Manuel de Leão - Angola séc XVI e XVII

MANUEL DE LEÃO está documentado em Luanda na transição do século XVI para o XVII, como homem rico e abonado. Assim é referido no processo do Santo Ofício instaurado contra o pombeiro Aires Fernandes, o Dinga-Dinga. Este processo decorreu entre 1595 e 1603 em Luanda (a cargo do provisor eclesiástico Manuel Rodrigues Teixeira), em S. Tomé (a cargo do bispo Francisco de Vila Nova), na Inquisição de Lisboa e na cidade de Salvador, do Reino do Congo (ANTT; Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de Lisboa, proc. 13087). Manuel de Leão aparece pela primeira vez mencionado no processo, logo em 1595, como avaliador dos bens de Aires Fernandes e em 1602 como procurador de Rui Gomes Bravo, depositário dos bens de Aires Fernandes e reclamados pela família. Em 1606 está documentado como vereador da câmara da cidade de S. Paulo da Assunção de Luanda.

Casou com Catarina Mendes e em 1627 já teria falecido pois nos documentos de doação de terras de sesmaria no Sequele esta é referida como viúva de Manuel de Leão e sogra de Duarte Mendes de Oliveira.
Catarina Mendes era seguramente aparentada com os Mendes de Carvalho documentados nas primeiras décadas do século XVII em Luanda. É provável que fosse irmã de Joana Mendes de Carvalho que foi casada com Baltasar Rebelo de Aragão, fidalgo de geração e moço da Câmara do rei, filho de Vicente Rebelo e que veio para Angola c. de 1592 com o governador D. Francisco de Almeida. Francisco Mendes de Carvalho, que foi nomeado em 1629 capitão de uma companha de extravagantes era irmão de Joana Mendes de Carvalho. Na mesma altura está também documentado em Luanda um João Mendes de Carvalho, licenciado, nomeado procurador do rei pelo governador Fernão de Sousa em 1624. (FONTES PARA A HISTÓRIA DE ANGOLA DO SÉCULO XVII – vol I; Beatriz Heintz; Stuttgart, 1985; p.72; p81)

Manuel de Leão terá casado em Luanda com Catarina Mendes, na primeira década do século XVII. Tiveram dois filhos:

• ISABEL DE LEÃO E CARVALHO, nasceu em Luanda na primeira década do século XVII. Casou em Luanda com Duarte Mendes de Oliveira antes de 1627, pois nessa data, este aparece referido com genro de Catarina Mendes, viúva de Manuel de Leão. Tiveram uma filha, Catarina Mendes de Oliveira que casou em Luanda a 15.01.1651, com António Pinheiro de Faria

• LOURENÇO CORREIA DE LEÃO, nasceu c. 1610 em Luanda, Angola. Saíu de Angola em 1630, estando documentada, nesse ano, a sua passagem por Cartagena das Indias, a bordo do navio do mestre Cristobal Alfonso, com destino a Espanha para estudar na Universidade de Salamanca (PORTUGUESES NO PERU AO TEMPO DA UNIÃO IBÈRICA; Mª da Graça Mateus Ventura; INCM; vol I; p.419). Terá permanecido em Espanha. Após a morte de, Catarina Mendes, em 1652 tendo já falecido também Isabel de Leão e Carvalho, António Pinheiro de Faria faz um requerimento solicitando provisão para receber os bens de Lourenco Correia de Leão. que partira de Angola antes de 1640 e não voltara até então, e falecendo a mãe deste, Catarina Mendes, cabia à esposa do suplicante Catarina Mendes de Oliveira. neta da falecida, os bens do ausente, por ser a parente mais próxima (Arquivo Histórico Ultramarino - CU/001/0005/00522)

Os filhos de Manuel Leão estão ambos documentados com o sobrenome do pai, Leão. A filha Isabel utilizou também o sobrenome Carvalho, provavelmente herdado da mãe. No sobrenome Correia de Leão utilizado pelo filho Lourenço, pode estar uma pista para a ascendência de Manuel de Leão.

Cronológicamente Manuel de Leão pode ser filho de DUARTE NUNES DE LEÃO, intelectual profícuo cujo percurso acompanhou grande parte do século XVI. De origem judia, nasceu em Évora c. de 1530, filho do físico-mór de Évora, João Nunes. Estudou leis na Universidade de Coimbra e posteriormente foi procurador e desembargador na Casa da Suplicação. Com uma sólida formação humanística desenvolveu extensa obra que abrange fundamentalmente três áreas, a do Direito, a da historiografia e a dos estudos linguísticos. Após a morte de D. Sebastião apoiou a causa espanhola o que lhe granjeou muitos ódios, também alicerçados no antissemitismo vigente. Desiludido morreu em Lisboa a 22 de abril de 1608.
Casou com D. Gracia Correia irmã do Dr. Luís Correia, lente da Universidade de Coimbra (nascido em Lisboa em 1542, licenciado em Cânones em 1567 e doutorado também nesse ano; foi um dos mais famosos e influentes professores de leis do seu tempo e também do mais ricos).

Dos filhos de Duarte Nunes Leão e de sua mulher Gracia Nunes, tem-se conhecimento de D. Isabel Correia de Leão (herdeira de seu tio Dr. Luís Correia), que foi casada com Bernardo Carrilho de Maçuelos, gentilhomem de boca do arquiduque Alberto e alcaide-mor de Alcalá de Hennares, que foram pais de D. Maria de Toledo de Maçuelos que casou com D. Luís de Melo e foram pais de D. Francisco Manuel de Melo (*Lisboa 23.11.1608; militar, diplomata e escritor, figura cimeira do barroco português) e de D. Isabel Correia de Leão (*Lisboa bp 03.02.1610)

Sabe-se que Duarte Nunes Correia teve mais filhos para além de Isabel Correia de Leão. Manuel de Leão que está documentado em Angola no final do século XVI e que faleceu antes de 1627 pode ser um desses filhos, o que justificaria o apelido Correia de Leão usado pelo seu filho Lourenço.

Deixo à apreciação dos frequentadores deste fórum estas questões e eventuais achegas que possam esclarecer a ascendência deste Manuel de Leão que viveu na cidade de S. Paulo da Assunção, de Luanda, do reino de Angola entre o final da centúria de quinhentos e 1627.

Também a ascendência de Duarte Nunes de Leão está mal-esclarecida, conhecendo-se apenas o nome do pai, João Nunes, físico-mor em Évora.

Um bom fim de semana,
Luisvpinto

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