Avaliação de um património

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Avaliação de um património

#27857 | Jacinto Bettencourt | 02 out 2002 00:44

Caros "listeiros",

Alguém me pode dar alguma indicação ou bibliografia sobre o seguinte:
- valor de um alqueire de x; 1 galinha; 1 carneiro, etc.
- a forma como era calculados os foros (pretendo daí extrapolar o valor dos bens);
- rendimentos médios de uma pessoa individual antes do Séc. XIX.
Obrigado,

Jacinto Bettencourt

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RE: Avaliação de um património

#27858 | alentejo | 02 out 2002 00:59 | Em resposta a: #27857

Caro Jacinto Bettencourt,

Alqueire era uma medida de capacidade, varia entre 13 e 22 litros; uma galinha é uma galinha e um carneiro um carneiro. Ou seja, era um pagamento em géneros (capões, ovos, etc.). Estes pagamentos eram impostos aos foreiros. No séc. XIX não existia rendimento minimo garantido, ordenados minimos e coisas semelhantes. O rendimento das Casas é variável consoante os morgadios, bens livres, etc.

Cumptos

NB

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RE: Avaliação de um património

#27860 | jpcmt | 02 out 2002 07:02 | Em resposta a: #27857

Caro Jacinto Bettencourt:
No Vol. I da “História de Portugal” de Oliveira Marques, há tabelas e gráficos com a marcha global dos preços e dos preços do trigo, azeite, arroz etc nos séculos XVII e XVIII; refere igualmente a evolução do ouro e da prata.
Úteis lhe poderão ser, também, as “Estatísticas Históricas Portuguesa”, de Nuno Valério, publicadas em 2000 pelo INE.
Sugiro-lhe ainda que veja o que eu e outros escreveram sobre correção monetária e valor das moedas no tópico “Relação entre Contos, Cruzados e Reis”
Quanto aos bens e rendimentos médios não é fácil a resposta., mas nos inventários feitos para partilhas e nas avaliações de propriedades podem-se encontrar elementos para comparação. Assim, por exemplo, um meu 10º avô, Capitão-Mór de Azurara, que pode ser considerado “médio”, deixou bens que, em 1634, foram avaliados em 3370 mil reis, sendo as rendas correspondentes a 154 alqueires de trigo e pão meado, de 372 mil reis.
Tudo isto não é linear, visto que o “peso” relativo dos bens era diferente do que é hoje. Por exemplo o vestuário era um bem apreciado e frequentemente deixado em testamento, juntamente com o ouro, a prata e as joias.
Fico ao dispor, se precisar de informações mais concretas.
Cumprimentos,
João de Castro e Mello Trovisqueira

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RE: Avaliação de um património

#27866 | Jacinto Bettencourt | 02 out 2002 10:05 | Em resposta a: #27858

Caro Nuno Borrego,

Obrigado pelas dicas, mas já tinha percebido que faziam parte do foro das terras emprazadas/arrendadas.
A pergunta que colocava é: será possível, com base no foro, calcular o valor do bem propriamente dito?
Cumprimentos,

Jacinto Bettencourt

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RE: Avaliação de um património

#28252 | Jacinto Bettencourt | 08 out 2002 00:06 | Em resposta a: #27860

Caro João de Castro e Mello Trovisqueira,

Neste momento, arrisco pensar que as rendas correspondia a 10% ou 5% do valor do património propriamente dito.
Encontrei, numas memórias cujo nome não me lembro, umas referências a rendas. Assim, 4 contos daria, anualmente, 200 mil réis; 24 contos davam 1.200 mil réis. Vejo, no entanto, e pelo seu exemplo, que o rendimento anual - 372 mil réis - correspondia a 10% do valor dos bens de raís.
Por outro lado, 154 alqueires de trigo e pão meado valeriam quanto? No século XIV julgo que um alqueire era 300 réis, enquanto que no Século XVI, em Trás-os-Montes, rondava os 50 réis.
Está difícil fazer esta extrapolação, mas julgo que havia regras para se fixar o foro ou a renda dos bens arrendados/emprazados, e que me inclino, neste momento, para a referida proporção.
Peço-lhe, assim, encarecidamente, mais informações.
Um abraço,

Jacinto Bettencourt

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RE: Avaliação de um património

#28277 | jpcmt | 08 out 2002 11:57 | Em resposta a: #28252

Caro Jacinto de Bettencourt:
Não é, de facto fácil, encontrar uma “norma” para o que pretende. Na maior parte dos contratos de arrendamento descrevem-se apenas os limites da propriedade e a renda, lutuosa e laudémio que foram acordados pelas partes, sem mencionar o valor patrimonial da propriedade. Este, normalmente, só se encontra nas cartas de partilha, quando ela era avaliada (ou louvada, como era uso dizer) para esse efeito.
Assim no documento de 1634 que mencionei (e note que o valores que dei na nota anterior se referiam ao total do património do defunto e ao valor patrimonial dos arrendamentos) constam os seguintes valores para as rendas, que tabulei, mantendo a ortografia:


-huã rasa e mea de pão na freiguezia do terrozo......................3$750
-duas rasas de pão meado em germude..................................5$000
-seis rasas de pão meado e por dous cabos de cebollas
da freiguezia de germunde...............................................15$000
-sinqo rasas de trigo e huã gallinha, azurar aldea
da Gavia........................................................................20$000
-duas rasa de pão meado e dous cabos de cebollas
germunde.......................................................................5$600
-sinqo rasa de pão meado em Remçelhe (?) tº de barcellos......12$500
-vimte e tres rasas de pão meado postas no llugar dazurar......57$500
-duas rasas de pão meado em azurar....................................5$000
-duas rasas de pão postas no lugar de azurar..........................5$000
-desanove rasas de pão meado de prado postas em azurara ...47$500
-nove rasas de pão meado posto no llugar de azurar ..............22$500
-houto allqueires de pão meado naquella de prado..................17$600
-sinqo allqueires de pão meado de portuzello.........................11$000
-dous allqueires de pão meado em prado................................4$400
-dous allqueires de pão meado..............................................4$400
-sinqo allqueires de pão.......................................................11$000
-des allqueires de pão em prado...........................................22$000
-dous allqueires de pão.........................................................4$400
-dous allqueires de pão meado...............................................4$400
-des allqueires e meo de pão meado.....................................23$200
-dous allqueires de pão meado..............................................4$400
-quoatro allqueires de pão meado..........................................8$800
-des allqueires de pão meado..............................................22$000
-seis allqueires de pão meado..............................................13$200
-des allqueires de pão meado...............................................22$000

** VALOR PATRIMONIAL (154 alqueires) ........................372$150

Assumindo os preços médios (“an educated guess”) seguintes :

1 rasa de pão meado.. 200 rs
1 rasa de trigo ...........300 rs
1 rasa de centeio........ 200 rs
1 carro de pão (100 rasas )... 20$000

** RENDIMENTO ANUAL (media~200 rs/alqueire)...............30$800 (8,2%)

Um outro exemplo, este de 1623, na freguesia de Amorim, para uma propriedade que levava 9 alqueires de semeadura, os valores acordados foram:
Renda: 2 alqueires
Lutuosa: 2 galinhas
Laudémio: 5/1

Parece que o arrendatário, aqui, fez um bom negócio..... mas ilustra as disparidades que se encontram!

Em datas anteriores (século XV), pode ver “A Casa dos Coutinhos-Linhagem, Espaço e Poder” de Luis Filipe Oliveira (Cascais, 1999), onde também se mencionam várias fontes consultadas para o efeito.

Para períodos posteriores, falando apenas de preços do trigo, Oliveira Marques, menciona os seguintes:

1728-31........295 rs.
1732-39........320 rs.
1747-52........345 rs.
1757-58........396 rs.
1767-71........440 rs.
1772-73........469 rs.
1789-92........480 rs.
1793-96........587 rs.
1800-02........841 rs.
1808-09........994 rs.
1810-15.......1034 rs

No arquivo da minha família materna há muitos mais documentos sobre foros e arrendamentos, mas será preciso lê-los com atenção (e paciência, porque a escrita da época tem que se lhe diga!) para se tirarem outras conclusões. Com mais tempo, tentarei aprofundar o assunto, que também me interessa.

Cumprimentos,
João de Castro e Mello Trovisqueira


Caro Jacinto de Bettencourt:
Não é, de facto fácil, encontrar uma “norma” para o que pretende. Na maior parte dos contratos de arrendamento descrevem-se apenas os limites da propriedade e a renda, lutuosa e laudémio que foram acordados pelas partes, sem mencionar o valor patrimonial da propriedade. Este, normalmente, só se encontra nas cartas de partilha, quando ela era avaliada (ou louvada, como era uso dizer) para esse efeito.
Assim no documento de 1634 que mencionei (e note que o valores que dei na nota anterior se referiam ao total do património do defunto e ao valor patrimonial dos arrendamentos) constam os seguintes valores para as rendas, que tabulei, mantendo a ortografia:


-huã rasa e mea de pão na freiguezia do terrozo......................3$750
-duas rasas de pão meado em germude..................................5$000
-seis rasas de pão meado e por dous cabos de cebollas
da freiguezia de germunde...............................................15$000
-sinqo rasas de trigo e huã gallinha, azurar aldea
da Gavia........................................................................20$000
-duas rasa de pão meado e dous cabos de cebollas
germunde.......................................................................5$600
-sinqo rasa de pão meado em Remçelhe (?) tº de barcellos......12$500
-vimte e tres rasas de pão meado postas no llugar dazurar......57$500
-duas rasas de pão meado em azurar....................................5$000
-duas rasas de pão postas no lugar de azurar..........................5$000
-desanove rasas de pão meado de prado postas em azurara ...47$500
-nove rasas de pão meado posto no llugar de azurar ..............22$500
-houto allqueires de pão meado naquella de prado..................17$600
-sinqo allqueires de pão meado de portuzello.........................11$000
-dous allqueires de pão meado em prado................................4$400
-dous allqueires de pão meado..............................................4$400
-sinqo allqueires de pão.......................................................11$000
-des allqueires de pão em prado...........................................22$000
-dous allqueires de pão.........................................................4$400
-dous allqueires de pão meado...............................................4$400
-des allqueires e meo de pão meado.....................................23$200
-dous allqueires de pão meado..............................................4$400
-quoatro allqueires de pão meado..........................................8$800
-des allqueires de pão meado..............................................22$000
-seis allqueires de pão meado..............................................13$200
-des allqueires de pão meado...............................................22$000

** VALOR PATRIMONIAL (154 alqueires) ........................372$150

Assumindo os preços médios (“an educated guess”) seguintes :

1 rasa de pão meado.. 200 rs
1 rasa de trigo ...........300 rs
1 rasa de centeio........ 200 rs
1 carro de pão (100 rasas )... 20$000

** RENDIMENTO ANUAL (media~200 rs/alqueire)...............30$800 (8,2%)

Um outro exemplo, este de 1623, na freguesia de Amorim, para uma propriedade que levava 9 alqueires de semeadura, os valores acordados foram:
Renda: 2 alqueires
Lutuosa: 2 galinhas
Laudémio: 5/1

Parece que o arrendatário, aqui, fez um bom negócio..... mas ilustra as disparidades que se encontram!

Em datas anteriores (século XV), pode ver “A Casa dos Coutinhos-Linhagem, Espaço e Poder” de Luis Filipe Oliveira (Cascais, 1999), onde também se mencionam várias fontes consultadas para o efeito.

Para períodos posteriores, falando apenas de preços do trigo, Oliveira Marques, menciona os seguintes:

1728-31........295 rs.
1732-39........320 rs.
1747-52........345 rs.
1757-58……….396 rs.
1767-71……….440 rs.
1772-73……….469 rs.
1789-92……….480 rs.
1793-96……….587 rs.
1800-02……….841 rs.
1808-09……….994 rs.
1810-15………1034 rs

No arquivo da minha família materna há muitos mais documentos sobre foros e arrendamentos, mas será preciso lê-los com atenção (e paciência, porque a escrita da época tem que se lhe diga!) para se tirarem outras conclusões. Com mais tempo, tentarei aprofundar o assunto, que também me interessa.

Cumprimentos,
João de Castro e Mello Trovisqueira

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RE: Avaliação de um património

#28278 | jpcmt | 08 out 2002 12:05 | Em resposta a: #28252

Não sei porquê, mas a minha mensagem anterior foi duplicada. As minhas desculpas.
jpcmt

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RE: Avaliação de um património

#28307 | quintadoloureiro | 08 out 2002 18:29 | Em resposta a: #27857

Caro Senhor Jacinto Bettencourt

A medida do alqueire era em litros e variava de regiao para regiao. Aqui, na Golega, onde vivo, o alqueire era de 13,11 litros.
A partir de determinada altura o valor dos produtos ou animais passaram a poder ser pagos em dinheiro.
Estive a verificar nos arquivos de minha casa e em 1935 alguns dos valores com que foram pagos os foros a meu Avo eram os seguintes:

- Trigo : 0$80/litro
- Milho : 0$90/litro
- Cevada: 0$35/litro
- Azeite: 5$50/litro
- Galinha: 10$00
- Frangao: 1$00
- Porco: 450$00

Tenho algures uma tabela publicada num jornal, pouco tempo antes da extinçao dos foros. Se lhe interessar posso tentar procura-la para indicar os valores.
Cumprimentos,

Jose de Castro Canelas

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