Ler docum. antigos: história de terras da Beira

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Ler docum. antigos: história de terras da Beira

#83810 | victorferreira | 09 fev 2005 18:26

Aos confrades e confreiras que puderem (e quiserem) opinar sobre o significado de algumas passagens no latim dos documentos medievais.
Para que se possa enquadrar melhor no tema, transcrevo um pouco mais que o texto em latim. Trata-se de algumas notas retiradas da Revista Beira Alta e referentes a algumas localidades (Nelas, Aguieira, Canas de Senhorim, Moreira) de onde provêm antepassados de alguns dos confrades deste Forum.
No final da transcrição chamo a atenção para as passagens que me oferencem dúvidas e de cuja interpretação pediria conselho sobre a validade.

«Notas sobre a Toponímia do Concelho de Nelas»
Joaquim da Silveira

“...
Com esse nome (Agyeira) não há referência a povoação nas inquirições de D. Afonso III de 1258 (K). Mas por uma passagem que a seguir se reproduz do referido foral manuelino, se verifica que antigamente ao lugar se dava outra denominação:

“... Pelo dito contrato se mostra que este lugar qeu então se chamava villa nova no termo das Moreiras de senhorim chama-se agora Aguieira e ser anexa à dita Comenda de Cristo (Comenda de Pinheiro).”

Rastreando pois nas aludidas Inquirições encontram-se alusões várias a essas Moreyras sob a rubrica “Nota de Caballariis de Senorim”:

- “In Moreyra de Jusaa: j. caballaria, et habet eam Donnus Egidius Martini ...”
- “In Moreyra de Sussa: j., et fuit Fernando Garsee et de Donno Clerico ...”
- “... dixit quod Donnus Dominicus, de Moreyra, dedit”
- “... unam hereditatem forariam Regis de Caballaria de moreyra intus cautum de Canas de Senorim ...”
- “... et addit quod vidit antea homines de Moreyra laborare ipsam hereditatem pro de termino de Moreyra et habere inde fructus ...”
- “... ipse Donnus Dominicus, de Moreyra ...”
- “... et de Martino Dominici, de Moreyra, intus cautum de Canas ...”
- “... Suierio Fernandi, de Moreyra, juratus, dixit quod vidit laborare Vallem de Cane et Orfaela pro sua Moreyra, et levare inde panem ad Moreyra, et erat Canas jam cautum.”
- “... vidit laborare hominibus de Moreyra Orfaela, et habere inde fructus, et erat cautum Canas”
- “... Hem, ipse Donnus Dominicus, de Moreyra, dixit «quod canonici de Viseo filiant hereditates forarias Regis de Caballaria de Moreyra in locis qui dicintur Vallis de Padron et Vallis Forcado et Carvalal Redundo et Vallis de Cassuyro.”
- “... testavit Templo Moreyram de Fundo, caballaria (sic) Domini Regis, et modo Donnus Egidius Martini habet Moreyram et nullum forum facit Regi, nisi collecta”

Algumas propriedades de Moreira estavam dentro do Couto (cautum) de Canas que como vimos pertencia à Sé de Viseu, enquanto outros faziam parte do Concelho de Senhorim que era da Coroa.

... conjectura-se que a póvoa (Aguieira) tivesse nascido e prosperado no decurso da segunda metade do século XIII ou nos dois seguintes até conquistar foros municipais em data que não podemos fixar, incluindo então no seu alfoz a povoação de Moreira de Jusã, ou de Baixo (de susã é “de cima”). Certo é que em princípios do séc XVI a vamos encontrar formando unidade municipal da Comarca da Beira conforme o atesta o “Cadastro da População do Reyno” de 1527 (Q):
“Comçelho Dagyeyra
No lugar e Comçelho dagieyra vivem moradores 51
E nom ha nele mais de dous lugares
Assaber o lugar de gyeyra em q. vivem 32
E o lugar demoreyra em que vivem 19
Este concelho tem de comprido hum sesmo de légoa e de larguo outro tanto parte e confronta com a villa de canas e com ho concelho de senhorym e com o conçelho doliveira do conde e com o termo da çidade de viseu”.

... nenhuma corografia que consultamos a partir do séc XVIII fazer alusões ao Concelho da Aguieira embora Nunes Leão o cite, em 1610, como pertencente à Correição de Viseu (M).

...” (fim de transcrição)

Dúvidas de leitura e interpretação:
- o “de Caballariis” quer referir-se aos homens a cavalo com que o Rei poderia contar naquela localidade? Ou será ao próprio cavalo, uma vez que na segunda referência parece querer dizer que o animal teria pertencido a um Fernando Garcês e agora pertence ao cura?
- o quarto excerto referir-se-á a uma propriedade que era explorada pelo(s) cavaleiro(s) (está no plural: caballaria) de Moreyra, e que apesar de estar no couto de Canas, era uma propriedade que pagava foros ao Rei?
- a quinta poderá ter a tradução: “ e acrescentou, para quem presenciou, diante dos homens de Moreyra, que explorava essa mesma propriedade no termo de Moreira e tirar daí frutos (proveitos, rendimentos)?
- o significado de “Orfaela”? é uma palavra? ou será um nome (de um lugar)?
- a décima (penúltima), será uma queixa de que os clérigos de Viseu andavam a “filar” os rendimentos de propriedades que não pertenciam ao couto mas que seriam foros do Rei aos cavaleiros de Moreyra?
- na décima primeira será uma queixa, jurada na igreja de Moreira de Baixo, dos cavaleiros de Moreyra, de que o possuidor de Moreyra - D. Egídio Martins (e nesse caso Moreira era um senhorio ?) - não paga foros ao Rei nem lhe entrega a parte das colheitas (ou a colecta de impostos??) que deveria?

Os meus agradecimentos a quem puder ajudar a esclarecer estes textos que poderão certamente trazer um pouco mais de luz sobre a estrutura antiga de posse das terras nessas localidades e por consequência, sobre relações de parentesco e demais implicações na genalogia local.
VF

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