Ilha de São Miguel -variação do grau de instrução

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Ilha de São Miguel -variação do grau de instrução

#29617 | Luiz | 28 out 2002 14:31

Prezados colegas,

Observo pela leitura do microfilme da freguesia da Povoação, Ilha de São Miguel, que traz registros desde cerca de 1830 até 1880 que o grau de instrução dos nubentes teve uma sensível retração por volta de 1840/50 quando muitos assentos passam a apresentar assinatura a rogo, enquanto na terceira década daquele século quase todos tinham a assinatura do varão junto com o das testemunhas, sugerindo que o padrão de ensino nas primeiras décadas foi muito mais eficaz do que a partir da terceira ou quarta década.

Alguém saberia identificar por que trabalhadores, lavradores, e outros populares passaram a não assinar "por não saberem escrever" como dito pelo pároco ou Administrador da freguesia. Em outras palavras, o que teria levado os filhos dos adultos da geração de 1820/30 a deixar de estudar a ponto de sequer saber assinar, diferindo tanto da geração anterior ?

Acaso teria sido a invasão francesa, a revolução industrial, a vinda da Corte para o Brasil, ou outro evento responsável por tal queda no padrão de ensino, até mesmo nas ilhas ?

Agradeço comentários,

Luiz Medeiros
Rio de Janeiro
pesquisa os sobrenomes AMARAL, MEDEIROS, MOTTA e PACHECO, na freguesia da Povoação, e que emigraram para povoar as serras do interior do Estado do Rio de Janeiro.

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RE: Ilha de São Miguel -variação do grau de instrução

#29682 | JMM | 29 out 2002 17:04 | Em resposta a: #29617

Caro Luís de Medeiros,
V. está a "atacar" em várias "frentes" !
Sobre o assunto principal deste tópico, não tenho informação, nem pretendo estar aqui a especular.
Talvez fosse conveniente V. tentar entrar em contacto com algum investigador do Dept. de História e Ciências Sociais da Universidade dos Açores. Eventualmente, o Prof. José Damião Rodrigues (embora se dedique mais ao séc. 18), ou o P.e Dr. Octávio Medeiros (que até é nat. da Povoação), ou a Prof. Gilberta Rocha (especialista em Demografia), que se têm dedicado a estudos sobre a Povoação, possam dar-lhe alguma pista.
O que me faz "entrar" neste tópico é, novamente, a questão dos lv de registo paroquial e dos lv de registo civil das Adm. de Concº:
- V. refere a consulta de microfilmes; ora, os que existem foram, efectivamente, feitos pelos Mórmons (+/- em 1985), que misturaram, em sequências "enganosas", os 2 tipos de lv existentes no Arquivo Regional de PDL, com interesse mais evidente para as pesquisas genealógicas;
- assim, quando V. consultar o(s) microfilme(s), deverá ter atenção ao lv que está a consultar: nos REGISTOS PAROQUIAIS, os assentos de BAPTISMO eram, até 1860, apenas assinados, além do pároco, pelas testemunhas, e, a partir de 1860, pelos padrinhos; nos tais lv de REGISTO CIVIL das Adm. de Concº e das Regedorias de Paróquia (iniciados em 1832/1833 e a que me referi no outro tópico em que mais temos dialogado), os assentos de NASCIMENTO eram lavrados pelo escrivão da Adm. Concº ou da Regedoria e assinados (com assinatura, de cruz, ou a rogo) pelo pai da criança, que era normalmente o declarante, e pelas testemunhas, além do administrador do concelho, ou do regedor, consoante se tratasse da sede da Adm. Concº ou de uma das Regedorias dependentes.
Não se esqueça: o nosso concelho (área de jurisdição da vila ou cidade) = ao V. município.
Cumprimentos,
JMM

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RE: Ilha de São Miguel -variação do grau de instrução

#29722 | Luiz | 30 out 2002 12:38 | Em resposta a: #29682

Caro Jorge Manoel,

Obrigado pela resposta e pela indicação. De fato estou dedicando-me com afinco ao tema com o objetivo de identificar as condições de vida que tinham os emigrantes da Povoação, e o que os tenha encorajado a vir para o Brasil na segunda metade do século XIX. Dizer que eram oportunidades de ter a posse da terra virgem parece muito simplista, e gostaria de comparar que condições haviam então nas ilhas para os lavradores e trabalhadores que se dispuseram a vir, ou seus filhos, e reunir o conjunto de fatores que os tenha estimulado.

Fico satisfeito em saber que há pessoas na Universidade dos Açores que possam, talvez, ajudar-me. E lhe agradeceria ainda mais se me ajudasse a localizar o e-mail deles. Através da página da Universidade localizei apenas este (uac@notes.uac.pt), mas que não é de uso dedicado dos indicados. Por ser genérico, temo que a mensagem possa extraviar-se, ou não ter o fim esperado. De toda forma, enviarei uma cópia de nossa conversa acima para lá, consultando-os.

Pelo seu relato, imagino que tenha tido um relacionamento próximo a eles. Acaso trabalha ou trabalhou na Universidade ? Conhece mais da investigação que fazem ?

Voce tem razão ao dizer que os registros da Paróquia e os da Administração da Villa se intercalam no microfilme disponibilizado pelos Mórmons. É assim mesmo. Já estive lendo anotações de uma e de outra fonte.

O que causa curiosidade é a frequência de assentos com assinatura a rogo durante certo período (1850-1870), o que sugere deficiência de ensino elementar na região durante um período precedente, pois refiro-me a registros de casamento basicamente (não ignorando os de batismo, claro), e mais tarde, lendo registros (também de casamento) de anos anteriores (c. 1830-1840) percebe-se que quase todos tem a assinatura do nubente. A falta da assinatura da nubente é esperada, em função dos costumes da época, que da mesma forma se encontravam em prática aqui. Entretanto, com maior ou menor habilidade, todos os indivíduos da década de 1830 pareciam saber assinar, ou esforçavam-se a fazê-lo, enquanto seus filhos já não se dispunham, ou eram inibidos pelo pároco ou administrador que os declarava incapazes de assinar, recorrendo às testemunhas para assinar junto com ele.

Certamente isso não envolve todos os casamentos. Há aqueles que dispõem de assinaturas a qualquer tempo. Refiro-me a uma camada social que envolve lavradores e trabalhadores em geral, grande parte deles oriunda das lombas, e não necessariamente do centro da villa.

E tal condição se confirma nos registros de casamentos havidos já aqui no Brasil c. 1860-1880. Em Petrópolis, Teresópolis e em São José do Vale do Rio Preto há diversos casamentos envolvendo açorianos que não sabiam escrever, como relatado pelo pároco ou administrador local.

Relendo sua mensagem, observei que trata da "cruz" que se vê no meio das assinaturas. Poderia comentar mais a respeito ? Essa cruz representa algum costume de uso em meio as assinaturas, indica o local em que a pessoa deveria assinar, ou acaso representa a própria aquiescência (equivalendo a assinatura) daqueles que eram incapazes de assinar, com a identificação de seu nome posto sobre a cruz pelo próprio escrivão ? De fato queria saber mais a respeito, e não lembrava do detalhe. Qual era a finalidade da cruz ?

Cumprimentos,

Luiz Medeiros
Rio de Janeiro

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RE: Ilha de São Miguel -variação do grau de instru

#29727 | rmfrp | 30 out 2002 13:04 | Em resposta a: #29722

Caro Luiz Medeiros:

Não sabendo responder completamente à sua questão, posso indicar-lhe que a taxa de analfabetismo em Portugal era de 82,4 por cento em 1878 e ainda de 78,6 por cento em 1900 (tinha uma ideia dos valores aproximados e confirmei-os agora na internet). Tais eram os valores a nível nacional, e no remoto arquipélago dos Açores não seriam certamente menores, bem pelo contrário. O analfabetismo era regra e não excepção.

A "cruz no meio das assinaturas" é a assinatura de um analfabeto. Escrevia-se o nome da pessoa junto à cruz para a identificar. Por qualquer razão, provavelmente relacionada com o estatuto inferior das mulheres, os homens analfabetos assinavam de cruz mas as mulheres não o faziam habiltualmente, antes assinando outra pessoa "a rogo". Se reparar, os nomes junto às cruzes deverão ter todos caligrafia semelhante à do próprio registo, pois serão escritos pela mesma pessoa. A sua impressão de um decréscimo súbito na alfabetização terá resultado deste equívoco.

Cumprimentos,

Rui Pereira

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RE: Ilha de São Miguel -variação do grau de instru

#29732 | Luiz | 30 out 2002 14:00 | Em resposta a: #29727

Caro Rui Pereira,

Agradeço-lhe o esclarecimento sobre o uso das cruzes. Muito oportuno. Na próxima ida ao Centro de História da Igreja dos Mórmons atentarei para o detalhe da caligrafia.

Isto explica que a única variação ocorreu no modelo de descrição adotado pelo administrador do Concelho ou pelo pároco para identificar uma situação contínua.

Poderia informar-me de onde extraiu os dados sobre taxas de analfabetismo do passado na Internet ?

Obrigado,

Cumprimentos,

Luiz Medeiros

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RE: Ilha de São Miguel -variação do grau de instru

#29835 | rmfrp | 01 nov 2002 12:40 | Em resposta a: #29732

Caro Luiz Medeiros:

Os valores que indiquei constam de um artigo da autoria de Luís Souta sobre o infelizmente ainda actual problema do analfabetismo em Portugal, em:

http://www.a-pagina-da-educacao.pt/arquivo/Artigo.asp?ID=1088

Cumprimentos,

Rui Pereira

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