Antonio da Fonseca Pinto, testamento de 1673

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Antonio da Fonseca Pinto, testamento de 1673

#54796 | Ricardo de Oliveira | 06 jan 2004 11:03

Aqui temos o mais antigo testamento remanescente de Santa Catarina, de São Francisco do Sul. Está sujeito a vários erros na transcrição pelas dificuldades da leitura esperadas em um documento antigo como esse. O texto fala por si e revela importantes detalhes da vida social, econômica e religiosa da ocupação portuguesa do Brasil Meridional no início do seu povoamento efetivo.
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Testamento de Antonio da Fonseca Pinto e seu testamenteiro Antonio Francisco Jacome.

Em nome da Santíssima Trindade Padre, Filho, Espírito, Santo. Um só Deus Verdadeiro.

Saibam quanto este instrumento virem como no ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil e seiscentos e setenta e três anos, aos vinte e nove dias do mês de julho (junho?). Eu, Antonio da Fonseca Pinto, estando em meu perfeito juízo entendimento que pelo senhor meu Deus doente em cama temendo me da morte e (desejando?) por minha alma no caminho da salvação por não saber o que Deus nosso Senhor de mim quer fazer e quando será servido (de me?) para si faço este testamento na forma seguinte. Primeiramente encomendo minha alma a Santíssima Trindade que a criou. E rogo ao Padre Eterno pela morte e paixão de seu Unigenito filho a queira receber como recebeu a Sua? Estando para morrer me amou? (da?) Cruz e o meu Senhor Jesus Cristo peço ( ser ? redimas? ) chagas e aqui nesta vida me fez mercê do seu precioso sangue. E seres merecimento de seus trabalhos me faz também mercê (dami?) do que esperamos dar (o porém ?) deles que (? ) e a gloriosa Virgem Maria Nossa Senhora Madre de Deus e a todos os Santos da Corte Celestial particularmente ao Anjo de minha guarda e ao Santo do meu nome Santo Antonio e ao Arcanjo São Miguel os Santos apóstolos e São Pedro e São Paulo queiram por mim interceder. E lugar a meu Senhor Jesus Cristo agora e companhia? (? deste corpo?) porque verdadeiro cristão (protesto ? um) e morrer em a Santa Fé católica. (E ? ) o que tem (?) A Santa Madre Igreja de Roma com este espero salvar a minha alma, não por meus merecimentos mas pelos da Santíssima Paixão do Unigenito filho de Deus Rogo ao Capitão Francisco Jacome, meu compadre que ponha os olhos em sua comadre e também peço ao Capitão Angelo Francisco meu cunhado queiram aceitarem serem meus testamenteiros, meu corpo será enterrado nesta Matriz de Nossa Senhora das Graça na Capela na própria cuba (cova) donde defunto meu tio Manoel Lourenço de Andrade que ajudei ao dito a Igreja e tudo o mais será meu corpo acompanhado com todas as cruzes que houverem das confrarias, para minha alma deixo se diga uma Missa de corpo presente ao Bom Jesus, uma Missa a Virgem do Monte do Carmo, outra Missa a São José, outra ao Anjo de minha guarda outra a Santo Antonio, outra a São Miguel Arcanjo, outra a Nossa Senhora da Graça, outra um ofício se dará por minha alma de três (?)

Declaro que sou natural da cidade da Bahia, filho de Domingos da Fonseca Pinto e de sua mulher Pelonia da Costa minha mãe de legítimo matrimônio. Declaro que sou casado com Catarina Rodrigues de que temos cinco filhos, a saber três machos por nome de João, Domingos, Plazito e duas filhas por nome de Felícia e Clemência, legítimos herdeiros.

Declaro, temos a seguinte fazenda neste sítio onde moro meia légua de terras com casas a saber partindo da de Luiz Fernandes cortando Rio acima tomando três casas do dito Luiz Fernandes que está nas minhas terras que eu a deixei estar. E o que ou (lavra) mato dentro e sítio e seu até abaixo e parte esta meia légua daqui para riba até onde chegar a mais meia légua no Cubatão partindo com a do Capitão Angelo Francisco do qual ele tem mesmo as datas e mandamos botar no Livro das Datas mais meia légua de terras em Itapema e de que tenho as datas a saber novecentas braças da Ponta de Itapema para cá e setecentas para a banda de Sahi. Declaro que tenho uma légua de terras começando logo de (Baraitina?) e para Sahi que me deu o defunto Antonio de Ramos por contas que me devia de dez ou doze mil reis de que tenho as datas tenho mais em Tapicoroí uma (légua ?) de terras de que tenho botado no Livro das datas. Declaro que tenho na vila quatro (braças ?) de chãos donde estão os meus ranchos.

Declaro que tenho mais oito braças de chãos partindo com Pedro Dias, correndo para a banda da fonte de que tenho carta dos ditos chãos.

Declaro que tenho mais uns chãos correndo da Itapema para o morro, dobrando a ponta. E o circuito do morro da banda de Francisco Alvres Marinho de que também ai clareza.

Declaro que possuo alguns serviços do gentio da terra, Ignácio casado com três filhos, Fernando casado com uma filha Domingos casado com cinco filhos, Miguel casado com dois filhos Miguel carijo casado com Francisca prenha. Bartolomeu casado, Inocêncio casado, Diogo casado estes casados tem todos suas mulheres que seus nomes seus maridos chamarem por elas. O serviço de casa são Luzia, Maria Izebia, Merensia, Bastiana com dois filhos. Declaro que uma mulatinha (filha de Maria ?) deixo a minha filha Clemensia para seu dote a qual mulata não entendera ninguém com ela para as partilhas por ela dita Clemênsia a criar até este tempo e sua mãe também assim o quer, Declaro que tenho três crianças bastardas duas fêmeas e um macho a mais, Maria e outra Margarida o macho Semiam. Esta mais velha tem onze para doze anos de que tratamos eu e minha mulher e ambos (com mais ?) a casa-la vindo um mancebo pardo pedreiro que mandei viesse e querendo casar com a dita rapariga Maria lhe daria o que se lhe prometeu no papel que lá lhe mandei com condição que fará as casas de sua sogra dando- lhe todo necessário para as ditas casas. Assim mais peço a minha mulher ponha os olhos nestas criaturas dando-lhe o ensino com espero lhe não faltará com ela e também peço os meus testamenteiros o Capitão Angelo Francisco e o Capitão Francisco Jacome o mesmo. E as ditas criaturas deixo forras e libertas conforme a vontade que minha mulher tem. Eu (vejo) o mesmo e a todo o tempo ponha os olhos neles. E ao macho dito Semiam deixo de esmola uns (Três réis ?) e um torno e peço a sua mãe a minha mulher que sendo homem que possa servir ao (ofício ?) so se sienta para ferreiro peço a minha mulher o ajude para o mais que faltar para o (aviamento ?) da dita tenda. Declaro que possuo sete cabeças de gado vacum. Declaro que tenho mais cinco cabeças de ovelhas. Declaro que possuo muitas peças de ferramentas de roças e machados, enxadas e algumas foices e mais outras ferramentas garlopas, junteiros, cantis, planios, serra grande, escuma ? pequena, martelo pequeno, martelo grande, um eixo grande e um eixo grande de martelo e olho um eixo goina de mão, eixos pequenos, quatro (berimestres ?) um trado grande de osso, duas (bevrinas) grandes de fazer portas um formão grande redondo com duas plainas direita de dois palmos de comprido um picão martelo e outros ferros mas que estão juntos com a dita ferramenta que aqui se nomeiam. Declaro que possuo três caixas de cinco e seis palmos de comprimento e uma mais pequena dos meus papéis mais possuo um taxo grande e outro taxo pequeno e uma bacia de fazer pão-de-ló e algumas miudezas de casa que nele se achava. Declaro que possuo três pedaços de roças desde o ano passado, de mandioca. Declaro que possuo uma roda de ralar mandioca e outra ferragem de roda, digo .... para uma roda de latão, uma prensa, outro quero para uma prensa. Declaro que tenho uma canoa de voga e uma canoa de três palmos de boca e seis bras de comprimento mais outra canoa de peroba com três palmos de boca e cinco braças e meia de comprimento. Declaro que tive umas contas com Francisco Conca?, curtidor morador em Santos. E este tal dito foi-se para o Rio de Janeiro a que se lhe pagasse dez mil reis. E não a acharam um lugar certo onde ele estava. E outra vez mandei pelo conseguinte o não acharam ao dito Francisco Correa?. E tornaram sem lhe darem nada, peço aos meus testamenteiros que logo se ponham e se ( ... ) de minha fazenda. E lhe pagarem aonde quer que o dito estiver ou notícia dele dito Francisco Correa? curtidor. Declaro que tive umas contas com Antonio Afonso mapa morador em Santos o qual lhe devia vinte mil reis e lhe paguei ao dito dinheiro no tempo que se (... ) o dinheiro e (...) vinte mil reis em (...), ficou com se (...) o qual dito dinheiro lhe não peço nada só lhe peço das contas que tive com Manoel da Silva o pagamento que lhe mandei pagar ele dito Antonio Afonso mapa lhe escreveu lhe tinham dado uns oito ou dez mil reis ou o que ele dito em sua consciência achou aquilo que cobrou de que peço aos meus testamenteiros procurem isso, Declaro que devo na vila de Santos a um mancebo alferes filho de Lamego casado que morava de fronte de Nossa Senhora da Graça peço a meus testamenteiros cobrando o que atrás tenho nomeado da dívida de Antonio Afonso mapa lhe dei dois mil reis digo quatro mil reis além dos dois mil reis que se lhe deve que vem as seis mil reis que é o que poderia o seu dinheiro e ser de que na (usura?) falta (...). Declaro que devo ao Capitão João Barbosa um corte de casaca singela que me deu João (...) sem nem um aviamento. E o preço de cada vara de pano da serra me desse que era cinco tostões. Declaro que das contas que tenho com o Padre Vigário lhe estou a dever dois mil reis que entre mim e ele não há mais contas.
E daí será o que ele disser. Tornando ao gentio da terra para dizem castigar minha consciência peço a minha mulher e a meus filhos os tratem como eu os tratei, entendendo sempre serem forros e livres e assim lhes encomendo se sirvam deles curando-os alimentando com a doutrina e o mais necessário a sua capacidade não os vendendo nem alheando por nenhum modo. Peço a meus testamenteiros queiram aceitar este cargo e fazer bem por minha alma cumprindo meus legados pagando o que é uso e costume as cruzes das confrarias que acompanharem meu corpo e mais pessoas eclesiásticas que de direito ... (ou) cedula por feito e (acamado) por ter declarado nele minha última vontade.
O qual valerá por testamento e (com dise-lo) no melhor modo que se possa e hei por quebrados e revogados quaisquer testamentos ou (com dise-los) que antes haja feito ainda que sejam com clausula de Roga (tou) e sob este quero tenha força e se cumpra inteiramente como nela se contem por firmeza da qual assinei de meu sinal com testemunhas que aqui assinaram comigo. E eu Paulo de Lima, Tabelião Público Judicial e Notas nesta vila de Nossa Senhora da Graça o escreveu // Antonio da Fonseca Pinto // João Barbosa Calhero // Estevão de Fontes // Pedro Gonçalves // João Dias de Arzão // Antonio Frz Madeira // Cumpra-se como nele se contem Vila da Graça, Rio de São Francisco – Seis de outubro de mil seiscentos e setenta e três anos. Manoel de Santiago // Cumpra-se como nele se contem Nossa Senhora da Graça, Rio de São Francisco, seus de outubro de mil e seiscentos e setenta e três anos. O Padre Miguel de Faria Filho

Versão transcrita por Ricardo Costa de Oliveira em 7/jan/2004

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RE: Antonio da Fonseca Pinto, testamento de 1673

#54806 | A.Godinho | 06 jan 2004 12:36 | Em resposta a: #54796

Caro Ricardo Oliveira

Poderá ser mera coincidência mas vale a pena deixar -lhe esta mensagem.
No tópico que abri sobre os meus Pinto de Vasconcelos coloquei:
"Procuro saber a ascendência de Domingos Pinto da Fonseca e de sua mulher Ana Maria.Foram pais de Fernão Pinto de Vasconcelos que foi escrivão da Câmara em Montargil, onde casou pela segunda vez a 20.1.1705 com Catarina dasNeves Dourado, e havia casado em Torres Novas( Santa Maria) pela 1ª vez a 3/9/1696 com Joana Baptista ( filha de António Antunes Ferreira e Maria Moniz (?).No assento do 1º casamento diz-se que Fernão era natural de S.João de Santa Cruz, Coimbra,no assento do segundo diz-se ser natural de Vermoil (Pombal?), e num assento de baptismo de um seu neto diz-se ser de Ansião !!! Alguém me pode ajudar?"
Por cautela refiro também que um dos filhos de Fernão se chamou António Pinto de Azevedo.
Poderá haver relação apesar da imensidão de mar que separa estes Pintos da Fonseca e Fonseca Pinto?
Apesar de as refªs me "atirarem" para as bandas de Ansião e Coimbra, é de notar que um dos padrinhos de um filho de Fernão se chamou António Pimentel Borges Botelho, que presumo ser um dos de Vila Real onde havia Azevedos, Vasconcelos e Pintos da Fonseca...!!!

Cumprimentos e votos de um Bom Ano
António Godinho de Carvalho

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RE: Antonio da Fonseca Pinto, testamento de 1673

#54867 | Ricardo de Oliveira | 07 jan 2004 11:11 | Em resposta a: #54806

Caro António Godinho de Carvalho

As suas informações são muito interessantes e relevantes. Trata-se de um período pioneiro e sem documentos no Brasil. Qualquer elemento novo pode ser uma pista a ser considerada. O Antonio da Fonseca Pinto se declara sobrinho do fundador de São Francisco do Sul, o povoador Manoel Lourenço de Andrade, natural de Lamego e filho de Manoel Lourenço e de Branca de Andrade.

Obrigado e Feliz 2004

Ricardo Costa de Oliveira

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RE: Antonio da Fonseca Pinto, testamento de 1673

#262567 | pradojus | 21 set 2010 04:51 | Em resposta a: #54867

Estimados, este PINTO, dá nome às terras que mais tardes pertenceram a meu bisavô e trisavô respectivamente por minha linhagem paterna os OLIVEIRA DO PRADO, e se encontra no Distrito do Saí, Vila da Glória no município de São Francisco do Sul, estado de Santa Catarina, sul do Brasil. As terras ainda existem e as ruínas dos engenhos também.
Mandem notícias: Rafael

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RE: Antonio da Fonseca Pinto, testamento de 1673

#277671 | LouRodrigues | 04 jun 2011 13:30 | Em resposta a: #54806

Caro Carlos Barata
Gostaria de saber se o Domingos Pinto da Fonseca, citado acima, é o mesmo que descrevo abaixo:
Nas minhas pesquisas sobre os engenhos de Pernambuco (http://engenhosdepernambuco.blogspot.com/) aparece um Domingos Pinto da Fonseca, sócio de Diogo Lopes Lobo. Proprietários do engenho Massaranduba/Joaquim Nabuco, antes Goiana. Esse engenho foi confiscado pelos holandeses e vendido a N. Koets, em 1637. Na época o engenho ficava localizado na freguesia de São Lourenço de Tejucupapo. Diogo era neto de Fernão de Carvalho de Sá Albuquerque; e casado com Catarina Vidal de Negreiros NOTA: Não se sabe em que tempo a povoação de Ponta de Pedras?Pernambuco/BR foi elevada à categoria de freguesia. Quando a missão foi organizada por Frei Antônio de Campo-Mayor, no ano de 1589, em terras da Capitania de Itamaracá/PE, esta região fazia parte da freguesia de São Lourenço de Tejucupapo, criada em 1555. Em 1630 suas terras já estavam incorporadas ao patrimônio do engenho Massaranduba, de propriedade das famílias Diogo Lopes Lobo e Domingos Pinto da Fonseca, confiscado pelo domínio holandês, em 1637.

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