No reino dos Silvas, Santos e Pereiras
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No reino dos Silvas, Santos e Pereiras
Uma curiosidade sobre a prevalência dos sobrenomes mais usados em Portugal, com levantamento estatístico relativamente ao primeiro semestre deste ano.
CM
http://expresso.sapo.pt/sociedade/2015-10-18-No-reino-dos-Silvas-Santos-e-Pereiras
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No reino dos Silvas, Santos e Pereiras E DA FANTASIA JORNALÍSTICA
Caro Carlos Miranda:
Obrigado por ter partilhado este artigo do «Expresso».
Fica sempre bem num «fórum» de genealogia.
No entanto, este artigo vale o que vale.
Como hoje, felizmente, foi retomada a velha tradição portuguesa em que a formação dos nomes não é rígida e fica ao critério dos pais, a estatística tem um valor pouco significativo.
Quanto ao texto da autoria de Carolina Reis é uma amálgama de lugares comuns, erros inaceitáveis e afirmações incoerentes, que mais parece trabalho de «corte e costura» de textos dispersos pela internet.
Há nele uma afirmação absurda que pode induzir em erro os mais incautos:
«Dos nomes dos pais veem (SIC) os Henriques, filhos de Henrique, os Fernandes, filhos de Fernando, os MENDONÇAS, FILHOS DE MENDO, os Enes, filhos de João.»
Entre três deduções correctas, aparece a aberração do Mendonça filho de Mendo.
Toda a gente sabe que o filho de Mendo é MENDES e que Mendonça é um apelido de origem geográfica, como atesta a preposição «de» que normalmente o antecede. A forma original era «Mendoza» e foi adoptado da homónima localidade espanhola.
Se assim não fosse, logicamente, os filhos de Henrique seriam «HENRICONÇAS» e os de Fernando seriam «FERNANDONÇAS»…
Cumprimentos,
José Caldeira
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No reino dos Silvas, Santos e Pereiras
Caro José Caldeira,
Muito agradeço a mensagem. A publicação num jornal de referência, como se diz, de um artigo que se propõe elucidar sobre estes temas, é por si um facto relevante num país, que, pese embora uma minoria de aficionados, é geralmente alheio a estas coisas – talvez fruto de desinteresse e falta de instrução relativamente as coisas do passado em geral. Louvo a intenção do artigo, mas, aí concordamos, o resultado não é o melhor. O texto é uma misturada incompreensível, do tipo “corte e costura” online, como diz, e é o resultado de falta de capacidade de interpretação e filtragem das fontes orais e escritas. Também me dá ideia que que o artigo foi revisto muito à pressa porque - pelo menos uma das frases, como está, nem sequer tem lógica no encadeamento do argumento (embora se perceba o que a autora quer afinal dizer).
Para além desse erro grosseiro que menciona (patronimico de Mendo - "Henriconça" e "Fernandonça" é muito bom!), há muitos outros, como refere aliás. Por exemplo, é feita uma confusão entre apelidos compostos (Mil-Homens, por exemplo) e nomes familiares que são compostos de vários antropónimos originalmente independentes (Cavaco e Silva, por exemplo). Quanto à perpetuação do nome da patrilinhagem, como sabemos houve sempre excepções, consistentes ao longo do tempo (para não falar que houve o costume de as senhoras adoptarem sobretudo o nome de família da mãe). Além disso há a confusão que se faz normalmente entre estruturas familiares patriliniares e estruturas familiares patriarcais (patriarcais tendem a ser todas as estruturas sociais tradicionais).
Quanto à estatística vale pelo seu valor facial. Mas nesse sentido, e permita-me discordar, acho que se reveste de algum interesse, não porque nos diga qualquer coisa concreta sobre a genealogia dos bebés de 2015, mas porque os nomes de família são por si um elemento importante do património cultural e linguístico e da própria investigação genealógica (mesmo que saibamos a relação de parentesco entre duas pessoas do mesmo apelido é meramente potencial). Peca por se referir a um curto período.
Uma questão que surge misturada no texto, e por isso sem grande leitura, mas que não deixa de ter o seu interesse é o abandono de certos apelidos que tinham conotações depreciativas, processo análogo à substituição de certos topónimos por novas designações (Amadora é uma das mais conhecidas). Neste sentido a continuidade de determinados sobrenomes, reflectidos na estastítica (ainda que de forma parcial) também reflecte, para além de laços familiares, aspectos de “gosto”, que levam em conta o significado linguístico, a forma como soam e como interagem semanticamente sons que compõem nomes sem significado reconhecível, o prestígio ou des prestígio associados a certos nomes.
Aprecio muito ter respondido, já tenho lido bastante do que tem escrito no forum e aprendido muito com isso.
Com os melhores cumprimentos,
Carlos Miranda
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