No monte, o lavrador, cansado da labuta
Do dia que passou, monótono, uniforme
São oito horas, ceou, recolheu-se e já dorme,
Feliz por ver medrar as terras que desfruta.
A lavradora, não; activa e resoluta,
Moireja até mais tarde e descansa conforme
A faina lho consente e a barafunda enorme
De homens e de animais que em derredor se escuta
Mas a filha, que tem vinte anos e que sente,
Nas solidões da herdade, a alma descontente
E o sangue a referver num sonho tresloucado,
Encosta-se à janela; ouvem-se as rãs e os grilos;
E os olhos de azeviche, ardentes e tranquilos,
Ficam-se horas a olhar as sombras do montado..."
Este formoso poema do primeiro Conde de Monsaraz deixou-me com vontade de saber mais sobre tão genuíno alentejano.
Há por aqui alguma alma que já tenha investigado os costado de António Papança, 1º Conde de Monsaraz?
Mais uma:
"Deus na planície"
O espírito de Deus flutua e erra
por todo este côncavo profundo.
Assim errava Ele sobre a terra
quando pensou na criação do Mundo.
É noite. Aqui não há mar nem serra.
Há o infinito, o vago. E cá no fundo
minh'alma que se excede e que se aterra,
ó Hálito-Supremo em que eu me inundo!
Ó Hálito-Supremo!... É noite escura.
E o Criador no enlevo em que eu me alago
domina e empolga a Sua criatura.
Sucumbe em mim o bicho vil da terra
E como no Princípio sobre o vago
O Espírito de Deus flutua e erra."
Esta até arrepia. É do Sardinha, meu paisano. E o que pedi para o Conde peço também para o homem de Monforte.