Uma vela por Sua Santidade João Paulo II

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Uma vela por Sua Santidade João Paulo II

#87531 | Paulo | 03 abr 2005 00:03

Caros Confrades,

A ideia não é original.

Já acendemos velas por outras causas como a mudança na Polónia na década de 80 ou por Timor recentemente.

Julgo que ao acendermos uma vela nas varandas e janelas das nossas casas, durante os três dias de luto nacional, independentemente das nossas preces e orações estaremos a manifestar publicamente o apreço por Sua Santidade João Paulo II cujo lema pontifício foi “Totus Tuos" alumiando simultaneamente o caminho daquele que até ao final se entregou de corpo e alma não apenas à sua Igreja mas e principalmente à Humanidade.

Paulo Alcobia Neves

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RE: Uma vela por Sua Santidade João Paulo II

#87532 | artur41 | 03 abr 2005 00:29 | Em resposta a: #87531

Caros Confrades,


Façamos aquilo que o Paulo nos sugere!
Para os crentes, como eu, é com tristeza que vejo partir, para outro mundo, Sua Santidade João Paulo II; mas, ao mesmo tempo, é motivo de júbilo saber que o seu exemplo perdurará. Independentemente de sermos gnósticos (professando, até, outros credos) ou agnósticos, lembremo-nos do seu exemplo: a sua dedicação incansável às causas da juventude e da paz!

O seu espírito ecuménico é um exemplo de tolerância. A sua devoção a Nossa Senhora de Fátima, que muito honra Portugal, é sinónimo de paixão. Mas, acima de tudo, nunca nos esqueçamos da sua verticalidade como GRANDE HOMEM:-)


Artur Camisão Soares

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RE: Uma vela por Sua Santidade João Paulo II

#87575 | joão pombo | 03 abr 2005 15:38 | Em resposta a: #87532

Caros Participantes:

Curvo-me muito respeitosamente perante a Memória de Sua Santidade o Papa João Paulo II, um Grande exemplo de Cristão e de Homem até ao fim.
Deus o receba na Sua Santa Glória.
João Pombo

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RE: Uma vela por Sua Santidade João Paulo II

#87578 | Matilde Souto Pires | 03 abr 2005 15:53 | Em resposta a: #87532

Caros Confrades

Adiro em absoluto à vossa sugestão
Ainda que o Santo Padre não precise das nossas preces para estar com Deus,pois acredito que esteja finalmente no Eterno Descanso ,em Paz ,uma vela acesa lembrará ao mundo o quanto fez pela Humanidade.É um sinal de gratidão e de admiração...

Matilde Souto Pires

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RE: Uma vela por Sua Santidade João Paulo II

#87611 | coelho | 03 abr 2005 19:10 | Em resposta a: #87578

Caros confrades,

na morte de João Paulo II, relembro o seu pontificado e não posso deixar de me emocionar. O que fez pela paz, a energia que transmitia, a perseverança, a capacidade de suportar o sofrimento. Seguramente vai continuar a ser uma grande referência, não só para Igreja Católica, mas para todo o mundo.

Coelho

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RE: Uma vela por Sua Santidade João Paulo II

#87619 | carlos luiz | 03 abr 2005 21:10 | Em resposta a: #87611

Caros confrades
É verdade! Era um homem bom, cheio de grandes sentimentos,nunca outro homem percorreu o mundo como ele, abraçando a miséria, sofrendo no seu corpo os males da nossa terra!

Carlos

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RE: Uma vela por Sua Santidade João Paulo II

#87655 | zamot | 04 abr 2005 11:54 | Em resposta a: #87619

Sem duvida alguma também me curvo perante a memória de Sua Santidade a quem tive a honra e o previlégio de ser apresentado. Altos são os designios de Deus, e não tenho a menor duvida que se a sua agonia se prolongou por cerca de 3 dias foi porque Deus lhe quiz dar mais uma ultima missão, ou seja pôr todo o MUNDO a rezar com o mesmo objectivo. Só depois de cumprir mais esta missão Ele partiu ao encontro do Senhor de quem já está certamente junto.

Um abraço

JTMB

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RE: Uma vela por Sua Santidade João Paulo II

#87671 | victorferreira | 04 abr 2005 14:06 | Em resposta a: #87655

O facto de Karol Woijtila estar tantas vezes no foco das objectivas fê-lo uma presença constante nos nossos lares.
Tenho a impressão de que partiu para sempre um amigo lá de casa.
Daqueles amigos com quem nem sempre estamos de acordo, que nos contestam e que contestamos. Que afirmam desassombradamente as suas convicções e que ouvem respeitosamente as nossas.
Mas que amamos sem restrições. E isso supera tudo. E mantém a amizade viva.
É amando e confrontando, e para os crentes com a inspiração do Espírito, que melhoramos, a cada dia.
Karol nos fez melhores.
Junto-me aos meus estimados confrades nessa oração ... por nós!
VF

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RE: Uma vela por Sua Santidade João Paulo II

#87673 | Mavasc | 04 abr 2005 14:11 | Em resposta a: #87671

Junto-me, também, a todos vós nesta pequena homenagem a um homem de Paz.

Maria Benedita

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RE: Uma vela por Sua Santidade João Paulo II

#87759 | Roque Amador | 05 abr 2005 00:36 | Em resposta a: #87673

Extraordinário, sem dúvida!
Provavelmente nunca existiu um homem que tenha sido tão amado, e, provavelmente, não voltará a existir ...

Proponho ao Genea que atribua a João Paulo II uma bolinha honorária de cor diferente das habituais.
Uma bolinha arco-íris seria talvez o ideal ...

Saudações,

Roque Amador

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RE: Uma vela por Sua Santidade João Paulo II

#87781 | zamot | 05 abr 2005 13:05 | Em resposta a: #87531

Queridos amigos,


Aqui de Timor a viver estes dias, ouvindo a Antena 1 e vendo a RTPi confesso que senti serem muito pobres, regra geral todos os testemunhos sobre o Papa. Decidi (aqui tem-se tempo para isso, escrever alguma coisa. Quando dei por mim tinha feito um texto com 6 páginas... mas porque pode ser de ajuda para alguém, mesmo sabendo que provavelmente está mal escrito e é grande de mais, envio.

Rezemos muito pelo futuro da Igreja. peçamos a interceção da Irmã Lúcia e do Papa João Paulo II e de D. Giussani.

Um abraço,

Duarte

_____________________________

Um grande Papa...

Eis-me em Timor procurando acompanhar a Igreja toda que chora pelo Papa. As notícias vão chegando pela Antena 1, pela RTP i ou pela Rai Internacional. E vemos partir para junto dAquele a quem já há muito tinha dado a vida, um Papa que nos ensinou a tantos de nós, que só dando a vida a Cristo ela tem sentido.

Vão surgindo muitos comentários sobre o pontificado. Os primeiros vão ser muito elogiosos, depois virão os mais críticos. Provavelmente vamos ser bombardeados com tantos, que até pode acontecer que nos esqueçamos de procurar ter um olhar de fé, tal como o Papa sempre nos ensinou a ter. Ouviremos políticos, homens e mulheres de cultura, pessoas de várias religiões, alguns não crentes, e, claro, alguns católicos, bispos, padres, leigos...

Já se ouvem muito daqueles que elogiam o Papa por ter lutado contra a morte (quando o que vimos foi um homem a aceitar a morte à medida que ela se aproximava nos últimos anos, sem esconder, sem achar que só a vida activíssima pode ter lugar na sociedade)! O Papa lutou contra a morte, ou melhor, contra a cultura da morte, mas acolheu muito claramente a sua morte. Virão, sem dúvida, as análises sócio-políticas que não podem deixar de vincar a importância do Papa para as mudanças políticas que o final do segundo milénio viu acontecerem. O fim do comunismo, não há dúvida, muito lhe deve. Mas que ninguém se esqueça que a sua força estava no facto dessas e outras ideologias serem verdadeiramente contra o homem. Aquele Papa que acredita em Deus não podia deixar de denunciar como anti-humana as ideologias (socialistas ou liberais) que neguem a importância de Deus. O Papa foi, como tantos têm estado a dizer, um Papa dos Direitos do Homem, mas não se esqueçam esses e nós todos que de todos os Direitos o que ele melhor nos mostrou ser necessário defender é o Direito à vida, esse direito que pertence a cada ser humano desde o primeiro instante da sua existência como ser unicelular até à morte natural!

Outros falam do Papa do diálogo, que é sem dúvida uma das suas grandes características, mas alguns falam desta sua capacidade de dialogar à maneira do mundo, ou seja, um diálogo em que cada um diz o que tem a dizer e todos ficam na mesma! É verdade que João Paulo II reconheceu o valor de tantos que são diferentes, de pessoas doutras religiões, de gente com outras ideias políticas ou com diferentes perspectivas da sociedade, e todos se sentiram acolhidos. O Papa mostrou muito bem que não é a violência mas o amor que pode construir o futuro. Mas nunca o ouvimos dizer que as religiões ou as opiniões se equivalem, nem o vimos com medo de chamar as coisas pelo seu nome diante de quem quer que fosse. Nunca o vimos com respeitos humanos a calar a verdade. Para o Papa não havia fórum humano que estivesse fora da sua missão, ele ouvia, aprendia com todos, com cientistas e políticos, homens religiosos ou pessoas sem fé, mas também a todos dirigia a palavra. Nunca foi uma palavra de conveniência. Quando o Vigário de Cristo falava não perdia tempo em inutilidades, Cristo tem algo a dizer, o Papa punha ao Serviço do Senhor o seu ministério. Ele foi, por tudo isto e sem dúvida um homem de diálogo, mas porque vivia a experiência da certeza. Que certeza? Talvez seja isso que poucos jornalistas ou comentaristas (salvo a Aura Miguel) vão saber dizer. A certeza de que Cristo é o Senhor, está vivo, ama-nos e chama todos à conversão. O Papa é, de facto, um grande testemunho de Cristo, foi e sê-lo-á sempre. Ele mostrou-nos Cristo sem disfarces, sem adocicar a sua cruz, sem tentar adaptar. Por isso, o Papa mostrou-nos Cristo em todo o Seu esplendor, em toda a Sua atractividade. É isso que os jovens lhe agradecem. Com este Papa tantos descobriram Cristo e decidiram consagrar a sua vida e tantos outros acolheram o Evangelho da Família e da Vida nas suas vidas. É Cristo que este Papa nos tem dado. É Cristo que nós todos continuamos a querer e a amar.

O Papa tornou claro a quantos de coração iluminado pela fé o ouviram que Cristo está aqui e agora. Desde o início, Cristo Redentor do Homem, Cristo centro do cosmos e da história, foi o centro de toda a sua mensagem e de toda a sua vida. Cristo, com a força e o amor deste Papa, não foi relegado para uma esfera do religioso ou para um qualquer passado, não foi reduzido a um profeta ou a um revolucionário marxista. Cristo, verdadeiro homem e verdadeiro Deus, entrou na vida de todos nós, neste quotidiano capilar das nossas vidas de trabalho, família, sofrimento e alegrias, e está mesmo presente. É de ontem, de hoje e de sempre. O Papa, até ao fim, disse-nos, muitas vezes mostrando com a sua própria vida, que Cristo está vivo. Como era claro quando este homem, que todos eram capazes de dizer que era um santo, denunciava os piores crimes, esses que até já há quem queira tornar um direito, como o aborto, a eutanásia, a guerra, não deixando nenhuma dúvida sobre o terrível que é a cultura da morte e sobre o importante que é construir uma cultura da vida e do amor. Donde lhe vinha essa coragem? D’Aquele que tudo pode, do Senhor da vida. Talvez seja essa a razão pela qual até aqueles que mais o criticavam não podiam deixar de o respeitar. O mundo tem muito poucos homens que experimentam e testemunham esta intimidade com Deus. Quem o quer seguir sabe muito bem que nestas coisas que tocam no essencial da vida humana não pode haver brechas, mas também pode contar com a mesma força de Cristo que vence todos os medos.

E no entanto, este homem consciente e sofredor pelo mal todo que o mundo insiste em gerar, era um homem alegre, alguém que ria e fazia rir, um homem que brincava e fazia as pessoas à sua volta estarem bem dispostas. Nunca o vimos com a alegria própria do distraído, sempre o vimos com a alegria do santo que, vivendo conscientemente da fé, tem esperança e por isso sabe que a ressurreição é um facto. A esperança que nos ensinou não foi a utopia de que o mundo será o paraíso, mas também nunca foi uma coisa que nos dispensasse do empenho dramático na construção dum mundo mais conforme ao plano de Deus. Ele deu-nos a esperança em Cristo: mostrou que não somos deste mundo e deu-nos força para fazer deste mundo uma casa onde Cristo reine mesmo. Falava da importância de construir um mundo melhor, e muitos se comprometeram a partir da sua palavra, mas nunca deixou de lembrar que esse mundo só é melhor se Deus estiver presente, se o coração de cada homem e cada mulher abrir as portas a Cristo. A frase mais vezes repetida em tantas e tão variadas ocasiões o Papa pegou-a do Concílio: “Na realidade, o mistério do homem só no mistério do Verbo encarnado se esclarece verdadeiramente” (GS 22).

O Papa da certeza sobre Cristo é, por isso, o Papa que não deixou que o fim do segundo milénio e o início do terceiro tivesse declarado que Deus não existia, ou que relegasse Deus para um longínquo céu. O Papa tornou claro que Deus está presente e que precisamos dele. O Papa foi, de facto, um homem de fé, alguém para quem acreditar não era uma coisa marginal aos problemas sociais, ou algo que passava ao lado da vida. Este é o Papa que nos libertou das filosofias racionalistas ou idealista para afirmar que existe uma autêntica relação entre a fé e a razão. Culturalmente, até entre teólogos, havia quem julgasse que a fé e a razão nada tinham que ver uma com a outra, e, a partir desta separação tornavam a religião uma coisa à margem da vida, o Papa disse, mas mais do que só falar, mostrou na sua vida e morte, que só em Deus e com Deus o homem se realiza verdadeiramente, só na fé a razão alcança o seu cume, mas fé sem razão não é cristã.

O Papa que nos anunciou Cristo e que nos mostrou a sua presença na vida só podia ser um Papa de Nossa Senhora. Um Papa filósofo, teólogo, professor... mas nem por isso menos simples na devoção. A devoção a Nossa Senhora com a oração do Terço é uma marca evidente da fé cristã, algo que todos sentiam ser profundamente autêntico no Papa e algo que fazia os mais simples sentirem o Papa como um dos seus. O Papa reza a Nossa Senhora porque acredita mesmo na Encarnação de Deus. O Papa de Nossa Senhora é o Papa que não nos deixou com uma simples experiência religiosa, não falou só na importância de procurar Deus mas mostrou-nos uma presença real e encarnada, a presença de Cristo, do Verbo eterno do Pai que se fez homem no seio daquela jovem de Nazaré. O Papa de Nossa Senhora é, além disso, o Papa que sabe que Nossa Senhora, por ser mãe de Deus, por ser a Mãe do Redentor, é, de facto, alguém excepcional e não seria inteligente quem sabendo disto não se socorresse dela. O Papa totus tuus mostrou como a humanidade redimida, a começar por Maria, está chamada a viver uma vida completamente nova e, por isso, confiou nela, confiou a ela o mundo, consagrou ao seu Imaculado Coração o mundo inteiro, sabendo que a Mãe do Céu a todos protege, ele sabe bem que pode confiar porque ele mesmo experimentou essa protecção e desde 13 de Maio 1981 considerava-se um miraculado de Nossa Senhora.

O Papa de Nossa Senhora é o Papa da Eucaristia. Termina a vida na Páscoa do Ano da Eucaristia, mas ao longo destes 26 anos quantas vezes não nos comovemos ao vê-lo celebrar a Missa. Talvez agora alguns venham falar das suas homilias, que nos arrastavam a todos, mas não podemos esquecer, como se fosse secundária, a força interior com que as palavras e o silêncio da Missa eram vividos. Fosse na pequena capela privada ou fosse diante de uma multidão de jovens, o Papa quando celebrava a Missa colocava toda a sua pessoa nesse acto. E isto porquê? Porque na Missa é Cristo que está presente. O mesmo que Maria concebeu, na Sua verdadeira humanidade e divindade, está presente no altar! O Papa da Missa é, ainda, o Papa da Adoração, daqueles longos e sempre profundos olhares para Cristo na custódia, no sacrário, nas mãos do sacerdote, nas suas próprias mãos. É o Papa que pede ao Senhor que fique connosco, que permaneça presente no nosso mundo.

O Papa da Adoração é o Papa que pôs o mundo inteiro a rezar. Para ele não havia ninguém para quem Cristo não fosse tudo. Convocou os jovens, as famílias, os idosos e as crianças, os trabalhadores, os pobres e os políticos, os deficientes e os atletas, os artistas e os consagrados, a todos convidou a adorarem Deus presente com a oração e com uma vida que tivesse a ousadia da santidade. O Papa insistiu para que não tivéssemos medo de ser santos. Porque acreditou mesmo na presença e na força de Cristo, ele sabia que nos podia pedir para ser santos. Ele sabia que a santidade, embora conte com todo o nosso empenho, é sobretudo uma graça, um dom que Deus quer dar a todos. O Papa ajudou-nos a não ter vergonha da santidade, ajudou-nos a perceber que vale a pena o nosso pouco esforço, porque Deus o abençoa infinitamente. O Papa da santidade é o Papa dos grandes desafios morais. O Papa que não se contentou com o pouco mas nos propôs o máximo. O Papa que se arriscou a este desafio é aquele que mostrou como nada disto é abstracto ou impossível e, por isso, nunca até ele alguém tinha dado à Igreja tantos modelos de santidade empenhando a sua autoridade nas beatificações e nas canonizações.

Este é o Papa da Igreja. O Papa que deu a verdadeira interpretação do Concílio Vaticano II, o Papa da Lumen Gentium e da Gaudium et Spes foi o Papa que deu força à Igreja. Essa Igreja que se sentia velha rejuvenesceu, encheu-se de jovens, viveu a primavera com o Jubileu, está comprometida com o mundo para anunciar a todos Jesus Cristo, para que cada homem encontre Cristo no seu caminho e com ele percorra a sua vida. O Papa da Igreja que nasce da Eucaristia, da Igreja católica e universal, é também o Papa que procurou a comunhão com os outros cristãos. Com que força ele experimentava o desejo do próprio Jesus quando pedia ao Pai para que todos fossem um! Mas sabia e mostrou bem que esse caminho da unidade não é o do relativismo, é o caminho da conversão e da verdade, por isso um caminho que compromete estruturas e doutrinas, mas sobretudo os corações, por aí devemos começar o ecumenismo. E o Papa deu provas evidentes de que é possível avançar.

O Papa que fez todos estes desafios rompeu também com os ideais dos que se deixam convencer pelas delícias mundanas, que agradam à superfície mas esvaziam o coração, é o Papa que nos disse com todas as letras que há pecados que não têm razão de ser, que há mal objectivo, que a consciência é sagrada, mas não pode decidir tudo sozinha, tem de aprender, tem de conhecer a Lei de Deus. É, por isso, o Papa do Evangelho da Vida, o Papa da centesimus annus, que denunciou os males sociais, que fez frente aos grandes do mundo quando estes se lançavam na aventura da guerra, que não se deixou convencer pela normalização da contracepção, o Papa que não cedeu à superficialidade. Este é o Papa da moral cristã, não do moralismo que se reduz a regras, mas da moral que vai buscar os seus fundamentos à verdade do homem, é o Papa que insiste para que vejamos o esplendor da Verdade e coloquemos a nossa vida no seu caminho. O Papa que uns chamavam conservador e outros reformador, era o Papa que não se deixa definir por critério humanos mas defende a verdade do homem em todas as questões. O Papa que apela ao respeito humano é o mesmo que ensina que há maneiras humanas e grandiosas de viver a sexualidade. O Papa da moral sexual exigente é, por isso, o Papa da teologia do corpo. O Papa que mostrou a grandeza do amor humano e da sexualidade não podia deixar de ser o Papa que denunciaria as reduções que a cultura erótica, dominante e facilitista, insiste em propor.

Este é, por outro lado e ao mesmo tempo, o Papa da misericórdia. Só quem não teme a verdade revelada por Deus sobre o homem tem coragem para dizer, mesmo que seja contra corrente, que há bem e mal. Quem diz o que o homem é pode dizer como o homem deve agir. Mas o Papa quando diz o que deve ser a humanidade sabe, porque a fé cristã sempre assim ensinou, que o homem está marcado pelo pecado original, tem em si uma ferida que o torna estranhamente propenso para o pecado. Porém, a fé também ensina que já aconteceu a vitória do perdão. Quem conhece esta verdade, quem vive a Páscoa de Cristo, também sabe que a última palavra não é o nosso pecado, mas a misericórdia de Deus. Só alguém que não esquece as fragilidades humanas nem se esquece que mesmo assim o homem nunca deixou de ser imagem de Deus, pode falar de misericórdia. Este Papa não fingiu que não havia pecado nem contou só com as forças do homem, ele acredita em Cristo que é mesmo o Redentor do Homem, ele acredita que o Pai é mesmo Rico em Misericórdia, e, por isso, não se limita a dizer que Deus nos desculpa, mas mostra que Deus nos quer salvar, ele sabe que o Pai ao dar-nos o Espírito que vivifica quer que descubramos e vivamos a verdade plena das nossas vidas, colocando realmente a nossa liberdade em jogo, deixando o pecado e abraçando o caminho da santidade.

O Papa que anunciou a Redenção e a Misericórdia é o Papa do Jubileu. Tudo preparou para que celebração dos 2000 anos de Cristo não fosse apenas uma comemoração mas se tornasse a experiência viva nos corações e na sociedade da presença de Jesus Cristo, nascido há dois mil anos mas verdadeiramente ressuscitado e vivo. O Papa deu-nos um Jubileu que foi uma autêntica experiência da presença de Cristo, uma porta aberta para passarmos e entrarmos na comunhão da Igreja e com a Santíssima Trindade.

Mas, de novo, como no tempo dos Apóstolos, houve quem o ouvisse e houve quem se fechasse. O mundo depois do Jubileu não se tornou um paraíso, o mundo, porém tem agora de maneira mais viva, gente que sabe que Jesus é o Redentor do homem, que experimenta a alegria da comunhão com Deus, que não teme a santidade. Por isso o Papa não deixou que o Jubileu fosse um tempo fechado em si.

O Papa do Jubileu é, então, o Papa da Igreja que se põe em marcha. Se Cristo é tudo, como calar o encontro que tivemos? O Jubileu fez-nos pôr ao largo e lançar as redes. Não se seguem tempos de descanso mas tempos para gastar as forças na missão. O Papa da missão é ele mesmo o Papa missionário, das viagens e dos grandes embates culturais. Por todo o mundo é preciso ir, por todo o mundo o Papa foi e mostrou que não há cultura, não há povo, não há país onde a Missão do Redentor não deva ou não possa chegar. Com o seu exemplo muitos se lançaram nas missões, muitos novos movimentos se espalharam pelo mundo, por esse mundo pobre ou rico que não conhecia Cristo ou se tinha esquecido dele mas continuava à espera da salvação. O Papa de Cristo é o Papa que, até ao fim, não deixou de levar a Igreja a dizer a todos os homens: “abri as portas do vosso coração a Cristo”.

Agora parte, mas não deixa a Igreja na mesma, virá outro e Cristo continuará a ser para o novo Papa e para toda a Igreja aquilo que João Paulo II nos ensinou. Nós somos a sua geração, um povo que está pronto. Contamos com a intercessão de Karol Wojtyla, comprometemo-nos com a sua herança: amar a Cristo, amar a Igreja, anunciar a todos os povos que Cristo está vivo e salva-nos do mal e da morte.

P. Duarte da Cunha

(3 de Abril de 2005)

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RE: Uma vela por Sua Santidade João Paulo II

#87792 | zamot | 05 abr 2005 17:32 | Em resposta a: #87781

Caros Amigos

Uma vez que este é um forum de genealogia, será importante referir que o espectacular testemunho sobre o Papa anteriormente apresentado é da autoria do Padre Duarte da Cunha filho de :

http://www.geneall.net/P/per_page.php?id=29985

Cumprimentos

José Tomaz de Mello Breyner

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RE: Uma vela por Sua Santidade João Paulo II

#87838 | FRF | 06 abr 2005 09:19 | Em resposta a: #87531

Caros Amigos

Associo-me ao sentimento demonstrado por todos em relação ao falecimento de Sua Santidade, o Papa João Paulo II. Tudo o que se disser é pouco, visto a obra que empreendeu. Oxalá o seu sucessor consiga prosseguir o trabalho. Oremos todos por isso.

Fábio Reis Fernandes

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RE: Uma vela por Sua Santidade João Paulo II

#87890 | Luís_MCS_Froes | 06 abr 2005 20:36 | Em resposta a: #87531

«Comunicado de imprensa – Milão, 3 de Abril de 2005
Nota de Comunhão e Libertação
pela morte de João Paulo II

“A glória de Deus é o homem que vive”

“Meus amigos, sirvamos este homem, sirvamos Cristo neste grande homem
com toda a nossa existência”. Assim nos disse don Giussani à saída da sua
primeira audiência com João Paulo II no início de 1979. Procurámos realizar
estas palavras em todos estes anos de vida do movimento Comunhão e
Libertação, segundo a tarefa que o próprio Papa nos confiou por ocasião de
uma audiência em 1984: «”Ide por todo o mundo” (Mt 28,19) foi o que Cristo
disse aos seus discípulos. E eu vo-lo repito: “Ide por todo o mundo a levar a
verdade, a beleza e a paz, que se encontram em Cristo Redentor”. Esta é a
palavra de ordem que vos deixo hoje” (Pelos 30 anos do nascimento de CL,
Roma, 29 de Setembro de 1984)
Gratos, inclinamo-nos diante do cumprimento da vida do Papa, que exerceu a
sua autoridade antes de mais como testemunho pessoal de Cristo – “centro do
cosmos e da história” (Redemptor hominis) – dado ao mundo com infatigável
dedicação e sacrifício de si.
Na festa dos seus vinte e cinco anos de pontificado, don Giussani escreveu de
João Paulo II: “Seguindo a vida do Papa neste 25 anos, aquilo de que nos
damos mais conta é que o cristianismo tende a ser verdadeiramente a
realização do humano. Todas as suas viagens, como longa marcha em
direcção à morte, tiveram a sua razão na evidente unidade que corresponde ao
génio do cristianismo: Gloria Dei vivens homo (a glória de Deus é o homem que
vive)”.
O Papa deixa o mundo mais cheio da humanidade de Cristo e a Igreja mais
consciente de ser ela mesma “movimento”.»


Este é o comunicado de imprensa do Movimento de Comunhão e Libertação, de que o Padre Duarte da Cunha e eu fazemos parte, aquando da morte do Santo Padre.


«Carta ao Santo Padre A Sua Santidade João Paulo II no vigésimo quinto aniversário de pontificado João Paulo II mostra uma estima pelo humano que raramente se encontra noutras personagens destes tempos, que têm poder nas suas mãos e, no entanto, não estão satisfeitos com o que têm; a inteligência e a vontade do humano são de facto eliminadas pelo poder, que parece preencher e satisfazer a sua busca. Em João Paulo II não é assim: na sua figura, o cristianismo define a condição humana, é o caminho para o cumprimento da felicidade do homem e exprime o domínio do homem sobre as coisas. Seguindo as vicissitudes papais nestes 25 anos, aquilo que mais notamos é que o cristianismo tende a ser verdadeiramente a realização do humano. Todas as suas viagens, como uma longa caminhada para a morte, tiveram a sua razão de ser na evidente unidade que corresponde ao génio do cristianismo: Gloria Dei vivens homo. A glória de Deus é o homem que vive... na verdade da luz: Deus presente na história da humanidade. O homem que vive, como nos testemunha o Papa, encontra a sua racionalidade na identificação do cristianismo com o humano: é o homem realizado! Nossa Senhora é a origem da estirpe desta humanidade plena e isto dá a razão do afecto que João Paulo II nutre por Maria de Nazaré. A importância deste Papa reside no facto de que ao longo de um quarto de século falou de cristianismo e por este motivo entrou em polémica com toda a cultura pós-setecentista, especialmente com a que assenta na Revolução francesa. Numa época de derrotas falou do cristianismo como vitória sobre a morte, sobre o mal, sobre a infelicidade, sobre o nada que está sobranceiro em cada sussurro humano, e fê-lo documentando como a sua fé cristã dá força a uma racionalidade bem motivada; perante a vacilação do mundo produzido pela ideologia, deu uma explicação da fé cheia de evidências racionalmente persuasivas. A sua fé documentou-se com razões límpidas, de modo que o entusiasmo de muitos, de milhões de pessoas que o escutaram, não encontra em temas sobre os quais se possa discordar o pretexto para diminuir a admiração por ele. Assim, a sua humanidade fisicamente ferida triunfou continuamente nas suas afirmações positivas e na força do seu apelo. Santidade, desejo-lhe uma vida o mais longa possível, para continuar a ser testemunha coerente desta forma suprema do desafio que, por amor a Cristo, representa para todo o mundo. E quanto mais esta palavra, Cristo, for repetidamente escutada, mais revelará a sua capacidade de persuasão. O cristianismo de João Paulo II reflecte toda a essência “secular” da mensagem cristã, quer dizer, uma identidade entre humanidade e fé cristã. «Cada qual confusamente um bem almeja/ no qual se aquiete o espírito, e deseja:/ que para o alcançar cada um se esforça» (Purgatório, XVII). Dante é a perfeita definição de uma existência racional. Desta humanidade, desta identidade entre humanidade e fé cristã, o maior símbolo, que nem mesmo todas as distorções e esquecimentos baniram do coração do homem, o símbolo mais completo e conhecido de todos é o matrimónio. De facto, no discurso do Papa a mulher para o homem e o homem para a mulher são o aspecto visual e visível do triunfo, da flor que “germinou”, como diz Dante no seu Hino à Virgem: identidade entre humanidade e fé. A beleza e a capacidade de bondade desta unidade revela-se no gesto sacramental mais valorizador do humano que é o matrimónio, e que se manifesta nos discursos de João Paulo II. O amor é o maior valor do homem e, por isso, o termo de comparação do homem e da mulher é a fórmula que representa o ideal. O Papa traz este ideal, segundo o qual o homem só vive no amor, num amor verdadeiro. O humano torna-se verdadeiro no amor, de modo que é difícil estar de acordo, por exemplo, com o poeta espanhol Juan Ramón Jimenez quando escreve: «Já é verdade. Mas foi tão mentira que continua a ser impossível.» No pensamento de João Paulo II a humanidade realiza-se num amor real, que não receia o desespero, esse que Dante canta na sua Vita Nova: «… Amor, quando assim junto de vós me encontra,/ ganha coragem e tanta segurança,/… em virtude da qual eu me transformo em figura de outrem». É interessante notar que, tal como em Dante, o olhar que o Papa dirige sobre o amor humano está consciente daquela aproximação ao Ideal que existe em todo o momento humano. Por conseguinte, o homem, na sua vida terrena, mantém uma parte de si mesmo em expectativa, mas isto nunca é impeditivo do reconhecimento, pungente até, de que a natureza (ou o Criador?) vive pela paixão ideal, como evocam ainda os versos da Vita Nova: «Um espírito terno cheio de amor,/… vai dizendo à alma: Respira». Obrigado, Santidade. Luigi Giussani»

Esta foi a carta que Monsenhor Giussani dirigiu ao Santo Padre por ocasião dos 25 anos do seu pontificado.

Vale a pena ler estes dois documentos para se perceber o que é a fidelidade ao Papa e à Igreja. Vi alguns padres na televisão fazer "correcções" doutrinárias e morais ao Santo Padre. É preciso perceber que a autoridade do Papa é a autoridade que Cristo instituiu. Os católicos não têm de dizer ao Papa o que ele deve fazer, mas o contrário.
Que o Senhor nos permita ter estas coisas claras na nossa cabeça e nos ajude a permanecer fiéis à Sua Igreja.

Melhores cumprimentos,
Luís Froes

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RE: Uma vela por Sua Santidade João Paulo II

#87901 | mariamar | 07 abr 2005 00:21 | Em resposta a: #87890

Profundamente sensibilizada, não só pelos últimos acontecimentos mas, também e consequentemente, pelas reflexões por estes suscitadas, não posso deixar de me associar a esta simples homenagem acrescentando uma vela/lamparina mais..., em honra de um Homem, um Eleito, um Mestre..., Venerando e Venerável, cuja Inteligência, Bondade, Coerência e Espírito de sacríficio levados até ao limite das suas forças ficarão, para sempre gravados, tanto nos nossos corações como nas nossas memórias.
Condenado, por direito próprio, a encorporar as nossas memórias colectivas, caberá á História descobrir, enaltecendo, o impacto do Pontificado de João Paulo II nos diferentes contextos do social : Religioso, Político e Socio-Cultural.

mariamar

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RE: Uma vela por Sua Santidade João Paulo II

#87910 | zamot | 07 abr 2005 07:33 | Em resposta a: #87890

Grande Luis Froes

Aproveito a tua vinda aqui para te mandar um enorme abraço e dizer-te que temos sentido a tua falta, ou a falta das tuas intervenções neste espaço.

Zé Tomaz

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RE: Uma vela por Sua Santidade João Paulo II

#87952 | Luís_MCS_Froes | 07 abr 2005 17:21 | Em resposta a: #87910

Caríssimo José Tomaz,

Grato pela simpatia!
A escola, o movimento e outras coisas têm tomado o meu tempo. Tenho seguido com pouca atenção o forúm.

Aproveito para lhe mandar um grande abraço também.

Luís Froes

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