Origem dos Holbeche portugueses -séc XVII
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Origem dos Holbeche portugueses -séc XVII
Francisco Holbeche, que está documentado a casar em Lisboa na freguesia de Stª Catarina a 05.07.1668, com D. Paula Maria Rufina Ayque (ANTT-PRQ de Lisboa; Stª Catarina-Lv Registo de Cas 1643-1659/f122(tif 337)) é o patriarca dos Holbeches portugueses.
Não se sabe em que contexto se deu a vinda de Francisco Holbeche para Lisboa provavelmente em meados do século XVII. A tradição familiar refere que terá vindo para Lisboa com Richard Russell, prelado inglês com ligações a Portugal e que desempenhou um papel importante nas negociações diplomáticas que culminaram com o casamento em 1662 da Infanta D. Catarina, filha de D. João IV com o Rei Carlos II de Inglaterra.
Richard Russel nasceu em Inglaterra cerca de 1630, tendo vivido os primeiros anos da sua infância na cidade de Coventry, no condado de Warwickshire. Com apenas 12 anos, veio para Lisboa ao serviço do Dr. Edward Daniel que tinha sido nomeado diretor do Lisbon College (Colégio dos ingleses de S. Pedro e S. Paulo, também conhecido por colégio dos inglesinhos, no Bairro Alto). Aos 17 anos foi aceite como aluno da escola. Prosseguiu os seus estudos em filosofia e teologia em França, no English College de Douai (seminário católico), onde foi ordenado sacerdote em 1653. Após uma breve passagem por Lisboa, regressou a Inglaterra em 1657 onde foi capelão durante 3 anos do embaixador português. De volta a Lisboa, entrou ao serviço do Paço. A rainha regente, D. Luísa de Gusmão, nomeou-o “Sumilher da Cortina” e mestre de inglês da Infanta D. Catarina, então com 22 anos. Em 1661 quando se iniciam as negociações para o casamento da Infanta com o Rei Carlos II, Richard Russell é enviado ao seu país de origem, para apoiar o embaixador português, o Conde dos Arcos, nessa missão. Integrou a comitiva que acompanhou a Infanta a Londres em 1662 e aí permaneceu como Capelão-Mor e Esmoler da Rainha de Inglaterra até 1671, ano em que regressou a Portugal para assumir as funções de Bispo de Portalegre. Cargo para o qual tinha sido nomeado por D. Pedro II e confirmado pelo Papa Clemente X. Em 1684 foi nomeado Bispo de Viseu. É nessa qualidade que, em 1687, dá o seu testemunho sobre a família Holbeche, na inquirição levada a cabo pelo Santo Ofício, a Catarina Maria Holbeche, filha de Francisco Holbeche e de D. Paula Ayque, casada com Jacques Granaut (ANTT – Diligência de Habilitação para familiar do Santo Ofício de Jacques Granaut; mç1; doc 2 https://digitarq.arquivos.pt/details?id=2329569)
“…E do terceiro disse que tem grande conhecimento de Francisco Holbeche e de sua mulher Maria Holbeche, pais do dito Francisco Holbeche e avós paternos da dita Catarina maria Holbeche, porque foram moradores no dito lugar de Fillonglye em uma quinta, que se chama casa branca ou aula branca; verdade é que não conheceu de vista ao dito Francisco Holbeche porque faleceu há muitos anos, cinquenta para sessenta, mas conheceu a dita sua mulher Maria Holbeche, sendo viúva e a viu várias vezes sendo ele testemunha de pouca idade, como dito tem, e na dita terra acima nomeada corria fama das muitas esmolas que fazia a dita Maria Holbeche e comummente se dizia ser pessoa muito caritativa porque tinha boa fazenda e muito com que fazer esmolas e sempre ouviu dizer, ele testemunha, que o pai do dito Francisco Holbeche, a saber, bisavô da habilitada Catarina Maria Holbeche viera da província de Lincoln do mesmo Reino de Inglaterra e que descendia de família muito nobre e que fizera assento no dito lugar de Fillonglye acima nomeado, aonde viveu sempre na lei da nobreza, porém nao sabe se a dita Maria Holbeche, avó materna da habilitanda era descendente da gente do dito lugar de Fillonglye ou se descendia de gente que viesse de fora para o dito lugar; só ouviu dizer sempre que era boa gente e de qualidade e mais não disse deste”.
O testemunho do Bispo dá pistas claras e inequívocas acerca da origem de Francisco Holbeche que seria mais ou menos da mesma idade. Refere que Francisco Holbeche era inglês, nascido em Fillongley no Condado de Warwickshire, numa quinta chamada Casa Branca (White House of Fillongley) filho de outro Francisco Holbeche e de sua mulher Maria, e neto paterno de alguém que teria vindo do condado de Lincolnshire, descendente de “família muito nobre e que fizera assento no dito lugar de Fillongley acima nomeado, aonde viveu sempre na lei da nobreza…”.
Com base nestes dados e investigando a documentação existente sobre os Holbeches ingleses foi possível estabelecer a ligação dos Holbeches portugueses aos seus antepassados ingleses.
Está documentado um Francis Holbeche, filho de Edward Holbeche e de sua mulher Julia Portington, nascido e baptizado a 03.01.1592 em Stow no Condado de Lincolnshire (“Lincolnshire Pedigrees”; edited by the Rev. Canon A.R. Maddison, M.A., F.S.A.; London 1903; Vol 51; p.501-502 (“Holbeche of Stow”); Parish Registers of Stow; Lincolnshire; England - Baptisms, marriages, burials 1538-1990 https://www.familysearch.org/ark:/61903/1:1:Q53C-29SZ).
Este Francis casou em Wyken, localidade próxima de Coventry com Mary Phipps a 12.02.1620 (Parish registers of Wyken ; Warwickshire;England- Baptisms, marriages, burials 1600-1671 (imagem 26 de 21).
Este casal mudou-se depois para Fillongley (White House, Fillongley; Warwickshire) Localidade próxima de Coventry onde nasceram e foram baptizados os seus filhos. Entre estes consta um, baptizado a 01.11.1627, a quem foi dado o nome de Francis. (Parish Registers of Fillongley; Warwickshire; England - Baptisms, marriages, burials 1538-1653; imagem 34 (de 52))
Pela data de nascimento, local de nascimento, nome dos pais e origem do avô paterno é quase certo que se trate do mesmo Francis Holbeche que vem para Lisboa onde prospera e deixa prolífica e notável descendência até aos dias de hoje.
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Origem dos Holbeche portugueses - 1. Francisco Holbeche
1. FRANCISCO HOLBECHE , nascido em Inglaterra; Warwickshire; Fillongley, a 01.11.1627, casou em Lisboa na freguesia de Stª Catarina a 05.07.1668 (ANTT-PRQ de Lisboa; Stª Catarina-Lv Registo de Cas 1643-1659/f122(tif 337), com D. Paula Maria Rufina Ayque, natural de Lisboa, onde foi batizada na freguesia de S. Paulo, filha de Henrique Ayque e de D. Jerónima Rufina, também eles naturais de Lisboa, da freguesia de S. Paulo, neta paterna de Nicolau Guilherme, alemão natural de Hamburgo (Altona) e de D. Ana Ayque, natural de Lisboa, freguesia de S. Paulo e neta materna de João Baptista Rufino, italiano e de D. Catarina Garcez, natural de Lisboa. (Estes dados constam do processo de habilitação para FSO de João Bernardes de Morais casado com D. Inês Rufina Ayque, irmã de D. Paula Maria.
Francisco Holbeche e a sua mulher viveram em Lisboa na freguesia de S. Paulo, onde nasceram e foram batizados os seus filhos:
2. Isabel Josefa Holbeche, nasceu em Lisboa na freguesia de S. Paulo onde foi batizada a 18.07.1673. Casou com José Curvo Semedo; tiveram descendência com o apelido Curvo Semedo.
2. João Holbeche, que segue.
2. Francisco Holbeche; foi cónego na Sé
2. Catarina Maria Holbeche, nasceu em Lisboa na freguesia de S. Paulo. Casou com Jaques Granaut (Granate), mercador, familiar do Santo Ofício por carta de 16.12.1682, filho de Simão Granaut, natural de Amesterdão e de sua mulher Bárbara de Sequeira. A sua filha D. Maria Luísa Holbeche Granate, casou com Manuel de Oliveira da Cunha e Silva, Corregedor do Crime da Corte; morador no Bairro de Stª Justa em Lisboa. Tiveram um filho, Francisco de Paula Holbeche Granate de Oliveira da Cunha e Silva, nascido em Lisboa e batizado na Igreja do Sacramento; teve foro de Cavaleiro Fidalgo da Casa Real em 1783. Casou duas vezes, a 1ª com D. Teresa Balbina em 1774 e a 2ª com D. Bernarda Teresa Caupers de Sande e Vasconcelos. Faleceu em Lisboa a 31.05.1790. Deste segundo casamento nasceu Manuel Maria Holbeche Granate de Oliveira da Cunha e Silva que foi Capitão–mor de Santarém, Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Santarém (1843/45) e Comendador da Ordem de Nossa Srª de Vila Viçosa.
2. Maria Claudina Cecília Madalena Holbeche, nasceu em Lisboa. Foi casada a primeira vez com o Desembargador Joaquim Pereira de Mendonça e a segunda com Francisco de Paula Miranda. Faleceu em Lisboa a 12.02.1810, sem filhos, tendo nomeado sua herdeira Maria José Holbeche, filha de seu sobrinho José Vitorino Holbeche (ANTT – Conselho de Fazenda; Justificações do Reino, letra M, mç 31 nº 53 (Autos de justificação de D. Maria José Holbeche).
Francisco Holbeche terá feito fortuna como comerciante em Lisboa. É-lhe atribuída a compra da Quinta de Mil Flores, nas Laranjeiras em Lisboa e a subsequente edificação do palácio e capela dedicada a Nossa Senhora. O palácio foi seriamente danificado a quando do terramoto de 1755, mas prontamente reconstruído. Manteve-se na posse da família Holbeche até ao início do século XIX, quando foi vendido a Henrique Muller, comerciante alemão que lhe introduziu grandes alterações. Ainda no decurso do século XIX, foi de novo vendido a João da Silva Carvalho e depois a Carlos Dias de Almeida Rebelo. Já no século XX foi vendido em 1918 a Carlos Ramires dos Reis que efetuou grandes obras com projeto de Raul Lino e a quem muito se deve o aspeto atual do palácio. Em 1926 é de novo vendido e em 1979 é adquirido pelo estado português com a intenção de aí instalar a Torre do Tombo, projeto que nunca se concretizou. Em 1987 foi finalmente vendido ao Estado Brasileiro, que aí instalou a Chancelaria da sua Embaixada e o centro de Estudos Brasileiros.
Luisvpinto
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Origem dos Holbeche portugueses - 1. Francisco Holbeche (correcção)
Por lapso na postagem anterior, Maria Claudina Cecília Madalena Holbeche, foi dada como filha de Francisco Holbeche, quando na realidade é sua bisneta, filha de José Vitorino Holbeche, e neta paterna de João Holbeche.
As minhas desculpas!
Luisvpinto
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