Guedes Vaz Governador de Cabo Verde

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Guedes Vaz Governador de Cabo Verde

#380283 | Joman | 24 abr 2017 05:31

Caro confrade, conforme prometido no tópico, Joaquim José Machado, Governador da Índia, segue a biografia que escrevi sobre o seu bisavô, que é centrada na sua passagem por Cabo Verde.

VAZ, António Álvares Guedes - Nasceu em 13 de Julho de 1871 na cidade do Porto e faleceu a 10 de Fevereiro de 1952 em Lisboa. Aluno do Colégio Militar seguiu a carreira das armas (Infantaria) tendo servido em Moçambique durante a 1ª Guerra Mundial. Foi nomeado governador de Cabo Verde a 29 de Dezembro de 1926 e exerceu o cargo de 9/01/27 a 16/01/31 tendo passado à reserva em 14 de Fevereiro de 1931 com o posto de coronel (apenas um mês depois de deixar o cargo!). Apesar de ter seguido a carreira militar a sua vocação era outra pois revelou-se um homem virado para as coisas de cultura e educação e como um literato apreciador de poesia tendo cultivado géneros como comédias, operetas e revistas e traduzido para o português obras de autores estrangeiros. Quando comparado com outros governadores seus antecessores, vê-se que tinha uma visão diferente das relações entre os homens e das prioridades em matéria de governo e para ele a repressão não era sinónimo de governar ou de manter a ordem. Assim se compreende que tenha louvado no Boletim Oficial, pelo menos por duas vezes, o antigo proscrito Eugénio Tavares; que se tenha lembrado de aproveitar os conhecimentos do poeta José Lopes da Silva nomeando-o professor de latim do Liceu; que tenha promovido a Semana dos Poetas em que juntou no Mindelo Tavares e Lopes, com o povo gritando "Vivam os nossos poetas"; etc. No combate à desertificação promoveu a arborização do arquipélago desencadeando campanhas com esse objectivo chegando a permitir que se publicasse no próprio Boletim Oficial textos em crioulo sobre este tema e patrocinou a fundação da Associação Escolar Florestal do Mindelo. No campo da educação apoiou a elevação do Liceu Infante D. Henrique do Mindelo a Liceu Central para além de encentivar todas as iniciativas tendentes a desenvolver o ensino em Cabo Verde como a Escola Secundária Coronel Guedes Vaz na Ilha Brava, a Caixa Escolar Praiense, a Caixa Escolar do Mindelo e a Caixa Escolar Sanicolaense. Também apoiou a vida associativa tendo sido, coincidência ou não, no seu governo que se fundaram o Grémio Literário e Desportivo da Ponta do Sol, o Sporting Club de S. Vicente, e o Club Sportivo Derby. Revelava-se assim como um promotor do desenvolvimento da educação e um protector da cultura cabo-verdiana.
Essa visão diferente, diríamos mesmo, cultural, da relação entre os homens, é que explica que, sendo governador debaixo da ditadura militar tenha usado os seus poderes repressivos de forma moderada. Tendo sido assassinado um oficial da Marinha de Guerra em S. Vicente e sendo o administrador da ilha acusado de incúria, entrega a condução do inquérito ao poeta José Lopes da Silva (que tinha conhecimentos jurídicos e fora advogado provisionário, mas quem mais se lembraria disso?). Aquando dos incidentes de Janeiro de 1929 no Mindelo ordenou, por Portaria, que o advogado António José da Rosa, tido como cabecilha, seguisse com residência fixa para a Praia. Mas depois de conhecê-lo o gov. Guedes Vaz considerou que o comportamento de Rosa na Praia demonstrava que ele estava arrependido da sua conduta anterior e pôs, rapidamnente, fim à referida Portaria, levantando-lhe a fixação de residência. Note-se que por acções semelhantes, um revoltoso era pura e simplesmente preso e deportado. Envolvida nos mesmos incidentes a Associação Operária de Socorros Mútuos foi extinta e dissolvida, mas pouco tempo durou a extinção. Pronunciando um discurso em S. Vicente o próprio Guedes Vaz declarou: “Restabeleci a Associação Operária, que tinha sido dissolvida em data que não desejo recordar.” Quantos políticos teriam coragem de, publicamente, voltar atrás com uma decisão desta natureza?
Publicou peças de teatro e um livro técnico mas nada sobre a sua experiência cabo-verdiana.

João Nobre de Oliveira

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