: Crimes e chacinas praticados pelo Barão do Cas
Bom dia António R. Morais.
Bem haja pela informação que nos acabou de dar, pois vai tornar-se de capital importância para a pesquisa a que estou a proceder.
Se, porventura, tiver algo mais sobre os crimes cometidos nas guerras liberais, agradeço-lhe imenso.
A. Henriques Vaz
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RE: Crimes e chacinas praticados pelo Barão do Cas
Caro Manuel
agradeço as comunicações sobre o Conde do Casal. É incrível e interessante como conhece todos esses pormenores biográficos.
Mais grato ficaria se nos pudesse indicar as fontes donde extraiu essas informações, pois também ando a pesquisar sobre crimes praticados durante as guerras de 1846/47.
Cumprimentos
António (Justino)
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RE: Crimes e chacinas praticados pelo Barão do Cas
Caro A. Henriques Vaz,
em relação ao que me solicita, (informações sobre crimes e chacinas cometidos nas guerras liberais), o tema é extremamente extenso e complicado. Houve duas guerras civis, como sabe. Chacinas sempre as houve, de ambos os campos inimigos no decorrer das batalhas. Agora crimes, em pleno século XIX, e opinar em bases científicas, seria necessário que fossemos juizes e possuissemos todas as provas para julgar, e logo ... como compreenderá. em tempos tão conturbados e em que quase tudo é nubloso! Pode ler-se o que dizem os coevos, mas mesmo assim as versões não são coincidentes e quase sempre contraditórias, dependendo das pessoas que as descrevem, pois as paixões ditam a verdade de cada um.
Mas no NEPS poderá obter algumas fontes credíveis.
Se puder ajudá-lo, fá-lo-ei com todo o prazer.
Cumprimentos
António (Justino).
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RE: Crimes e chacinas praticados pelo Barão do Cas
Caro António Morais
Não é a primeira vez que me confronto com a pergunta que formula.
Quem se inicia no género de pesquisa em causa tende a esquecer a banalíssima realidade de que existia imprensa na época.
A quem publicar estatísticas sobre o campeonato do mundo de futebol de 1966 ninguém pergunta como as obteve: assume-se que o investigador consultou os jornais contemporâneos do evento; mas tratando-se de factualidade que acumulou século e meio de estratificada poeira, deixa de ser óbvia a fonte onde a informação pudesse ter sido obtida.
Ora, o caso é exactamente o mesmo.
Por estranho que possa parecer a quem desconhece a realidade, no Porto da Patuleia publicavam-se mais diários do que hoje.
Esses jornais estão disponíveis em locais frescos no Verão e aquecidos no Inverno, iluminados em todas as estações, contendo mobiliário apropriado à função a que foram destinados e servidos por prestáveis funcionários com a desejável competência. Quem os quiser consultar requisita-os para leitura, são-lhe colocados na mesa que escolheu, sendo depois retirados sem intervenção do próprio nem reclamação de pagamento, resumindo-se a despesa à quantia a que o leitor abdicou, ao não usar o seu tempo de modo mais profícuo, economicamente falando.
Aqui tem a solução do mistério.
Permita-me que o aconselhe a pensar duas vezes antes de penetrar no fascinante mas perigoso universo dos periódicos de outros tempos. Corre o risco de ficar apanhado para sempre, e não há metadona para essa heroína.
Aqui neste Fórum pode constatar que existem inúmeros viciados nos Paroquiais, capazes de percorrer, durante anos, centenas de livros do séc. XVII, na mira de encontrar o assento de casamento de um José da Costa com uma Josefa da Silva.
Se já alguma vez consultou literatura desta natureza, apresentada em microfilmes frequentemente ilegíveis, usando de ortografias criativas e caligrafias por vezes impenetráveis, repetitiva a ponto de narcotizar a mais coriácea insónia, facilmente compreenderá que a Imprensa – da qual escorre, a todo o momento, a palpitante vida pública e particular, entremeada de polémicas, de comentários jocosos, de insultos e de elogios, de inconfidências e de misteriosas alusões, onde a factualidade efémera se encontra ao lado da descrição dos acontecimentos que determinaram o rumo do país –, é incomparavelmente mais perigosa e capaz de gerar dependências muito mais árduas de vencer.
Digamos que entre os Paroquiais e a Imprensa vai a distância que afasta e distingue um lista telefónica suja e com falta de páginas, de um apaixonante e bem impresso romance de aventuras.
Não lhe digo para se despedir dos próximos e fazer testamento antes de se aventurar nesse sorvedouro de tempo e atenção, mas recomendo-lhe o que recomendaria a quem, por curiosidade intelectual, se prestasse a injectar na veia uma dessas substâncias que, ao que dizem, dão acesso temporário a paraísos virtuais.
Verá que um dia, ao compilar, muito sério e profissional, informação sobre um tema que procura documentar, lerá a notícia de que se receberam na igreja de Santo Ildefonso, o senhor António e uma filha do senhor Bernardo, evento que em nada se relaciona com a questão que o levou a requisitar o jornal. Lembrar-se-á, então, de ter lido, em diagonal, uma sangrenta crítica de António a Coriolano, por aparente divergência política e, anteriormente a esta, um folhetim de Coriolano acusando Bernardo de funcionário alfandegário corrupto. Dirá então para si mesmo: “Hum! Este filho da mãe do António quis esmagar o Coriolano por este ter denunciado o futuro sogro...”
Eis que está à beira do chamado ponto de não-retorno.
No dia seguinte, ao calcular uma viga em I, ou ao conferir o balancete da contabilidade, surpreender-se-á a meditar: “Será que a Excelentíssima Senhora Dona Delfina a quem o Ernesto ofereceu aqueles versos datados de Paredes de Coura, a mesma que era filha do visconde de Fermentelos, que logo depois tudo fez para que ele fosse demitido de escrivão do Cível, no tribunal dessa comarca? Hei-de ver se assim é ou não...”
Chegado aqui já não existe corda com o comprimento necessário para que pudessem rebocá-lo do poço onde caiu.
É do fundo de um deles que lhe envio cordiais cumprimentos e o sábio aviso:
– Pense bem antes de dar o passo fatal...
Manuel.
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RE: Crimes e chacinas praticados pelo Barão do Cas
Caro Manuel,
a minha pergunta foi séria e respeitosa.
E é assim que entendo a sua resposta.
Percebi a sua mensagem. Parabéns pelo seu belo texto! Até lhe digo, é um verdadeiro texto literário. Divertiu-me imenso. Também por isso os meus sinceros agradecimentos.
O caro confrade sabe o meu nome ... talvez mais? Eu gostaria igualmente de saber o seu. Poderá ser?
Informo-o do fundo do poço de que já dei o passo fatal há muitos anos!
Cordiais cumprimentos.
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RE: Crimes e chacinas praticados pelo Barão do Cas
Caro António Morais
Conheço-lhe o nome apenas por ele constar aqui no Tópico.
Se me contactar usando a opção criada para o efeito, terei muito gosto em conversar, de poço para poço.
Dada a circunstância, estou certo de que ninguém nos acusará de superficialidade.
Manuel.
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RE: Crimes e chacinas praticados pelo Barão do Cas
Caro António R. Morais:
Perdoe-me a falta de objectividade na questão que lhe coloquei. Eu desejo informações, pistas, dicas, etc., sobre as investidas do Barão do Casal contra populações que, de alguma maneira, contrariavam as leis novas, durante a Revolução do Minho.
Já tive, neste fórum, algumas orientações bibliográficas, porém não fui bem sucedido nas investigações a que procedi.
O A. Morais refere que no NEPS poderei encontrar algumas fontes credíveis; mas como?
Muito obrigado pela disponibilidade e generosidade que manifestou. bem haja.
A. Henriques Vaz
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RE: Crimes e chacinas praticados pelo Barão do Cas
Caro A. Henrique Vaz,
nada tem que me agradecer, pois que não fui capaz de lhe fornecer quaisquer elementos credíveis subordinados ao tema em questão.
Em relação ao recurso ao NEPS, concordei consigo na sua dita tentativa. Depreendi que talvez estivesse a pensar em consultar os registos de óbito. Algumas vezes os padres referem nesses registos as causas da morte.
É uma hipótese!
Cumprimentos.
António (Justino).
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RE: Crimes e chacinas praticados pelo Barão do Cas
É uma injustiça e uma afronta usar este título neste forum, para quem lutou pela restauração portuguesa, em 1808, com apenas 15 anos, e ajudou a expulsar os franceses do nosso solo pátrio. Viva o Conde do Casal!
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RE: Crimes e chacinas praticados pelo Barão do Cas
Caros confrades,
da mesma forma que os cumprimento com respeito, também lhes digo que a ninguém dignifica a colocação cirúrgica deste tópico neste forum. Dir-me-ão que vivemos em democracia e a Constituição faculta-nos a liberdade de expressão e de pensamento. Mais, que todos temos o direito à descoberta e à investigação de qualquer ciência, inclusive, a histórica. De acordo.
Mas sem pretender ser petulante ou paternalista, tenho para mim que cada ciência tem a sua metodologia ou metodologias e a História tem ainda as suas fontes, que qualquer historiador tem o direito e o dever de as submeter à crítica científica.
O Barão do Casal tem conterrâneos e descendentes que conhecem bem a sua trajectória de vida prosseguida num determinado contexto histórico nacional.
Também sabem os motivos de tanta calúnia encomendada.
Sem qualquer tipo de jactância ou de penas de pavão e sem pretensões a querer ser engraçado, aconselhava-o a ler a sua biografia constante do Dicionário Biográfico Parlamentar (1834-1910), elaborado por competentes historiadores e professores universitários de reconhecido mérito científico.
E creia que se trata de uma biografia com suporte em documentos credíveis e não em jornais afectos a parcialidades, que mais servirão para fazer romances do que para fazer HISTÓRIA.
Sucintamente, começo por dizer que "José de Barros Abreu Sousa e Alvim" ingressou no Regimento de cavalaria de Chaves, em 1806, com 15 anos apenas, e integrado nas forças anglo-lusas, lutou contra os franceses, escorraçando-os do solo pátrio, e vencendo-os em Albuera, Salamanca e Pirenéus, entrando em França com os exércitos aliados.
Foi ferido, mas nunca se acobardou ou desistiu.
No ano em que se comemoram por todo o País os 200 anos da restauração nacional de 1808, após a 1ª. invasão francesa, em 1807, é da mais elementar justiça que se recorde o Conde do Casal com estas linhas.
Combatente experimentado das lutas napoleónicas, foi incorporado na cavalaria da expeição ao Rio da Prata, em 1816, já com a patente de capitão. Gravemente ferido mais uma vez, é promovido a major por distinção.
Em 1824, regressa a Portugal e fixa-se em Lisboa, com a família.Foi ascendendo na sua carreira militar lutando sempre contra os miguelistas e os absolutistas.
Participa na expedição que viria a desembarcar no Mindelo.Em 1833, já com a patente de brigadeiro, está presente em diversos combates que terminam com o armistício de Évora-Monte em 1834. Em 1837 é promovido a marechal-de-campo, após ter derrotado, em cooperação com o general Valdez, os marechais cartistas revoltosos, Saldanha e Terceira.
Durante a revolta da "Maria da Fonte e da Patuleia" (1846/47) é chamado às fileiras governamentais, para combater a Junta do Porto.
Aí é que está a grande questão, os senhores da Junta e seus seguidores nunca lhe perdoaram e o apelidaram de tudo.
Como reconhecimento do mérito da sua actividade militar e política, foi agraciado com as mais elevadas condecorações nacionais e estrangeiras.
Foi também deputado e Par do Reino. Como político destaco apenas o seguinte:
"Na sessão do parlamento de 31.03.1837, faz lembrar ao plenário o atraso do pagamento, de mais de um ano, das pensões dos militares reformados, apresentando um projecto de lei, propondo que aqueles fossem inscritos nos regimentos em que serviam quando estavam no activo" e "na sessão parlamentar de 29.11.1837, declarou que, como militar não pretendia mais do que o seu salário de deputado (debatia-se então o problema das gratificações a atribuir aos generais fiéis ao poder).
Para concluir, resta-me acrescentar que o Conde do Casal sempre alinhou ao lado da legalidade constitucional, ao contrário da maioria, leal à Rainha e aos legítimos governos, nunca cedendo a pressões e a tentativas fáceis para participar em movimentos sediciosos, tão em voga na época.
Como político revelou-se um homem íntegro e honesto, imbuido de um grande espírito de justiça.
António.
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