A que correspondem 26.000 cruzados actualmente?
Este tópico está classificado nas salas: Património
A que correspondem 26.000 cruzados actualmente?
Caros Confrades,
Muito agradecia que me informassem sobre a correspondência para a actualidade em termos monetários de 26.000 cruzados que constituiam o património de uma família em 1785.
Obrigado,
PBL
Link directo:
RE: A que correspondem 26.000 cruzados actualmente?
Caro PBL:
Cada Cruzado valia 400 reis portanto 26.000 cruzados seriam 10.400.000 reis ou dez milhões e quatrocentos mil reis. Pouco mais de dez contos de reis.
Cada pipa de vinho do Porto era paga, nessa época no Douro, a cerca de 40.000 reis. Teríamos pois, cerca de 260 pipas de vinho.
Diria que actualmente, não essa pipas de vinho mas a importância em si, corresponderia a cerca de 20.000 vezes mais. Cerca de 200.000 mil contos.
Cumprimentos
António Taveira
Link directo:
RE: A que correspondem 26.000 cruzados actualmente
Caro António Taveira,
Começo por lhe agradecer a amabílissima resposta.
Quer, então, dizer que 26.000 mil cruzados daria para viver à lei da nobreza em 1785, na sua opinião?
Cumprimentos,
PBL.
Link directo:
RE: A que correspondem 26.000 cruzados actualmente?
Caro António Taveira,
Daria 26.000 cruzados para viver à lei da nobreza em 1785?
Cumprimentos,
PBL.
Link directo:
RE: A que correspondem 26.000 cruzados actualmente
Caro PBL:
Claro que sim.
Recordo-me de ver escrituras de dote de dez mil cruzados a nubentes que, sem margem para dúvidas, viriam a viver "à lei da nobreza".
Cumprimentos
António Taveira
Link directo:
RE: A que correspondem 26.000 cruzados actualmente
Caro António Taveira,
Agradeço mais esta sua resposta.
Cumprimentos,
PBL.
Link directo:
RE: A que correspondem 26.000 cruzados actualmente?
Peço desculpa pela intromissão. Mas o que significa "viver à lei da nobreza"?
Cumprimentos,
António Franco
Link directo:
RE: A que correspondem 26.000 cruzados actualmente?
Caro Confrade:
Segundo a obra "O valor do dinheiro" de Pedro Vasconcelos, publicada em 1999, uma "peça" de D. Maria I, em 1789, que valia 6400 réis, corresponderia a 27 contos de 1999. Fazendo a proporção, uma vez que 6400 réis seriam 16 cruzados, cada cruzado valeria 1.687$50 de 1999 e portanto 26.000 cruzados corresponderiam a 43.875.000$00 de 1999. Desta maneira obtemos uma quantia mais reduzida que a calculada pelo confrade António Taveira, mas não conheço os fundamentos precisos
dos cálculos de Pedro Vasconcelos, embora ele faça considerações que parecem razoáveis no prefácio do livro. Por outro lado nesse livro considera-se que um cruzado ("novo", a partir de 1688) valeria 480 réis e não 400 réis; com esse valor então 6400 réis seriam apenas 13,(3) cruzados e cada cruzado já valeria 2.025$00 de 1999 e 26.000 cruzados 52.650.000$00. A dificuldade é que os diferentes tipos de bens valorizaram-se de maneiras muito diferentes, pelo que é sempre relativamente subjectivo qual o critério a adoptar para comparar quantias em dinheiro. A terra, por exemplo, valorizou-se em geral astronomicamente mais que a maioria dos outros bens (Pedro Vasconcelos dá o exemplo de uma quinta cujo valor se multiplicou por 5.000.000 desde meados do século XIX até 1999 - passou de 200.000 réis, valor pela qual foi comprada naquela época, cerca de 1 euro, para 5.000.000 de euros!); assim o valor comparativo atribuído baseia-se numa ponderação de valores dos "bens essenciais", cálculo sempre dependente de escolhas não totalmente objectivas.
Cumprimentos,
António Bivar
Link directo:
RE: A que correspondem 26.000 cruzados actualmente
Caro António Bívar,
Agradeço a resposta.
Efectivamente 26.000 cruzados era quantia suficiente para que o proprietário tivesse obrigado todos os bens à instituição de vínculos aprovados por decreto de D. Maria I.
E portanto insituidos no âmbito da restritiva lei de 1770. Para além disto era ainda proprietário de uma quinta que comprou em 1765 por cerca de 3 contos de réis e é documentado em registos da época como vivendo com " boa economia".
Deduzo, por isso, que 26.000 cruzados fosse muito mais do que 52.650.000$00, não obstante, ser significativa a explicação dada.
Por último, sublinho que o autor de " Privilégios da Nobreza e Fidalguia em Portugal", o fidalgo de cota de armas: Luís da Silva Pereira Oliveira, " vivia limpa e abastadamente de seus bens avaliados em 10.000 cruzados".
Cumprimentos,
Pedro Borges de Lemos.
Link directo:
RE: A que correspondem 26.000 cruzados actualmente
Caro Pedro Borges de Lemos:
De facto a transposição de quantias puras só por si não permite perceber inteiramente o significado de determinado rendimento em épocas passadas. Nem é preciso recuar muito no tempo; na minha infância, uma televisão ou um carro eram bens de luxo e a primeira máquina de calcular que comprei quando entrei para a universidade em 1972 custou-me 5.000$00, o que deve corresponder a valores actuais a pelo menos 200.000$00. Lembro-me de pagar à volta de 50.000$00 por um bilhete de avião de ida e volta para Paris há uns trinta anos, o mesmo que se paga hoje em dia (ou mesmo bem mais se se levar em conta os "low-cost"); o preço do avião, que era na altura o que mais pesava numa viagem (a estadia estava por vezes incluída no preço do avião sem grande agravamento), tornou-se actualmente quase irrelevante.
Os bens móveis, roupas, etc. no século XVIII deviam ser comparativamente muito mais caros que actualmente, e, ao contrário, os bens fundiários e imóveis muito mais baratos; viver na província "à Lei da Nobreza" para quem dispusesse de terras próprias deveria ser comparativamente muito mais barato que na actualidade e incomparavelmente mais barato que na Corte, na mesma época. Deste modo, qualquer tradução automática que se faça de quantias puras não dará ideia exacta do que se conseguia comprar com essa quantia nem exactamente qual o tipo de vida que se podia fazer.
Tenho um inventário de jóias e algumas pratas de 1772 em que se pode ficar com uma ideia de valores relativos; assim "um tinteiro de prata com suas tarjas" foi avaliado em 38$400 réis o que daria cerca de 150 contos pela avaliação de Pedro Vasconcelos e cerca de 600 contos pela estimativa do confrade António Taveira. Qualquer das valorizações é defensável, levando em conta diferentes critérios, embora possivelmentre se consiga comprar hoje em dia um objecto semelhante talvez por um valor mais próximo do mais baixo, mas por outro lado tais objectos na época poderiam ser comparativamente mais caros; "um adereço de brincos e laço de brilhantes e esmeraldas" aparece avaliado por 1.200$000 réis (um conto e duzentos) o que daria respectivamente perto de 20.000 contos ou de 5.000, mas os valores de jóias são talvez mais difíceis de interpretar.
Cumprimentos,
António Bivar
Link directo:
RE: A que correspondem 26.000 cruzados actualmente
Caro António Bivar,
Realmente concordo quando diz que é impossível fazer comparações entre rendimentos de épocas tão diversas. De qualquer forma, falo de um proprietário do séc. XVIII que viveu em Vila Franca de Xira, era clérigo, professo e prior da Ordem Terceira do Carmo, e para viver como clérigo professo do Carmo não acredito que precisasse de muito luxo ou ostentações. De qualquer maneira para ser fidalgo cavaleiro da Casa Real no reinado de D. Maria I eram precisos 25.000 cruzados, sendo um fidalgo cavaleiro um membro da nobreza principal, digamos, que um património desta monta significaria, com certeza, viver muito abastadamente.
Cumprimentos,
Pedro Borges de Lemos.
Link directo:
Mensagens ordenadas por data.
A hora apresentada corresponde ao fuso GMT. Hora actual: 30 nov 2024, 16:50