Politica externa de D.Sancho I e filhas
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Politica externa de D.Sancho I e filhas
D. SanchoI foi o nosso 2º Rei e além de contenuar a conquista para sul também, segundo parece, se preocupou um pouco com a politica externa e um elo dessa politica foram os casamentos de suas filhas. Estranhamente uma delas casou com o rei Viking da Dinamarca Valdemar II. também estranhamente uma filha do rei seguinte o afonsoII casou com o Valdemar III.
Alguém tem dados concretos sobre a razão de tais casamentos?
Como a Noruega e Dinamarca eram as entidades administradoras da Terra Nova e Greenland Seria já um primeiro passo dos descobrimentos e pesca do bacalhau no Canadá.
Cumprimentos,
Angeja
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RE: Politica externa de D.Sancho I e filhas
Caro Angeja
Ele há coisas…
Pois não é que na semana passada me falaram disso mesmo?
Não propriamente um tratado de pesca bilateral entre Portugal e a Dinamarca para o arenque do Mar do Norte ou o bacalhau da Terra Nova.
A notícia refere o aparecimento num artigo (não me foi dito onde), que enuncia as conclusões a que chegou recentemente um investigador dinamarquês, cujo nome arrevesado não fixei. Teria achado valiosa documentação sobre tratados altamente sigilosos entre o nosso D. Afonso Henriques, D. Pedro II de Aragão e Valdemar I da Dinamarca, sob os auspícios do Papa Inocêncio III, ao tempo da 3ª Cruzada. O objectivo não era propriamente a demanda do Santo Graal mas o estabelecimento duma nova rota para o alcance das especiarias do Oriente!!!
Aqui surge já discrepância cronológica. O nosso Rei Conquistador não foi contemporâneo de Pedro de Aragão e muito menos com Inocêncio III. Confusão com o neto, D. Afonso II, não é possível pois este foi contemporâneo da 5ª Cruzada e não da 3ª. Depois, casado que era com uma Infanta de Castela, não creio que fizesse tratados com os reis de Aragão. Depois, em seu reinado, o Papa Inocêncio era já morto!
É realmente possível que se trate de D. Sancho, que continuando a política de seu Pai a aprofundou nas mais variadas vertentes. Depois, foi genro de Petronilla e de facto contemporâneo reinante, de Pedro II de Aragão.
É sabido que os casamentos reais eram normalmente antecedidos de complicados tratados (alguns que nos trouxeram perdas grandes, mas isso são contas dum outro rosário…), e na verdade não avultam os casamentos de infantas portuguesas nos reinos do norte da Europa. Estes são realmente os únicos e como estas coisas não se faziam ao acaso algum fundo de verdade haverá nesta notícia, na sua, no seu conjunto.
Pode ser que algum investigador em Simancas nos leia e possa esclarecer. Viradas e reviradas algumas H. P. que aqui tenho, não encontrei a menor pista. Amanhã vou tentar o Prof. Oliveira Marques, que costuma dar alguma primazia aos tratados de carácter económico.
Cumprimentos,
MM
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RE: Politica externa de D.Sancho I e filhas
Olá
que imaginação fértil....sinto desapontá-la (e a Magalp), mas a Dinamarca não tinha nenhum interesse em acordos secretos ou públicos com Portugal.
Os historiadores dinamarqueses são bem claros que estes casamentos só se fizeram por intermédio do Condes de Boulogne (estou na dúvida agora se eram estes condes) que eram aparentados com os primeiros Reis de Portugal.
Os casamentos visavam a reforçar alianças da Dinamarca com estes condes, não com Portugal
Alberto Penna Rodrigues
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RE: Politica externa de D.Sancho I e filhas
"por intermédio do Condes de Boulogne (estou na dúvida agora se eram estes condes)"
eram os Condes de Flandres
Alberto Penna Rodrigues
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RE: Politica externa de D.Sancho I e filhas
Caro Alberto Penna Rodrigues e restantes participantes,
È preciso ter em conta quem eram os Condes da Flandres na época.
Matilde, filha de D. Afonso Henriques casou com o Conde da Flandres. O marido faleceu em 1190 na Cruzada e ela foi extremamente influente falecendo apenas em 1218.
Um filho de D. Sancho I, Fernando, casou com a condessa da Flandres e teve uma importância enorme na época opondo-se ao rei de França, Filipe Augusto. Foi um dos protagonistas da célebre batalha de Bouvines. Visitando o local da batalha há alguns anos constatei que existe uma igreja aonde Fernando está representado nos vitrais.
É possível que estas personalidades tivessem pesado nas opções de casamento mencionadas.
Cumprimentos
JLiberato
Lisboa
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RE: Politica externa de D.Sancho I e filhas
Caros Amigos,
Para de certo modo justificar a minha pergunta junto envio o que escrevi sobre a pesca do bacalhau na idade média e a razão das minhas duvidas em relação à possibilidade de pesca no inicio da nacionalidade,
O bacalhau foi um peixe que durante muitos séculos existiu, em grande quantidade, em todo o Atlântico Norte, desde as costas do Canadá à Noruega e a sua abundância era tal que os Vikings, nos primeiros anos que viveram na Groenlândia, cantavam nas suas sagas a grande quantidade de bacalhau que, diariamente, na maré cheia, enchia os fiordes. Em alguns locais os cardumes eram tão grandes que a água parecia ferver.
Não se sabe ao certo quando começou a pesca do «fiel amigo» e é mesmo possível que tenha sido pescado desde a antiguidade por vários povos, infelizmente, hoje, os indícios coevos mais antigos surgem somente no século VI DC.
Entretanto os Vikings, habitantes dos Fiordes da Escandinávia, guerreiros e navegadores de coragem indomável, que desenvolviam já, desde o Século IV, uma mestria náutica superior à dos povos da sua época, iniciaram a sua expansão assolando as costas da Europa, , chegando mesmo a entrar no Mediterrâneo.
Em 983, Erik «o Vermelho», ao ser desterrado da Islândia, navegou para oeste atingindo uma terra arborizada e coberta de bons prado, a que chamou Greenland (Groenlândia). Regressado à Islândia, Eric formou uma armada de 27 navios e partiu para a terra descoberta, onde se instalou.
Cerca do ano 1000 seu filho Leif Ericsson, que herdou do pai o espirito aventureiro, navegou para sul. Saído da Groenlândia, atingiu novas terras que designou por Waldland, Helluland, Markland e Vineland, as quais, possivelmente, são a Terra Nova, a Nova Escócia, o Lavrador e a Nova Inglaterra dos nossos dias.
Logo após estas descobertas, os Vikings instalaram-se nas novas terras, que mantiveram colonizadas por alguns séculos, como cantam as Sagas Escandinavas.
Há conhecimento de outros aventureiros que, ainda no século XII, procuraram aquelas tão apetecidas terras do norte, sendo de destacar os Irmãos Errantes ou Aventureiros que saíram de Lisboa em 1170 e os Irmãos Frison embarcados em Breme, mas não há dados seguros que confirmem essas viagens e a pesca do bacalhau já nessa época. Sabe-se também que em 1261 o Rei da Noruega, vendo o interesse de vários países pelas novas terras, tomou para sua dependência a Groenlândia demonstrando que a descoberta era efectiva, monopolizando com a Dinamarca o comercio daquela região, de qualquer modo acabaram ao fim de algum tempo por negligenciar essas colónias de além mar conquistadas pelos seus ancestrais .
Possivelmente, ao mesmo tempo, os pescadores lusos tinham já conhecimento dessas descobertas, pois contactavam muitas vezes com marinheiros do Norte que frequentavam os nossos portos, sendo, na altura, o da foz do Vouga um dos mais privilegiados pois era de fácil acesso, tinha vários esteiros abrigados com fontes de aguada e era frequentado por grande numero de navios que vinham carregar sal e outros produtos da região.
Apesar de não haver hoje qualquer indicio de pesca do bacalhau logo no inicio da nacionalidade, há conhecimento de alguns contactos entre os nossos primeiros reis e os nórdicos, tendo-se realizado mesmo casamentos de princesas portugueses com príncipes da Dinamarca e Holanda como por exemplo o de uma das filhas de D.Sancho I com o rei dinamarquês Valdemar II .
No Século XIV, no reinado de D. Pedro I, os portugueses pescavam já nas costas de Inglaterra e nos mares setentrionais, tendo sido obtida, em 1353, do rei Eduardo II de Inglaterra, uma licença para pescar e frequentar os seus portos.
Possivelmente por esta razão e devido ao grande incremento das navegações comerciais que da Ria de Aveiro para o norte da Europa que no século referido nasceu em Ilhavo, no seu termo, a Confraria de Santa Maria de Sá, uma corporação de pescadores e mareantes que não admitia no seu grémio indivíduos de outras profissões.
Durante o Século XV, homens do mar de Bristol, Italianos, Biscainhos e Portugueses lançaram-se através do Atlântico setentrional dirigindo as suas actividades piscatórias para uma espécie que já frequentara paragens mais perto das costas europeias e, finalmente, por essa altura, a Corte Portuguesa começou a estar interessada nas terras do norte, tendo o Infante D. Fernando e sua mulher D. Beatriz mandado, em 1473, o navegador açoreano João Corte Real e Álvaro Homem descobrir a «Terra Nova dos Bacalhaus. Vinte anos mais tarde, em 1495, João Lavrador e Pêro de Barcelos chegaram à Groenlândia e à península do Lavrador, ao mesmo tempo que o veneziano Cabot arribava à Terra Nova e, entre 1500 e 1506, os irmãos Miguel e Gaspar Corte Real, seguindo a Rota do seu pai, procurando a tão apetecida passagem Ocidental do norte para o Catai, aportaram à Terra dos Bacalhaus e acabaram por desaparecer algures nos mares gelados do norte, possivelmente no rio S. Lourenço, tendo sido descoberta, no inicio deste século, pelo arqueólogo canadiano Delabarre, junto ao rio Tautum, a pedra de Dighton, onde existem marcadas algumas inscrições em que alguns historiadores dizem ler:«1511 V, Dei Rex Ind – Miguel Corte Real».
Há ainda conhecimento de muitos outros aventureiros que exploraram o Atlântico Norte sendo de referir, a titulo de exemplo, alguns deles: João Alvares Fagundes, Pêro Vasquez, Diogo Teive, Pêro Velasco, Fernão Dulmo, João Afonso do Estreito, Fernão Teles, João Valadão, Baldaia, etc. Segundo Jaime cortesão e a titulo de exemplo, Diogo de Teive em parceria com o castelhano Pêro Vasquês ao regressar em Agosto de 1452 dos bancos da Terra Nova fez o achamento da Ilha do Corvo e Flores pertencente ao arquipélago dos Açores. De acordo com o texto referido tudo leva a pensar que a deslocação aos bancos do bacalhau era já habitual.
Como referi houve muitos povos que procuraram as terras dos bacalhaus, tendo muitos deles conseguido os seus intentos, apesar disso, em 1860, Vilhena Barbosa no seu livro «As Cidades e Villas da Monarchia Portuguesa» diz a dado passo:
.......«Aveiro foi pátria de muitos varões, por actos de virtude, por letras e saber, por viagens e descobrimentos, e enfim, por acções de coragem e valor. Iríamos muito longe, se pretendêssemos fazer catálogo dos seus nomes, e obras. Diremos, porém, que aos filhos d’ Aveiro se deve a descoberta da «península????» na costa setentrional da América, chamada Terra Nova, aonde depois foram por longa série de anos fazer a pesca do Bacalhau,»......
Também numa passagem dum dicionário geográfico de 1873, ao ser descrita Aveiro e a sua historia, é referido por duas vezes a saga do bacalhau, em paginas diferentes:
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«Ainda em 1550 tinha 12:000 habitantes e 150 navios(quasi todos aqui construídos, e sendo alguns naus e galeões) .
Só para a pesca do bacalhau no Banco da Terra Nova (descoberto por navegantes de Aveiro) armava mais de 60 navios.
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Já disse que uns nautas daqui descobriram a Terra Nova (ou de Lavrador) na costa septentrional da América.»
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Estas linhas que indicam os povos da Ria de Aveiro como descobridores da Terra Nova poderão ter alguma credibilidade pois a Enciclopédia «Portuguesa e Brasileira» refere a existência de um navegador de Aveiro, chamado João Afonso, que sendo um dos mais arrojados da sua época, foi dos primeiros a alcançar a Terra Nova. A existência deste navegador parece confirmar-se, pois em 1552 o Juiz de Fora da Vila de Aveiro, numa carta enviada ao rei, inclui, no rol dos navios existentes na Foz do Vouga, uma nau de 80 toneis e uma caravela de 60 toneis pertencentes à viuva daquele navegador, tendo a primeira como mestre um dos seus filhos. No entanto, aquele navegador não deve ser confundido com João Afonso de Aveiro, piloto de Diogo Cão, que descobriu o reino de Benin e acabou por falecer nesta região Africana.
Além das indicações referidas, segundo diziam, na altura, os pescadores Normandos e Bretães, aportados à Terra Nova, já lá se encontrava uma colónia de pescadores da foz do Rio Vouga, financiada por comerciantes de Aveiro e da Ilha Terceira, que controlava grande parte do litoral desde o inicio do Século XVI. O resultado da pesca longínqua era tal que a dizima sobre o pescado, mandada cobrar por D. Manuel, em 1506 e referida no Foral de Aveiro de 04 de Agosto de 1515, no caso concreto do bacalhau, deu para pagar as despesas das viagens dos irmãos Corte Reais,
Nessa época partiam anualmente para a Terra Nova cerca de 100 caravelas e naus dos rios Vouga e Lima para a pesca do bacalhau e a meio desse século a Ria de Aveiro, que era um dos portos nacionais mais importantes, suplantando mesmo o Porto, com uma frota de 75 navios(este valor como é referido num documento coevo deve ser mais correcto o referido na publicação do século XIX referida anteriormente) fazia comercio com a Irlanda e Inglaterra, mas sobretudo seguiam as rotas da Terra Nova.
Mas não se julgue que no século XVI só pescavam nas águas da Terra Nova navios de Aveiro, pois também lá andavam naus de Leça e Viana do Castelo e cerca de 1580 reuniam-se anualmente, segundo Élisée Reclus, no Grande Banco, trezentos e cinquenta a quatrocentos navios, dos quais cento e cinquenta eram franceses, cem espanhóis, cinquenta portugueses, vinte a trinta bascos e trinta a quarenta ingleses. Segundo o livro de registos da Câmara da vila de Aveiro, num alvará exarado no mesmo livro, fls 10, no ano de 1572, consta que havia na vila estendais para secar e beneficiar o fiel amigo.
Como os navios do Século XVI não tinham geralmente instalações para as tripulações, a existência destas colónias permite pensar que a forma de pesca então praticada seria do tipo sedentária. Os navios ficavam geralmente , durante toda a safra, ancorados em qualquer porto natural e a tripulação instalava-se em terra, pescando diariamente em pequenos barcos ao logo da costa. Há , no entanto conhecimento de que algumas naus se mantinham ao largo, sendo o bacalhau pescado directamente do seu interior.
Ainda que, ao longo do Século XVI, a pesca do bacalhau continuasse de vento em popa, saindo do Vouga cerca de 60 navios , nos finais desse século os corsário ingleses e franceses começaram a atacar com certa assiduidade os navios regressados da pesca, que geralmente navegavam desarmados e sem protecção. Face à situação em causa no reinado de D.Sebastião, segundo o regimento de 5 de Novembro de 1571, foi determinado aos navios de pesca a utilização de armamento e as condições em que se deveriam agrupar para sua defesa. Apesar da melhor segurança deter minada contando-se que em 1585 foram apresados, junto às rias da Galiza, onze naus de bacalhau pertencentes à Ria de Aveiro.
É mesmo conhecida a história do piloto Marcos Vidal que recebeu em 1586 uma tença anual do Rei D.Filipe porque depois de ver o seu bacalhoeiro apresado por corsários ingleses conseguiu libertá-lo e capturar mesmo os assaltantes.
Estas acções de corso, aliadas à ocupação da Terra Nova em 1583, pelo inglês Gilbert Raleigh, a destruição da maior parte dos navios portugueses na «Invencível Armada», o assoreamento da foz do Vouga e as dificuldades que a Coroa tinha com a segurança da Rota da Índia terminaram com a participação de Portugal na pesca longínqua e, como hoje, o bacalhau consumido pelos portugueses passou a ter origem estrangeira, proveniente, principalmente de Inglaterra e das suas colónias Americanas.
Portugal esteve cerca de dois séculos e meio sem pescar o «fiel amigo» mas, durante esse longo período, os povos da Ria de Aveiro e entre eles os Ilhavos, vendo o seu porto abrigo encerrado, lançaram-se ao longo da costa nacional criando novos pontos de pesca costeira, desde Matosinhos ao Algarve, formando uma diáspora de lobos do mar audazes referida por Almeida Garret e outros escritores nacionais. Foi essa diáspora juntamente com outros pescadores portugueses que, na terceira década do século XIX, participaram no arrancar da nova safra do bacalhau e os Ilhavos que ficaram no chão onde nasceram, quando sentiram a barra artificial da Ria de Aveiro razoavelmente segura, lançaram-se novamente na pesca longínqua deixando para outros as areias douradas das praias, os seus barcos «meias luas» e as redes costeiras.
Fontes:
· Foral outorgado por D. Manuel I a Aveiro.
· «Nouvelle Géographie Universelle»(1890) – XV volume - «América Boreal» de Élisée Reclus.
· «Historia de Portugal» de Rebelo da Silva.
· «Livro dos acordos da Câmara Municipal de Aveiro de 1580»
· «Trabalhos Náuticos dos Portugueses» de Sousa Viterbo
Cumprimentos,
Angeja
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