Armas de titulares

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Armas de titulares

#337206 | Tiago Picão | 24 out 2013 18:39

Boa tarde,

Vinha aqui colocar uma questão.
Todos os titulares do reino de Portugal tinham armas? A minha dúvida prende-se com dois titulares do final do séc. XIX, o Visconde de Ouguela e o Conde de Alcântara, ambos títulos concedidos em vida a pessoas de baixa condição que ascenderam socialmente no fim da vida (o típico caso de self-made man), e sobre os quais eu estou a fazer um pequeno estudo para uma monografia. De conversa com um amigo, foi-me dito que todos os títulos de nobreza teriam associados um brasão de armas, pelo que seria bastante provável estes dois também o terem. Será isto verdade? E se sim, onde poderei procurar as respectivas armas? Ou seriam armas assumidas?

Obrigado,

Tiago Picão de Abreu

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RE: Armas de titulares

#337259 | 6099 | 25 out 2013 20:49 | Em resposta a: #337206

Caro Tiago Picão de Abreu:

1) Carlos Ramiro Coutinho, Visconde de Ouguela, foi também Barão de Barcelinhos pelo casamento com sua mulher D. Rita Soares de Oliveira (que por sua vez tinha sido Baronesa deste título pelo seu primeiro casamento, renovado no segundo a seu marido e novamente renovado no terceiro com este Carlos Ramiro Coutinho). Segundo o vol. III, pág. 81/82 da "Nobreza de Portugal e do Brasil", recebeu armas: escudo partido de 1º.) Coutinhos e 2º.) esquartelado de Oliveiras (I e IV) e Ribeiras (III e III), com coroa de Visconde e timbre de Coutinhos.

2) O título de Conde de Alcântara existiu em duas famílias diferentes, sendo um atribuído em 25.5.1858 (D. Pedro V) a Rodolfo Maria Bernardo (Conde de Stillfried-Rattonitz, na Prússia) e outro em 6.5.1890 (D. Carlos) a João José de Alcântara, que foi assim elevado à Grandeza, depois de ser Visconde de Alcântara. Na mesma fonte não se referem armas para nenhum deles, mas não significa que não lhes tivessem sido atribuídas.

3) Se consultar a obra referida em 1), encontrará o desenvolvimento biográfico dos referidos titulares.

4) Não sou especialista nem em Heráldica em geral, nem nesta matéria em particular, mas estou tendente a concordar com o seu amigo, já que observo que a imensa maioria dos titulares teve armas - ou novas, ou da sua ascendência, mas que eu saiba, seria pouco provável um titular assumir armas e não pedir o seu reconhecimento. Se folhear, por exemplo, o Anuário da Nobreza de Portugal (III, Tomo I, 1985), terá difculdade em encontrar algum título que não tenha armas associadas.

Cumprimentos,

José Paulo C. F. da Bandeira de Figueiredo

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RE: Armas de titulares

#337285 | Tiago Picão | 26 out 2013 03:06 | Em resposta a: #337259

Muito obrigado pela resposta. No caso do Visconde de Ouguela já tenho a informação que pretendo. Só resta saber se João José de Alcântata, Conde de Alcântara, tinha armas ou não. Já consultei a Nobreza de Portugal e do Brasil e o Arquivo do Sanches de Baena e não encontrei nada sobre as armas deste. Não me sabe indicar outra fonte onde possa pesquisar? Será possível que esteja no Livro do Armeiro-mor?

Cumprimentos,
Tiago

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RE: Armas de titulares

#337594 | 6099 | 03 nov 2013 08:45 | Em resposta a: #337285

Caro Tiago Picão:

Não sei onde poderá encontrar a informação que pretende, mas a título de curiosidade, ao ler casulamente um interessante trabalho de Paulo Duarte de Almeida intitulado de "Heráldica Funerária ns Cemitérios de Coimbra -III" e que foi publicado na Revista Lusófona de Genealogia e Herádica, encontrei um texto que poderá servir de complemento informativo sobre armas de titulares.

Diz-se na nota de rodapé nº. 2, da pág. 125, do volume nº. 4 da referda revista, a propósito do Jazigo de Família dos Condes do Ameal, que as armas nele constantes foram atribuídas ao 1º. Conde DEPOIS da atribuição do título, na sequência de um seu pedido, feito a 2.8.1901, em que este alegou que o uso de brasão de armas era privilégio inerente ao uso de títulos nobiliárquicos. Tal argumento, consta inclusivamente no alvará régio de D. Carlos I datado de 15.11.1901, referindo-se que "atendendo ao pedido que me representou o Conde do Ameal (...), considerando que o brasão de armas é inerente aos titulares, por estilo seguido desde longa data (...), hei por bem fazer mercê (...)", etc.

Pode tirar-se portanto duas conclusoes: a primeira é que houve titulares a quem foi atribuído o título, mas que por qualquer motivo administrativo não receberam armas; a segunda é que supostamente todos eles teriam direito à sua atribuição por inerência. Se o Conde de Alcântara as recebeu ou não, é que não sei.

Cumprimentos,

José Paulo C. F. B. de Figueiredo

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RE: Armas de titulares

#337629 | Sérgio Sodré | 04 nov 2013 15:13 | Em resposta a: #337206

Caro colega de forum

Os títulos de nobreza não tinham um brasão associado. Uma coisa era a título outra a carta de brasão-de-armas. Quem recebia um título podia pedir uma carta-de-armas mas muitos não o faziam pelo que, ou não usavam brasão ou então usavam um não reconhecido legalmente à sua pessoa (os brasões legalizados eram sempre só da pessoa a quem eram reconhecidos oficialmente por carta-de-armas).
O simples facto de obter um título dava direito a ter um brasão. Se não houvesse armas de família nos seus antepassados conhecidos, pedia-se armas novas. Por vezes, as autoridades davam armas dos apelidos (mesmo sem ligação provada às famílias antigas nas quais esse apelido surgiu) ao invés de criarem novo simbologia.
Se não fossem pedidas armas, o titular, que usasse brasão, cometia a mesma infração que qualquer pessoa que resolvesse usar brasão por sua livre vontade com todos os erros heráldicos e genealógicos inerentes aos não especialistas nestas áreas.
Penso que seria assim.

Sérgio Sodré

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RE: Armas de titulares

#337641 | GASC | 04 nov 2013 19:51 | Em resposta a: #337629

Muito boas e úteis para mim as manifestações do Sr. Figueiredo e do Sr. Sodré. Aproveito para cumprimentar o meu primo Sérgio Sodré.
O mesmo que foi tratado pelos dois estudiosos vale para o Brasil. Cumpria gasto de muito bom dinheiro para obterem-se armas no tempo do Império do Brasil. Um titular, por falta de recursos ou de cuidado, podia não ter armas. Como no caso brasileiro, os nobilitados eram-no, em regra, por serem muito ricos e menos por méritos de outra ordem, dificilmente observar-se-á a "fidalguia do esquecimento" da dita providência vaidosa, ou os poucos recursos para fazer frente a ela.

Gilberto de Abreu Sodré Carvalho

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RE: Armas de titulares

#337643 | JC | 04 nov 2013 21:16 | Em resposta a: #337629

Caro Sérgio Sodré,

Teve oportunidade de ver a mensagem que lhe enviei em:

http://www.geneall.net/P/forum_msg.php?id=336785&fview=c

Peço desculpa ao autor deste tópico de ter introduzido aqui esta mensagem, alheia ao tópico.

Cumprimentos,

José de Castro Canelas

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RE: Armas de titulares

#340678 | jmfdpch | 09 jan 2014 13:59 | Em resposta a: #337594

Caro José Paulo C. F. B. de Figueiredo,

Junto as minhas palavras à de Sérgio Sodré, pois de facto ainda hoje a esmagadora maioria das pessoas em Inglaterra que receberam honras da Rainha, não chegam a pedir armas ao Royal College, isto pelas mais diversas razões.

Muitas vezes isto deve-se ao facto de a concessão de armas, da sua confirmação ou simples alteração de uma diferença, seja por motivo de sucessão ou por casamento, requerer sucessivos pedidos ao longo da vida normal de cada brazonado.

Muitas pessoas ficam-se pelo “brazão de família”, sem saberem que na realidade este não existe, pois todas as armas são individuais, e sujeitas a alterações durante a vida, seja por altura da sucessão no nome e título (alteração da brisura, elmo e coronel), concessão de uma ordem de cavalaria (alteração do elmo), a criação de um título (alteração do coronel e do elmo), ou por casasamento (alteração das armas ou da partição do escudo, no caso das senhoras), etc.

Um tal processo é frequente sobretudo para membros da Casa Real, sobretudo devido à exposição e curiosidade popular (por exemplo, pelas armas de Camilla Parker-Bowles, ou de Catherine Middleton, bem como pelas armas resultantes em virtude dos respectivos casamentos).

Mas fora da Casa Real britânica, e sem querer menosprezar o trabalho do Royal College, importa notar que no fundo, o resultado material de todo o tempo gasto e de todo este processo, repetido a cada uma das alterações – e não havendo qualquer interesse comercial ou corporativo na concessão das armas – é no fim de contas, uma caríssima folha de pergaminho guardada numa gaveta... Mas enfim, para quem se interessa pelo seu legado familiar é uma parte integrante do seu património imaterial,

Cumprimentos,
jmfdpch

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