S.S. Bento XVI-Heráldica

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S.S. Bento XVI-Heráldica

#89678 | jpcmt | 28 abr 2005 19:28

Caros Confrades:

Tradução de uma notícia publicada por uma agência noticiosa internacional:

"O Papa Bento XVI incluíu elementos tradicionais bávaros no seu brasão papal e, ainda, uma homenagem a Santo Agostinho, de acordo com um comunicado da Diocese de Munique e Friesing.

Um etíope coroado, um urso albardado com dois fardos, e uma vieira -- tudo aparecerá na insígnia tri-partida escolhida pelo Papa.

O urso, carregado com dois pesados fardos, simboliza o peso do ofício papal, segundo explicou aquela diocese.

A origem do urso está numa lenda bávara referente ao orago da diocese, Korbinam, que encontrou o animal durante uma viagem para Roma. O urso devorou a mula de Korbinian, e Deus carregou-o com os fardos da mula.

A vieira vem de uma parábola de Santo Agostinho - tema da tese final do
Cardeal Joseph Retzinger e simboliza "o mergulhar no profundo mar de Deus."

Os mesmos motivos figuravem já nas armas de Joseph Retzinger, enquanto Cardeal, que tinham a divisa "Cooperatores Veritas" (podem ser vistas em várias "webpages").

J. de Castro e Mello Trovisqueira

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RE: S.S. Bento XVI-Heráldica

#89679 | jpcmt | 28 abr 2005 19:38 | Em resposta a: #89678

Leia-se: "Ratzinger" e "Korbinam"

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RE: S.S. Bento XVI-Heráldica

#89680 | rafael | 28 abr 2005 19:58 | Em resposta a: #89678

Caro J. de Castro e Mello Trovisqueira

Foi um gosto ler esta sua mensagem sobre a heráldica (armas assumidas) de SS Bento XVI .
O uso de uma -vieira - no brasão de SUA SANTIDADE, julgo que será motivo de satisfação também, para muitos dos nossos confrades que são da família -VIEIRA- e dos mais, cujos antepassados a usaram nas suas armas, como os -REGO, SEQUEIRA, etc.
E tb. não esquecer a Ordem de Santiago da Espada tão importante em Portugal, nomeadamente no B.xo Alentejo.

Os meus melhores cumprimentos.
Rafael Carvalho

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RE: S.S. Bento XVI-Heráldica

#89682 | rafael | 28 abr 2005 20:33 | Em resposta a: #89680

Acrescento os : VELHO, CAMELO,PIMENTA, alguns CORREIA, ABASTO, PIMENTEL, RAMIRES, MANICONGO, MARIZ, ROMEIRO, alguns CARRILHO, CALÇA, KENNEDY, CALHEIROS, CÉSAR, BARRADAS, LEMERCIER, CERNACHE, SEM, BARBATA, VOGADO, ROCHA. Outros haverá.( Armorial Lusitano- Edit. Enciclopédia.).
E há muitos ex-libris heráldicos portugueses onde figura(m) vieira(s), e registados na valiosa obra EX-LIBRIS HERÁLDICOS PORTUGUESES, de Sérgio Avelar Duarte. Estou a lembrar-me de ex-libris de algum dos nossos confrades e de amigos e conhecidos que se não temesse ser indiscreto nomearia aqui muitos deles e um ou outro que possuo da minha pequena colecção.
Rafael Carvalho
Rafael Carvalho

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RE: S.S. Bento XVI-Heráldica

#89706 | jpcmt | 29 abr 2005 09:10 | Em resposta a: #89682

Caro Rafael Carvalho:

Agradeço o seu interesse pela minha nota. O simbolismo do brasão pareceu-me interessante. Falta explicar a presença do "etíope coroado", que nas armas do Cardeal é representado apenas pela cabeça (cortada?).

Quanto às vieiras, acrescentaria as das armas usadas pelos Sequeiros de Gondufe, representadas, por exemplo nas pedras de armas do Paço de La Pastora, em Vigo, e do Paço de Sequeiros, em Gondufe, nas armas do Cardeal D. António de Sequeiros y Sottomayor, Inquisidor.Geral de Espanha, nas armas dos Condes de Priègue e, também, no ex-libris do diplomata da Restauração, Dr. Cristóvão Soares de Abreu. Este ex-libris vem reproduzido, entre outras obras, no livro de Avelar Duarte (pg.101) embora aí, erradmente, atribuídas aos Sequeiras.

Cumprimentos do
João de Castro e Mello Trovisqueira

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RE: S.S. Bento XVI-Heráldica

#89721 | Recolhido | 29 abr 2005 15:24 | Em resposta a: #89706

Caro João de Castro e Mello Trovisqueira,

As armas do bispado de München-Friesing mantém-se praticamente sem alteração desde inícios do séc. XIV.
O etíope coroado, de que não encontrei explicação, foi adoptado pelo bispo Konrad III em 1316 e mantido pelos seus sucessores.
A lenda do Urso de Korbinian tem sofrido algumas "nuances" de relato e interpretação. A mais interessante, quanto a mim, é a de que, morto o burro, o bispo Korbinian obrigou o Urso a carregar as malas até Roma e aí o libertou. Seria um simbolismo de que o Cristianismo amansou os ferozes e domesticou os pagãos selvagens.
Por sua vez, a vieira também foi referenciada a Santo Agostinho e a uma lenda de uma criança que com uma concha queria esvaziar o mar. O Vaticano chamou-lhe Concha do Peregrino e, de facto, a vieira era o símbolo dos peregrinos a Santiago.

Melhores cumprimentos,
Monteiro da Silva

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RE: S.S. Bento XVI-Heráldica

#89722 | JASP | 29 abr 2005 15:40 | Em resposta a: #89678

Embora ainda não exista oficialmente, o desenho do possível brasão já é possível ver alguns projectos em Araldica Vaticana (http://www.araldicavaticana.com/), mesmo no fim da página.

Cumprimentos
Jorge Afonso

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RE: S.S. Bento XVI-Heráldica

#89726 | jpcmt | 29 abr 2005 16:47 | Em resposta a: #89721

Caro Confrade Monteiro da Silva:

Grato pela interessante informação.

Na webpage indicada pelo Confrade JASP encontra-se a explicação que faltava. A cabeça de mouro ou etíope, está nas armas de Munique (Monaco, em italiano).

A descrição das armas, aí apresentada, é a seguinte:

"Descrizione dello stemma:

Interzato cappato: nel primo di Monaco, che è d'oro alla testa di moro
nera coronata e ornata di rosso; nel secondo di Frisinga, che è d'oro
all'orso di San Corbiniano di nero, passante, armato e lampassato di
rosso, sostenente una soma dello stesso attraversata da una croce di
Sant'Andrea d'argento; nel terzo d'azzurro alla conchiglia d'argento."

Melhores cumprimentos,

J. de Castro e Mello Trovisqueira

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RE: S.S. Bento XVI-Heráldica

#89727 | jpcmt | 29 abr 2005 16:49 | Em resposta a: #89722

Caro Confrade Jorge Afonso:

Agradeço a oportuna e muito interessante informação.

Cumprimentos,

J. de Castro e Mello Trovisqueira

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RE: S.S. Bento XVI-Heráldica

#89729 | Recolhido | 29 abr 2005 17:49 | Em resposta a: #89726

Caro João de Castro e Mello Trovisqueira,

O autor do site indicado pelo confrade Jorge Afonso ou se enganou ou presumiu.
O etíope coroado nunca fez parte das armas de Munique mas sim com o urso, das armas de Freising. Os bispos de Freising foram senhores de Munique até 1303 e terão dado a Munique o seu timbre, uma águia; depois que a cidade passou ao domínio dos Wittelsbach estes substituiram a águia pelo seu leão e só 13 anos mais tarde o etíope coroado foi incorporado nas armas de Freising.
Como as regras do forum não permitem (nem sempre) a inclusão de sites, descrevo-lhe o caminho:
No mais conhecido motor de busca, introduza "München Wappen". O primeiro resultado dá-lhe as informações que acima deixei. Aliás, é um site bem interessante, de heráldica civil internacional (1760 de Portugal) que, com outros, tenho na minha "colecção".
Se passar o de Munique é http://www.ngw.nl/int/dld/m/munchen.htm

Melhores cumprimentos,
Monteiro da Silva

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RE: S.S. Bento XVI-Heráldica

#89734 | jpcmt | 29 abr 2005 18:39 | Em resposta a: #89729

Caro Monteiro da Silva:

Decididamente, a heráldica bávara não é o meu forte... fui induzido em erro, como diz, pelo conteúdo da webpage da "Araldica Vaticana".

Muito obrigado pela correcção.

Renovados cumprimetos,

J. de Castro e Mello Trovisqueira

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RE: Apresentação do Escudo Papal

#89764 | zea | 30 abr 2005 02:40 | Em resposta a: #89678

Data de publicação: 2005-04-29

Apresentado o escudo Papal de Bento XVI

Tem novidades com respeito à tradição

CIDADE DO VATICANO, sexta-feira, 29 de abril de 2005 (ZENIT.org).- Uma concha, o «mouro de Freising» e o «urso de Corbiniano»: os elementos que o cardeal Ratzinger elegeu para seu escudo episcopal se mantêm no escudo papal; outros --mitra em vez de tiara, e pálio-- introduzem novidade na tradição heráldica do Sumo Pontífice.

O jornal da Santa Sé, «L’Osservatore Romano», revelou em sua edição italiana de quinta-feira o escudo rico de simbolismos que Bento XVI elegeu como expressão de sua personalidade e pontificado.

É tradição de ao menos oito séculos que os Papas tenham seu próprio escudo pessoal. O que Joseph Ratzinger adotou após sua eleição à Sede Petrina tem uma composição muito simples, «em forma de cálice», a mais utilizada na heráldica eclesiástica, a outra, «em forma de cabeça de cavalo», é a que adotou Paulo VI.

O escudo contém os símbolos que Ratzinger já havia introduzido em seu escudo como arcebispo de Munique e Freising, e depois como cardeal, mas a composição é nova. O campo principal --ao centro--, em vermelho, leva outros dois laterais de cor dourada nos ângulos superiores.

A capa é um símbolo de religião. Indica um ideal inspirado na espiritualidade monástica, e mais tipicamente na beneditina, aponta o arcebispo Andréa Cordero Lanza di Montezemolo, declarando todas estas mudanças no jornal do Vaticano.

No campo principal, no ponto mais nobre do escudo, há uma grande concha de ouro, cujo significado explica o próprio Ratzinger em sua autobiografia «Minha Vida: Memórias 1927-1977»: é «sobretudo o sinal de nurso ser peregrinos, de nurso estar em caminho».

«Mas também --acrescentava-- me recorda a lenda segundo a qual Agostinho, que quebrava a cabeça em torno ao mistério da Trindade, haveria visto na praia um menino que brincava com uma concha, com a qual tirava água do mar e tentava passá-la a um pequeno buraco. Havia dito: tão pouco como este buraco pode conter a água do mar, assim tão pouco tua razão pode compreender o mistério de Deus».

«Por isto, a concha representa para mim um chamado a meu grande mestre, Agostinho, a meu trabalho teológico e, por sua vez, à grandeza do mistério, que é sempre muito maior que toda nossa ciência», declarava.

Outros dois símbolos, procedentes da tradição da Baviera --de onde é originário o novo Papa--, formam também o escudo. Olhando-o, à esquerda, há uma cabeça de mouro (de cor moreno), coroada. O elemento não é raro na heráldica européia, e na tradição bávara é muito freqüente. É denominado «caput ethiopicum» ou «mouro de Freising».

Como explicava o próprio Ratzinger em sua autobiografia, o elemento se encontra nos escudos dos bispos de Freising desde há mil anos.

«Não sei qual é seu significado. Para mim é a expressão da universalidade da Igreja, que não conhece nenhuma distinção de raça e de classe, porque todos nós “somos um” em Cristo (Ga 3, 28)», apontava.

Enquanto que na direita da capa aparece a imagem de um urso com uma carga. É o «urso de Corbiniano».

Faz referência à lenda do bispo Corbiniano --fundador da diocese de Freising--. Daí Ratzinger tomou este elemento. Chegado de Arpajon, nos arredores de Paris, para o ano 724 para anunciar o Evangelho na antiga Baviera, São Corbiniano é venerado como pai espiritual e patrono da arquidiocese.

«Um urso --narra esta história-- havia despedaçado o cavalo do santo, que se dirigia a Roma. Corbiniano o reprovou asperamente por aquilo e, em castigo, o animal carregou em seus ombros a carga que até esse momento havia levado o cavalo. O urso teve de transportar esse peso até Roma e só ali o santo o deixou livre», contava o purpurado em sua autobiografia.

Acrescentava: «O urso que levava a carga do santo me recorda uma das meditações sobre os Salmos de Santo Agostinho. Nos versículos 22 e 23 do salmo 73 (72), Agostinho via expressados o peso e a esperança de sua vida», e interpretou «a carga de seu serviço episcopal: “um animal de carga sou ante ti, por ti, e precisamente assim estou perto de ti”. Havia elegido a vida do homem de estudo e Deus o havia destinado a fazer de “animal de trabalho”».

«O urso com a carga, que substituiu o cavalo ou, mais provavelmente, a mula de São Corbiniano, convertendo-se --contra sua vontade-- em seu animal de carga, não era e não é uma imagem daquilo que devo ser e do que sou?», escrevia Ratzinger.

Assim como em seu interior o escudo leva as simbologias ligadas à pessoa --seus ideais, tradições, programa de vida e princípios--, os símbolos de grau, dignidade e jurisdição do indivíduo aparecem ao contrário em torno ao escudo.

De tempo imemorial é tradição que no Sumo Pontífice leve em seu escudo as duas chaves cruzadas --em cruz de Santo André--, uma de ouro e outra de prata. Aparecem por trás do escudo, afirmando-se com certa evidência. Vários autores as interpretam como os símbolos do poder espiritual e temporal.

O Evangelho de Mateus (16, 19) narra que Cristo disse a Pedro --acrescenta o arcebispo Cordeiro--: «A ti darei as chaves do Reino dos Céus; e o que ligares na terra ficará ligado nos céus, e o que desligares na terra ficará desligado nos céus». As chaves são portanto o típico símbolo do poder dado por Cristo a São Pedro e a seus sucessores. Daí que com justiça apareçam em todo escudo papal.

Mas Bento XVI decidiu não pôr a tiara --que desde tempos antigos aparecia na heráldica do Sumo Pontífice-- em seu escudo oficial pessoal, mas substituí-la com uma simples mitra.

A mitra pontifícia representada em seu escudo, recordando a simbologia da tiara, é de prata e leva três franjas de ouro --simbolizando os três poderes do sumo pontífice: de ordem sagrada, de jurisdição e de magistério-- unidas verticalmente entre si no centro para indicar sua unidade em uma mesma pessoa.

Por sua parte, totalmente novidade no escudo de Bento XVI é a presença do pálio. Trata-se de um antigo símbolo episcopal tecido na lã pura. E não é tradição, ao menos recente, que os Sumos Pontífices o representem em seu escudo.

Em qualquer caso, o pálio é a típica insígnia litúrgica do Sumo Pontífice. Indica o encargo de ser o pastor do rebanho de Cristo. Nos primeiros séculos, os Papas usavam uma verdadeira pele de cordeiro apoiada nos ombros. Depois se iniciou o uso de um tecido de lã branca.

ZENIT- Agência Católica de Notícias - Roma

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RE: S.S. Bento XVI-Heráldica

#90823 | LCM | 13 mai 2005 17:41 | Em resposta a: #89678

Caríssimos,

No site oficial da Santa Sé encontra-se já um texto oficial sobre o brasão de S.S. o Papa Bento XVI, felizmente reinante.

Abraços
Lourenço

____________________________________

O Brasão de Sua Santidade
o Papa Bento XVI

Desde os tempos medievais, os brasões tornaram-se de uso comum para os guerreiros e para a nobreza, e por conseguinte foi-se desenvolvendo uma linguagem bem articulada que regula e descreve a heráldica civil. Paralelamente, também para o clero se formou uma heráldica eclesiástica. Ela segue as regras da civil para a composição e a definição do escudo, mas coloca em redor símbolos de insígnias de carácter eclesiástico e religioso, segundo os graus da Ordem sacra, da jurisdição e da dignidade. É tradição, pelo menos de há oito séculos para cá, que também os Papas tenham um seu brasão pessoal, além dos simbolismos próprios da Sé Apostólica. Particularmente no Renascimento e nos séculos seguintes, era costume decorar com o brasão do Sumo Pontífice felizmente reinante todas as principais obras por ele executadas. Brasões papais aparecem de facto nas obras de arquitectura, em publicações, em decretos e documentos de vários tipos.

Com frequência os Papas adoptavam o escudo da própria família, se existia, ou então compunham um escudo com simbolismos que indicavam um próprio ideal de vida, ou uma referência a factos ou experiências passadas, ou a elementos relacionados com um próprio programa de pontificado. Por vezes acrescentavam algumas variantes ao escudo que tinham adoptado como Bispos. Também o Cardeal Joseph Ratzinger, eleito Papa e assumindo o nome de Bento XVI, escolheu um brasão rico de simbolismos e de significados, para confiar à história a sua personalidade e o seu Pontificado.

Como se sabe, um brasão é composto por um escudo que tem alguns símbolos significativos e é circundado por elementos, que indicam a dignidade, o grau, o título, a jurisdição, etc. O escudo adoptado pelo Papa Bento XVI tem uma composição muito simples: tem a forma de cálice, que é a mais usada na heráldica eclesiástica (outra forma é a cabeça de cavalo, que foi adoptada por Paulo VI). No seu interior, variando a composição em relação ao escudo cardinalício, o escudo do Papa Bento XVI tornou-se: vermelho, com ornamentos dourados. De facto, o campo principal, que é vermelho, tem dois relevos laterais nos ângulos superiores em forma de "capa", que são de ouro. A "capa" é um símbolo de religião. Ela indica um ideal inspirado na espiritualidade monástica, e mais tipicamente na beneditina. Várias Ordens ou Congregações religiosas adoptaram a forma "de revestimento" no seu brasão, como por exemplo os Carmelitas e os Dominicanos, mesmo se estes últimos o usavam unicamente numa simbologia mais primitiva que a actual. Bento XIII, Pedro Francisco Orsini (1724-1730), da Ordem dos Pregadores, adoptou a "cabeça dominicana", que é branca ornamentada de preto.

O escudo do Papa Bento XVI contém simbolismos que ele já tinha introduzido no seu brasão de Arcebispo de Monastério e Frisinga e depois de Cardeal. Contudo, na nova composição, eles estão agora ordenados de modo diverso. O campo principal do brasão é o central, que é vermelho. No ponto mais nobre do escudo, encontra-se uma grande concha de ouro, a qual tem uma tripla simbologia. Primeiro, ela tem um significado teológico: pretende recordar a lenda atribuída a Santo Agostinho, o qual encontrando um jovem na praia, que com uma concha procurava pôr toda a água do mar num buraco cavado na areia, lhe perguntou o que fazia. Ele explicou-lhe a sua vã tentativa, e Agostinho compreendeu a referência ao seu inútil esforço de procurar fazer entrar a infinidade de Deus na limitada mente humana. A lenda possui um evidente simbolismo espiritual, para convidar a conhecer Deus, mesmo se na humildade das inadequadas capacidades humanas, haurindo da inexauribilidade do ensinamento teológico. Além disso, a concha é usada há séculos para indicar o peregrino: simbolismo que Bento XVI quer manter vivo, no seguimento das pegadas de João Paulo II, grande peregrino em todas as partes do mundo. A casula por ele usada na solene liturgia do início do seu Pontificado, no domingo, 24 de Abril, tinha bem evidenciado o desenho de uma grande concha. Ela é também o símbolo presente no brasão do Antigo Mosteiro de Schotten, perto de Regensburgo, na Baviera, ao qual Joseph Ratzinger se sente espiritualmente muito ligado.

Na parte do escudo denominada "capa", encontram-se também dois símbolos provenientes da Tradição da Baviera, que Joseph Ratzinger, ao tornar-se em 1977 Arcebispo de Mónaco e Frisinga tinha introduzido no seu brasão arquiepiscopal. No ângulo direito do brasão (à esquerda de quem olha) está uma cabeça de mouro (ou seja, de cor escura), com lábios, coroa e colar vermelhos. É o antigo símbolo da Diocese de Frisinga, que surgiu no século VIII, tornando-se Arquidiocese Metropolitana com o nome de Mónaco e Frisinga em 1818, depois da Concordata entre Pio VII e o Rei Maximiliano José da Baviera (5 de Junho de 1817). A cabeça de Mouro não é rara na heráldica europeia. Ela aparece ainda hoje em muitos brasões da Sardenha e da Córsega, e também em vários brasões de famílias nobres. Também no brasão do Papa Pio VII, Barnabé Gregório Chiaramonti (1800-1823), se encontravam três cabeças de Mouro. Mas o Mouro na heráldica itálica em geral tem à volta da cabeça uma tira branca, que indica o escravo que foi libertado, e não é coroado, enquanto que na heráldica germânica é coroado. De facto, na tradição bavarese a cabeça de Mouro aparece com muita frequência, e é denominada caput ethiopicum, ou mouro de Frisinga.

No ângulo esquerdo da parte superior, está representado um urso, de cor escura (ao natural), que carrega no seu dorso um fardo. Narra uma antiga tradição que o primeiro Bispo de Frisinga, São Corbiniano (nascido por volta de 680 em Chartres, França, e falecido a 8 de Setembro de 730), tendo-se posto em viagem a cavalo rumo a Roma, ao atravessar uma floresta foi atacado por um urso, que lhe devorou o cavalo. Contudo, ele conseguiu não só aplacar o urso, mas carregar nele a sua bagagem fazendo-se acompanhar por ele até Roma. Por isso o urso é representado com um fardo sobre o dorso. A fácil interpretação da simbologia quer ver no urso domado pela graça de Deus o próprio Bispo de Frisinga, e costuma ver no fardo o peso do episcopado por ele carregado.

Por conseguinte, o escudo do brasão papal pode ser descrito ("nobre") segundo a linguagem heráldica do seguinte modo: "De vermelho, revestido de ouro, até à concha do mesmo; o ângulo direito, com a cabeça de Mouro ao natural, coroada e com colar vermelho; o ângulo esquerdo, com o urso ao natural, decorado e carregado com um fardo vermelho, cinturado de preto".

O escudo tem no seu interior como descrevemos as simbologias ligadas à pessoa que com ele se distingue, aos seus ideais, tradições, programas de vida e aos princípios que o inspiram e guiam. Os vários símbolos do grau, da dignidade e da jurisdição do indivíduo estão colocados em volta do escudo. É tradição, desde tempos imemoráveis, que o Sumo Pontífice tenha no seu brasão, em volta do escudo, as duas chaves "decussadas" (ou seja, colocadas em forma de cruz de Santo André), uma de ouro e a outra de prata: interpretadas por vários autores como símbolos do poder espiritual e do poder temporal. Elas estão colocadas atrás do escudo, ou acima dele, afirmando-se com certa evidência. O Evangelho de Mateus narra que Cristo dissera a Pedro: "Dar-te-ei as chaves do reino dos céus, e tudo o que ligares na terra será ligado no céu, e tudo o que desligares na terra, será desligado no céu" (cap. 16, v. 19). Por conseguinte, as chaves são o símbolo típico do poder dado por Cristo a São Pedro e aos seus sucessores. Portanto, elas encontram-se justamente em cada brasão papal.

Na heráldica civil existe sempre em cima do escudo um ornamento para a cabeça, normalmente uma coroa. Também na heráldica eclesiástica acontece o mesmo, evidentemente de tipo eclesiástico. No caso do Sumo Pontífice desde os tempos antigos representa-se uma "tiara". No início, ela era um tipo de "barrete" fechado. Em 1130 foi acompanhado por uma coroa, símbolo de soberania sobre os Estados da Igreja. Bonifácio VIII, em 1301, acrescentou uma segunda coroa, na época do confronto com o Rei da França, Filipe, o Belo, para representar a sua autoridade espiritual superior à civil. Foi Bento XII, em 1342 que acrescentou uma terceira coroa para simbolizar a autoridade moral do Papa sobre todos os monarcas civis, e reafirmar a posse de Avinhão. Com o tempo, perdendo os seus significados de carácter temporal, a tiara de prata com as três coroas de ouro permaneceu para representar os três poderes do Sumo Pontífice: de Ordem sagrada, de Jurisdição e de Magistério. Nos últimos séculos, os Papas usaram a tiara nos pontificados solenes, e em particular no dia da "coroação", no início do seu pontificado. Paulo VI usou para tal função uma preciosa tiara que lhe fora oferecida pela Diocese de Milão, como já tinha feito para Pio XI, que depois a destinou para obras de beneficência e teve início o uso corrente de uma simples "mitra" (ou "mitria"), por vezes enriquecida com decorações ou gemas. Contudo ele deixou a "tiara" juntamente com as chaves decussadas como símbolo da Sé Apostólica.

Hoje a cerimónia com a qual o Sumo Pontífice inaugura solenemente o seu Pontificado já não se chama "coroação", como se dizia no passado. A plena jurisdição do Papa, de facto, inicia a partir do momento da sua aceitação da eleição feita pelos Cardeais em Conclave e não por uma coroação, como acontece com os monarcas civis. Por isso, essa cerimónia chama-se simplesmente solene início do seu Ministério Petrino, como aconteceu para Bento XVI, a 24 de Abril passado.


O Santo Padre Bento XVI decidiu não usar mais a tiara no seu brasão oficial pessoal, mas colocar só uma simples mitra, que não é portanto encimada por uma pequena esfera e por uma cruz como era a tiara. A mitra pontifícia representada no seu brasão, em recordação das simbologias da tiara, é de prata e tem três faixas de ouro (os três mencionados poderes de Ordem, Jurisdição e Magistério), ligados verticalmente entre si no centro para indicar a sua unidade na mesma pessoa.

Um símbolo totalmente novo no brasão do Papa Bento XVI é a presença do "pálio". Não é tradição, pelo menos recente, que os Sumos Pontífices o representem no seu brasão. Contudo, o pálio é o distintivo litúrgico típico do Sumo Pontífice, e aparece com muita frequência em antigas representações papais. Indica o cargo de ser pastor do rebanho que lhe foi confiado por Cristo. Nos primeiros séculos os Papas usavam uma verdadeira pele de cordeiro apoiada sobre os ombros. Depois, passou a ser costume uma estola de lã branca, tecida com lã pura de cordeiros criados para essa finalidade. A estola tinha algumas cruzes, que nos primeiros séculos eram pretas, ou por vezes vermelhas. Já no IV século o pálio era um distintivo litúrgico próprio e típico do Papa. O conferimento do pálio por parte do Papa aos Arcebispos metropolitas teve início no século VI. A obrigação por parte deles de postular o pálio depois da sua nomeação é confirmada desde o século IX. Na famosa longa série iconográfica dos medalhões que, na Basílica de São Paulo, reproduzem a efígie de todos os Papas da história (mesmo se particularmente os mais antigos são de feições idealizadas) muitíssimos Sumos Pontífices são representados com o pálio, particularmente todos os Pontífices entre os séculos V e XIV. Por conseguinte, o pálio é o símbolo não só da jurisdição papal, mas também o sinal explícito e fraterno da partilha desta jurisdição com os Arcebispos metropolitas, e mediante eles com os Bispos seus sufragâneos. Portanto ele é sinal visível da colegialidade e da subsidiariedade. Também vários Patriarcas Orientais usam uma forma antiquíssima, muito semelhante ao pálio, chamada omophorion.

Na heráldica geral, quer civil, quer eclesiástica (particularmente nos graus inferiores) é costume colocar por baixo do escudo um nastro, ou cartaz, que tem gravado um mote, ou distintivo. Ele contém numa só ou em poucas palavras um ideal, ou um programa de vida. O Cardeal Joseph Ratzinger tinha no seu brasão arquiepiscopal e cardinalício o mote: "Cooperatores Veritatis". Ele permanece como sua aspiração e programa pessoal, mas não está no brasão papal, segundo a comum tradição dos brasões dos Sumos Pontífices nos últimos séculos. Todos recordamos como João Paulo II citava com frequência o mote "Totus tuus", mesmo se não estava no seu brasão papal. A falta de um mote no brasão papal não significa falta de um programa, mas simplesmente abertura sem exclusões a todos os ideais que derivam da fé, da esperança e da caridade.

D. Andrea Cordero di Montezemolo
Núncio Apostólico

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