Familias Afro-brasileiras (e Afro-portuguesas)

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Familias Afro-brasileiras (e Afro-portuguesas)

#83802 | Carlos Silva | 09 fev 2005 17:21

Caros colegas,

Segue uma lista de familias afro-brasileiras (Togo, Nigéria, Gana, Benin) com origens portuguesas nao poucas vezes.
Nào deixo aqui pormenores sobre as respectivas origens,muitas das quais bem interessantes.
Junto um texto explicativo.
A fonte é um site (cartas d’Africa) cujo link nao deixo por nao ser autorizado no regulamento do forum.


Melhores cumprimentos
Carlos Silva
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Benin :

Almeida
Amaral
Campos Gonzallo
da Conceição
da Costa
da Cruz
Domingo
Feraez
Francisco
Gomez
Martins
Matha Sant'Anna
Miguel
Medeiros
Monteiro
Oliveira
Paraíso
Pereira
Piedade
Pio
Sabino
Santos
Silva
Souza
Tranquilina

Gana :

Fiscian
Morton
Nii Anasu

Nigéria :

Assunção
Bangboshê
Campos
Cardoso
Carrena
Costa
Damázio
Faustino
Gonçalo
Lopes
Machado
Marinho
Pacheco
Pereira
Rocha
Silva
Soares
SouzaMarques
VeraCruz

Togo :
Amorim
Olympio

Texto explicativo de Carlos da Fonseca, iniciador do projecto.

… tem como origem projeto jornalístico realizado e publicado, em 1999, no jornal Correio Braziliense (série “500 Anos”, caderno especial de 22 de abril). A reportagem, que também apareceu no Jornal O Dia (22 de abril de 1999) e nas revistas Isto É e Ícaro, centrava-se no fenômeno dos escravos brasileiros libertos e retornados à África ao longo do século XIX, especificamente no Benin, onde tomaram o nome de “Agudás”.
Com base nesse trabalho inicial, tive a ocasião, nos anos de 2000 e 2001, de dar sequência à pesquisa sobre o tema, dessa vez na Nigéria, epicentro histórico do fenômeno, onde ainda hoje vive o maior número de “retornados”, mas também no Togo e em Gana, país onde a pequena comunidade brasileira dos “Tabom” festejava seu novo chefe, coroado em 26 de fevereiro de 2000. Em 10 de dezembro de 2003, a revista Veja publicou parte do resultado dessa investigação de três anos.


O fenômeno dos “retornados” já foi ampla e profundamente analisado por estudiosos brasileiros de diferentes disciplinas, especialmente, mas não exclusivamente, historiadores e antropólogos. Entre os mais conhecidos, não posso deixar de citar (e pagar tributo pelas preciosas informações) Capistrano de Abreu, Gilberto Freire, Nina Rodrigues, Pierre Verger, Mariano e Manuela Carneiro da Cunha, Antônio Olinto, Zora Seljam, Alberto da Costa e Silva e, mais recentemente, Milton Guran e Victor Leonardi.
O projeto Cartas d’África não pretende preencher lacunas de estudos já realizados, nem oferecer interpretações alternativas sobre um fato histórico já intensamente analisado. Surge, sim, do entendimento de que, apesar da dedicação dos que acima citei, o fenômeno dos “retornados” permanece amplamente desconhecido no Brasil. Concebido como iniciativa jornalística, o projeto foi, paulatinamente, tomando a forma de um memorial, que procura resgatar, através de fotografias, mensagens e, principalmente, do relato oral das famílias entrevistadas, a complexa (e frequentemente esquecida – às vezes perdida) genealogia desses quase brasileiros.
O eixo central do Cartas d’África consiste de três registros complementares: o primeiro, fotográfico, mostra quem são hoje os descendentes dos retornados; o segundo, histórico, traça sua genealogia e resgata sua memória; o último, "epistolar", concentra-se nas cartas dirigidas aos brasileiros em geral e a seus parentes (pessoas de mesmo sobrenome que residam no Brasil) em particular. O projeto busca, além disso, resgatar um pouco da influência desses brasileiros africanos, que preservam, em sua comunidade, tradições culinárias e festivas de um Brasil que a grande maioria nunca conheceu.
A noção de parentesco com a qual se trabalha no projeto é, claro está, mais simbólica do que real, embora existam casos concretos de famílias que hoje divivem seus ramos entre o Brasil e a África (famílias Rocha, Bangboshê Martins-Sauzer e Alakija, que vivem na Nigéria e na Bahia). A iniciativa de escrever e exibir as "cartas" nas fotografias, como alternativa ao envio ao Brasil, partiu dos próprios entrevistados, em 1999. Em pouco tempo tornou-se o objeto central do projeto.

Carlos da Fonseca, jornalista e diplomata.

Resposta

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RE: varios casos

#83803 | Carlos Silva | 09 fev 2005 17:24 | Em resposta a: #83802

Ao longo do século XIX, e até inícios do XX, milhares de brasileiros de origem africana, escravos libertos ou forros (nascidos livres), migraram para a África, em um movimento que se convencionou chamar de "retorno", ainda que, para muitos desses "retornados", a África nunca houvesse sido terra natal. Deixavam o Brasil, em sua maioria, em busca das origens e de um futuro melhor, ou simplesmente fugindo da perseguição e da falta de oportunidades de um Brasil que engatinhava no processo de emancipação de seus escravos, etapa indispensável de um projeto de nação no qual os negros ainda não tinham lugar.
O projeto Cartas d'África procura resgatar a história de alguns desses brasileiros e de seus descendentes.
Brasileiros como Francisco Félix de Souza, o primeiro “Chachá”, título que ganhou do rei de Abomé, Guezô, seu irmão de sangue, aventureiro baiano que se estabeleceu na atual cidade de Uidá, no Benin, em 1788 e, poucos anos depois, tornou-se o homem mais rico do continente, lucrando com o monopólio do tráfico negreiro.
Ou Domingos José Martins, filho bastardo (e homônimo) do mártir da revolução pernambucana de 1817, que foi a Uidá a convite do Chachá e terminou por sucedê-lo à sua morte, tornando-se milionário com o tráfico negreiro e com o comércio do dendê.
Ou ainda José Abubakar Paraíso, que foi a Porto-Novo, no Benin, como escravo de Domingo José Martins, e ali se tornou seu barbeiro e confidente, herdou parte de suas plantações e fez fortuna, sendo considerado um dos fundadores da comunidade muçulmana do país.
Brasileiros como João Esan da Rocha, negro liberto que voltou a Lagos na década de 1870, acompanhado do filho Cândido, que ajudou a fundar o “bairro brasileiro” da cidade e nele fez fortuna, começando pela venda de água, que tirava de um poço artesiano cavado no pátio de sua casa, a “Casa da Água”, sobre a qual escreveu Antônio Olinto.


Ou como Sir Adeyemo Alakija, que nascera Plácido Assunção, filho do liberto Marcolino Assunção, retornado a Lagos em 1870. Adeyemo estudará na Inglaterra e será um dos mais ativos líderes políticos de seu país, fundando o primeiro partido nigeriano, o Action Group, e contribuindo para o processo de emancipação da Nigéria.
Brasileiros como Azumah Nelson, lendário fundador da comunidade brasileira de Gana, batizada “ Tabom”, que se teria estabelecido em Acra na primeira metade do século passado, à frente de sete famílias brasileiras, semente da comunidade hoje imensa.
Brasileiros, enfim, como Sylvanus Olympio, primeiro presidente da República do Togo. Nascido em 1901, Sylvanus estudou na Europa, trabalhou para companhias inglesas e ingressou na política durante a segunda guerra mundial. Fundou o Partido da Unidade Togolesa e conquistou a independência de seu país em 1961, um ano apenas depois do nascimento da primeira nação africana livre, o Gana. Foi figura de proa do movimento de emancipação da África, ao lado de líderes como Kwame N’Krumah, Leopold Senghor, Julius Nyerere, Patrice Lumumba e Sekou Touré. Olympio, que já nasceu na África, era neto de um brasileiro, Francisco Olympio da Silva, carioca que, em meados do século XIX, se estabeleceu na chamada “Costa dos Escravos”, atual Benin, em busca da fortuna. Foi assassinado em janeiro de 1963, durante golpe militar que contou com a participação daquele que, ainda hoje, é o ditador do Togo, Gnassingbé Eyadéma.
Instalados em cidades como Lagos (na atual Nigéria), Uidá, Porto-Novo e Aguê (Benin), Lomé (Togo) ou Acra (Gana), esses retornados constituíram uma verdadeira comunidade, homogênea nos traços deixados pela herança brasileira, em especial a educação, rigorosa e majoritariamente católica, muito diferente daquela dispensada pelas famílias locais a seus filhos e netos.
A partir da década de 1850, com a virtual extinção do tráfico transatlântico, muitos retornados, livres do medo de serem escravizados outra vez, migraram para o interior, reencontrando suas regiões de origem. Os que ficaram no litoral contribuíram para a prosperidade dessa comunidade coesa e destacada, formada por pequenos artesãos e grandes negociantes, que tiveram grande influência na vida social e econômica da região.
No final do século, muitos retornados acabaram sendo cooptados pelas administrações coloniais francesa e inglesa, que souberam aproveitar-lhes a educação rigorosa e as influências ocidentais. Acumularam, assim, parcela considerável de poder, mas perderam, aos poucos, parte dos costumes e tradições que faziam a sua identidade própria. Não foram poucos os que, então, mudaram seus sobrenomes, adaptando-os ao francês e inglês ou, em casos mais raros, substituindo-os por patronímios de origem muçulmana.
Com o movimento de descolonização, conduzido a partir do final da Segunda Guerra Mundial, muitos perderam o poder e o prestígio que tinham, associados, como eram, à metrópole colonial. Apesar disso, sua contribuição para a independência de seus países, como no caso do Togo e da Nigéria, foi considerável.
São, ainda hoje, o cimento, cada dia mais frágil, é verdade, a prender importantes regiões da África ocidental ao Brasil. Têm, em sua memória afetiva, a presença da cultura nacional, através da culinária (a feijoada, preparada à moda africana, é prato de festa; a “mouqueca” e o “moyo” são parte do dia-a-dia), da arquitetura (bairros inteiros em Lagos, Porto Novo e Uidá exibem os casarões do Brasil de outrora), do folclore (a burrinha é até hoje dançada no Benin, como parte das celebrações de Nosso Senhor do Bonfim; em Lagos, o chamado “bairro brasileiro” é palco, duas vezes por ano, do desfile de carnaval – uma no natal, a outra na páscoa) e mesmo da língua (perdida em sua maior parte, mas ainda presente no vocabulário doméstico, em palavras e expressões como “sua benção Yayá” ou “palmatória”).
Essa comunidade híbrida, brasileira e africana, branca e negra, escrava e escravocrata, logrou com o tempo uma notável coesão. São todos iguais, retornados, “agudás” e brasileiros, filhos de uma terra que deixaram ou que os deixou há décadas, mas que continua presente em sua memória afetiva, e que continuam a procurar em sonho, embora os sonhos, como tudo, desapareçam com o tempo

(de Carlos da Fonseca)

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