Cuidado com as "histórias" familiares
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Cuidado com as "histórias" familiares
Meus caros
Todos nós, quando investigamos, deparamos-nos com histórias familiares. Muitas vezes elas tem um fundo de verdade, MAS NUNCA È COMO SE CONTA.
No entanto é uma fonte que nos permite dirigir a nossa investigação e verificar, quando tal é possível, se a história é COMPLETAMENTE VERDADEIRA.
O problema coloca-se quando o acontecimento que se relata tem 200 anos e não há quaisquer documentos que o suportam. Quantos de vós "caíram" nestes relatos...?
Eu normalmente descarto a história, ou relato-a com muitas reticencias...
Hoje li ontem o texto abaixo que "prova" aquilo que digo
A TIA QUE CAIU NO SENA
A conversa era sobre parentes, os parentes estranhos, interessantes ou por qualquer razão notáveis de cada um. Alguém já tinha contado que um parente comia favo de mel com abelha dentro. Outro contara que um tio longínquo se perdera no mato e fora encontrado quase à morte depois de uma semana. Outro que um avô tinha conhecido a Marlene Dietrich em Berlim. Outro que uma tia-avó fora miss, ou que um primo jogava futebol profissional e até não era ruim. Foi quando Alda, timidamente, sem saber se o que tinha para contar merecia ser contado, disse:
— Eu tenho uma tia que caiu no Sena. Ficaram todos esperando que ela continuasse,
mas não havia mais nada para contar.
— Como foi que sua tia caiu no Sena?
— Não sei.
Mas como, não sabia?
— Não sei. Sempre ouvi contarem em casa que a tia Belinha tinha caído no Sena, mas nunca perguntei como.
— E a tia Belinha nunca contou?
— Não. Ela foi morar em outra cidade. Nos vi¬mos pouco. E eu nunca me lembrei de perguntar.
— Ela ainda vive?
— Vive.
Aquilo não podia ficar assim. Uma pessoa não podia cair no Sena e fim de história. Era preciso investigar. Caíra no Sena como? Porquê? Fora um acidente? Caíra de um barco? Caíra de uma ponte?
Alda foi intimada a descobrir tudo o que pudesse sobre a queda da tia Belinha no Sena e contar para o grupo.
A mãe não ajudou.
— Foi quando ela esteve em Paris...
— É óbvio, mamãe. Mas quando foi isso? Ela estava sozinha? Foi com alguém?
— Não me lembro.
— Ela não contou como caiu no rio?
— Contou. Deve ter contado. Senão como é que a gente ia saber que ela tinha caído? Contou. Mas eu não me lembro. Faz tanto tempo.
— Vou falar com ela.
A tia Belinha nunca se casara. Estava internada numa clínica. Sempre fora pequena e magra e com a velhice ficara ainda menor e mais magra. Mas os olhos continuavam vivos. Fez uma festa quando viu a sobrinha.
— Aldinha!
— Como vai, titia?
— Eu não vou mais, minha filha. Eu agora só fico.
— Mas a senhora já andou bastante, hem, titia? Lembra de quando foi a Paris?
— Ah, Paris, Paris. Nunca mais voltei. Fiquei só com as lembranças da¬quela vez. As lembranças me fazem companhia e me consolam.
— Como foi que a senhora conseguiu cair no rio, titia?
— Que rio?
— O Sena.
— Eu caí no Sena?!
— A senhora mesmo contou.
— Meu Deus, é mesmo. Eu caí no rio. Eu caí no Sena! Como foi aquilo, meu Deus? Eu não consigo...
E seus olhos de repente perderam o brilho. Quando falou outra vez foi pa¬ra se queixar da sua memória. Nem aquele consolo lhe restava. Nem as lembranças tinha mais. Como fora que ela caíra no Sena?
Alda contou para o grupo que a tia Belinha tinha ido sozinha a Paris e lá conhecera um conde francês, ligeira¬mente arruinado e ligeiramente maluco, com quem tivera um tórrido ca¬so de Verão. Numa noite quente, dançando numa margem do Sena, de¬pois de muitos copos de champanhe, os dois tinham tropeçado e...
LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO ( Em “Actual”, do Expresso de 17Jan2009)
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RE: Cuidado com as "histórias" familiares
Caro Jose Charters d' Azevedo
Estória bem engraçada.
Não resisto em transcrever uma passagem de outra das inumeras estórias do Luís Verissimo, sobre um homem que coleccionava botecos asquerosos:
" Uma vez contara, extasiado uma cena. Terminara de comer uma inominável almôndega, pedira o palito para o dono do boteco e desencadeara uma busca barulhenta e mal-humorada, com o dono procurando por toda a parte e gritando para a mulher:
- Cadê o palito?
Finalmente o dono encontrara o palito, atrás da orelha, e o oferecera. Ele se emocionava só de contar.»
Boa semana.
Cumprimentos,
joão mamede
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RE: Cuidado com as "histórias" familiares
Caro ricardo,
Adorei a estória.
Já me aconteceu estando a fazer preguntas sobre antepassados até de outras famílias dizerem:
Ah , esse foi General.
E vá de ir ao AHM e muitas das vezes fora apenas Capitão
Ou esse era meu trisavô.
E conseguimos uma bela árvore de costados, mas descobrimos que não são daquele ramo legítimo mas de um devaneio...
Enfim mas dá sempre para dar uma boa gargalhada matinal ou uma risadinha
Um abraço
Maria
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RE: Cuidado com as "histórias" familiares
Caro Ricardo Charters d´Azevedo
Por favor aceite as minhas desculpas pela troca involuntária do seu nome.
Meus cumprimentos,
joão mamede
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RE: Cuidado com as "histórias" familiares
Cara Maria
Efectivamente. A publicação do meu livro fez ficar triste alguns elementos da minha família: disseram: "tinhas de contar isso?" Tratava-se de um trisavô meu que era considerado bastante respeitável, mas eu descobri, que o era, sim, mas foi sempre padre.
E o outro caso de um que se tinha casado com 3 mulheres irmãs sequencialmente pois tinham morrido, mas a situação que encontrei foi que ele se casou com uma senhora com 28 anos mais, mas que tinha estado casada com dois outros muito ricos !
Etc...
Cumprimentos
Ricardo Charters d'Azevedo
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RE: Cuidado com as histórias familiares
Caro João Mamede
Mas não tem de pedir desculpa. Eu não assinei a mensagem... esqueci-me. Culpa minha. E José não é um mau nome!
Estava tão entusiasmado em envia-la que coloquem as referências do artigo que me esqueci de colocar o meu nome
Cumprimentos
Ricardo Charters d'Azevedo
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