Citânia de Briteiros (Inauguração)

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Citânia de Briteiros (Inauguração)

#76924 | Carlos Silva | 10 nov 2004 14:37

Caros colegas,

Recebi a seguinte noticia, a proposito da Inauguração da Casa de Acolhimento da Citânia de Briteiros, que passo para os colegas interessados pelo povoamento antigo de Portugal :

Local: Citânia de Briteiros - S. Salvador de Briteiros 4800 Guimarães

A Sociedade Martins Sarmento vai inaugurar, no próximo dia 20 de Novembro, às 15:00 horas, a nova Casa de Acolhimento da Citânia de Briteiros.

A obra que agora irá ser inaugurada substituirá a Casa do Guarda construída na Citânia em meados da década de 1930, hoje inadequada à função de recepção e apoio aos milhares de visitantes que todos os anos procuram aquele sítio arqueológico, possibilitando a remoção dum objecto arquitectónico com uma volumetria e um local de implantação que colidem com o equilíbrio da paisagem envolvente. O novo edifício foi concebido com o propósito de se anular na sua relação com as construções castrejas envolventes, inserindo uma surpreendente marca de modernidade naquele património milenar.
Com esta obra, conclui-se um ciclo de valorização do sítio mais emblemático do povoamento castrejo do noroeste português, iniciado com o Congresso de Proto-História Europeia, realizado em Guimarães em 1999, e que incluiu o reacondicionamento das ruínas da Citânia e a criação do Museu da Cultura Castreja, inaugurado há um ano, na casa de Briteiros que pertenceu a Francisco Martins Sarmento.
Concluído o processo de dotação da Citânia de Briteiros com infra-estruturas modernas e funcionais, inicia-se um novo ciclo de tarefas da Sociedade Martins Sarmento centrado fundamentalmente na produção científica e na aposta na divulgação nacional e internacional. É neste quadro que se insere o envolvimento da SMS no processo de candidatura a património da humanidade de uma rede de povoados castrejos do noroeste peninsular (Portugal e Galiza) recentemente lançado.

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Melhores cumprimentos
Carlos Silva

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Citânia de Briteiros (resumo explicativo)

#76926 | Carlos Silva | 10 nov 2004 14:44 | Em resposta a: #76924

Serà melhor provavelmente lembrar o que é a Citânia de Briteiros.
Segue portanto um interessante texto de Francisco de Sande Lemos, arqueólogo da Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho.

CITÂNIA DE BRITEIROS


1. As ruínas da Citânia de Briteiros são citadas, pela primeira vez, nos textos dos antiquários do século XVI.
Todavia, só principiaram a ser estudadas, a partir de 1875, quando Martins Sarmento aí realizou os primeiros trabalhos arqueológicos, que se ampliaram nos anos seguintes, revelando um extenso povoado, defendido por poderosas muralhas.
A Citânia, mal grado o alargamento das escavações a numerosos outros castros do Noroeste de Portugal e da Galiza, continua a ser o paradigma dos grandes povoados proto-históricos, cujas origens remontam à Idade do Bronze Final e se desenvolveram ao longo da Idade do Ferro.
Será, porventura, um dos maiores povoados fortificados do Noroeste Peninsular.
Este amplo povoado foi implantado num relevo granítico em esporão debruçado sobre o vale do Ave. O esporão beneficia de excelentes condições de defesa natural, devido ao pendor das suas vertentes. Porém o que mais se destaca é o seu excepcional posicionamento geo-estratégico. Dominando o médio vale do rio Ave, controla também as portelas de passagem da bacia do rio Este para sul. Por um lado, fecha o corredor fluvial de penetração no interior, para o alto Ave e, por outro, vigia o tradicional caminho das terras do Este e do Cávado para sul, para as bacias dos rios Ave, Sousa e Douro, corredor natural por onde mais tarde será construída via de Bracara para Emerita.
Por outro lado interessa salientar que no âmbito mais vasto da região de Entre Douro e Caminho, a Citânia ocupa o centro geométrico desse espaço geográfico, a meia distância entre a orla marítima a as montanhas interiores, bem como a meio caminho entre aqueles dois rios.
O seu posicionamento assegurava, a uma outra escala, a do seu território próximo e envolvente, o acesso às terras férteis do vale e às pastagens dos relevos que se estendem até à cumeada da Falperra – Sameiro. Uma vez que não se conhece nenhum outro grande povoado na direcção noroeste julgamos ser lícito afirmar que grande parte do território que se estende nessa direcção, até à linha das águas vertentes que separam o Ave do Este, estava sob domínio da Citânia.
Um outro aspecto não menos importante do relevo em que assentou o povoado era a abundância de afloramentos graníticos, como se observa em tanto cumes de Entre Douro e Minho. Estes afloramentos facultaram a matéria-prima com que foram construídas as muralhas e as habitações do castro. Actualmente a plataforma superior é quase rasa, sendo evidente em muitos locais o granito liso, cortado, na vertical e na horizontal. Devemos, contudo, pensar que anteriormente o alto do esporão era formado por imponentes afloramentos de granito, numa fase inicial, quando se instalou o primeiro núcleo habitacional, na Idade do Bronze, no século X ou IX antes de Cristo.
Como todos os grandes povoados castrejos era defendida por um complexo sistema defensivo, formado por três linhas de muralhas que delimitavam uma vasta área, da qual apenas terá sido escavada cerca de metade, ou menos.
Devido à circunstância de estar afastado de aglomerados populacionais recentes as suas ruínas não foram muito afectadas, não se verificando o roubo de pedra que ocorreu em tantos outros povoados da Idade do Ferro. Por outro lado, a feliz circunstância de ter sido parcialmente adquirida por Martins Sarmento no século XIX e classificada como Monumento Nacional, facilitou a conservação, em bom estado.
Os dois grandes ciclos de escavação e restauro devem-se a Martins Sarmento, de 1875 a 1889 e, no século XX, a Mário Cardoso que dirigiu trabalhos de escavação entre os anos trinta e cinquenta.
Deste modo o conjunto de ruínas que se podem observar, na área intra-muros é bastante vasto, com paralelos nas Citânia de Sanfins ou de Terroso.
Embora Francisco Martins Sarmento tenha descoberto uma área considerável do povoado, como se pode verificar pela planta topográfica de 1892, a intervenção efectuada pelo Coronel Mário Cardozo também foi ampla não só em termos de área escavada, como também em trabalhos de restauro. De acordo com o próprio levantou mais de um mil metros de muralha. Por outro lado, foi ele que recuperou os grandes arruamentos e que descobriu toda uma série de novas unidades habitacionais, em diversos pontos da Citânia. Ou seja, deve-se a Mário Cardozo a fisionomia actual do monumento, uma vez que no último quartel do século XX, apenas se realizou uma pequena intervenção e já em 2002 uma sondagem de carácter preventivo, no local onde vai ser construído o novo edifício de acolhimento aos visitantes. Os trabalhos de valorização destes últimos anos limitaram-se a consolidações de muros já restaurados e à limpeza de áreas que jaziam ao abandono deste as intervenções de Mário Cardoso.
Pode-se questionar a bondade de trabalhos tão dilatados, durante várias décadas num local de tamanha importância científica. Se é verdade que se perderam muitos dados, por outro lado adquiriu-se uma extraordinária visão de conjunto, que é facilitada pelas características do relevo. Ademais as escavações incidiram em especial sobre os estratos superiores, já da época romana, ou do século I antes de Cristo, de tal modo que o subsolo da Citânia ainda conserva muitos segredos para revelar sobre a sua extensa história, que remonta á Idade do Bronze.
Como em qualquer outro povoado da Idade do Ferro, as muralhas constituem um dos elementos mais destacados da Citânia. Foram identificadas três linhas de muralha que se desenvolvem a partir do istmo do esporão, alargando-se para sudeste e sudoeste, de acordo com morfologia do terreno. Quer devido à dimensão do povoado, quer porque a estrada nacional entre Briteiros e Braga, cortou duas linhas de muralha a oriente, o visitante não consegue abranger a área da Citânia, em toda a sua plenitude. Só através da fotografia aérea e dos levantamentos cartográficos é possível adquirir uma perspectiva fidedigna do povoado.
Há duas plantas da Citânia, uma elaborada em 1892 e outra em 1999. Cumpre elogiar o trabalho do engenheiro Álvaro Cantelães, que permite conhecer a área escavada por Martins Sarmento e que, pela análise no terreno, nos parece ter sido realizada com cuidado e escrúpulo. Tal cuidado verifica-se, por exemplo, no registo do caleiro que conduzia a água da nascente existente no alto nordeste do castro para o balneário, conduta pintada a azul. Supomos, mesmo, que terá sido o primeiro levantamento topográfico de um povoado castrejo. Para quem conhece o delicado material usado na época, aparelhos que implicavam pacientes operações de nivelamento, podemos imaginar o esforço e o tempo que terá exigido.
Foi esta a planta utilizada nas sucessivas edições do guia da Citânia de Briteiros e do Castro de Sabroso, redigido por Mário Cardoso.
Em 1999 foi realizado um novo levantamento topográfico por António Correia, o qual já inclui a área escavada por aquele arqueólogo. Trata-se de um trabalho que nos parece bastante bom e que se lamenta não tenha sido ampliado para ocidente e para a encosta voltada ao Ave, incluindo assim todas as muralhas.
Para quem visita a Citânia a primeira impressão recai sobre os arruamentos, em particular sobre o grande eixo que atravessa no sentido sudoeste-norte, calçada que vai do balneário até ao sector nordeste da plataforma superior do povoado. Sem sondagens não é possível datar estes arruamentos. Inserem-se todavia na fase plena da Cultura Castreja, no chamado proto-urbanismo de influência mediterrânica. Estamos em crer que os arruamentos da Citânia sejam antigos, embora melhorados na transição da Era Cristã.
Na área já escavada da Citânia observam-se pelo menos seis eixos, dos quais o mais extenso já foi referido. Este grande arruamento permitia, e ainda permite, aceder à plataforma superior num trajecto com pendor relativamente suave, adaptando-se de forma oblíqua à encosta oriental do povoado. A aspereza do empedrado leva-nos a considerar a hipótese de ter sido revestido, periodicamente, com uma argamassa dura obtida com arena granítica bem compactada. Aliás, um dos tramos que hoje se percorre foi lajeado na década de trinta, a fim de facilitar o caminho. É um trabalho típico da Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais. Deste grande arruamento divergem para poente, no sopé da encosta, duas outras ruas.
Na parte nordeste do povoado o grande eixo que acabamos de referir cruza-se com outra rua que divide em duas metades a plataforma superior.
Desta rua principal, orientada de nordeste para sudoeste, divergem para sudeste, pelo menos outras duas ruas, as quais atravessam a plataforma e descem com acentuado pendor a encosta, ligando-se ao grande eixo que vai do balneário à plataforma superior.
Estes arruamentos delimitavam, assim, grandes bairros, os quais por sua vez, estavam divididos em unidades habitacionais de menor dimensão. Só uma análise minuciosa das notas de Martins Sarmento permitirá retirar eventuais ilações sobre diferenciações sociais ou funcionais correspondentes a esses bairros.
Quanto às unidades habitacionais sabe-se hoje que correspondiam a famílias extensas. É ossível admitir que as unidades situadas na plataforma superior fossem ocupadas pelas famílias mais ilustres. Sabemos que uma dessas unidades era a Casa de Coronero, filho de Câmalo, localizada num dos pontos mais simbólicos da Citânia, num local elevado, com uma ampla panorâmica sobre o vale do rio Ave. Martins Sarmento afirma que foi no local da Casa de Câmalo que se recolheram mais elementos arquitectónicos decorados. Somos, pois, levados a especular sobre uma possível relação entre a importância da família e a decoração das paredes.
Cada uma destas “Casas”, era formada por várias construções, com finalidades distintas e que se aglomeravam num espaço delimitado por um muro. O pátio era lajeado conforme ainda hoje se observa em muitos destas unidades, na Citânia. A construção principal era normalmente circular, com um átrio exterior, num dos quais se encontraram bancos. Esta seria a habitação principal da família. Outras construções circulares localizadas no mesmo espaço, poderiam ser casas de outros membros da família, eventualmente dos mais jovens. Construções rectangulares seriam espaços destinados a guardar alfaias, utensílios e alimentos. Segundo Armando Coelho uma cisterna faria parte do conjunto familiar.
A maioria destas unidades abria para as ruas que já mencionámos.
Quanto à cobertura das construções seria em colmo, colocando-se duas hipóteses: uma única para o conjunto, tal como foi proposto por Armando Coelho numa reconstituição materializada na Citânia de Sanfins; ou tectos individuais.
As duas casas reconstruídas na Citânia, por Francisco Martins Sarmento, têm, como é evidente, paredes demasiado altas para a dimensão das casas. O próprio arqueólogo não ficou satisfeito com as reconstituições que mandou fazer. Todavia possuem um valor histórico por terem sido os primeiros restauros integrais de habitações castrejas.
Para além das unidades familiares, as ruínas da Citânia facultam-nos a possibilidade de observar uma casa de grandes dimensões, sem dúvida a Casa do Conselho, onde se reuniam os chefes das principais famílias.
Diversos autores sugeriram que a área habitada da Citânia seria restrita e que algumas das paredes que se observam na encosta oriental poderiam ser redis de gado. Consideramos como pouco provável essa hipótese: as recentes sondagens efectuadas no local onde vai ser erguida a nova casa de acolhimento dos visitantes da Citânia, revelaram mais uma unidade habitacional, embora mal conservada, restando apenas os pavimentos.
O balneário, outro dos mais destacados elementos arquitectónicos da Citânia, foi descoberto em 1930, quando se abriu a estrada que corta a vertente leste do Monte de S. Romão. De acordo com o traçado das muralhas registado em 1892 situava-se intra-muros não muito longe da porta de entrada assinalada na mesma planta.
Nas escavações realizadas neste importante povoado, durante décadas, recolheu-se muito espólio da mais variada natureza. O mais abundante é a cerâmica. De acordo com os conceitos da época Martins Sarmento guardou apenas os fragmentos de cerâmica decorada ou com perfis completos. Esta circunstância pode levar a uma ideia errada da olaria castreja. Na verdade, como ficou demonstrado nas sondagens de 2002, a quase totalidade da cerâmica era lisa. Este vasilhame era usado na cozinha, como louça de mesa e, talvez, com funções rituais.
A par da cerâmica o número de elementos arquitectónicos decorados é bastante significativo o que talvez indique um povoado onde o número de linhagens poderosas seria relativamente amplo.
Um aspecto que deve ser sublinhado é a importância da Citânia como núcleo de produção metalúrgica.
Já Armando Coelho chamou a atenção para peças inacabadas, para fíbulas por completar, que constam das reservas do Museu da Sociedade. Recentemente, em 2002, recolhemos vários indícios de actividade metalúrgica, cadinhos e escórias. De resto já Martins Sarmento tinha divulgado um molde de sítula, com os habituais motivos estampilhados, um dos primeiros a ser descoberto no Noroeste Peninsular. Entre os artefactos de bronze produzidos, para além de armas e de alfaias agrícolas, os mais numerosos seriam as fíbulas e os alfinetes de cabelo. Um objecto frequente, também produzido na Citânia, a julgar pelos fragmentos recolhidos nas sondagens de 2002 seriam caldeirões de bronze, talvez utilizados nas refeições.
Caso os solos do Minho fossem menos ácidos muito outros tipos de artefactos teriam sobrevivido até hoje, facultando uma ideia mais ampla da vida quotidiana de um grande povoado como a Citânia de Briteiros.
Um dos aspectos menos conhecidos dos castros eram os rituais funerários. Tudo indica que as sepulturas que se observam na Citânia são da época cristã, da Idade Média, correspondendo a uma derradeira ocupação do Monte, talvez nos períodos conturbados dos séculos VIII-X. Todavia, há alguns escassos indicadores que apontam para a prática de enterramentos ou cremações no interior das próprias unidades habitacionais, em fossas, sob o lajeado dos pátios, e que poderiam ser acompanhados por pequenas oferendas. Por exemplo no Castro de Santo Ovídio foi escavada uma fossa com um vaso de cerâmica comum intacto. Na Citânia as arrecadas de ouro descobertas num interior de um vaso numa esquina de uma casa, poderiam corresponder a urna funerária de uma mulher. Outros objectivos votivos em bronze recolhidos nas diversas campanhas tivessem estivessem associados aos ritos funerários.
Esta ritual de enterramentos junto das habitações é um costume observado em numerosos povos de África, por exemplo.

2. O domínio romano não parece ter afectado a Citânia. Algumas referências de textos clássicos sobre o abandono dos castros devem ser encaradas com muita prudência. Situada junto de uma das grandes vias de circulação da Hispania, entre Bracara e Emerita, a Citânia manteve a sua importância e continuou a ser, pelo menos durante o Alto Império o mais importante povoado do médio curso do Ave. Os inúmeros objectos importados revelam um núcleo habitacional habitado por famílias com poder de compra, com gostos requintados, que passaram a usar a nova louça de mesa, a terra sigillata e taças de vidro, bens idênticos aos que se encontram em Bracara Augusta. A abundância de ânforas vinárias documenta o consumo de vinho.
Foram catalogadas pelos menos 81 moedas desde Augusto a Adriano, o que nos indica a inserção da Citânia na nova economia monetária.

3. Apesar do muito que se tem escrito sobre a Citânia seria desejável retomar o seu estudo sistemático, quer através de intervenções cirúrgicas em locais cuidadosamente escolhidos, quer pelo exame minucioso dos apontamentos de Francisco Martins Sarmento e dos relatórios do Coronel Mário Cardoso. Por um lado seria deste modo possível redigir a história minuciosa da descoberta e valorização de um local paradigmático da Arqueologia Portuguesa. Por outro, alcançavam novos dados científicos.

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Citânia de Briteiros (Projecto de Arquitectura)

#76931 | Carlos Silva | 10 nov 2004 15:05 | Em resposta a: #76926

Os colegas que gostam ou gostaram de ver aquelas velhas pedras historicas sabem sem duvida o que é aquela « Casa do Guarda ». Podem ter pareceres os mais diversos a proposito da sua demoliçào.

- Quanto a dizer que nào tem interesse arquitectónico, nào estou de acordo.
- Contudo e quanto a dizer que tem impacto negativo no conjunto, posso sim estar de acordo.

Segue a memoria descritiva de arquitectura (tirada do Projecto de Arquitectura de Licenciamento de Construção) do Arquitecto Manuel Augusto Ramalho Antunes.

MEMÓRIA DESCRITIVA E JUSTIFICATIVA DE ARQUITECTURA


CONSIDERAÇÕES GERAIS

Trata-se da construção de um novo edifício em substituição de um edifício de apoio existente no local que, para além do estado de degradação em que se encontra, revela-se desajustado às funções de acolhimento e “casa do guarda” a que se destina. É também um edifício sem qualquer interesse arquitectónico, representante de uma arquitectura caduca oficializada nos anos 30/40 que, pela sua volumetria e implantação causa um impacto negativo no equilíbrio da paisagem envolvente competindo em prejuízo com os núcleos das construções castrejas da referida Citânia envolvente.

A proposta de demolição da antiga estrutura e a construção de um novo edifício que motiva este licenciamento vem na sequência de diversos contactos havidos entre as entidades representativas da Sociedade Martins Sarmento, representantes do IPPAR e o autor do projecto de arquitectura. Desses contactos ficaram definidos critérios generalizados de abordagem ao projecto do edifício no que se refere aos aspectos de natureza funcional e orgânica, linguagem, volumetria e ainda a definição prévia quanto à localização e implantação do edifício na sua relação com a envolvente.
O estudo agora apresentado reinterpreta os conceitos então determinados e propõe um edifício de grande clareza construtiva e funcional. A sua implantação procura integrar as condicionantes da topografia natural do terreno, os elementos rochosos existentes no local assim como a sua relação privilegiada com a paisagem panorâmica envolvente.

É intenção assumida a construção de um edifício que se anule na sua relação dialéctica com as construções Castrejas envolventes, mas que se afirme como um edifício de modernidade e valor de referência.


IMPLANTAÇÃO

A sua implantação, na proximidade da estrada nacional que lhe dá acesso é antecedida por um percurso orgânico, normalmente pedonal, que desagua numa plataforma de nível, alargada e que se caracteriza pela existência de um conjunto de rochedos existentes. O edifício aproveita esta plataforma no percurso natural de acesso à Citânia e faz encosto ao rochedo existente de modo a estabelecer uma barreira natural no percurso de acesso ao interior da estação arqueológica a visitar. Um muro em alvenaria de granito faz a chamada e a marcação da entrada de modo a tornar obrigatório o seu atravessamento interior.

PROGRAMA E ORGÂNICA INTERIOR

O programa compreende o mínimo de funções exigidas normalmente a este tipo de edifícios que em síntese compreende: Um hall de entrada, recepção e controle; um conjunto de sanitários de serviço ao público; uma sala de chá incluindo o balcão e copa de apoio; arrecadação e arrumos, e ainda um espaço complementar que possa funcionar, quer para a possibilidade de albergar a residência do guarda, quer para a possibilidade de funcionar como sala de trabalho complementar ao estudo de objectos arqueológicos.

Mais se esclarece que … foi sugerida a possibilidade de incluir neste edifício uma sala de projecção audiovisual. A sugestão foi debatida e considerada pelos elementos Directivos da Sociedade Martins Sarmento concluindo pela não inclusão desse espaço neste edifício já que a Sociedade prevê a instalação desse programa (audiovisual) nas instalações do Solar da Ponte a partir do qual se dará início ao programa de visita à estação arqueológica da Citânia de Briteiros.

O programa do edifício, na sua orgânica funcional, desenvolve-se em dois níveis. A recepção, sanitários e sala de chá ocupam a área do piso de entrada no rés-do-chão. O hall de entrada/recepção inclui, para além de um espaço amplo, um conjunto de vitrinas para exposição localizadas em contínuo, em toda a sua dimensão. Do lado oposto um balcão também em contínuo permite a exposição de cartazes, folhetos, publicações assim como permite integrar o espaço destinado à recepção, controle e venda de bilhetes.

A este nível organizam-se ainda espaços exteriores de estar no prolongamento do espaço interior, numa relação privilegiada com a paisagem.

No piso da semicave, a uma cota inferior situam-se as áreas do programa complementar:

Arrecadação; arrumos e sala de trabalho ou casa do guarda sem prejuízo ou interferência com o piso aberto ao público. O acesso a este piso inferior fica garantido através de uma escada interior de acesso directo à recepção/bar assim como por uma rampa de serviço exterior de acesso directo às áreas de arrecadação e casa do guarda.


MATERIAIS E TÉCNICAS CONSTRUTIVAS

Construtivamente serão aplicadas as técnicas de construção corrente, no entanto a estrutura dos elementos à vista serão em tubulares de ferro galvanizado porticada e reticulada sobre a qual assenta a age de tecto e consolas em betão maciço. Os muros de suporte interiores serão sempre em betão armado. O projecto de estruturas a apresentar esclarecerá em detalhe as soluções construtivas adoptadas.

Todos os muros exteriores assim como a parede interior junto à recepção serão em alvenaria de granito à vista com acabamento a pico fino.

Todas as caixilharias serão para vidro duplo, executadas de acordo com um pormenor em perfis de aço inox excepto os caixilhos de correr que serão alumínio escovado à cor natural.

Todos os elementos de ripado exterior, pérgola e painéis de revestimento do alçado nascente, terão uma estrutura em perfis de aço inox para fixação de reguado de madeira a pinho de riga tratada.

As coberturas planas serão para revestimento contínuo de betão poroso tipo “campo de ténis”, sobre um conjunto de isolamentos e telas asfálticas de impermeabilização.

O material de revestimento dos pavimentos exteriores serão em lajeado de granito abujardado a pico fino.

O pavimento interior será de igual modo a lajeado de granito abujardado a pico fino nas áreas assinaladas nas plantas e correspondentes ao hall de entrada e sanitários de utilização do público. A área correspondente ao salão de chá e balcão de apoio será para revestir a soalho de madeira em pinho de riga.

As alvenarias interiores serão em tijolo vazado de 0.11, para revestimento a estuque ou para revestimento a apainelados de madeira.

Etc…

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RE: Citânia de Briteiros (Projecto de Arquitectura)

#76943 | vbriteiros | 10 nov 2004 17:33 | Em resposta a: #76931

Caro Carlos Silva.
Apreciei muito a notícia que nos traz aqui hoje sobre a Citânia de Briteiros,porém a substituição da " arquitectura caduca oficializada nos anos 30/40 " pela construção que nos descreve e presumo ser paralelipipédica , de aço e vidro, que se encontra em qualquer esquina da Europa e não só, não irá "despoluir" a velha Citânia . O Porto 2001 foi o que se viu, à excepção da Casa da Música.
Que será feito com o espólio da SMS armazenado no centro da cidade de Guimarães, tão desenquadrado e longe de S. Salvador de Briteiros , em especial a "Pedra Formosa"?
A propósito e pensando que o meu Amigo terá aí a obra do Padre António Caldas , "Guimarães-Apontamentos para a sua História", repare que o autor refere a Conferência Arqueológica da Citânia em 9 de Julho de 1877. Notei que da comitiva de Braga participava meu bisavô António Brandão , casado com a minha bisavó que usava o apelido Gomes Briteiros e que fui repescar para usar como nickname aqui no Forum (no meu BI já não cabia, mas com a nova legislação será oficializado em breve)
Poderá ser um local para repetir o encontro de S. João de Rei. Que diz?
Um abraço
Vasco

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RE: Citânia de Briteiros (Inauguração)

#76944 | vbriteiros | 10 nov 2004 17:47 | Em resposta a: #76924

Caro Carlos
Procurei aqui no GP e não encontrei qq. referência ao sábio Arqueólogo Dr. Francisco Martins de Morais Sarmento. Também não encontrei outro notável Arqueólogo que foi o Prof Dr. José Leite de Vasconcelos Pereira de Melo, patrono do Museu Nacional de Arqueologia e autor das Religiões da Lusitânia e Etnografia Portuguesa. Pena!!! Esperemos que um dia haja tempo para serem incluídos aqui nesta BD.
Um abraço
Vasco

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RE: Citânia de Briteiros (Projecto de Arquitectura)

#77111 | Carlos Silva | 12 nov 2004 14:12 | Em resposta a: #76943

Caro Vasco,

A proposito da Arquitectura « oficial » portuguesa devo dizer que nào tenho preconceito desfavoravel. Antes pelo contrario. Todavia sem menosprezar o perigo que o Vasco aponta.
Eu nào vi o novo edificio que vai ser inaugurado. Um « ascendente » meu, que o viu, gostou. Veremos. Espero que muitos colegas tenham oportunidade de ir à inauguraçào.

Voltando ao valor arquitectonico da « Casa do Guarda », claro que nào é obra prima. Mas essa arquitectura tambem um pouco « oficial », « institucional » dos anos 30-40 representa pelo menos determinada época. De forma que apesar de tudo, o valor do seu testemunho vai ser incontornavel quando começar francamente a escassear.
Alias nào se a pode considerar desprovida de todo o interesse por absoluto.
Julgo até que certas linhas de entào estào a voltar nas vivendas as mais recentes, para as tornar mais garridas (até ao enjoo nào poucas vezes) como observei no norte, quando da minha ultima visita a Portugal. Obviamente, nào é garantia de qualidade estetica.
Nào me adianto mais, que nào sou arquitecto.


De resto, caro Vasco so penso bem da sua proposta, ja que nào tivemos oportunidade de fidelizar um grupo de descendentes de Diogo de Azevedo (ou outro senhor de S. Joào de Rei), e/ou de admiradores de Antonio Celestino ( e Carybé e Jorge Amado), em volta de S. Joào de Rei e do seu famoso restaurante...

Abraço
Carlos Silva

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RE: Citânia de Briteiros (Inauguração)

#77112 | Carlos Silva | 12 nov 2004 14:19 | Em resposta a: #76944

Caro Vasco,

Julgo que a genealogia de Francisco Martins Sarmento foi amplamente estudada pela investigadora vimaranense Adelaide Pereira de Moraes.
abraço
Carlos Paulo

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visita virtual à Citânia de Briteiros

#78114 | Carlos Silva | 25 nov 2004 23:27 | Em resposta a: #76943

Caro Vasco Briteiros,

Foi a inauguração?

No site da « Casa de Sarmento » poderá ver o novo edifício.

Mas antes de tudo aconselho-lhe vivamente a visita virtual à Citânia de Briteiros… que não se deve perder, no mesmo site.

Carlos Silva

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RE: visita virtual à Citânia de Briteiros

#78211 | vbriteiros | 28 nov 2004 00:40 | Em resposta a: #78114

Caro Carlos Silva
Não pude ir à inauguração, mas já fiz uma visita virtual. Para já a minha opinião sobre o novo edificio é de "cautela". Pela foto aérea não vi necessidade de demolição, teria certamente qq aproveitamento para as novas actividades que ali querem desenvolver e mantinha-se uma construção de uma época, "feia" ou "bonita".
Gostei imenso do site e vou programar uma visita no próximo ano a S. Salvador de Briteiros, provavelmente já com mais alguns dados sobre o meu tetra-avô Manuel José Gomes Briteiros (+Braga 1853), que deve ser originário de lá.
Grato por me ter chamado a atenção sobre este tema.
Um abraço
Vasco Briteiros

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