Medidas do tempo
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Medidas do tempo
Caros colegas
Rebuscando a minha, pequena, biblioteca fui encontrar uma obra interessantísssima. Trata-se das "Taboas de Chronologia e Geographia Historica" de J. P. Oliveira Martins (1ª edição, 1884); este opúsculo ficou-me como herança, entre outros livros e bens, pela morte de meu tio, materno, João Afonso Viana da Costa * 8.09.1931 + 19.07.1993. Licenciado em Histórico-Filosóficas pela Faculdade de Letras de Lisboa e formado pelo Seminário Maior dos Olivais, leccionou História, Filosofia e Introdução á Política: em liceus com o "Pedro Nunes" ou o "Passos Manuel".
Gostaria de prestar uma saudosa homenagem a meu tio, pessoa sábia, singular e controversa. Muito me ensinou...!
Bom, voltando ao tópico proposto, passarei á transcrição, ipsis verbis, de um excerto da obra citada (Introduçao, Theoria da Historia Universal, pág. 40-42):
« Em todas as ephocas se sentiu a necessidade d'uma medida do tempo que fôsse para os calendarios como as medidas itinerarias são para as de extensão. Houve o pé, a toesa, a vara, o palmo, e ha hoje o metro; mas, além e acima d'estes contaram-se a milha, o stadio, a legua, finalmente o Kilometro. Assim é com as medidas do tempo: cada povo teve, tem o seu calendario- e os esclarecimentos relativos aos calendarios e éras conhecidas, U.C. dos romanos (ab urbe condita), olympiadas dos gregos, hegira dos arabes, éra da creação do mundo, calendario dos judeus, éra do nascimento de Christo commum aos povos europeus, correcção gregoriana, éra de Cesar ou hispanica etc. vão nos lugares respectivos do texto- mas, não só os povos herdeiros de uma longa historia como os chinezes e egipcios, mas tambem os europeus desde que começaram a relacionar a sua historia com as estranhas, dando lugar á noção de historia universal, sentiram a necessidade pratica duma medida mais extensa para denominar os largos periodos afastados.
Nós temos o seculo; os egipcios tinham o periodo sothiaco, determinado pelo ano vago de 365 dias que fazia coincidir cada dia do seu anno civil com o começo de cada estação astronomica e que n'um espaço de 1461 anos vagos o trazia ao dia inicial. Contavam por cyclos dinasticos; na China conta-se tambem por tabuas dynasticas combinadas com cyclos, o seculo sinico.
Até aqui porém encontramos sómente a manifestação de um denominador maior, mais vasto, para medir extensões de tempo para as quaes a unidade ordinaria é exigua. Com o apparecimento das religiões proselyticas, superiores às nações, independentes das fronteiras, surgiram porém éras commums, abrangendo em si variados povos, desprezando a medição baseada nos fastos particulares nacionaes: taes são a égira para os musulmanos e o nascimento de Christo para nós outros europeus. E quando os progressos do saber nos levaram a reconhecer a necessidade de um metro universal, de um denominador commum ao qual se reduzissem todas as éras particulares dos povos relancionando-as e aos seus fastos entre si reinava a éra de Christo entre nós, e adoptou-se espontaneamente o contar positiva e negativamente: A.D. (Anno Domini) e A.C. (Antes de Christo) depois e antes de Christo.
São obvios os inconvenientes, as confusões, as causas de erro, que vém de adoptar assim para éra um acontecimento, além de incerto na sua data (e isso se resolveu convencionalmente), intercalado na série dos tempos, usando duma data ora positiva ora negativa, para a reducção das éras particulares nacionaes a um denominador comum.
Quer-se v.g. saber quanto tempo durou a republica desde a expulsão dos Tarquinios (A.C. 510) até á batalha de Accio (A.C. 31) e diminue-se 31 de 510; da mesma fórma se há-de deduzir 800 de 1805 se se quizer saber a duração do santo imperio romano desde a coroação de Carlos Magno até á paz de Presburgo. Se porém se procura a duração do império romano desde a batalha de Acccio (A.C. 31) até ao desthronamento de Augustulo (A.D. 476) ha que adicionar 476 não a 31, mas somente a 30, obtendo a somma de 506 annos, pois se deve ter em vista a transição da éra negativa para a positiva.
É este o inconveniente que reconheceu e desfez Scaliger, ao tempo (1582) em que se levava a effeito a correcção gregoriana, inventando o periodo a que chamou juliano. Esse periodo, de 7980 annos commums é o producto da multiplicação de 19x28x15 (cyclos lunar e solar e da indicção arbitrariamente introduzida na chancellaria bysantina) e d'ahi na romana. O anno A.D. 1 corresponde ao 4714 do periodo juliano.
Sem ter sido aceite geralmente, e apenas usado pelos chronologos, o periodo juliano, reduzindo a uma unica éra as éras positiva e negativa, A.C. e A.D., é um incontestavel progresso, todavia o numero 7980 é o producto da multiplicação de quantidades arbitrarias. Laplace julgou obviar a este suposto inconveniente propondo a adopção de uma éra astronomica de 4089 annos, antes da vulgar, data que dizia exprimir a coincidencia do perigeu do sol com o equinocio da primavera. Essa éra, nem pelos chronologos foi adoptada; e com efeito, ainda quando a verificação das éras astronomicas fosse possivel e não estivesse dependente dos aperfeiçoamentos da teoria e das taboas- que utilidade pratica ha em datar os factos d'este ou d'aquelle momento da evolução dos astros?
Um éra arbitraria tem o mesmo valor pratico de uma éra astronómica- ainda quando fosse possivel determina-la definitivamente. O periodo juliano evita o grande inconveniente da éra christã positiva e negativa, e, se tem um defeito, é de fazer coincidir o anno 1 da éra vulgar com o numero 4714 em vez de um numero redondo, 10001 por exemplo como propoz Cournot. A adopção deste alvitre, reduzindo a unidades positivas todas as datas e dando-lhes uma equivalencia evidente com a éra vulgar, seria o ultimo progresso no methodo de contar os tempos ».
Melhores cumprimentos
Artur João
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RE: Medidas do tempo
Caros colegas
Em continuação, apresento uma tabela comparativa(pág.43):
-----------------ERA----VULGAR--Periodo Juliano----ERA DE C0URNOT
Era das
Olimpyadas-------A.C.----776---------3938--------------9225
Fundação
de
Roma(Varrão)------"------753---------3961-------------9248
Tomada de
Babylónia
por Cyro --------"------538---------4176-------------9463
Expulsão
dos
Tarquinios
(U.C. 245)--------"------510---------4204-------------9491
Invasão da
Pérsia por
Alexandre---------"------329---------4385-------------9672
Batalha de
Accio (U.C. 723)--"-------31---------4683-------------9970
Era de
Christo----------A.D.------1---------4714------------10001
Queda do
Império do
Occidente.
(U.C. 1229)-------"-------476--------5189------------10476
Sagração
de
Carlos Magno.-----"-------800--------5513------------10800
Batalha de
Aljubarrota-------"------1385--------6098------------11385
Invenção da
imprensa----------"------1450--------6163------------11450
Tomada de
Constantinopla
pelos turcos------"------1453--------6166------------11453
Descoberta da
América por
Colombo-----------"------1492--------6205------------11492
Descoberta da
India por
Vasco da Gama-----"------1498--------6211------------11498
Descoberta do
Brazil por
Pedro Álvares
Cabral------------"------1500--------6213------------11500
Protesto de
Luthero-----------"------1517--------6230------------11517
Batalha de
Alcacerquibir-----"------1578--------6291------------11578
Paz de
Westphalia--------"------1648--------6361------------11648
Independencia
dos
Estados-Unidos----"------1776--------6489------------11776
Proclamação da
primeira repu
lica francesa-----"------1792--------6505------------11792
Fim do imperio
romano(germani
co)---------------"------1805--------6518------------11805
Batalha de
Waterloo----------"------1815--------6528------------11815
Melhores cumpprimentos
Artur João
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RE: Medidas do tempo
Caros Confrades,
Alguém quer enriquecer este tópico?
Bem gostaria, confesso.
Com os meus melhores cumprimentos,
Artur Camisão Soares
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RE: Medidas do tempo
Caro Confrade
Também confesso que gostaria de enriquecer este tópico, mas o reconhecimento dos meus fracos conhecimentos não mo permite o que, confesso, lamento profundamente.
Mas, se me falta cultura, não me falta educação. Por este motivo quero, sinceramente, agradecer-lhe o texto que nos proporcionou que é, a meu ver, interessantíssimo. Se ninguém se interessar por ele, é pena...
Entre as boas qualidades deste forum, destacam-se a partilha e a elevação.
Foi generoso da sua parte partilhar este delicioso fragmento.
Muito obrigado
António Alferes Pereira
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RE: Medidas do tempo
Caro António Alferes Pereira,
Com tamanho elogio, só posso dizer: bem haja!
Reconhecendo as minhas naturais limitações perante o desejo de colocar neste tópico matéria deste teor, eu faço um sincero apelo aos demais confrades para que se juntem a mim na compreensão das "Medidas do tempo".
Acrescento, também, o seguinte: é um regalo ler as suas palavras. Não neglicendiando a sua cultura (que decerto terá...), a sua educação é notória e particularmente bem vinda.
À sua disposição.
Com os meus melhores cumprimentos,
Artur Camisão Soares
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RE: Medidas do tempo
Caro Artur
Acabei agora de ler o seu excelente contributo que achei deveras interessante. Lamento não estar à altura de poder contribuir mas a minha área de conhecimentos, nessa matéria, é reduzidíssima. Vou aguardar para ver se é mais enriquecido, até porque senti uma grande lacuna: a contagem de tempo na óptica judaica.
As grandes subdivisões que apresenta...
[ ERA----VULGAR--Periodo Juliano----ERA DE C0URNOT ]
....não incluem o calendário judaico. Penso que seria muito interessante incluí-lo. Que lhe parece?
Um abraço, caro Artur e os meus cumprimentos a sua mãe.
Maria
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RE: Medidas do tempo
Caríssima Maria,
Agradeço as suas palavras.
Tem lacunas, como muito bem refere. O calendário judaico tem de ser incluido, aliás como outros.
Vou ver, se neste fim de semana, alinhavo umas coisas. Não posso deixar de contar com a inextimável contribuição da Maria.
Um abraço meu e outro da minha mãe,
Artur
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The Jewish Calender
Caros Confrades,
Extraido, com a devida vénia, do "nasa.gov":
«The Months
In the Jewish calendar, today is the 6th day of the month of Adar--and in this year, that is the "first Adar" or "Adar Aleph", because this is a leap year. The month is followed by "Adar Beth" or "Ve-Adar" ("and-Adar"), the second Adar, an extra month added now and then.
This happens to be year number 5760, and in a while you will also know how one tells by that number if it is a leap year or not. Of course, you realize that the Jewish calendar follows the Moon: "Rosh Chodesh," the beginning of the month, is always supposed to fall on the new Moon--the time when the Moon's position in the sky passes that of the Sun. Soon after that we may see a thin crescent, right after sunset.
It takes the Moon a little over 27 days to go around us, but meanwhile the Sun also shifts its position in the sky--each year, it circles the entire sky. So the Moon needs about 2 extra days to catch up with the Sun, and it takes 29 days, 12 hours, 44 minutes and a fraction, to go from one new moon to the next.
Thus most Jewish months alternate between 29 and 30 days--1st Adar, 30 days, second Adar, 29, Nissan, 30, Iyar 29, Sivan 30 and so on, except that Cheshvan and Kislev, in the fall, are adjustable--to take care of those 44 odd minutes, and for other adjustments.
One important adjustment of this type applies to the new year's day known as Rosh Hashanah ('head of the year')--it may never fall on Sunday, Wednesday or Friday. This is done to prevent the fast of Yom Kippur ("day of atonement"), 10 days later, to be next to a sabbath, because two consecutive days of rest would hinder proper observance of either; and also, to avoid having sabbath hit another holiday later that month. So, strange as it may seem, because of such adjustments, Rosh Hashanah often does NOT fall on the new moon. That is the price one pays for holidays!
There is a strange music in the names of Jewish months--Adar, Nissan, Iyar, Sivan, Tamuz, Av, Elul, Tishrey, Cheshvan, Kislev, Tevet, Shvat, the words have an ancient sound, distinctly non-Hebrew. And in fact, they are not Hebrew but Babylonian, from the homeland of Abraham. Likewise, what we call "Hebrew letters" are Babylonian, too, picked up in the Babylonian exile; Jews in the days of the first Temple used a completely different alphabet.
(Note: The information on the Babylonian calendar, given below, relied on the "Encyclopaedia Britannica," 1967 edition).
If you take into account that the Babylonians had a special liking for the sound "U", you find that the Babylonian names are very similar:
Nisanu Tashritu
Ayaru Arach-Samna
Simanu Kislimu
Du'uzu Shabatu
Abu Tebetu
Ululu Adaru
You will also note some differences: "Shabatu" comes before "Tebetu", whereas in today's Jewish calendar, Tevet comes first, Shvat later. In the three names containing the letter "m" it was replaced in the Jewish calendar by "v" (or "w"), "Du'uzu" is now Tamuz, the name of the god of spring (later known as Adonis), and "Arach-samna" has become "Marcheshvan" or "Cheshvan" for short.
The Start of the Year
When does the Jewish year begin? Tradition has been somewhat ambiguous here. Rosh Hashanah, the official Jewish New Year's Day, is celebrated on the 1st day of Tishrey--but the Bible never calls it "Rosh Hashanah," it is always "Yom Hazikaron," the day of remembrance. And in the biblical chronology, this is not (as you might think) the first day of the first month--no, it is the first day of the seventh month, counting Nissan as the first.
In fact, none of these ancient names is in the Bible--all of them were handed down strictly by oral tradition. The Bible does mention though that the exodus from Egypt was in "the month of Aviv," and while in modern Hebrew that would mean "the month of spring," many believe that "Aviv" was the ancient name of that month.
According to the scriptures, this was to be the first month of the year, in memory of the exodus from Egypt; in all other dates, months are only referred to by their number. At the beginning of chapter 12 in the book of Exodus you will find:
"This month shall be unto you the beginning of months; it shall be the first month of the year to you."
Still, it is interesting that the Babylonian calendar had the same ambiguity. There too, two months served as pivots--Nissan and Tishrey. Maybe one was the start of the religious year, one of the tax year--since in Nissan the harvest just starts and in Tishrey the crops are all in--maybe they date to different periods or localities, maybe the year was divided into two 6-month sections. One can only speculate.
Keeping up with both Sun and Moon
If the Jewish calendar only followed the Moon, it would get quickly out of step with the seasons, which follow the cycle of the Sun--the holidays would migrate and you might get Passover in the fall, Rosh Hashanah in the spring, Chanukkah in mid-summer. That is what happens in the Moslem calendar, which only follows the moon.
Consider the month of Ramadan, when observant Moslems fast from sunrise to sundown. Ramadan this year was in early winter--the best time, because days are short, nights are long, your fasts are short too and you do not get too thirsty from heat. But wait 15 years! Then Ramadan will have migrated to mid-summer, when days are at their longest, the heat makes you quite thirsty (especially in countries like Arabia and Egypt), and fasting all day long is a much greater ordeal.
But the ancient Babylonians found a way to keep up with both the moon and the sun. Their priests were excellent astronomers--helped, no doubt, by the clear skies in a country perched at the edge of the desert.
(By the way, the Jewish Talmudic sage Mar Shmuel, who lived in Babylonia in the 3rd century, was also experienced in astronomy. He used to say "I am familiar with the pathways of the heavens as I am familiar with the pathways of [my home town] Nehard'a--except for the comet-star, I don't know what it is.")
By the 9th century BCE, after centuries of observations, Babylonian astronomers concluded that in a cycle of 19 years of 12 lunar months each, if you added 7 more months, you returned almost exactly to the same season.
Today this system is known as the Metonic cycle, because the Greek astronomer Meton introduced it in Athens in the year 432 BCE. However, the Babylonians already knew this at least 400 years earlier. The Chinese also have used this system--and the Jewish calendar does the same.
So how do you know which year has a seond month of Adar? Simple: in every 19-year cycle, years 3, 6, 8, 11, 14, 17 and 19 are leap years. This 19-year sequence is known as the "machzor," meaning "cycle" in Hebrew. In the general calendar, we now have Y2K, a special "millenium" year--but I still remember in 1940 or 1941, when I was 9 years old, the teacher told us that the current year 5700 was special, because it marked exactly 300 cycles since the creation of the world, according to the Jewish calendar.
So--3 times 19 is 57, 300 times 19 is 5700, and the year 5757 would complete 303 cycles. We are now in the year 5760, 3 years into cycle number 304, so by the rule assigning extra months to years 3, 6, 8, 11, 14, 17 and 19, it is a leap year. And the additional month is Adar, because it is the 12th and last month. The ancient Babylonians also added a 2nd Adaru--though sometimes they would add instead a second "Ululu" just before the day which became Rosh Hashanah.
One could go on and on. The Babylonians did not have a sabbath--but they preferred not to work on the 7th, 14th, 21st and 28th day of the month, because they thought those were unlucky days. Is there a connection? Who knows!
Accuracy
I have not yet touched at all our civil calendar, by which this February of the year 2000 is a very special leap month, instituted to fine-tune the calendar. Or that yesterday's date, February 11, was the day George Washington was born--in 1732, on February 11, old style. Then in 1751 the calendar was advanced 11 days, to make up for 17 centuries when this fine-tuning was not yet known, so now America celebrates Washington's birthday on February 22nd.
The Jewish calendar is much more accurate than the old-style calendar used when Washington was born. Still, in the 3500 years or so since the exodus from Egypt, it has slipped by about two weeks. According to the Bible, the exodus took place at the spring equinox, around March 21, and now Passover is about 2 weeks later. However, as long as one uses a calendar that tries to keep up with both the Sun and the Moon, there is nothing one can do about it--except maybe, wait a few thousand years more and then omit an entire leap month.»
Melhores cumprimentos,
Artur Camisão Soares
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RE: The Jewish Calender
Caro Artur
EXCELENTE!!! Obrigada por ter incluído esta informação.
Maria
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RE: The Jewish Calender- (Nota)
Nota:
O texto é da autoria do Dr. David P. Stern e baseia-se numa palestra feita em Greenbelt, Maryland, 12 de Fevereiro de 2000.
Renovados cumprimentos,
Artur Camisão Soares
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RE: The Jewish Calender
Caro Confrade
Volto à praça para renovar os agradecimentos
Agradecimentos renovados, vou ousar dizer algo sobre o calendário hebarico.
Na realidade o calendário hebraico é lunar e tem doze ou treze meses. Como diz o "nasa.gov" -com a devida vénia - o ano de treze meses (ou ano grávido como vulgarmente se diz em Israel) acontece sete veses em cada ciclo de dezanove anos. Se não estou em erro, são o 3º, 6º, 8 º, 11º, 14º, 17º e 19º anos..
O mês Adar é o escolhido para se suceder em Adar I e Adar II ou Adar e Veadar ( o VE corresponde à nossa conjunção copulativa "e" e é colocada como se fosse um sufixo da palavra).
A sequência dos meses é:
Tishrei; Reshvan; Kislev; Tevet; Shevat; Adar; (Veadar); Nissan; Iyar; Sivan; Tamuz; Av e Elul
A referência que o texto faz aos antigos nomes dos meses, na Mesopotâmia, é interessante. E não é só o nome dos meses que os Hebreus vão buscar a essa antiga cultura, pátria de Abraão. O próprio texto da Génesis é parecido ao texto babilónico conhecido por "Ennum Elis"; Há um interessante livro que estudei há já um par de anos e que se chama "Lorsque los dieux faisaient l'hmme" de Jean Bottéro e Samuel Noah Kramer que trata o tema da cosmogonia, relacionando a cultura hebreia com as culturas da Mesopotâmia.
Afinal é verdade... as culturas não são estanques.
O Rosh Hashana, ou numa tradução literária "a cabeça do ano" é o primeiro dia de Tishrei que cai, no nosso calendário, no mês de Setembro, seguindo-se-lhe, dez dias depois, o Yom Kippur, ou Dia do Perdão.
Se li bem, diz o texto do Nasa.Gov que tal dia (o Yom Kippur) não calha a determinados dias para que não encoste a um Shabat e não haja, assim, dois dias de descanso sucessivos.
Aqui é que eu não estou tão seguro. Há uns anos atrás, assisti a uma cerimónia na Sinagoga de Tomar. Tratou-se de celebrar o Yom Kippur, pela primeira vez em muitos anos, numa sinagoga que fora desactivada e que hoje é um museu.
Tenho a ideia de que o Yom Kippur encostou a um sábado (Não posso afirmar, mas tenho essa ideia muito viva, até porque alguém tentou abrir uma garrafa de vinho e foi impedido por ser considerado trabalho e portanto não poder ser feito ao Sábado). Posso estar errado, mas não creio...
A Páscoa Hebraica cai na primeira Lua Cheia a seguir ao Equinócio da Primavera. Curioso é que a Páscoa Cristâ se encontra por um processo semelhante: Esta data cai no primeio domingo depois da primeira Lua Cheia que houver depois do Equinócio da Primavera. Confuso? Dito por outras palavras: Depois do Equinócio da Primavera, esperamos pela Lua Cheia e depois esperamos pelo Domingo.
É interessante fazer a anologia entre as festas hebraicas e as cristãs. A Páscoa, como vimos, calha sensivelmente na mesma altura; o Purim, correspondente ao nossa Carnaval, não anda muito longe deste; Shavuot e Pentecostes são na mesma altura; e por aí fora...
A contagem do dia Hebraico faz-se de pôr-do -Sol a Pôr-do-Sol. Assim, e pela nossa terminologia, o dia "começa na véspera". Por esse motivo, o Shabat começa ao fim da tarde de Sexta-feira.
O ano hebraico em que estamos é o de 5767, a contar da criação do mundo.
E é esta a minha modesta contribuição para "Medidas do Tempo". Possivelmente não trago nada de novo, mas quem dá o que tem...
Cumprimentos
António Alferes Pereira
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RE: The Jewish Calender
Caro António Pereira
Independentemente de eu já conhecer parte das informações contidas neste tópico, considero que foi muito útil o seu contributo para muitos que, investigando processos da inquisição, se debatem às vezes com termos desconhecidos e relacionados com o calendário judaico.
Atrevo-me, até, a dizer, que este tema do calendário judaico devia ser ainda mais explorado e completado com as cerimónias inerentes. Para quem investiga os processos relacionados com cristãos-novos, são achegas importantíssimas para uma visão de conjunto, permitindo entender muitos porquês.
Com os meus melhores cumprimentos
Maria
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RE: The Jewish Calender
Cara Maria David
Não vou dar a minha opinião sobre o Calendário (até porque não a tenho, por ignorância!), mas numa coisa lhe dou razão. Contribuiria certamente para um melhor e maior entendimento, se não do porquê, da oportunidade de certas denûncias.
E a leitura dos processos leva-nos, quanto a mim, para uma maior humanização, já que não estamos a lidar com coisas abstractas, mas com factos aos quais, no meu entender, ninguém pode ficar indiferente. Eu alterei a minha maneira de pensar, com a leitura desses processos. Até porque a ignorância afecta grandemente a nossa maneira de pensar e de agir. Neste aspecto, confesso a minha.
Não sei se já alguma coisa foi escrita sobre isso, mas parece-me ter havido uma coincidência das "rotas de comércio" com as "rotas de fuga". Num dos processos que li. o pai ía ter a Itália com a mulher e a filha, a casa de determinada pessoa. Quando lá chegou, já elas tinham partido para a Turquia (e aqui lembro-me da comunidade judaica hoje aí existente, com ascendência portuguesa, segundo ouvi), com a indicação do lugar onde todos se encontrariam.
Penso que há muito por divulgar ou, pelo menos, por saber que foi divulgado.
Quanto a mim, claro está.
Um beijo
Manmuel da Silva Rolão
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RE: The Jewish Calender
Olá, Manuel, uma boa tarde para si
Ainda que este meu comentário extrapole um tanto o teor deste tema, torna-se irresistível para mim comentar o que disse sobre os processos, tanto mais que concordo inteiramente consigo.
Na verdade, só quem nunca pegou em tal material poderá ficar indiferente ao que nos é transmitido, mesmo através das entrelinhas. Nunca mais fui a mesma desde a leitura do primeiro processo - e já lá vão muitos anos! - quando peguei no do António José da Silva. Acompanhar toda a trama de denúncias, de pressões, ver a sua letra firme, ao início, e completamente distorcida para os finais (mercê das torturas infligidas), deixa-nos uma revolta dentro de nós que jamais nos abandona. Ao longo dos anos fui vendo mais um e outro e mais outro...e todos me deixaram o mesmo sentimento de revolta. Hoje, mantendo a mesma revolta, é com outros olhos que analiso esses processos e consigo "ver" outras coisas nessas linhas: formas de vida, temperamentos, subtilezas de raciocínio, esquemas, intenções, coesão familiar, interesses, cultura...etc, etc.
Há processos que, apesar de nos deixarem amargura na alma pelos trágicos desfechos, conseguem provocar-nos uma sincera gargalhada de solidariedade quando vislumbramos os truques empregues pelos condenados na tentativa de despistarem os inquisidores ou pela frontalidade com que os enfrentam e assumem até ao último momento as suas crenças.
Mas sejam quais forem as pessoas objecto desses processos, há lições de vida a retirar de todos eles. E há perguntas a fazer. E há procedimentos a questionar.
Passaram-me pelas mãos situações bizarras, como a de um parente com cerca de noventa anos, entrevado numa cama, já cego, a quem a Inquisição queria deitar a mão de qualquer forma e para o efeiro fez deslocar, desde Lisboa, um grupo de inquisidores que se dirigiram à Covilhã para o interrogarem e prenderem; outra parente, com cerca de cem anos, que foi presa e que mal sabia já dizer quem eram os seus pais e restante família; outra mulher que, apesar dos médicos dizerem que não poderia ser sujeita a tormento pelas condições de saúde em que se encontrava e por se encontrar com as "regras", os inquisidores insistiram, submetendo-a a suplício, acabando por desfalecer ao fim de pouco tempo, voltando ao tormento dias depois, logo que acabaram as ditas "regras"....
Seria fastidioso enumerar aqui tudo o que já detectei nos processos da Inquisição. Uma coisa é certa, todos ficariam mais ricos humanamente falando e com uma noção bem diferente da história e de certos poderes instaladados, depois de passarem pela leitura desta vasta fonte de dados.
Quanto à sua ideia das rotas de fuga/rotas de comércio, é verdade, sim. Atrevo-me a acrescentar que, paralelamente a essas rotas, eram estabelecidos contactos que funcionavam como pontos de informação/espionagem e que permitiam criar redes de apoio.
Enfim, um mundo de coisas ainda a explorar e a estudar e a publicar.
Abraço
Maria
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RE: The Jewish Calender
Caros confrades
Pelo que entendi, seria importante conhecer alguns aspectos da cultura judaica ou, mais concretamente aspectos das festas religiosas que se vão sucedendo ao longo do ano.
Não serei a pessoa mais entendida na matéria, mas conheço razoavelmente as festas e tradições judaicas. Quando não sei, tenho a humildades suficiente para não me pôr para aqui a inventar e dizer claramente: Não sei!
Encontro-me ao vosso dispor para, se assim entenderem, colocarem algumas questões que terei todo o gosto em tentar responder.
Cumprimentos
Antonio Alferes Pereira
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RE: The Jewish Calender
Caro António Alferes Pereira,
Julgo que será deveras interessante.
Estou convencido, também, que será importante abarcar outras religiões e credos.
Renovados cumprimentos,
Artur Camisão Soares
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RE: Medidas do tempo
Crao Artur Camisão Soares,
Permita-me chamar a este tópico esta muito completa e clara explicação com que contribuiu o confrade José Maria Simões dos Santos sobre as diferenças entre os calendários Juliano e Gregoriano, calendários esses que se sucederam no fim do séc. XVI na Europa cristã.
http://www.geneall.net/P/forum_msg.php?id=58688#lista
Cumprimentos.
VFerreira
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RE: Medidas do tempo: JulianoxGregoriano
Para complemento (não é demais relembrar).
Trancrevo, com a devida vénia, um trecho publicado pelo confrade Júlio Sousa numa mensagem deste Forum sobre a diferença entre o Juliano e o Gregoriano.
Cito:
"...
E porque estou a falar da era cristã, será conveniente justificar por que o faço. É que D. João I publicou um Édito, em Óbidos, a 12 de Agosto de 1460 era de César. Nesse édito, D.João I manda que, a partir desse dia, a contagem do tempo deixe de se efectuar segundo Roma (calendário juliano) e se passe a contar segundo a fórmula adoptada pelo monge Dionísio, o exíguo, em referência ao nascimento de Jesus Cristo. Assim, a partir de 12 de Agosto ( já vi também ser referido o dia 22) de 1460 passou a utilizar-se a era cristã. Para tal efeito, segundo o édito, o ano de 1460 da era de César passou a designar-se por ano 1422 do nascimento de nosso Senhor Jesus Cristo, subtraindo-se os tais 38 anos, uma vez que o calendário juliano entror em vigor na Península no ano 38 a.c.
Enfim, desculpe esta abordagem, mas é que há muita gente que não entende por que razão é que as actas anteriores ao ano 1460 da era de César, são redatadas para a era do nascimento de Jesus Cristo, que é como quem diz para a era cristã.
..."
Fim de citação.
Cumprimentos.
VFerreira
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RE: Medidas do tempo: JulianoxGregoriano
Caro Victor Ferreira,
Agradeço-lhe a colocação dessas mensagens, meu confrade. Nesse tópico também intervieram os confrades: Alexandre Burmester; João Ary; João de Castro e Mello Trovisqueira; Eugénio Medina.
Quanto à pertinente intervenção do confrade Júlio Sousa: fez muito bem em relembrá-la.
Vou continuar a pesquisar nos opúsculos que me foram deixados. Tenho a certeza que algo mais encontrarei.
Meus melhores cumprimentos,
Artur Camisão Soares
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