zona de arroios e praca do chile

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zona de arroios e praca do chile

#333696 | JRaposo | 10 ago 2013 17:57

na praca do chile e arroios em lisboa anos 50 60 quem conheceo um rapaz com alcunha do caracol obrigados bem ajam

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RE: zona de arroios e praca do chile

#333706 | HRC1947 | 10 ago 2013 22:51 | Em resposta a: #333696

Caro Raposo;
Explique melhor essa do rapaz com " alcunha " de Caracol!...
" Nem tanto ao mar.... nem tanto à terra!!!....
Esperamos aqui por si.
HRC
-

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RE: zona de arroios e praca do chile

#333707 | manuelr | 10 ago 2013 22:58 | Em resposta a: #333696

Caro Raposo

O sempre noivo, ainda conheci. Conheci tb um que passava as noites na Praça do Chile a fazer discursos à estátua do Fernão de Magalhães, mas não sei se tinha alcunha.

Cordiais cumprimentos
Manuel da Silva Rolão

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RE: zona de arroios e praca do chile

#333737 | MariaDavid | 11 ago 2013 23:03 | Em resposta a: #333707

Boa noite, caro Manuel Rolão

Faz muito tempo que não o vejo. Espero que esteja bem de saúde.A verdade é que também não tenho aparecido na TT nem em Castelo Branco mas sempre vou sabendo de si pelo seu irmão.

Achei muito curioso o facto de se lembrar do sempre noivo! Também eu me lembro bem dele. Contaram-me a história, julgo que verdadeira e que em síntese se resume a isto: foi largado à porta da igreja pela noiva e mulher que ele amava e idolatrava. O choque foi tão grande que enlouqueceu. Era de um nível social muito bom e a família tinha dinheiro. Descia a Av.da Liberdade, deambulava pelos Restauradores, Rossio, Praça da Figueira. Era acompanhado à distância por um homem que funcionava como guarda-costas, não fosse o "noivo" meter-se em sarilhos. Dizia-se que esse homem era pago pela família. Andava sempre vestido de casaca e flor branca na lapela, às vezes trazia cartola, outras o cabelo arrumado com brilhantina. Falava alto, discursava quando lhe apetecia, mas era absolutamente inofensivo e ao mesmo tempo triste de ver. É provável que já não esteja vivo devido à idade. Um personagem das histórias de Lisboa.

Boa semana e boas férias!
Abraço
Maria

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RE: zona de arroios e praca do chile

#333739 | manuelr | 11 ago 2013 23:37 | Em resposta a: #333737

Olá Maria David

Eu tb não tenho aparecido muito e com este calor nem dá vontade de sair de casa:)
Pelo que ouvi na altura, a noiva teria morrido de desastre quando ia para a Igreja. Não sei qual será a verdade, o que é certo é que enlouqueceu e andou sempre vestido de casaca e flor branca. Mas era uma figura bem conhecida em Lisboa e frequentava tb a Mexicana e a Suprema.

Beijos
Manuel da silva Rolão

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RE: zona de arroios e praca do chile

#333740 | JCC | 11 ago 2013 23:58 | Em resposta a: #333739

Encontrei este texto, sobre o Sempre Noivo,será o mesmo?

"As cidades têm as suas epilepsias. Durante anos, a epilepsia de Lisboa era a aparição dele. Em paragens rápidas e passadas largas, percorria o Rossio e o Chiado, atroando o ar com a voz dos seus gestos e os gestos da sua voz. Havia nele fúria, ameaça e castigo. Entrava nos cafés (Nicola, Café Chiado, Brasileira), gritava o que tinha a gritar e saía ainda mais veemente, prosseguindo a sua imprecação contra os homens. As pessoas ficavam estupefactas. Num país que falava em voz baixa, aquele cume verbal intimidava. Para mais, ele exibia-se: calçava sapatos de verniz e vestia jaquetão com camisa branca e calças de fantasia. A gravata clara de cetim com uma pérola e a flor na lapela davam-lhe um ar nupcial. Passou, por isso, a correr na cidade aturdida pelos seus brados uma história que assim contava: no dia do casamento, quando esperava a noiva no altar, foi-lhe dada a notícia de que morrera. Noutra versão, menos "à Soares de Passos", ela estava viva, mas não apareceu. Essa morte ou essa recusa tinha-o endoidecido, e uma psicanálise popular via na obsessão pelo traje nupcial a fixação àquele momento trágico em que lhe fora negado o casamento e a felicidade. Chamavam-lhe, por isso, o "sempre noivo".
Quando me cruzava com os seus olhos desorbitados e a sua cara lívida, a que um cabelo pintado de negro e subjugado à brilhantina dava um tremendo ar sepulcral, passei a estar atento às suas palavras, tornadas quase imperceptíveis pelo furor que as atropelava. Escutei-as, tornei a escutá-las e pasmei ao concluir que afinal nelas não havia sinal do casamento frustrado. O seu epiléptico e ameaçador discurso era puramente moralista. Atacava o vício e defendia a virtude, ameaçando o mundo e quem lá andava. Na sua fogueira verbal ardiam palavras como "impureza", "podridão", "imperfeição". Soube que este Savonarola, que fazia do centro de Lisboa a sua Florença de bolso, era pintor. E descobri (informação mais tarde confirmada numa entrevista sua) que, afinal, a história do casamento falhado era falsa. Como explicar então aquele traje? Ele usava-o como imagem da perfeição e da beleza de que se tornara arauto e guerreiro.

Um dia, vi a sua pintura, constituída por "vistas nocturnas" de Lisboa, e, de repente, tudo fez sentido. Esses quadros, que, no seu entender, constituíam a alternativa ao mundo imundo que amaldiçoava, eram de um convencionalismo morto e de um conformismo visual irremediável. Fora, afinal, em nome daquela pobre perfeição e daquela triste beleza que ele se fizera moralista e pregador, gritando sem parar pelas ruas da cidade, com as calças às listas e a flor na banda do jaquetão.

Quando, às vezes, oiço as vozes alteradas de alguns moralistas, lembro-me do Arnaldo Ferreira (assim se chamava), dito o "pintor da noite", cujo nome foi dado em tempos a uma rua de Lisboa, com o único e lúcido voto contra do António Valdemar. Também esses moralistas gritam por virtude e por pureza. Também eles vestem as suas ideias de rigor e ameaça. Também eles nos querem impor o horrível mundo, que acham belo e perfeito, das suas visões prepotentes e sombrias.

José Manuel dos Santos (in Expresso 11 de Fevereiro de 2011)



Ler mais: http://expresso.sapo.pt/o-arnaldo=f236878#ixzz2bhidtr7f2

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RE: zona de arroios e praca do chile

#333743 | MariaDavid | 12 ago 2013 01:14 | Em resposta a: #333740

Olá, João, boa noite

Que bom ter trazido aqui esse relato. Efectivamente, trata-se da mesma pessoa mas eu desconhecia que ele era pintor. Sobre a variedade do seu discurso, havia momentos que pareciam de uma lucidez estonteante, outros em que as palavras se atropelavm, a raiar a loucura pura. Passava rapidamente de uma fase a outra. E quando enveredava por um discurso pseudo-moralista, a maior parte das vezes quem se cruzava com ele mostrava sinais de concordância.
Vi-o bastantes vezes a subir ou descer a Rua Garret e uma tarde, ao vê-lo entrar na Brasileira do Chiado, apercebi-me que quem estava sentado às mesas olhavam com respeito para aquela figura, sem qualquer gesto de animosidade ou impaciência, talvez porque soubessem o drama daquele homem. Timbre de voz muito claro, gestos de mãos teatrais, sempre limpo, era uma figura inesquecível.

Boas férias, se for o caso e até setembro, não é mesmo?
maria

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RE: zona de arroios e praca do chile

#333744 | MariaDavid | 12 ago 2013 01:31 | Em resposta a: #333739

Caro Manuel Rolão, anime-se que as temperaturas vão baixar um pouco!

Maria

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RE: zona de arroios e praca do chile

#333756 | manuelr | 12 ago 2013 16:28 | Em resposta a: #333740

Caro João Cordovil Cardoso

Agradeço a transcrição do artigo, que desconhecia completamente. Realmente lembro-me dele com os dois comportamentos. Tanto entrava e saía sem uma palavra, como não se calava desde que entrava até que saía. Mas digo como a Maria David, nunca vi um olhar de crítica, nem comentário desagradável.Talvez Lisboa se tenha convencido que aquele comportamento se devia à tragédia indicada e o olhasse tanto com pena como com consideração.

Cordiais cumprimentos
Manuel da Silva Rolão

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